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quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

O Homem Sério

- Aquele é um homem sério!
- Porque diz isso, Ti Quim? Ele não se diverte como os outros?
- Sim diverte, rapaz... Quando digo que é sério, quero dizer que não engana as outras pessoas com trafulhices, não quer ficar com o que não lhe pertence e que tem juízo na cabeça.
- E quem é assim está sempre sério?
- Não. Mas não é capaz de se rir de coisas parvas, não mostra os dentes a quem o engana e só se ri com coisas que têm mesmo graça.
- Você é sério, Ti Quim?
- Hi, hi, hi. Só tu me fazes rir.

Foto: Um exemplo de homem sério.

Texto de Júlio Silva publicado AQUI.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Serrão Martins (Por Júlio Silva)


Foto: Fundação Serrão Martins

Serrão Martins

Farias no próximo dia 25 de março, 77 anos. Lembro-me bem de ti. Recordo o olhar sereno mas analítico, os passos curtos mas apressados, o casaco escuro, a pequena mala de cabedal a tiracolo e uma motivação absolutamente demolidora.

As tuas armas eram os argumentos, a tua defesa era a tua visão, a tua estratégia era o exemplo, a tua atitude era sentar e ouvir. Tudo coisas raras hoje em dia.

Sabias bem o que era viver com dificuldades. E por isso é que conhecias bem os teus munícipes. O que te levou a ser político foi apenas e sempre a vontade de melhorar a vida das pessoas.

Eras político para servir, não para ser servido. Eras político para olhar e ver, não para ser olhado. Eras político para respeitar e por isso eras respeitado.

Mais do que lembrar-te é necessário aprender contigo. Mais do que lembrar-te é importante recuperar os teus ensinamentos. Os teus 38 anos de vida são e serão sempre uma referência para muitos de nós.

Sabes, hoje ainda és lembrado por uma questão muito simples. Tu conjugavas sempre os verbos na primeira pessoa do plural. Tu personificavas um "nós" primitivo, primordial e solidário que, cada vez mais, está em extinção.

Obrigado por tudo.

Julio Silva

(Associo-me a esta singela homenagem,ao meu professor, e ao meu Presidente de Câmara)

Carlos Viegas


terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

O Tempo da Incerteza


Habitamos tempos de incerteza. Há cinquenta anos, os homens tinham talvez um futuro mais sombrio, mas a estabilidade das suas condições de vida – por muito mal que vivessem – permitia-lhes concluir que o futuro não lhes traria grandes surpresas. Hoje, o medo do futuro é uma das principais características das sociedades modernas. E esse receio, moderado ou ansiolítico, deve-se ao facto que o horizonte do possível se abriu tanto, que as nossas contas podem revelar-se especialmente incertas.

Hoje - e pode ser apenas impressão minha - o mundo é marcado principalmente pela nitidez que existe entre os que perdem e os que ganham, entre o remediado e a elite, entre quem determina e quem não lhe resta mais remédio que obedecer.

Todos estes sentimentos vão inevitavelmente moldar o panorama político e social. E vão porque o normal cidadão, armado de uma deceção generalizada que já não consegue apontar a algo de concreto, está a chegar ao limite.

Todos sabemos que a insatisfação, quando adquire uma natureza difusa, provoca perplexidade. Irrita-nos um status quo que nunca conta com a nossa aprovação. Mas o que nos irrita ainda mais é não saber a quem confiar a mudança desta situação.

O perigo, o verdadeiro perigo deste panorama, é que num mundo de incertezas e de esperanças desesperadas, o discurso mais hábil e engenhoso é sempre recompensado nas urnas. 

Júlio Silva

sábado, 13 de fevereiro de 2021

O menino-homem (por Júlio Silva)

Levanto-me bem cedo. Preparo o pequeno-almoço para o meu avô e para a minha avó. Estão ambos doentes e debilitados. Ele tem alzheimer e ela tem insuficiência cardíaca. São bastante idosos. Enquanto comem, deixo o almoço preparado para eles e dou uma arrumadela na casa.

Visto-me. Está na hora de ir para a escola. Vou, mas estou sempre a pensar neles. Durante grande parte da minha vida eles foram o meu único suporte. Eles foram os meus verdadeiros pais. Foram eles que me criaram. Fomos sempre nós os três.

Os meus pais estão separados, vivem longe e têm as suas vidas. Mas eu decidi ficar. Nunca os vou abandonar.
Quando termino as aulas, volto para casa. E quando chego, começa uma nova jornada. Sou eu que cuido deles. Eu assumi essa responsabilidade.
Lá para a noitinha, se possível, estudo um pouco. Sei que não sou um aluno brilhante. Mas sou esforçado. E sou porque sei que a escola é a minha saída para uma vida melhor. Para mim e para eles. Foi este o caminho que eu escolhi.
Esta podia ser uma história de ficção, mas não é. É uma história bem real de um aluno que muito admiro.
A vida nem sempre o tratou bem. E apesar de ser apenas um adolescente, assumiu a responsabilidade de orientar a sua vida e a condição de cuidador.
Apesar dos dias amargos, nunca a sua voz se levanta. Nunca a sua humildade se reduz. Nunca a sua atitude deixou algo a apontar.
Esta é a história de um menino-homem que devia ser lida por muitos meninos e meninas. Esta é a história de um ser humano que sabe o verdadeiro significado de palavras como obstáculo, dificuldade e futuro. Mas que aprendeu, nas curvas da vida, a responder com trabalho, coragem e esperança.
Deixo-te aqui o meu apreço, caro aluno. Não só por tudo o que és. Mas por tudo o que representas.