02 setembro 2004
Coisas para dizer
A seu tempo, mas se passar o seu tempo é porque não eram necessárias, nem úteis, nem oportunas.
16 fevereiro 2004
Conrart nunca falaria sobre religião e fundamentalismo
Conrart nunca falaria sobre religião e fundamentalismo, porque era sensato e sabia que já tudo havia sido dito e escrito antes dele o fazer. Além disso, saberia que a religião é um tema que toca o mais fundo das convicções das pessoas e, por isso, pouco dado a análises racionais. Embora eu tenha escrito um texto enorme sobre esse assunto, cheio do que me pareciam ideias interessantes, decidi não o publicar.
12 fevereiro 2004
De como é necessário começar por algum lado
Falar sobre o silêncio é como tentar apanhar a sombra. Nunca se atinge o que se pretende. Não vou filosofar sobre a arte de estar calado, mas creio que a sombra protectora dos silêncios de Conrart e Dinouart é boa conselheira no mundo tagarela da internet.
A presença de Conrart tem ainda outro significado, pois, para mim, de alguma forma aqui em Portugal o mundo dos blogues faz lembrar um salão literário do tempo deste primeiro secretário da Academia Francesa. Um salão cultural virtual, no qual alguns convidados insistem em permanecer mais ou menos encobertos. A suspeita que têm os autores de blogues de que serão sempre os mesmos a ler-se uns aos outros, e a forma como se citam, bajulam, desentendem e espiam, parece-me que encaixa muito bem nessa imagem.
Neste primeiro texto, vou apresentar-me dizendo algo sobre alguns daqueles que já se encontram no salão. Poderá parecer ocioso, eu sei, mas se queremos ser ouvidos, e é disso que se trata (não vale a pena esconder), temos de fazer com que os ocupantes do salão nos oiçam com os seus ouvidos de technorati. Começo por fazer uma homenagem ao trabalho desenvolvido pelo Paulo Querido e pelo António Granado, que estão para os blogues em Portugal, tal como Conrart está para a Academia Francesa. Fazem um trabalho incansável e dedicado que dá frutos de qualidade.
Aviz que é um lugar intermitente, às vezes preguiçoso, outras militante, quase sempre estimulante. Naquele que se diz abrupto fascina-me e entusiasma-me a cultura, mas aborrece-me a política doméstica. Nessa e na outra, estou mais com a causa nossa, ou com o Barnabé e o blogue de esquerda.
Quando vejo o mar salgado não encontro lá as lágrimas de Portugal, nem lá deixo as minhas. E tal como Sérgio Godinho não gosto de matar mouros, mas vale a pena ler o que diz quem os mata.
E ao som da música chego às Terras do Nunca um lugar de sempre. Também, não posso passar sem os bombons que saltam da bomba inteligente e sem o vademecum do latinista ilustre. Por vezes irrito-me com a presunção dos que pensam ser a glória fácil, mas afinal quase sempre se redimem com inteligência. Na klepsýdra recolho olhares sobre as águas por vezes turvas da nossa realidade, e sempre que posso abeiro-me do adufe que continua a tocar bombo com força mas delicadeza. Afinal ainda há lugares no mundo em que os cientistas não têm telemóveis, nem são escravos da tecnologia, e sítios no universo nos quais se pode pensar, ou observar a expansão vertiginosa sem cair na tolice. A aba de Heisenberg às vezes mais parece um novelo de Poincaré, o ozono está com uma camada cada vez melhor e o teste de Turing vai sendo feito com paciência e inteligência. Guardo uma recordação preciosa da formiga de Langton.
Espreito amiúde por esta bela janela indiscreta. Enquanto o dicionário do diabo sonha uma metonímia, a natureza do mal troca o cardeal de Retz por Baudelaire, mas o mal, e quem diz o mal diz o bem, esse continua o mesmo. Cada vez menos desejo casar, não frequento a casa dos marretas, nem tenho cheirado o gato fedorento. A vida é breve e a arte longa e, por isso, cada vez tenho menos tempo para piadinhas. Aliás, uma ausência interessante e significativa deste salão é um tal de pipi, cuja versão escrita já vai na sétima edição e deve estar em Cuba a gozar à custa dos tansos.
A presença de Conrart tem ainda outro significado, pois, para mim, de alguma forma aqui em Portugal o mundo dos blogues faz lembrar um salão literário do tempo deste primeiro secretário da Academia Francesa. Um salão cultural virtual, no qual alguns convidados insistem em permanecer mais ou menos encobertos. A suspeita que têm os autores de blogues de que serão sempre os mesmos a ler-se uns aos outros, e a forma como se citam, bajulam, desentendem e espiam, parece-me que encaixa muito bem nessa imagem.
Neste primeiro texto, vou apresentar-me dizendo algo sobre alguns daqueles que já se encontram no salão. Poderá parecer ocioso, eu sei, mas se queremos ser ouvidos, e é disso que se trata (não vale a pena esconder), temos de fazer com que os ocupantes do salão nos oiçam com os seus ouvidos de technorati. Começo por fazer uma homenagem ao trabalho desenvolvido pelo Paulo Querido e pelo António Granado, que estão para os blogues em Portugal, tal como Conrart está para a Academia Francesa. Fazem um trabalho incansável e dedicado que dá frutos de qualidade.
Aviz que é um lugar intermitente, às vezes preguiçoso, outras militante, quase sempre estimulante. Naquele que se diz abrupto fascina-me e entusiasma-me a cultura, mas aborrece-me a política doméstica. Nessa e na outra, estou mais com a causa nossa, ou com o Barnabé e o blogue de esquerda.
Quando vejo o mar salgado não encontro lá as lágrimas de Portugal, nem lá deixo as minhas. E tal como Sérgio Godinho não gosto de matar mouros, mas vale a pena ler o que diz quem os mata.
E ao som da música chego às Terras do Nunca um lugar de sempre. Também, não posso passar sem os bombons que saltam da bomba inteligente e sem o vademecum do latinista ilustre. Por vezes irrito-me com a presunção dos que pensam ser a glória fácil, mas afinal quase sempre se redimem com inteligência. Na klepsýdra recolho olhares sobre as águas por vezes turvas da nossa realidade, e sempre que posso abeiro-me do adufe que continua a tocar bombo com força mas delicadeza. Afinal ainda há lugares no mundo em que os cientistas não têm telemóveis, nem são escravos da tecnologia, e sítios no universo nos quais se pode pensar, ou observar a expansão vertiginosa sem cair na tolice. A aba de Heisenberg às vezes mais parece um novelo de Poincaré, o ozono está com uma camada cada vez melhor e o teste de Turing vai sendo feito com paciência e inteligência. Guardo uma recordação preciosa da formiga de Langton.
Espreito amiúde por esta bela janela indiscreta. Enquanto o dicionário do diabo sonha uma metonímia, a natureza do mal troca o cardeal de Retz por Baudelaire, mas o mal, e quem diz o mal diz o bem, esse continua o mesmo. Cada vez menos desejo casar, não frequento a casa dos marretas, nem tenho cheirado o gato fedorento. A vida é breve e a arte longa e, por isso, cada vez tenho menos tempo para piadinhas. Aliás, uma ausência interessante e significativa deste salão é um tal de pipi, cuja versão escrita já vai na sétima edição e deve estar em Cuba a gozar à custa dos tansos.