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domingo, 29 de novembro de 2015

incandescente


É cedo e não tenho sono apesar de não ter dormido.
O dia está a prestes a nascer.
Tal como uma resistência que se incandesce depois do fio ligado à corrente, assim me contive até beber o primeiro shot, os seguintes perderam o número, o meu corpo iluminou-se até ao cérebro receber uma claridade que me permitiu ver tudo, até de olhos fechados as dimensões de quanto estava à distância das minhas mãos surgiam nítidas, palpáveis, evitáveis quando as arestas poderiam rasgar a carne do meu tronco.
Senti tudo.
Deixei que me tocassem para eu próprio sentir e admirar-me desse sentir.
As bocas foram passando pela minha lavando o álcool amargo das lembranças dos últimos dias e uma só vez recordei o nome dele, em memória dele, por ele, tal como ele, por que não ele? Ele faría o que fiz esta noite, a incandescência dos sentidos.
É cedo e dói-me o corpo, a alma, o dia queima-me até me sentir carvão.
Chove muito e as lágrimas confundem-me.
 
 

quinta-feira, 9 de julho de 2015

depois


O costume, o rame-rame do costume, trânsito, trabalho, trânsito, casa.
O que faço depois.
O que sou depois.
O depois.
Perguntam-se onde vou depois do serviço, convidam-me para tomar um copo a propósito do aniversário de alguém que nem sequer conheço muito bem, mas quem me convida tem o hábito de fazer muitas perguntas, quer saber, e já entendi que o meu depois é um mistério. Durante algum tempo, recusei delicadamente e contornei as questões. Não teve efeito. Depois comecei a responder à medida do que era esperado. Deixou-me em paz durante um tempo. Agora a táctica é aceitar, convidou-me para ir tomar um copo, vou, vamos todos, mesmo indo em celebração de quem mal conheço.
Como esta pobre mulher está enganada.
Mas por vezes tenho medo.

sábado, 4 de julho de 2015

promessa


Vou sempre parar ali, apesar de detestar o fumo, o cheiro dos corpos, apesar de no caminho até lá só pensar no que vou encontrar, o cheiro dos corpos.
A noite grande acaba sempre por ser a noite mais magra, por ser a mais consumida de tanta vontade. Esta noite nada mais tive que cheiro requentado de nicotinas passadas de boca para boca e a observação de bocas que trocaram palavras comigo na gritaria dos decibéis, não sei o que me disseram, a maior parte das vezes não percebo o que me dizem, os olhos e os invulgares gestos de tão minúsculos no seu agitar tornam-se-me tão mais bem entendíveis que quando falam não consigo traduzir o que se aproxima.
 
Bebi demasiado esta noite.
Nem tanto que não tenha percebido que quem abre a porta sou eu, que quem roda a chave no trinco é a minha mão e é esta que completa os ponteiros do dia a nascer. Prometo-me não voltar lá, especialmente depois desta noite.
Especialmente porque a minha roupa despida trouxe para o quarto o cheiro dos corpos que ficaram por lá.