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domingo, 1 de novembro de 2015

os mortos, os vivos e os desaparecidos


Quando era menino corria entre campas, às vezes um pé escapava-se e o medo do que me contavam levava-me de volta à minha mãe, serena, de olhos fechados numa oração junto à lápide do meu tio ou dos meus avós. Ela segurava-me pela manga e mandava-me ficar quieto, outras pessoas assustavam-me dizendo que os mortos me vinham buscar.
Hoje levo-a e ela mantém o mesmo ritual de prece, acrescentou outras visitas, eu não corro mas o sitio dá-me um frio pela espinha, lambo os verdes entre espaços das pedras brancas e cinzentas e os meus olhos só querem esquecer.
Também tenho alguns por aqui, gente que riu comigo e tinha calor nos abraços, agora não sei quem são sinceramente. Não lhes procuro onde se deitam, não quero saber, só espero o momento de saír e não me lembrar mais do dia.
Saímos de braço dado, passos pequenos como se o cansaço se montasse às cavalitas, um e outro suspiro dela, eu sufocado.
E foi quando o vi a entrar.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

está ocupado?

 
Estou decidido a regressar, já tive o bastante de muda de ares e tenho saudades da minha casa.
Antes mesmo que peçam respondo que podem levar a cadeira, mas desta vez o homem pergunta se não incomoda se se sentar na minha mesa.
Avalio-o rapidamente, confesso que sou desconfiado naturalmente e não me agradam a proximidade de estranhos e a convivência destes comigo metendo conversa, mais ainda em tempo de férias, quero paz e sossego com os meus pensamentos, já é difícil só por si achar um local tranquilo para me sentar.
Passa no primeiro exame. Traz um jornal debaixo do braço, é mais velho que eu, nada de exuberâncias mas tudo roupa boa. (Quem disser que isto é materialismo, está a mentir; Todos nós nos analisamos pelo que vestimos).
De qualquer forma não vou ficar muito tempo, estico a mão num gesto de aceitação, ele senta-se e só então reparo na cor surpreendente dos seus olhos quando retira os óculos de sol, agradecendo-me.
Quero olhar outra vez e de novo mas não quero ser surpreendido a encará-lo.