sábado, junho 28

"PSD deixará o PS escolher próximo Provedor de Justiça"

Esta manchete é uma vergolha no jogo partidário, assinalando a subalternização do PS, como se o futuro fosse unidirecional. Hoje predominam as forças conservadoras radicais, com laivos de extremismo, (onde já assistimos a isto!), amanhã outro galo cantará. Resta o tempo, até quando?, por vezes o tempo encurta ...

quarta-feira, junho 25

A propósito de Mark Rutte

"Os holandeses, oh!, são muito menos modernos! Têm tempo, repare neles. Que fazem? Ora bem, estes senhores vivem do trabalho daquelas senhoras. São, de resto, machos e fémeas, umas burguesíssimas criaturas que têm o costume de vir aqui, por mitomania ou estupidez. Em suma, por excesso ou falta de imaginação. De tempos a tempos, estes senhores puxam pela faca ou pelo revólver, mas não julgue que com muito empenho. O papel exige, eis tudo, e morrem de medo, disparando os últimos cartuchos. Posto o que, acho ainda mais moralidade neles que nos outros, aqueles que matam em família, pelo desgaste. Não notou ainda que a nossa sociedade está organizada neste género de liquidação? Já ouviu falar, naturalmente, daqueles minúsculos peixes dos cursos de água brasileiros que se lançam aos milhares sobre o nadador imprudente e o limpam, em alguns instantes, a pequenas bocadas rápidas, não deixando mais que um esqueleto imaculado? Pois bem, é essa a organização deles. «Quer uma vida limpa? Como toda a gente?» Dirá que sim, naturalmente. Como dizer que não? «De acordo. Vai ficar limpinho. Aqui tem um emprego, uma família, lazeres organizados.» E os dentes minúsculos cravam-se na carne até aos ossos. Mas sou injusto. Não é a organização deles que se deve dizer. Ela é a nossa, ao fim e ao cabo: é a ver quem limpará o próximo." Albert Camus, in A Queda

terça-feira, junho 24

Assim começou Portugal

“Na era de 1166 [ano de 1128], no mês de Junho, na festa de S. João Batista, o ínclito Infante D. Afonso, filho do conde Henrique e da rainha D. Teresa, neto do grande imperador da Hispânia, D. Afonso, com o auxílio do Senhor e por clemência divina, e também graças ao seu esforço e persistência, mais do que à vontade e ajuda dos parentes, apoderou-se com mão forte do reino de Portugal. Com efeito, tendo morrido seu pai, o conde D. Henrique, quando ele era ainda criança de dois ou três anos, certos [indivíduos] indignos e estrangeiros pretendiam [tomar conta] do reino de Portugal; sua mãe, a rainha D. Teresa, favorecia-os, porque queria, também, por soberba, reinar em vez de seu marido, e afastar o filho do governo do reino. Não querendo de modo algum, suportar uma ofensa tão vergonhosa, pois era já então de maior idade e de bom carácter, tendo reunido os seus amigos e os mais nobres de Portugal, que preferiam, de longe, ser governados por ele, do que por sua mãe ou por [pessoas] indignas e estrangeiras. Acometeu-os numa batalha no campo de S. Mamede, que é perto do castelo de Guimarães e, tendo-os vencido e esmagado, fugiram diante deles e prendeu-os. [Foi então que] se apoderou do principado e da monarquia do reino de Portugal.” “Anais de D. Afonso, Rei dos Portugueses”, citado por José Mattoso, em “D. Afonso Henriques” que, de seguida, comenta: “Este texto mostra que o seu autor considerava a batalha [de S. Mamede, 24 de Junho de 1128] como o primeiro episódio da história portuguesa."

sábado, junho 21

Distância

Os partidos, todos os partidos, apresentam nas suas lideranças, e na ocupação dos cargos públicos, em exclusivo, homens brancos da classe média/alta. (As exceções são minimas e no presente quase nenhumas). Após as últimas eleições, o peso das mulheres, à revelia da regra estabelecida, diminuiu. Os trabalhadores por conta de outrem, assalariados, quase desapareceram, mesmo nos partidos de esquerda. Não se observa qualquer preocupação com um minimo de diferenciação etnico racial. Esta situação é transversal a todos os partidos. Não nos admiremos que os cidadãos se sintam cada vez menos representados e se alheiem da politica.

sexta-feira, junho 20

O habitual

Coisas simples: o calor aperta, os incêndios alastram; a guerra no médio oriente provoca o aumento do preço dos combustíveis; a banca ganha sempre; as forças de segurança estão infiltradas; a liderança do PS é fraca. O habitual. É quase sempre assim, nada vai mudar.

quinta-feira, junho 19

Degredo

Peguei novamente neste livro que me interessou e o Ludgero Pinto Basto me ofereceu. É extraordinária e emocionante a epopeia da resistência ao fascismo através do conhecimento das vidas, personalidades e experiência dos presos politicos a partir do derrube da 1ª República, com especial intensidade a partir dos anos 30. Aqueles degredados para Angra do Heroismo, cuja lista se apresenta de forma exaustiva, quase todos comunistas, devem estar todos mortos, mas a sua memória deveria ser preservada de forma publica e solene.

quarta-feira, junho 18

Averiguações preventivas

Coisas simples: "a averiguação preventiva" a PNS foi arquivada pelo MP. Foi cirurgica e de decisão rápida, agora que PNS já não ocupa função politica relevante. Faltam as outras ...

terça-feira, junho 17

Anjos e Marvão

Um dos acontecimentos mais marcantes a que assisti no período imediatamente a seguir ao 25 de Abril de 1974 foi o da recusa dos oficiais milicianos (João) Anjos e (Carlos) Marvão em comandar uma acção destinada a reprimir uma greve dos trabalhadores dos CTT. Na sequência dessa recusa foram presos. Na verdade a unidade militar na qual, no dia 17 de Junho de 1974, ocorreu esse acontecimento era aquela onde eu prestava serviço militar: o 2º Grupo de Companhias de Administração Militar (ao Campo Grande).

segunda-feira, junho 16

Guerra à porta

Os portugueses veem a guerra como uma realidade distante. Assistimos às cenas de guerras no sofá. Não há portugueses vivos que tenham sofrido os efeitos da guerra à porta de suas casas. Não conhecemos ao vivo os horrores da guerra na nossa rua, bairro, escola, vila ou cidade. Não sofremos dos seus efeitos destruidores na nossa vida, de familiares e de amigos. Temos sido poupados à guerra dentro das nossas fronteiras e julgamo-nos imunes às suas terríveis consequências. Nem se conhecem manifestos que expressem posições coletivas de repúdio pela guerra que, aparentemente, não nos diz respeito. Assistimos resignados à devastação de comunidades, e à morte de inocentes, com palavras e sentimentos de tristeza mas com tímidos gestos de solidariedade. Podemos dizer que sentimos, mas não expressamos, em sobressalto coletivo expressivo, a nossa indignação. Julgo não ser injusto se disser que reina entre os portugueses, perante uma real ameaça de generalização da guerra, um silêncio sepulcral. O mais que se comenta é o impacto económico como se estivéssemos imunes a qualquer estilhaço da guerra ao vivo. E aguardamos que nos caia no regaço alguma vantagem.

sábado, junho 14

Nativos

Coisas simples. Aquela rapaziada candidata à CM do Porto e adjacentes, que andou ao murro é imigrante? Ainda na inclita cidade, os atacantes da equipa que apoiava os sem abrigo, são imigrantes? E o murro no actor da Barraca? tem o selo imigrante? E por aí adiante, basta passar os olhos pela CMTV, CNN, NOW... Os poderes públicos são mansos para os indígenas para não ofender a portugalidade. Os criminosos estão à beira do poder ou já o alcançaram nalguns nichos... são todos nativos!

sexta-feira, junho 13

Fernando Pessoa- nasce em Lisboa (13 junho de1888)

“Saber não ter ilusões é absolutamente necessário para se poder ter sonhos. Atingirás assim o ponto supremo da abstenção sonhadora, onde os sentidos se mesclam, os sentimentos se extravasam, as ideias se interpenetram. Assim como as cores e os sons sabem uns a outros, os ódios sabem a amores, e as coisas concretas a abstractas, e as abstractas a concretas. Quebram-se os laços que, ao mesmo tempo que ligavam tudo, separavam tudo, isolando cada elemento. Tudo se funde e confunde.” “Livro do Desassossego” – Fernando Pessoa, aliás, Bernardo Soares, Ajudante de Guarda-Livros na Cidade de Lisboa

quinta-feira, junho 12

10 Junho

Passou o 10 de junho com discursos cerimoniais politicamente corretos.O país confronta-se com a sua face miguelista - a aspiração ao poder absoluto - que se confronta com o velho liberalismo de várias matizes. É uma história antiga. Pelo menos desde o século XVIII que este confronto marca a passagem do tempo. É dificil discernir, no nosso tempo, os desígnios dos "absolutistas". A sua ponta de lança tem no cerne a designada segurança dos nativos e a ameaça da portugalidade pelo afluxo de imigrantes que se instalam ou passam em trânsito após adquirirem a nacionalidade. Os nativos estão velhos e cansados e não dão sinais verdadeiros de pânico. Os negócios carecem de mão de obra barata que os nativos não almejam. Restam os arruaceiros que vociferam investindo encobertos pelas claques e pela redes sociais. Tudo visto e ponderado é tudo bastante ridículo. Quais os interesses que se encobrem nestas arruaças? Os verdadeiros interesses estão todos instalados ou em instalação a coberto dos poderes que supostamente são ameaçados. Os imigrantes não ameaçam nada nem ninguém. São os novos pobres e, ou os acolhemos a nosso serviço, ou morremos com eles. A força pública que arrecade os arruaceiros. (Estou a acabar de ler o longo romançe da Teresa Horta acerca da Marquesa de Alorna e está lá tudo na segunda metade do século XVIII.Pombal, D. Maria. D. João VI, o Intendente Pina Manique)... Fotografia - a Guida sentada no local onde foi enforcada a familia dos Marquezes de Távora-familiares diretos da Maria Teresa Horta.

segunda-feira, junho 9

Centeno

Centeno é uma das poucas figuras públicas, em exercício de funções, de reconhecido prestigio técnico e honorabilidade pessoal. Tomou parte da politica vindo da academia que não desdenhou para se afirmar na politica a partir da sua competência técnica. Será por isso que é tão atacado seja qual for a função que desempenhe. É o Portugal mesquinho no seu melhor. Basta ler os clássicos. O governo em funções tem uma boa primeira oportunidade para mostrar sentido de estado reconduzindo-o como governador do BP. A ver vamos.

domingo, junho 8

A Guerra

Convenhamos, a guerra está instalada aos bocados, como disse Francisco, a barbárie campeia, Gaza é uma tragédia humana inaceitável, a Casa Branca, sede do governo da maior potência, um manicómio, a Ucrânia um trágico campo de experiências militares e por aí adiante. A Europa vai investir na defesa, nós por cá todos bem...

sábado, junho 7

Bob nos prados de Verão da Normandia. O seu capacete coberto de goiveiros e ervas bravas.

6 de Junho de 1944. Neste dia, 81 anos atrás, os aliados desembarcaram nas praias da Normandia. É o princípio do fim da ocupação nazi da Europa. Morrem, em poucos dias, muitos milhares de soldados das forças libertadores e das forças ocupantes. Os relatos hoje retomados, em toda a sua dimensão heróica e trágica, engrandecem os vencedores e os valores da liberdade. Camus por estes dias escreveu no seu Caderno: "Criação corrigida. O carro de assalto que se volta e se debate como uma centopeia. Bob nos prados de Verão da Normandia. O seu capacete coberto de goiveiros e ervas bravas. Cf. Relatório da comissão inglesa no Times sobre atrocidades. O jornalista espanhol de Suzy (pedir o texto) (crianças mostravam-lhe os cadáveres, rindo). Duche frio no coração durante uma hora. Fala-se durante o dia da possibilidade de comer uma sopa de leite à noite porque isto faz urinar várias vezes durante a noite. Que os W.C. ficam a cem metros do prédio, que faz frio, etc. - Ao entrarem na Suíça, as mulheres deportadas dão gargalhadas ao verem um enterro: - "É assim que tratam os mortos, aqui!" - Jacqueline. - Os dois rapazes polacos a quem obrigam a queimar, aos catorze anos, a sua casa, estando os pais lá dentro. Dos catorze aos dezassete anos, Buchenwald. - A porteira da Gestapo instalada em dois andares de um prédio da rua Pompe. De manhã, trata da casa no meio dos torturados. "Nunca me ocupo do que fazem os meus inquilinos." - Jacqueline no regresso de Koenisberg a Ravensbruck - 100 quilómetros a pé. Numa grande tenda dividida em quatro. São tantas as mulheres, que não podem deitar-se no chão, a não ser encaixando-se umas nas outras. A disenteria. Os W.C. a cem metros. Mas é preciso passar por cima dos corpos e até pisá-los. Faz-se ali mesmo. - Aspecto mundial no diálogo entre a política e a moral. Perante esse aglomerado de forças gigantescas: Sintes (…). - X. deportada, libertada com uma tatuagem sobre a pele: serviu durante um ano no campo dos S.S. de …". In "Cadernos II" (Caderno nº 4 - Janeiro 1942 - Setembro 1945), Albert Camus, Edições Livros do Brasil

quinta-feira, junho 5

Estado social

O Estado Social é uma grande conquista das sociedades ocidentais (e não só) impulsionado pelo movimento socialista e sindical, com forte salto e expressão no pós guerra (1945). Pelas razões históricas conhecidas, Portugal não acompanhou esse movimento senão após 1974. O acesso generalizado à educação, aos cuidados de saúde e à segurança social, são as pedras angulares do Estado Social, conquistas do movimento socialista e sindical, após o 25 de abril. Não é uma pequena coisa mas o cerne do modelo social dominante no nosso país. Quem melhor o defende? Os próprios beneficiários que aceitam o papel do Estado, o imposto progressivo, o voto livre, o modelo político da democracia representativa. Não há Estado social sem democracia, ou seja, liberdade de escolha a todos os níveis da sociedade. Qualquer cedência a derivas autoritárias, mesmo quando aparentam a defesa de um Estado forte, é um risco de queda na desordem da arbitrariedade dos vendedores de ilusões.

domingo, junho 1

Fidelidade

Há pessoas com imagem de politicos que passam a vida a trair os seus partidos. É uma vantagem e atributo da liberdade. Viram ao sabor do vento, desconhecendo o sentido da palavra fidelidade. Rui Rio é um desses politicos, com notoriedade, mas há muitos outros. Desprezíveis.