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domingo, 22 de outubro de 2017

O Gestor


Lembrando agora, com essa historia de crise, anos atrás, quando trabalhava numa repartição publica, agora extinta, na ocasião tava acontecendo um lance com os ares-condicionados, que quebravam e não voltavam mais, ficavam empilhados na oficina por falta de peças, o negocio era rezar pra que não quebrasse, pois senão ficaria só com a ventilação natural soprada do buraco na parede onde antes ele ocupava, ou abrindo as janelas, também mantendo a porta aberta e suando o resto do dia. 

O gestor da empresa, da época, o presidente, teve que se afastar para disputar o cargo de deputado estadual e deixou em seu lugar para terminar os dois anos restante dos quatro que duravam, um amigo, pra tapar o buraco, quebrar o galho. Ai antes de o homem chegar começou os sensacionalistas de plantão, já é de praxe, a "rádio corredor", a espalhar de onde o homem tinha vindo soltaram até fogos quando ele saiu, imagine que perigo, a peça que vinha, pobre da gente. Mas, o temível homem chegou. 

A primeira coisa que ele fez, mesmo dia, na hora do almoço, foi almoçar com a gente no refeitório, entrando na fila e tudo, de bandeja como fosse peão, a turma ficou assim... estupefata...Onde já se viu?! A primeira vez... Um doutor almoçando aqui! " - A comida da mulher dele... " Um gracejou ao meu lado, "pra preferir almoçar aqui.. ". É, porque "Os dotô" vão almoçar em casa e voltam mais tarde. Esse inovou. Após o almoço em sua sala, ele perguntou, estranhando, pelos ares-condicionados do refeitório, almoçou no calor, já tinham até tapado a abertura, disseram que tavam na oficina por falta de peças para repósição, não tinha dinheiro pra comprar. Ele mandou chamar um funcionário e incumbiu de anotar numa prancheta de sala em sala aonde tava faltando ar-condicionado, na outra semana, chegou um caminhão baú com ar condicionado tudo novo, da marca Cônsul, lembro bem, branco gelo, os defeituosos foram jogados fora . 

E tem mais, na época estava ocorrendo uma epidemia de cólera, doença da idade media, mas, que tinha voltado, e tudo mundo passou a trazer garrafas Pet com água de casa, adicionadas de algumas gotas de Hipoclorito de Sódio, água sanitária mesmo, pra matar os micróbios da cólera e lavar tudo por dentro, na sala que eu estava na ocasião a gente fez uma vaquinha e comprou um gelágua, e toda semana um caminhão da agua mineral Indaia passava e um o calunga, trazia um garrafão e cada um se coçava e tirava umas moedinhas dos bolsos e comprávamos. O "dotô" soube e determinou, que ninguém mais compraria agua mineral, que ficaria a cargo da empresa, bastando apensas requisitar ao almoxarifado, e cada sala ganhou um gelágua. 

Tá achando que ele tá fazendo muito? Teve mais, substituiu toda frota da empresa, as latas-velhas que não aguentavam ir daqui pra Petrolina ou mais perto até e ficavam no caminho e mandou os veículos antigos pro leilão. Reformou todos os banheiros da empresa, mandou por chuveiro aonde não tinha, lâmpadas, pintar portas, fez a parte dele. Reativou a Associação Recreativa, a mais de ano fechada, o cupim comendo, e voltou a ter festas na época de São João, de ano novo, de novo. Até a turma que gosta de tomar uma gostava do "dotô": " - O doutor é legal! Gosta de tomar uma com a gente", soube. Depois teve a ideia de fazer uma licitação publica pra mudar o plano de saúde, escolhemos o melhor e mudamos. O "dotô" pegou o trem andando e em dois anos fez o que em quatro o outro não faria, pelo jeito. 

Não sei de onde ele tirou tanto dinheiro se antes não tinha ao menos para comprar as peças dos ares-condicionados. Não sei que mágica ele fez, só sei que fez, o povo quer ver resultado. Surpreendente esse "dotô", excelente gestor.

 (Fabio Murilo)

sábado, 4 de fevereiro de 2017

O Gosto


É comum eu ficar na dúvida, normal. Mas, não tenho pressa de escolher, só vou na boa, não lembro de arrependimentos. Mas, também, frequentemente, decido logo de cara, bato o olho e pronto, é relativo. Como há dias atrás quando fui comprar um sapato pra trabalhar. Pedi logo o que tava no pé, que já venho comprando repetidas vezes, acho que já uma três vezes da mesma marca e modelo. A moça da loja de sapato me atendeu e disse, é de praxe: - Olhe esses... E eu, - Quero esse do pé. Ela pensou alto: “será que tem?" Procurou e até encontrou, só que branco, disse-me que ia solicitar de outra loja na terça feira estaria em mãos. Mas, não é que me agradei de outro muito parecido, idêntico, do tipo que nem precisa usar as mãos pra calçar, com os pés mesmo eu tiro e calço que nem sandália de tão confortável, bati o olho num sapatênis, posteriormente, nem tava pensando em comprar, esses cruzamentos de sapato social e tênis, bem bolado, pedi um par. Pedi também uma meia, tudo isso acontecendo num espaço de quatro metros quadrados a minha frente de prateleira, sentado numa cadeira. E só sei que ao pegar o ônibus pro shopping, descer, entrar, me dirigir a loja, escolher, pagar, levei ao todo 1 hora e voltei pra casa. Mesma coisa foi pra comprar os óculos de grau, fui numa rua conhecida por ter uma ótica junta da outra, tipo rua das óticas, aqui tem uma ruas assim, dos eletrodomésticos, de roupas de recém nascidos, etc. Pois bem, como ia dizendo, na primeira ótica, antes de entrar, da rua mesmo, bati o olho num óculos, parecendo para-brisa de carro esportivo, arredondado, abraçando a cara, design arrojado e já cheguei apontando, encostando o dedo na vitrine: Esse aqui! A atendente tudo bem, esse. Mas, ela disse, não quer com umas lentes foto-sensíveis? - Quero não, esse, assim mesmo. Com lentes anti-reflexo, pra diminuir a incidência da luminosidade da tela do computador, pra usar quando dirigir? Ela insistiu, - Não, repeti, esse aqui, com essas lentes mesmo. Temos aqui também com um liquido apropriado pra limpar as lentes, baratinho... (quer mulher insistente..) NÃO! ESSE AQUI! DO JEITO QUE TÁ! rs. Na hora de passar o cartão, outra novela, mas dessa vez a culpa foi minha mesmo, na hora de por a senha esqueci... Deve ter sido pelo estresse dela, acho que culpa dela também, rs. Tentei uma vez, duas... Na terceira liguei pra casa, não encontraram a senha que tinha guardada num lugar estratégico, ai a solicita vendedora disse: - Mas agora não tem mais limite, pode tentar mais de três vezes, dez, que não bloqueia. - Jura? - Juro. Tentei mais uma vez, nada, quarta vez... BLOQUEOU! A sujeita ficou com um riso amarelo. Poxa, voltar sem os óculos, perder a viagem... Ah, perco não! fui a um banco relativamente próximo, e o dinheiro que ia destinar a outra coisa tirei pra pagar a vista, iria dividir o valor dos óculos no cartão, mas... Lamentável! Eu tão organizado! Em casa liguei para administradora do cartão e só vim a receber outra senha 15 dias depois. Agora quero comprar um lustre, pra por na sala, faz meses, já fui varias vezes no Atacado dos Presentes, são tantos, mas, esse tempo todo, só me agradei de um até discreto, pequenino, hoje passei lá novamente ainda em falta, tem outros, mas, só gostei desse, procurei até aqui na net, quando cheguei, nada. É... Terei que escolher outro, é o jeito. Sei lá questão de gosto. Gosto é gosto. Comigo é oito ou oitenta, sem meio termos. Talvez precise rever esses meus conceitos, relaxar mais, ser mais flexível, não sei, rs.
  
Fábio Murilo, 04.02.2017

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Tubarão


Meu cachorro Tubarão, um legitimo vira-latas, também tinha suas predileções, seus apegos, gostava mais de tio Zezinho que de mim, seu dono, no coração ninguém manda, nem de um dito irracional. Tubarão... Tubarão porque se era um mamífero, um quadrúpede, um cachorro e não peixe? Tubarão porque, como era sabido, tinha que botar nome de peixe que é pra não pegar rabugem, diziam na época (não sei o nome científico da doença, uma espécie de sarna animal que faz, gradativamente, a medida que coçam, criar feridas e cair o pelo do bicho, que era tratada com banhos de folhas de melão, não esses melões vendidos em feiras, mas, um que dava no mato, com uns frutos diminutos, umas bolinhas vermelhinhas que só comiam os passarinhos e se a gente comesse morria, diziam). 

Pois bem, continuando, quando ele via tio Zezinho enlouquecia, não balançava só o rabo, balançava-se todo, rabo, cabeça, orelhas, patas, e lançava-se violentamente contra a porta, que dividia a cozinha da terceira sala, ou seria terceiro cômodo? E urrava alto com espantosa alegria. Tio Zezinho costuma trazer fatias de salsichas  pra ele, num pedaço de papel de embrulhar pão. Naquele tempo não se sabia de ração, dava-se o que tivesse pro bicho, resto de comida, etc. Só faltava ele dividir a mesa conosco, era da família, ora! Hoje não se veste os bichos, trata feito gente, rs. 

Pois bem, mas, num dia fatídico, de triste lembrança, porém, tubarão teve a infelicidade de comer ou deram pra ele “bola”, a bola que estou me referindo não era um brinquedo , um mimo, uma bola mesmo comprada em Pet-Shoppings, era uma armadilha pra matar cachorro, que consista pelo que ouvia falar, de carne enrolada com vidro picado ou esfarelado dentro, não sei se usavam 1.080 (veneno pra rato), mas a historia que era vidro mesmo, uma ultima refeição macabra preparada com requintes de crueldade, por alguém sabe-se lá porque. 

Pois é, Tubarão comeu. Mamãe viu Tubarão dentro do quartinho, caladinho, espumando que nem gente epilética, tremendo-se todo. Assim que soube tio Zezinho veio correndo. Deu leite, o antídoto mais acertado, na época, nem sabia que existia medico pra bicho, veterinário. E Tubarão nada, quer dizer, não estava mais nadando, agonizava, dilacerado em suas entranhas. Uma hora, teve jeito mas não, o leite não tava fazendo efeito. Tio Zezinho se afastou e só assistiu a tudo... Enquanto as lágrimas caiam uma a uma do rosto. E Tubarão foi lentamente mudando de reino... Estado... Virando pedra... Inerte...  Que não mais balançava o rabo, latia, se movia, se alegrava quando via o Tio Zezinho... nenhuma... Pedra, a-b-so-lu-ta-men-te estático. Tio Zezinho, calado... Nada mais podia ser feito. Pegou de uma inchada, solene, foi para o beco ao lado da casa e pouco a pouco, foi cavando a duros golpes, também a furar nosso peito, um buraco pequeno.  E depois nele de depositou o corpinho do fiel amiguinho canino, dentro do mais obscuro esquecimento. Abafando, de vez, silenciando os latidos, o jeito enlouquecido, quando o via, do cachorro com nome de peixe que é pra não pegar rabugem.

Fábio Murilo (11.09.2016)

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016




sexta-feira, 8 de janeiro de 2016


sexta-feira, 1 de maio de 2015


sexta-feira, 6 de dezembro de 2013


sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Que Nasça a Poesia

Que nasça a poesia, uma por dia.
Que não acabemos o encanto dela,
Mas que ela floresça e nos aqueça.

Como esse sol matinal e ameno
Que pontual não atrasa e não falta,
E seca o orvalho da mata,
Desperta a sinfonia dos pássaros
Pinta de azul o firmamento,
E colore, enfim, toda a natureza.

Que no final do dia, cansado, ainda é mais lindo.
Guerreiro vencido, agonizando,
Manchando o céu vespertino em dores escarlate.
Tombando encantado ao final da tarde,
Afundando no breu da noite num breve adeus.

Parceria Poética: Fábio Murilo/Fernanda Oliveira
Do Blog Inspiração: http://nandamusicpoesia.blogspot.com.br/2013/10/que-nasca-poesia.html#comment-form

sexta-feira, 18 de outubro de 2013


sexta-feira, 26 de julho de 2013


sexta-feira, 21 de junho de 2013

O que é Poesia Engajada?

Para os adeptos da arte alienada social e politicamente é suficiente escrever bem, escrever certo. Obedecer a métodos e técnicas. Ser profissionalmente competente e conseguir o retorno financeiro desejado. É a prática da técnica pela técnica. Ser competente é dominar, em um nível de excelência, todas as técnicas disponíveis. O negócio é fazer bem feito para ser admirado, ser reconhecido. Cada verso, cada palavra tem de seguir uma métrica, sonoridade, ritmo, como quem segue um receita de bolo. Rubens Alves diz que:

“Quem escreve não escreve a fim de. Para aquele que cria, sua obra é um fim em si mesmo. A literatura não tem objetivos além de si mesma. O prazer da leitura é seu próprio fim [...] a literatura não tem objetivos pedagógicos. Não tem por objetivo a comunicação de idéias. Ela não é uma forma indireta de inculcar verdades que poderiam ser comunicadas de maneira direta em livros de ciência ou filosofia. Um escritor não escreve para comunicar saberes. Escreve para comunicar sabores. O escritor escreve para que o leitor tenha o prazer da leitura [...]” 

Por este enfoque, é suficiente que a poesia seja bela. As palavras combinem umas com as outras e estejam em harmonia no texto. Basta que a leitura seja agradável e que o livro venda o máximo de exemplares possível, dando ao seu autor fama e dinheiro. Vale, portanto, a indignação de Monet queixando-se de pessoas que perguntavam sobre os significados de seus quadros: “Não pintei quadros para que tivessem sentido. Pintei quadros para que aqueles que os vissem os achassem bonitos”. O problema é que o belo pode servir a todos os senhores, servir a Deus e ao Diabo, mantendo a consciência do artista em paz, como foi, por exemplo, a música de Wagner para o Nazismo.

A poesia do “belo pelo belo” é, portanto, invariavelmente um projeto individual de seu autor. Mais um ato individual em meio a tantos outros atos individuais. Tudo isso faz sentido para a maioria das pessoas justamente porque estamos em uma sociedade centrada numa lógica de valorização do egoísmo. Acima de tudo e de todos, ficam os interesses individuais do cidadão proprietário. É normal pensar em si mesmo. Vale o ditado popular: “Cada um por si e Deus por todos”.

Mas será que não há outra maneira de ver a arte? Será que não há outra maneira de fazer arte? A arte deve ser apenas tecnicamente competente, ou pode/deve apresentar objetivos mais nobres? A arte deve ser vista apenas como mais um produto posto à venda, nesta sociedade de mercado que tudo transforma em mercadoria, ou pode transitar em um campo para além das relações de troca e de propriedade?

É nesse sentido, fazendo estas reflexões acerca da poesia alienada social e politicamente, que alguns poetas fazem um contraponto, apresentando a Poesia Engajada. Quer dizer, estes artistas entendem que a poesia, enquanto expressão artística, não se esgota em si mesma. Não tem como essência cultivar o “belo pelo belo”, ou ser apenas tecnicamente perfeita, dar dinheiro para o seu autor, trazer fama e sucesso.A poesia do “belo pelo belo” é, portanto, invariavelmente um projeto individual de seu autor.

É nesse sentido, fazendo estas reflexões acerca da poesia alienada social e politicamente, que alguns poetas fazem um contraponto, apresentando a Poesia Engajada. Quer dizer, estes artistas entendem que a poesia, enquanto expressão artística, não se esgota em si mesma. Não tem como essência cultivar o “belo pelo belo”, ou ser apenas tecnicamente perfeita, dar dinheiro para o seu autor, trazer fama e sucesso

A primeira característica deste tipo de arte, portanto, é esta: ela não é neutra. Ser um poeta engajado, é ter consciência que estamos em plena batalha por uma sociedade melhor, mais justa, mais humana. Ter consciência de que não é possível ficar alheio, neutro, em pleno cenário de guerra, como se o poeta fosse uma entidade metafísica, cujo corpo não sofresse as mazelas da realidade cruel

A Poesia Engajada, portanto, é instrumento de luta social. O poeta acredita em um mundo melhor e usa a poesia como arma para alcançar seus objetivos. Fazer poesia é defender uma causa. É ser movido por idéias. No mundo da Poesia Engajada não há lugar para os neutros ou indiferentes. Este é um mundo exclusivo dos que possuem a sensibilidade, ou coragem, de se posicionar. Ser engajado é saber se posicionar a favor de um dos lados em luta.


Fonte(s):

quinta-feira, 28 de março de 2013

Eu sei, mas não devia - Antônio Abujamra

Eu sei, mas não devia

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto. 

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

Marina Colasanti

sexta-feira, 8 de março de 2013

 
Da mais alta janela da minha casa
Com um lenço branco digo adeus
Aos meus versos que partem para a Humanidade.


E não estou alegre nem triste.
Esse é o destino dos versos.
Escrevi-os e devo mostrá-los a todos
Porque não posso fazer o contrário
Como a flor não pode esconder a cor,
Nem o rio esconder que corre,
Nem a árvore esconder que dá fruto.


Ei-los que vão já longe como que na diligência
E eu sem querer sinto pena
Como uma dor no corpo.


Quem sabe quem os terá?
Quem sabe a que mãos irão?


Flor, colheu-me o meu destino para os olhos.
Árvore, arrancaram-me os frutos para as bocas.
Rio, o destino da minha água era não ficar em mim.
Submeto-me e sinto-me quase alegre,
Quase alegre como quem se cansa de estar triste.


Ide, ide de mim!
Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza.
Murcha a flor e o seu pó dura sempre.
Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua.


Passo e fico, como o Universo.

(Da mais Alta Janela da Minha Casa - Alberto Caeiro) 


sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013


"Como explicar que o homem, um animal tão predominantemente construtivo, seja tão apaixonadamente propenso à destruição? Talvez porque seja uma criatura volúvel, de reputação duvidosa. Ou talvez porque seu único propósito na vida seja perseguir um objetivo, algo que, afinal, ao ser atingido, não mais é vida, mas o princípio da morte." - Dostoiévski.

Versos, Poesias, Poemas – Diferenças.

Questões complexas muito perguntadas na internet, pelo que tenho reparado. Vou tentar responder abaixo, aproveitando para tentar explicar um pouco mais outros conceitos relevantes relacionados que podem esclarecer outras dúvidas:
  • Poema - é a obra (texto) em verso, poema é a organização, estrutura das palavras. Existe por si mesmo, independente de quem o lê.
  • Poesia - é a qualidade poética de um texto ou obra de arte ou situação. Pode haver poesia num por de sol, por exemplo. Está em quem a sente. Filosoficamente, ela não pode existir por si mesma, independentemente de alguém que a sinta.
  • Verso - é cada linha de um poema. Também é chamado verso a forma de escrita que não é prosa.
  • Estrofe - é cada uma das seções que constituem um poema. Isto é, cada agrupamento de versos, separadas por uma linha em branco.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

A música, seja ela qual for, expressa dentro de nosso cérebro uma sensação de bem estar. Ela está presente nos momentos de festa para nos alegrar e nos momentos de tristeza para nos confortar. A música ensina a viver, algumas trazem versos que parecem estar falando de você. É como se o compositor estivesse escrito ela pra você. Em todas os países e em todas as culturas, a música é música. Como dizia Nietzsche: “Sem música, a vida seria um erro.” - Bruno Prata

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Cantares de Salomão - Bíblia

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013