AVISO AOS NAVEGANTES:
texto longo com reflexões polêmicas e requer uma grande capacidade de abstração
e um desprendimento de algumas crenças e “achismos”. Esse é um daqueles posts
em que eu escrevo junto com o marido e nós nos aprofundamos mais em algum tipo
de assunto controverso. Não espere um texto doce e de fácil digestão. As vezes para aprender é necessário desaprender e nos desprender de muito daquilo a que fomos doutrinados ao longo da vida.
É
importante observar que, apesar do blog Coisa de Casada ser sobre CASAMENTO e
não um blog religioso, a autora é cristã e eventualmente posta coisas
relacionadas à sua crença. Portanto, a postagem de hoje é direcionada às
leitoras cristãs (apesar de ser um esclarecimento bem completo sobre o tema e
que vale a pena ser lido por todos). Esperamos, sinceramente, que acrescente
algo em sua vida!

RELIGIOSIDADE É UM AQUÁRIO QUE TE AFASTA DO OCEANO DA GRAÇA DE DEUS
ROCK IN RIO, VIDA CRISTÃ E CULTURA “SECULAR”
Recebi algumas mensagens de leitoras (diga-se de passagem,
todas cristãs), me questionando sobre o ROCK IN RIO 2015, logo depois que eu
postei que estava separando o meu look para ir ao evento. “Pensei que você
fosse crente”, disse uma. “Você não era evangélica?”, questionou outra. Recentemente postei outra foto relacionada a "show secular" (eu e meu marido com minha irmã e meu cunhado em um camarote do show do Jorge e Mateus) e algumas pessoas soltaram textos bíblicos soltos para dar base à uma crítica. Por
isso, resolvi fazer um texto sobre o pensamento do CASAL FERRO sobre VIDA
CRISTÃ e cultura “secular”.
Repare como existe um ciclo em que os religiosos ditam quais
aspectos culturais "são de Deus" e quais “são do diabo". Quando
falamos sobre qualquer coisa que envolva cultura, temos que entender que existe
um preceito bíblico que precisa ser respeitado: “tudo aquilo que não provém de
fé, é pecado” (Romanos 14:23).
Lembrando que fé é a certeza a respeito de fatos, mesmo que não seja
possível comprovar esses fatos de maneira visível (Hebreus 11:1). Parafraseando um amigo: Se uma pessoa tem dúvidas a
respeito da legitimidade de participar de um determinado evento ou de um show,
então com certeza ela não deve participar.
A verdade é que a cultura tem muito pouco a ver com isso. O
problema não é a cultura, mas os fariseus. Esses acreditam firmemente que o
mundo se encherá do conhecimento da glória do Senhor quando todas as pessoas se
tornarem religiosas e quando a religião ocupar cada espaço da vida.
Pausa para uma
dica: desconfie de quem tenta passar um excesso de santidade. Carroça que faz
muito barulho, geralmente está vazia.
Pessoas assim resumem a vida em dois lados opostos: a
“igreja” e o “mundo”. Para eles, todos os lugares, objetos, atividades,
pessoas, discursos e até dias da semana se resumem em “de Deus” ou “do mundo”,
isto é, são separados e santos ou apenas comuns e profanos. Pessoas assim
parecem possuir uma necessidade (quase patológica) de espiritualizar
tudo ou pronunciar o nome de Deus em relação a tudo, como também, e
principalmente, de ordenar a própria vida e o viver de outras pessoas a partir
de dogmas, ritos e tabus. O problema desse tipo de pensamento é que confunde-se
espaço religioso com espaço sagrado – onde tudo é bom e aprovado por Deus, e
espaço secular com espaço profano e tenebroso, onde tudo é mal e inspirado pelo
diabo.
Pessoas que seguem esse tipo de pensamento normalmente são os primeiros a condenar ao inferno os que
pecam diferentes de si mesmos. Não
entendem uma verdade básica: somos todos hereges da teologia uns dos outros e
absolutamente cegos quanto às nossas próprias heresias, contradições,
hipocrisias e superficialidades.
Deveríamos nos infiltrar no
mundo como agentes transformadores do Reino de Deus (não tô falando de ficar
pregando em todo lugar e espiritualizar tudo, mas em VIVER uma vida honesta e digna em todos os lugares, pois esse é o
verdadeiro testemunho da transformação). No entanto, a verdade é que estamos
sendo infiltrados e servindo de chacota por causa de nossas idiossincrasias. De
que adianta uma roupagem espiritual se não estamos impactando positivamente os que estão à nossa volta? Triste evidenciar que estamos mais preocupados em nos edificar
do que edificarmos o nosso próximo. O egoísmo anda travestido de
espiritualidade.
Quando volto meus olhos para o Evangelho eu vejo um Deus que
deseja que seus filhos sejam "uma carta de Cristo, escrita não com tinta, mas
com o Espírito do Deus vivo; não em tábuas de pedra, mas em tábuas de corações
humanos. Vejo um Deus que nos orienta a
adorá-lo não com ritos ou exclusivamente em templos, mas, sobretudo no coração,
em espírito e verdade. Vejo um Deus que
executou um plano de salvação e nos deu liberdade para viver todas as coisas sem nos corromper com nenhuma delas." A
salvação não se dá pelo que nós fazemos, mas pelo que somos (salvos pela graça - favor imerecido).
Essa outra maneira de compreender o Evangelho faz com que
surja em nossa mente a possibilidade de viver um tipo diferente de
cristianismo, baseado na compreensão de que jamais passou pela cabeça de Jesus
um mundo impregnado de religiosidade (na verdade, ele combateu fortemente isso),
onde os símbolos do sagrado – meios – fossem confundidos e tomados como fins.
Jesus falava de sal, luz e fermento. Repare que são elementos
que afetam o “local” onde estão inseridos:
“Ninguém come bolo de fermento. Para aproveitar o dia
ensolarado é tolice ficar olhando para o sol. E a comida salgada é intragável.
O fermento faz crescer a massa com chocolate, o sol ilumina o dia para quem
deseja a vida, e o sal realça o sabor dos alimentos. As metáforas são óbvias: A espiritualidade cristã é supra religiosa, pois uma vez
esvaziado e encarnado no seu Cristo, Deus extrapola os limites do
culto-clero-domingo-templo e ganha as ruas. Na cruz de Cristo e sua
ressurreição, o véu do templo se rasga e a glória de Deus vaza para a vida,
deixando para traz as estreitas bitolas das estruturas religiosas.”
A verdade é que precisamos entender que vivemos no tempo da
graça, dias nos quais o Espírito de Deus está sobre a igreja (pessoas),
edificando as vidas e concedendo-nos discernimento para agirmos em conformidade
com a vontade de Deus em todos os aspectos. Também é necessário lembrar que ACHISMO é diferente de VONTADE DE DEUS. As vezes citam um versículo isolado para ""mimimizar" nos comentários, enquanto eu leio, em todo o evangelho, algo diferente. Precisamos também nos desprender da religiosidade. Para isso é necessário entender que não alcançamos a
liberdade buscando a liberdade, mas sim a verdade. A liberdade não é um fim,
mas uma consequência. E a VERDADE, está mais próxima do que você imagina:
"Eu sei
que eles têm preocupação pelas coisas de Deus, mas é um cuidado mal
direcionado. Pois eles não conhecem a justiça que vem de Deus e procuram
estabelecer sua própria justiça, rejeitando assim a justiça estabelecida por
Deus. Porque o fim da Lei é Cristo, para que todo aquele que crer seja
declarado justo." (Romanos 10:2-4)
Observe:
"Ainda que eu falasse a língua dos homens e falasse a
língua dos anjos, sem amor eu nada seria. É só o amor que conhece o que é
verdade. O amor é bom, não quer o mal - não sente inveja ou se envaidece."
O trecho acima pode parecer de uma música cantada dentro das
igrejas, pois é cópia da Bíblia, mas é da música "Monte Castelo" da
Legião Urbana. É interessante observar como algumas músicas consideradas
"do mundo" ou "seculares", possuem letras incrivelmente
mais bíblicas que muita música gospel.
Se fôssemos nos abster
de consumir cultura não-cristã, deveríamos deixar de assistir TV, ver filmes,
usar eletrônicos, acessar a internet e até mesmo trabalhar, pois tudo à nossa
volta está impregnado de cultura não-cristã.
Não é porque alguém se intitula cantor cristão, por exemplo, que de fato o
é e ao mesmo tempo não é porque alguém é chamado de cantor "secular" que suas
músicas não terão mensagens boas e de grande proveito. Há muitas músicas
"seculares" que não mencionam Deus, mas ainda promovem bons valores, tais como:
honestidade, pureza e integridade. Se uma canção de amor promove um sentimento
sincero e belo – mas não menciona Deus ou a Bíblia – mesmo assim não tem problema
escutar essa canção.
Ah mas o "Jorge e Mateus" (dupla sertaneja que gosto muito!) tem algumas músicas não edificantes. Sim, podem ter algumas, mas muitas (a maioria) são lindíssimas. Pare por um minuto e tente ver por outro ângulo: Você deixaria de ir a um almoço com um amigo "não crente" e se divertir num papo gostoso com ele só porque parte dos assuntos que serão abordados serão "seculares"? Você deixaria de sair para jantar com um casal de amigos só porque "parte" do que forem conversar não vai te edificar? Deixaria de trabalhar só porque não se fala de Deus o tempo todo no seu trabalho?
Lógica dos religiosos:
• Escandalizar o próximo é fazer algo que ele não gosta;
• Os cristãos se baseiam no amor, por isso, não devem fazer o que o próximo não gosta;
• Logo, não devo fazer nada que meu próximo não goste, para não escandalizá-lo!
Parece bom quando você pensa na pessoa fazendo algo que você não concorda (tal como ir a um show "secular" ou usar tatuagem), mas aplique essa lógica nas demais coisas:
Exemplo 01:
• Maria não gosta de bater palmas;• Os membros da igreja da Maria a amam, portanto, não devem escandalizá-la batendo palmas durante os cânticos;• Na igreja da Maria, ninguém pode bater palmas!
Exemplo 02:
• Isabel entende que se maquiar é incorreto;• Os membros da igreja da Isabel a amam, portanto, não devem escandalizá-la;• Logo, na igreja da Isabel, nenhuma mulher pode usar maquiagem!
Ficou mais claro?
Pessoal, o escândalo que Jesus proíbe é uma imoralidade ou pecado que leva uma pessoa a se desviar da fé. Quando Cristo diz que o escândalo é algo a ser evitado, e que é terrível, está se referindo às atitudes imorais e pecaminosas que podem prejudicar outras pessoas, e não apenas a qualquer atitude que cause algum desconforto a outras pessoas!
O escândalo que Jesus não proíbe é:
1) Desagradar alguém (afinal, Jesus também não agradou a todos!);
2) Não fazer o que o próximo quer (afinal, Jesus também não fez, nem faz tudo o que todos querem!).
Se eu só pudesse ouvir músicas que falam de Deus, ou estar nos lugares [ditos] "sagrados", eu deveria
só consumir qualquer outro tipo de cultura que tivesse a ver com Deus e só me divertir aos domingos na cantina da igreja depois do culto. Só poderia
ler livros sobre Deus, assistir filmes sobre Deus, ver programas de TV sobre
Deus, ler revistas sobre Deus, etc.
Qual a diferença entre ir a um show ou ao cinema? Você assiste novela todo dia e se acha melhor do que alguém que ouve "música do mundo"? Você não bebe vinho mas não perde uma paradinha num fast food pra entupir todas as veias? Se vangloria por não fumar mas se entope de refrigerantes e todo tipo de açúcar possível, numa tentativa de curar suas frustrações? Alguma coisa tá errada aí, né?
Estamos tão acostumados a aceitar a autoridade como verdade
que não percebemos que o correto seria aceitarmos a verdade como autoridade. Observe com o máximo de atenção:
"Foi assim que Cristo nos
libertou. Agora, cuidem para permanecer
livres e não fiquem novamente presos pela cadeia da escravidão [da religiosidade]. Escutem bem o que eu digo a vocês: se vocês estão contando com as praticas
religiosas para fazê-los justos diante de Deus, então Cristo não pode
salvá-los. E vou repetir: qualquer um que deseja usar de práticas
religiosas legalistas para se justificar ou ser mais merecedor de salvação,
precisa aplicar toda a Lei e não ser
seletivo só aplicando aquilo que convém. Cristo é inútil para vocês se
estão achando que podem saldar sua dívida para com Deus pela guarda da Lei. A
única coisa que vocês conseguem fazer com isso é se privar da graça de Deus. Mas nós, pela ajuda do Espírito
Santo, estamos aguardando pela fé a justiça que é a nossa esperança. Porque os
que estão em Jesus Cristo não precisam se preocupar em cumprir rituais
religiosos da Lei, pois nada disso tem efeito algum, pois a única coisa que
precisamos é a fé operando pelo amor."
(Gálatas 5:6 - Nova Bíblia Viva) Pode ligar um holofote em cima desse texto???
“Ok, mas e quanto ao
Rock in Rio ou ao show do Jorge e Mateus?”
“Eu devo ir nesses
lugares com o intuito de evangelizar?”
Não, o dever do cristão é entender a máxima ensinada por
Jesus: basta ao discípulo ser como o seu
mestre (Mateus 10:25). Olhando para o nosso mestre, percebemos que Jesus tinha
o hábito de ir à festas e andava próximo a ladrões, bêbados e prostitutas. Isso
significa que Jesus se corrompeu com alguma dessas coisas? Claro que não.
Jesus ensinou como as pessoas poderiam viver para Deus dentro de suas próprias
realidades. Ele levou visivelmente os valores do Reino para a vida das pessoas
de sua época.
"E os fariseus, vendo Jesus comendo na mesma mesa junto a publicanos e pecadores, disseram aos seus discípulos: Por que come o vosso Mestre com os publicanos e pecadores?
Jesus, porém, ouvindo, disse-lhes: Não necessitam de médico os sãos, mas, sim, os doentes. Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento." (Mateus 9:11-13)
“Ah, mas se eu for em um
show como o do Rock in Rio, eu vou pecar!".
Então não vá! Se você admite isso, é louvável sua sinceridade
e muito prudente da sua parte não se aproximar muito das coisas que te fazem
mal. No entanto, não faça da sua limitação uma regra para os outros indivíduos.
Não é porque você é fraco que todas as pessoas são fracas. Não é porque você é
um viciado em bebida ou sexo que todas as pessoas vão sofrer da mesma maneira."
Sair da escravidão do pecado e ser escravo da religiosidade
não é grande vantagem. Comunhão não é só olhar para a nuca do irmão durante
duas horas todo domingo. Culto e adoração a Deus precisam ser demonstrados em
todos os aspectos da nossa vida (no cotidiano). Ser templo do Espírito (aquele Templo de carne que pouco se fala) e ser igreja (fazer parte de um grupo de seguidores de Cristo de todas as partes do planeta) é algo bem mais
amplo e profundo do que "recarregar as baterias" no domingo à noite. Evangelizar não deve ser apenas um evento,
mas um estilo de vida de honestidade, amor e misericórdia.
O propósito do ensino do Evangelho na vida do cristão é fazer
com que todas as pessoas aprendam a ser livres. Talvez você não tenha
maturidade suficiente para frequentar certos ambientes. Mas se aquilo que o
evangelho estiver produzindo na sua vida não estiver te capacitando a cada vez
mais ser uma luz que ilumina o mundo, sem que você se corrompa com as coisas
desse mundo, então você está estagnado na sua fé.
Tudo em excesso e sem controle pode destruir. Domínio próprio
até onde eu sei é um fruto do Espírito. O problema é que muitos dos cristãos
vestem uma suposta roupa de infalibilidade. Ao invés de ensinarem os
alcoólatras a terem domínio próprio, preferem sumir com as bebidas para que
eles não sejam tentados, como se eles pudessem ficar sempre longe de qualquer
bebida nesse mundo. Utopia, hipocrisia. Ou seja, escondemos o problema dele
embaixo do tapete ao invés de tratá-lo. Nosso papel é ensinar as pessoas a ter liberdade sem ser consumido por ela.
Já pensou um estuprador que aceita a Cristo e ainda,
eventualmente, sente impulsos sexuais fortes... será que a solução é castrá-lo
e a todos os outros homens da igreja, ou tratarmos a compulsão que ele sente
ensinando-o a usar o domínio próprio que Deus lhe deu? Será que os outros
homens que conseguem usar sua sexualidade da maneira correta e sadia merecem
ser castrados só porque uns e outros são tarados? Será que todas as mulheres da
igreja deveriam usar burca só porque existem alguns irmãos tarados? Esconder é
paliativo. Precisamos de conversões completas e verdadeiras, com a
transformação das mentes. Sem pseudo-santidade, sem hipocrisia gospel.
Vamos voltar ao Mestre:
Lembra da oração de Jesus em favor dos discípulos? “Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal”
(João 17:15). Pena que algumas pessoas interpretam como sendo
exatamente tirar o cristão do mundo, separando-o em “guetos gospel”. Fecham-se
tanto que jamais conseguiriam impactar alguém “do mundo”. Pode uma lanterna
ligada dentro de um baú fechado iluminar o quarto?
Santidade não é ser separado DO mundo, mas PARA
O mundo. É viver nesse mundo de maneira digna, impactando as pessoas de
maneira natural, VIVENDO EM CRISTO – em todos os sentidos e em todos os
lugares. Um cristão verdadeiro tem o dever de manifestar os valores do Reino de
Deus em tudo o que ele faz e em tudo que ele é. "Não vá a um show para
evangelizar as pessoas. Seja amigo verdadeiro das pessoas! Mostre a elas como se divertir sem se exceder. Mostre com a sua
vida aquilo que nenhum panfleto nesse mundo será capaz de ensinar."
Que Deus seja glorificado em tudo que temos, em tudo que somos
e em tudo que fazemos.
Nesse texto foram citados trechos de pastores que admiro, tais como o Ari e Ed René Kivitz!
Siga-me no Instagram: @karolyneferro
Snapchat: karolyneferro
Marido e eu fomos ao Rock in Rio e foi realmente épico!