24.12.05
23.12.05
Questões de máxima urgência
Marcela, recebi o presente!!! YESSSSSSSSSSSS!!!Delicioso -- em todos os sentidos.
Muito obrigada, você é uma florzinha.
A Laura manda dizer que perus congelados em geral vêm com instruções bastante precisas. Basta ler o Kamasutra (RTFM). Se o peru for recheado, você não precisa fazer nada, a não ser regar alternadamente com suco de laranja e vinho branco.
Caso o peru não seja recheado, faça uma farofa da seguinte maneira:
Ponha esta farofa dentro do peru, tempere-o com sal e pimenta por dentro e por fora e ponha pra assar como descrito acima.
Se você não conseguir farinha aí em Seattle, pode usar pão molhado no leite até ficar bem macio, um ovo inteiro, os miúdos do peru bem cortadinhos e as maçãs e passas.
Se o peru não for recheado, e você estiver com preguiça de fazer tudo isso, basta temperá-lo com sal e pimenta e recheá-lo com uma maçã inteira, com casca e tudo.
Como acompanhamento, batatas assadas no próprio tabuleiro onde for assado o peru; uma bela salada; e compotas de frutas.
Monica R., você tem certeza que quer rabanada de forno? Não serve a frita, normal? Essa a Laura sabe fazer muito bem e pode te passar a receita. Avise!
Aqui no sítio está tudo ótimo.
Não está nem frio nem quente, os cachorros ficaram apopléticos quando cheguei, e não sou besta de me meter com cães que ralam, mas há uma viralatinha que é tudo de bom e veio me saudar com a gentileza dos cachorros que não têm obrigação de defender a casa.
A conexão Vivo Zap está funcionando que é uma lindeza.
O bacalhau do jantar estava uma glória.
A vida é bela.
Beijos para todos!
Boas Festas!
Pessoas, estou puxando o barco e subindo para o sítio, para passar o Natal com a Sábia Coruja das Highlands (nome pelo qual é conhecida a Mamãe em família). Vou mandar fotinhas e, provavelmente, me conectar de lá.Se a preguiça for maior do que eu (às vezes é!) e eu ficar só nas fotinhas, relevem esta vossa escriba, que ainda está meio gripada.
E, desde já, fica aqui o convite para o pré-réveillon do blog, organizado pelo Lucas, nosso diretor social: será no Palaphita Kitsch, no dia 28, quarta-feira, à partir das 21hs.
Todos que quiserem aparecer serão muito bem-vindos.
O Palaphita fica na Lagoa, exatamente em frente ao Corte de Cantagalo; e pode ser reconhecido pelos telhados de sapé e pelas capivarinhas coloridas do Pojucan espalhadas em frente, no gramado.
22.12.05
Nem tudo está perdido
Um conto de Natal se repete todos os dias em Santa CruzRosana Monteiro é uma jovem veterinária de Campo Grande, nascida e criada em Santa Cruz, onde até hoje residem seus pais, e onde, com a ajuda do marido George e do amigo Artur, alugou uma casinha modesta mas acolhedora. Junto com George, consertou o que precisava ser consertado, conseguindo material de construção e tintas em promoção e descobrindo a mágica de criar novas cores usando pó Xadrez. Percorreu brechós e, com o restinho das economias, comprou dez carteiras escolares. A organização Viva Mais Feliz estava pronta para funcionar.
"Nosso bairro, Santa Cruz, o último do Município do Rio de janeiro, também é o último na lembrança dos nossos governantes", escreveu em seu blog. "Aqui se encontram o CCZ e os maiores conjuntos habitacionais (o que nos faz pensar que aquilo que incomoda deve-se manter distante), gente humilde e gente do bem. Aqui não se encontram cinemas, teatros, eventos culturais, de cidadania ou de meio ambiente -- apenas em época de eleições, já que aqui está o maior curral eleitoral do Estado. Quanto ao IDH, Santa Cruz ocupa a 119º posição, em uma lista que vai do 1º ao 126º."
Hoje, as dez carteiras de brechó recebem alunos especiais: adultos e jovens com dificuldades de aprendizado, que não sabem ler nem escrever, e a quem Rosana aos poucos ensina não só as letras, mas a cidadania e o amor às pessoas e aos animais. Seus auxiliares de trabalho são a gata Basted, os cães Nina, Carmessita e Biju, e a galinha Xirley -- todos salvos do CCZ, o Centro de Controle de Zoonoses, ponto final da famigerada carrocinha e da vida de tantos bichos. O seu papel é descontrair o ambiente, interagir com os humanos, dar e receber carinho.
No blog, sob uma foto da salinha de aula, Rosana escreveu:
"Aqui já existe uma turma de alfabetização em evolução. Pessoas do bem que tiveram suas vontades reprimidas, ou porque foram à luta cedo demais, ou porque são pessoas especiais, ou porque ficaram órfãs. Enfim, todos os motivos justificam o nosso desejo em realizar seus maiores sonhos: aprender a ler e conquistar respeito. Aqui não existe vergonha, existe coragem. Aqui todos compreendem o quanto são importantes. Encaram o preconceito como forma de teste. Sabem que ignorantes são aqueles que os desprezam."
-- As pessoas acham que sou maluca, -- me confidenciou Rosana. -- Perguntam por que não abro um consultório e vou ganhar dinheiro, ou por que gasto meu tempo ensinando a adultos, quando é tão mais fácil ensinar crianças. Mas você não imagina a ânsia de aprender que eles têm, como se sentem vitoriosos a cada letra aprendida, a cada sílaba decifrada! Você não imagina como é humilhante para eles carimbarem o dedo em vez de assinar o nome num papel. As dificuldades são enormes, mas não há recompensa maior do que ver as sementes do trabalho germinando. O dia em que o Sebastião apareceu com a carteira de trabalho assinada foi um dos dias mais felizes da minha vida.
Este dia está, naturalmente, anotado no blog:
"Sebastião, um dos alunos da turminha de alfabetização, estava desempregado... mas não está mais. Todas as portas se fechavam, porque nem seu nome sabia escrever. Mas Sebastião não perdeu as esperanças e nós sempre acreditamos em seu potencial. Aprendeu a assinar seu nome em poucos dias, ainda não sabe ler, mas já vê uma pontinha de luz, a que lhe devolveu a dignidade.
-- Hoje eu assinei uma ficha no emprego!
Sebastião conseguiu.
-- E assinei no banco também!
Ao perguntar como havia se sentido, ele respondeu:
-- Me senti gente.
Todos aplaudiram."
O trabalho de Rosana não fica restrito às quatro paredes da sala de aula. Ela atua junto à comunidade, pregando a posse responsável de animais, vacinando e castrando cães e gatos, conversando um pouco aqui, dando um conselho ali. Às vezes, descobre gente como a dona Sirleidi:
"Catadora de papelão, aceita qualquer coisa que possa ser vendida no ferro velho. Uma senhora mais forte do que o peso que carrega, empurrando seu carrinho por quilômetros, todos os dias. O que Dona Sirleidi espera? Poder alimentar mais de 50 cães de rua que encontra pelo caminho. Alguns a acompanham por todo o percurso.
-- O que tenho todos os dias é demais pra mim, eles é que precisam comer.
Dona Sirleidi não conhece o conforto, não espera mais do que o simples fato de conseguir, diariamente, doações de sucata.
--Tem papelão hoje? Porta velha, telha, garrafa plástica, vergalhão?
A justificativa que já usamos muitas vezes, ?Não faço porque não tenho? ou ?Quando tiver farei?, me faz sentir vergonha neste momento, ao conhecer Dona Sirleidi.
-- Se eu não aparecer, eles morrem de fome."
Pois é. Eu achei que, nesta semana de Natal, depois de passar o ano lendo a respeito de tanta gente safada e mal intencionada, vocês gostariam de saber que também existem pessoas como a Rosana e a dona Sirleidi nesta nossa Mui Leal e Heróica. Se quiserem ajudá-las, basta escrever para rosanavmonteiro@yahoo.com.br. E não deixem de visitar o blog, para uma dose e tanto de esperança na humanidade: www.vivamaisfeliz.org.
(O Globo, Segundo Caderno, 22.12.2006)
Utilidade Pública:
Se alguém quiser contribuir financeiramente com a Organização Viva Mais Feliz, eis a conta para depósitos:
Rosana Monteiro
Banco do Brasil
Agência 0296-8 (Bangu)
cc 31590-7
Uma história da Matilda
Quando eu digo que tenho os melhores leitores do mundo, o povo acha que é exagero. No outro dia vocês leram aquela beleza de história do Truda -- um filho de mágico entre nós, ignorantes disso!; pois leiam agora esta história da Matilda.Eu ainda estou secando as lágrimas, chorei de rir, de verdade. E o pior é que nem posso fazer isso, porque volto a tossir -- minha gripe chegou à fase do "só dói quando eu rio"...
Eu tinha pavor de rãs, pererecas e afins, mas pavor mesmo, não ficava jamais no mesmo ambiente que elas, nunca, nunca! Digo tinha, porque, num lindo final de verão quentíssimo me aconteceu o pior de todos os meus pesadelos.Matilda, você é o máximo, muito obrigada!
Fui passar o carnaval com onze crianças e adolescentes (meus filhos e todos os meus sobrinhos na época, hoje são mais), sozinha, na fazenda do meu pai.
E chegar numa casa fechada há quase um mês com tantas crianças, depois de viajar de onibus e andar de carro de boi até a sede dá trabalho, dá trabalho abrir e arejar a casa, verificar e limpar os banheiros, fazer comida, dá a comida a esse povo todo, desarrumar malas, ligar as chaves da luz, ligar a bomba da água, televisões, etc..., depois do jantar dá banho nos menores, por todo esse povo para dormir, fechar as dez portas, trocentas janelas, fechar os cortinados das camas, apagar luzes, recolher brinquedos, enfim, nessas tarefas todas esqueci de verificar o meu banheiro das rãs e no verão as rãs ficam no banheiro por causa da água, olhei todos, esqueci o meu.
E depois de todos dormirem, de tudo pronto lá fui eu, tomar banho, um banho delicioso com água pura da fonte, sem cloro nenhum, maravilha para os cabelos, com um chuveiro grandão, quase dava para abrir os braços e ficar toda debaixo da água lindamente gelada, uma catarse de banho.
Antes de tomar banho, eu, a anta cósmica, fui fazer xixi.
E não tinha olhado antes.
E...
A rã agarrou na minha bunda.
Sério.
Toda minha vida passou nas minhas veias naquele momento.
Puro e total pânico.
O pior, o mais profundo mal tinha me atacado.
E de forma humilhante e cruel.
Normalmente eu berraria.
Mas...
Com todas aquelas crianças e todas já dormindo confortavelmente...
E o trabalho que ia dar para acalmar todas depois...
Engoli o medo. Agarrei a rã agarrada na minha bunda, e puxava e ela agarrada e puxava e ela agarrada e puxava e ela agarrada, as duas, eu e a rã apavoradas, numa luta insana.
A rã largou minha pele e eu a joguei janela do quarto afora, xingando ela baixinho, porque no silêncio de uma fazenda à noite tudo se ouve e eu não queria barulho. E fechei a janela e lavei tanto a mão e a bunda que chegou a machucar a pele.
Depois disso, qualquer coisa que alguma rã me faça jamais chegará àquele pavor de novo e, tendo passado pelo pior, olho todas as rãs com uma solene e profunda indiferença.
Sou capaz até de tomar banho com rãs dentro do chuveiro, perdi o medo.
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