Metereologia 24 h

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segunda-feira, 29 de julho de 2013

A Aldeia de Lisboa

Sou da opinião que Lisboa é uma cidade maravilhosa porque tem as suas raízes nas tradições aldeãs e não as perdeu totalmente para o progresso. Não perdeu o cheiro, a brisa, a luz, o verde, as flores e nem os seus recantos de encantos.


E é com esta intro que vou falar da notícia que acabei de ver na TV, sobre o novo Código da Estrada e a circulação em bicicletas. Existe, em Lisboa, muita boa gente que adoptou a bicicleta como o seu meio de transporte. Acho isto extraordinário. Não por andarem de bicicleta, que também adoro e entendo perfeitamente, mas por o fazerem entre tantos veículos cuspidores de poluição. Por o fazerem em estradas grandes e movimentadas. Acho que é a prova de que por mais que o progresso chegue a Lisboa, esta terá sempre as raízes em hábitos ancestrais, sobreviverá sempre este lado mais "aldeia" e natura que muitos carregamos no ADN.


Meu avô costumava ir e vir de e para o trabalho de bicicleta. Não sei quantos quilómetros fazia mas como vivia em Lisboa e trabalhava fora da cidade levando cerca de duas horas de deslocação em cada sentido, vou imaginar que seria uma valente distância. Mas na altura, década de 50 ou mesmo 60, a estrada era de terra. Chegava coberto de pó, voltava cheio de pó. Se a estrada principal não era alcatroada, também não tinha automóveis :) Pelo que só posso imaginar o quão agradável conseguia ser o percurso. Mesmo com as dificuldades óbvias - principalmente no inverno e com chuva e frio, com a estrada de pó a virar lama - uma maratona numa já maratona - imagino. Mas o aspecto da poluição não se colocava. 

Hoje coloca-se. 

Também eu, nos longíquos anos 2000/2001 utilizei a bicicleta muitas vezes em Lisboa para me deslocar para o trabalho. Lembro perfeitamente que adorava. Na altura ainda não existiam vias para bicicleta, pelo que ia pelas estradas. Tinha cuidado redobrados por partilhar a mesma via que os automobilistas mas achava totalmente natural e viável. Contudo, de lá para cá continuo a gostar de andar de bicicleta mas já não me imagino a fazê-lo para este tipo de deslocações. E não sei bem explicar porquê. Talvez porque fiquei sem bicicleta e nos entretantos em termos de saúde e energia algo mudou, ou talvez porque a consciência ou o receio tornou-se mais forte ou a capacidade para manter o sentido de alerta apurado esteja preguiçoso. Não sei. 

Gosto destas bicicletas em que o tronco
viaja direito mas por cá não me parece
que se possa usufruir desta forma da bicicleta.
Ainda mais usando um vestido curto e
umas sandálias fashion. Porém pode ser a solução
para se ver automobilistas a ser simpáticos.
Todos os dias vejo ciclistas a passar, a subir a íngreme rua como se não custasse - e sei que custa, a descer agradavelmente rápido, enfim, muitos ciclistas - alguns em passeios de família com os filhos, passam nesta zona. Nesta e noutras, porque os há por todos os lados, faça chuva ou faça sol. O parque que tenho aqui ao lado também está sempre com pessoas de todas as idades. Desde crianças a idosos. Uns a jogar futebol, outros a passear os cães, outros a correr, a andar de bicicleta, de patins, de skate... Acho esta faceta de Lisboa muito agradável. 

Talvez passe despercebida a muitos, na azáfama do dia-a-dia, mas Lisboa mantém os seus laços com a natureza e uma vida mais simples. E talvez nunca os perca. E é por isso que é uma cidade tão encantadora. Recentemente decidi ir a pé até um centro comercial, num percurso paralelo a uma estrada principal movimentada. Enquanto pude, fi-lo por entre as habitações mas um pouco afastada do passeio. Depois a partir de um certo ponto é mesmo preciso continuar pelo passeio. E esse ponto de mudança é um Pinhal. Sempre me surpreende que, no centro de uma cidade como esta e ao lado de uma movimentada estrada, se possa encontrar um pequeno Pinhal. Ali uma pessoa pode despender uns segundos e fazer um "reset". É a ironia de contrastes. É agradável respirar fundo o ar de Lisboa naquele lugar, ao mesmo tempo que vejo e escuto o barulho dos automóveis a passar ao lado. Depois continuei o percurso pelo passeio, que está repleto de árvores e arvoredos. Muitos em plena flor, trazem aromas agradáveis. Muito diferente do lado oposto, quase sem uma árvore ou uma sombra. 

Tomara que nunca desapareçam estes elementos vitais para a qualidade de vida da cidade e da população. O progresso não justifica a morte.