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2025/05/22

A tua mesa da escola,..

 O horror,

Eu sei o que o horror é,

Duas e tal da manhã e murros na cara,

Pontapés e um lápis meio gasto jogado aos teus pés,...


E uma voz sumida,

 e ao mesmo tempo mais estridente do que alguma vez ouviste,

Pede-te que desenhes,

Uma avó que não a tua,...


A tua mesa da escola,

Com o garoto da voz iníqua ao teu lado,

Que te aponta o sol,

e faz um desenho dos rostos sonhados e desunidos,...


E na volta da manhã,

Olhas

Arredondas os olhos,

Curvas os gestos,

E não estás em lado nenhum...


Há um quarto que é isso,

Lado nenhum,

A sul de um coração enlouquecido

                                                                   Tirado daqui

Pintura de Eric Bowman

2024/08/03

...a roupa que um sonho consegue alinhavar

                                                                           Tirado daqui

Ilustração de Jessi Toca

falam de verdades,
uma linha,
duas noites
sem fim nos pés de um anónimo,...

falam num destino interminável,
em que ninguém se
vai conhecer,
e vai haver vai e vens,
e desânimos descontrolados,
com uma vela que se auto-destrói no centro do mundo,....

e que falem,
porque o som enamora-se
do silêncio,
e a madrugada,
usa a roupa que
um sonho consegue alinhavar

2020/09/18

Desabrido

Saía,
Ou pensava que saía,
Composta de casa,
As prioridades alinhadas naquele mesmo livro de sempre de alberoni,
O escritor do feel good desabrido,... 

Hoje era dia em que as figuras de estilo lhe saltavam na cabeça,
Como cogumelos atómicos desenfreados,
Se calhar iria,
Até certo ponto,
Apelidar as pessoas com o enlevo certo,
Sem ser ofensiva,
E depois,...

Com os mesmos três dedos de sempre,
De qualquer uma das mãos,
Sacudir qualquer coisa invisível do azul de linho da saia,
E passar ao próximo cenário,...

Até poderia ter uma evasão alugada ao minuto no parque de todos os dias,
Não se iria importar 


2018/10/28

Amor personagem das noites

sussurrei o que teve de ser,
afirmar a pequenez do meu ser,
dizendo que se calhar 
iria dissolver aquele momento,
o nosso momento,
e esperar pelas pedras soltas 
que há muito gritavam a partida,...

não sei dizer mais que o 
aperto de todos os dias,
passados a pensar o adeus,...

que te fique a poesia,
a mesma que te acordava,
quando havia ainda amor 
personagem das noites 


2018/10/26

Usual esquecimento

hás-de encontrar o que sobra,
o que resta,
aninhado nos enleios
do chão sujo de memórias,
com o sangue do
último sacrifício
incrustrado,
em semente,
ao canto de uma sala
qualquer do que foi a tua vida,...

enquanto isso a água
corre lá fora,
com um vento
assemelhado
aos lobos da noite,
soltos pelo prado,
falando impropérios
em todas as línguas do mundo,...

não sei mais
se dizer-te para esperar,
servirá para pintar este,
como outro quadro,
sem autor,
esquecido


2018/10/25

Insónias de chuva

na maioria choravas
a dizer o vento,
dormias de boca
encostada aos
desencontros de céu,
que pintavam irregularmente
as ruas de um
molhado incendiado,...

a noite servia para argumentarmos
as escaras do silêncio,
eu escrevi-me em
sangue na tua pele,
e tu,
purulenta indefinição
de ódio na minha,...

por não perceber a
frase inconstante
da tua voz,
de mim absorveste o som,
fracionado em choro


2018/08/26

Medo de um sonhador

a querer cidades,
frases soltas de um rio,
o da aldeia escrito no menor resoluto fim de um discurso,
era o sonhador a quem temiamos,
deixar de ter medo parecia agora fácil com o vento assim agrilhoado,...

estava vestido com nuvens até aos pés,
e na cabeça era com os cabelos cor de douro que cobria as ideias,
as mesmas que perdia pelo chão a cada passo conciliador,...

decidiu chamar sonhador aos restos facilitados de mar que lhe sobraram,
sem nunca entender o medo dos conformados pelo que difundia


2018/07/13

Minimalismo

esta mania de bocadinhos
fazia,
com que começasse
todos os
poemas por minúsculas,....

até os pedacinhos
 de sono que trazia
agarrados à franja,
quando o sol menino a
beijava no estio
de cada manhã,
já deram uma cidade
inteira a voar
no assuão,
do amor da
despedida


-—————————/-/—————

2018/07/07

Mãos invertebradas

de vez em quando a
musicalidade de um plural,
e a vontade de
pisar a linha de nem
haver verbos,
com jardim montado
na gola de um casaco,
arrebitada porque
 o frio nos
decapita a solidão,...

tudo frases
pintadas como
se gosta,
e o que traz
um olá desnecessário
que escorre do
nunca mais quero ver-te,
procurando o lado
 certo da rua das
mãos invertebradas

2018/06/19

Lá onde tudo faz sentido

Todas estas coisas aconteciam quando ela estava a pisar os vinte e quatro anos. Estava sem ocupação fixa, já que não conseguia sentir as fardas como segundas peles, nem ouvir todos os dias impacientes desmandos de frustrados a escarafuncharem-lhe os ouvidos, como se fossem papa-formigas esfomeados a furarem a terra.
Trocava esses milhões de rotinas que já parecia ter tido, por passeios reconfortantes naquela terra onde agora estava, e da qual preferia não saber o nome. Contentava-se com o vento a pentear-lhe os cabelos, ao mesmo tempo que beijava as paredes de cada prédio com os bons dias sacramentais. Adorava decifrar cada nascer do sol, como se tivesse o enigma primordial no horizonte, escrito no vermelho fogo que só aquela terra parecia ter.
Nunca quis, no meio de todo este afã sensorial, comprometer-se com ninguém. Era filha do acaso, e só conseguia dormir à noite depois de tocar cada ponto cardeal do seu corpo, e sentir que continuava a ter prioridade no festim silencioso que eram as madrugadas consigo própria.

2018/06/07

Jardim

com uma ideia em crosta no fustigar
dos cabelos,
desmotivava-se de continuar o tempo que preciso fosse,...

habituada estava a ser a única do jardim que dormia,
ao virar da esquina,
o sitio onde a continuidade espaço morte que nos arranca a pele,
cessava de existir,...

e falava com as pedras sem lhes pedir a ratio de ali estar,
o medo de pressionar realidades que nem existiam,...

chamava-se o que a vontade de não escrever quisesse,
e na solidão dos cabelos da noite,
recordava tudo o que não fosse preciso da vida

2018/05/02

Peixeiros

diz-me cá se sonhares com pregões de peixeiros,
dos que fazem valer a vida por bem vivida,
Isso faz de ti apreciador do que a verdade nunca nos explica?,...

pelo sim pelo não hoje vou desligar o candeeiro à noite,
a pensar que sonhar com mudos nos faz gostar de mentirosos

M

2018/03/18

1983

Tinhas todos os 1983 perdidos
No cabelo enquanto lias,
Presa num presente medievo
Refletido no olhar de tarde
De rádio em onda média,
A tua era a minha luz de pátio
De verão a acabar,
Acalmava-me espreitar o sossego
Dos pios de pardal,...

Os que tão bem se misturavam com
O cabelo de areia dourada que
Escorria sobre as letras,
Daquelas histórias sem futuro que
Adoravas sorver,
E depois,
No fim do fim de dia de
Adolescência feliz,
Desprendia os olhos de ti e
Voltava para o escuro
Deste quarto onde,
Debruava a vida em tons pastéis de solidão da velhice

2018/03/06

...és como os seixos da beira praia

...és como os seixos da beira praia
Em dia de transumância,
De cardumes feita,
Com ondas desenhada,...

E o vermelho fogo da madrugada
A contornar a pressa
De seres,
Tempestade...

Image result for ondas a rebentar

2018/02/07

e fomos praia até à madrugada

disseram-me que eras o frio,
o que escorre das paredes
da cidade perdida nos segundos sem cor,...

desenhei-te a soprar mais forte que o
vento que traz facas,
e retalha o movimento perpétuo
das rosas no que me lembro,
dos teus cabelos,...

os que voavam sem parar,
num vai e vem de baunilha
descrito,....

sentei-me onde pensei poder
reencontrar-te,
e com o entardecer a abraçar-me,
tranquilamente,...

surgiste eterna nas pedras
da falésia onde te perdi,...

e fomos praia até à madrugada,
e para lá do tempo ensurdecedor
da rebentação....


2017/08/19

Limpas noites a chorar....

amaste-te de forma crua.
Insubstituída. 
Até a chuva te doía quando o desgosto batia à porta para matar,
Eu ri-me da desdita,
Dos insultos proferidos em surdina quando os sem cara viravam costas para
Não mais voltar,
Aquí e ali vinha a noite pedir-te
O sexo menos natural,
Dizias que não,
Mas um não independente,
Nada credível,
Com a música soando a sacrificio só 
para desfazer quaisquer aproximações menos claras,
E no fim restavam todos os tus que nunca
encontraste,
e a menor parte do que és quando te cobres com
a pele da redução à menoridade….

2011/09/29

Texto #90

Tremelicava o pulso. Gostava de o fazer, mas arredondando a situação de forma a que ninguém reparasse. Era uma nova velha, ou uma velha com tiques  de nova. Gostava ainda de se chamar insuficiente desculpa de ser humano com quem nada se pode conversar. Era pendurada nas situações menos claras que este sentimento criava, que passava as noites. Abraçava-se ao picotado do escuro, sempre com o pulso a tremelicar. Se não o controlava, arrastava-se no turbilhão que a situação proporcionava.

2011/05/25

Quandistão do Sul



As pessoas sentaram-se à mesma mesa para tentar discutir a forma como aquele dia poderia terminar. Quando o relógio obstinadamente pisou a meia-noite, ainda se ponderava a possibilidade de ter havido uma sequência de pessoas a rir desalmadamente da morte de um cão. Ninguém tinha a certeza disso, mas no chão revirado em redor da palmeira mais velha do jardim perdido daquela cidade mediterrânica, estava o cadáver do bicho. Inerte, de olhos esbugalhados, como que a pedir socorro. Quem o descobriu foi uma velha vagarosa, de quem se dizia trazer o sangue de muitas indecisões. Quase tropeçou no animal, e ao desviar-se à ultima da hora rezou para que não se passasse nada de anormal no dia da sua morte, como por exemplo ter de cair inanimada em cima de uma coisa daquelas. Chegou à esquina, avisou o homem do talho, que afanosamente disse ao chinês dos silêncios barulhentos, e pouco mais tarde já o animal tinha mais outro ao lado morto. E mais outro. E mais outro. Até serem tantos, que do exalar de um cheiro pútrido como aquele subiu aos céus uma nuvem rosa de noves fora qualquer coisa..... Parecia mesmo que aquele dia não ia ter fim....

2011/01/24

'Ecapa'


Súbditas as tardes que vêm morrer na praia onde as crianças enfeitadas com tiaras de chumbo, e sapatos feitos de teias de sonho desfeito, gostam de acalmar insubstituíveis práticas comuns de mimetismo. Chamam ‘Ecapa’ à alegria de juntos saltarem o barranco da tristeza, procurando do outro lado coisas que desenhar com as lágrimas que sobravam dos medos que já deixavam de sentir. Sentavam-se em semi-círculo, dispostos por vontade de fazer bem com um simples afago, um bem dizer, um sentido prático de tornar no bem comum as experiências de choro alegre que as tenras idades já lhes permitia gozar.
Parecia rebentar em fogo de artifício a ‘Ecapa’ bem feita. A que secava a areia húmida da praia, e a transformava em ouro. Ou o que parecia ser a alegria dourada de qualquer Deus que na eventualidade de ter criado aquele mundo em Guerra, chorava agora impaciente com o verdadeiro da comunhão de espíritos livres. Bem casados consigo mesmos.
Escrevia-se tudo isto de forma liberta. A pena era de uma mulher bonita, solta de ideias, tristonha mas crente no círculo interminável do mundo. Fazia parágrafos longos entre os diálogos, deixando fontes profícuas de insubstituível desilusão. Mas uma desilusão saborosa. Cheia de expectativa que o dia nascesse amanhã, com mais alegrias destas pintadas a ouro.

2011/01/19

À beira de um quintal....


O meu avô, homem morto e enterrado, estava naquele dia sentado num pequeno banco ruçado, pregado no meio da eira do quintal da senhora sem nome que conhecia toda a gente. Era começo de primavera, dia de estios daqueles difíceis de definir, mas até fáceis de suportar por encurtarem as noites, e esticarem os dias. O homem espreguiçava-se, dizia asneiras, roçava o cu nas folhas ásperas da bananeira que quase esganava por água naquele quintal feio. Perguntei a um e outro que passavam ao lado do muro baixinho da propriedade se conseguiam ver aqueles preparos. Mas toda a gente me olhou com insatisfação das que se dedicam a um doido, e seguiu caminho. Comecei a pensar que só eu lhe emprestava alguma existência. O calor apertava. Tirei o casaquinho de algodão que me aconchegava as espaldas, meti-o debaixo do sovaco, e entrei. Um cão quase me devorou o calcanhar por entre dentes que escorriam baba espremida por uma trela de aço que quase o sufocava. Mas,....nem liguei. Dei um passo seguro, dois indecisos, e ao terceiro já me achava perto daquele ser.
- 'O senhor consegue ouvir-me?'
Respondeu-me com o nada. Continuava a espreguiçar-se.....A entalar os dedos numa vedação rasa e cheia de ferrugem que convidava à doença. Começava a achá-lo morto, quando me disse o que tinha acabado de fazer.
- Tu vais morrer daqui a 10 minutos. Uma dúvida assolar-te-á de forma tão doce, que te tirará o ar dos pulmões devagarinho até te achares aqui ao meu lado, pronto a fazeres qualquer coisa para que a eternidade não seja mais que o que vês defronte de ti.
A prática dizia-me para não acreditar. Sou dado a alucinações quando como coisas pesadas pela manhã. Mas deixei-me ir naquele embalo. Como já me tinha provado estava farto de viver, e não tinha mais nada para fazer deste lado.
O que o homem disse, o meu qualquer coisa de quem já nem sequer me lembrava, começava a traduzir-se no real. O peito mirrava-me, os braços pesavam menos que uma folha de margarida a voar, e assim me deixei ir.
À hora a que escrevo isto, já vejo o ódio do mundo todo guardado na recôndita e espessa matreirice dos velhos.....