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segunda-feira, 14 de julho de 2025

No cérebro digital

A Organização Mundial da Saúde recomenda não expor os menores de 2 anos a ecrãs e limitar o seu uso a uma hora por dia como máximo até aos 5 anos. Apesar das advertências, a imagem de uma criança concentrada num tablet ou num telemóvel é bastante habitual.

Trata-se de uma desescalada tecnológica: tudo o que pode ser feito em papel, é feito em papel. É o que nos dizem os professores da Escola Pia de Caldes de Montbui, perto de Barcelona, cujas salas de aula são um doce retrocesso no tempo.

Não há computadores portáteis, nem tablets, nem quadros eletrónicos. Quase não há calculadoras. E, claro, nem um telemóvel. Numa sala de aula, os alunos do quinto ano, com 10 e 11 anos, copiam à mão o enunciado de um problema de matemática ditado pelo professor (não há folha impressa) e, num caderno à parte, fazem as operações. Noutra sala, alunos do ensino secundário numa aula de Literatura dispõem-se em semicírculo para conseguirem ver a cara uns dos outros.

Os livros são de papel. Os estudantes tiram apontamentos com a caneta e todos têm à mão um corretor, um utensílio nostálgico com a mesma função da tecla delete.

A campainha toca e saem para o pátio onde se conversa e brinca. É um microcosmo, digo para mim. Sobrecarregados como estamos por uma avalancha de estímulos constantes na palma das nossas mãos, tecnodependentes e incapazes de narrar seja o que for sem mostrar uma imagem ou olhar nos olhos uns dos outros enquanto julgamos estar mais ligados do que nunca, a visão de cinco adolescentes a jogar às cartas parece-me uma cena idílica que seria inaudita se tivessem um telemóvel no bolso.

No seu gabinete, Lorena Jiménez e Ascensi Laglera, diretoras pedagógicas da escola, falam como corajosas arquitetas da mudança, porta-vozes de um movimento que decidiu dar prioridade ao papel em detrimento do ecrã. Contam-me como, após a pandemia de COVID-19 e o confinamento, os computadores portáteis e as plataformas online para comunicar com o professor, aceder ao material didático ou fazer trabalhos ganharam terreno: os ecrãs foram a grande salvação, permitiram estudar à distância e os alunos habituaram-se a eles. Mas, ao fim de três anos, começaram a soar os alarmes.

“Demo-nos conta de que os estudantes tinham cada vez mais dificuldade em estruturar apontamentos ou um dossier”, explica Lorena. “Faltava-lhes o exercício mental que se faz em frente da folha em branco, quando se pensa no que é importante e se planeia mentalmente o espaço a dar a cada conceito. Apagar e trabalhar em tempo real com uma aplicação facilitava a criação de apresentações com ótimo design, mas reduziu a capacidade de síntese.” A interpretação de um texto – ou até a definição de um dicionário – era uma montanha a escalar e, nos exames, a má caligrafia juntava-se ao péssimo domínio da ortografia: “Quando escrevemos em papel, temos de saber se uma palavra se escreve com g, com j, com h ou sem h; mas quando escrevemos com autocorrector, não precisamos de aplicar essas regras e não as aprendemos.” O cálculo também se ressentia: “Agora promovemos o cálculo mental.

O factor que convenceu estas duas docentes a revolucionar o projecto escolar foi a irrupção das ferramentas de IA, como o ChatGPT, que inviabiliza alguns princípios pedagógicos básicos: como pode um aluno aprender sem esforço? Como pode escrever bem se nunca escreve?

Naturalmente, esta não é a única instituição a apostar na desescalada tecnológica: há uma tendência global. Há dois anos, a Suécia anunciou um investimento de 60 milhões de euros para voltar a ter livros de papel nas escolas públicas, uma ideia que se expandiu pela Europa.

Em Portugal, o processo é mais tímido, mas também existe. O Movimento Menos Ecrãs, Mais Vida nasceu da iniciativa de quatro mães com filhos entre os 6 e os 12 anos. Catarina Prado e Castro, uma entomóloga forense sediada em Coimbra, cujo trabalho, por vicissitudes do destino, até já foi abordado pela National Geographic Portugal reconhece que ainda só se deram os primeiros passos. “Na Europa e em países como o Brasil, já foram adotadas pela comunidade escolar restrições no acesso aos smartphones. É inevitável caminhar nesse sentido”, diz.

No seu caso, um dos primeiros sinais de alarme soou quando se apercebeu pelas conversas do filho de 10 anos que na escola estava a ter acesso a conteúdos pornográficos. Os filhos de Catarina não têm smartphone, mas a maioria dos colegas tem, e boa parte deles sem qualquer controlo parental. Este é aliás um argumento de peso para não confiar no simples bom senso dos encarregados de educação. Catarina sublinha o carácter aditivo das redes sociais e dos jogos, mas também a necessidade de salvaguarda da privacidade das crianças e o cyberbullying.

“O bullying sempre existiu nas escolas, mas agora pode dar a volta ao planeta e ficar visível para sempre com um impacte mais violento e duradouro”, resume. A exposição excessiva e sem mediação a conteúdos online transformou-se num problema de saúde pública e deve ser encarado como tal. Catarina gostaria de ver, como já sucede noutros países, campanhas de sensibilização para o problema. No passado, estes instrumentos revelaram-se eficazes no combate ao tabagismo, na prevenção rodoviária ou no incentivo à reciclagem. Há por isso motivos para acreditar que também poderia ajudar a superar este problema.

Ainda antes da constituição do Movimento, em 2023, Mónica Pereira, instrutora de ioga para crianças, criou uma petição para levar o tema ao Parlamento. Apesar de reunir 24.000 assinaturas, foi preciso esperar por Setembro de 2024 até o Ministério da Educação, Ciência e Inovação (MECI) aceitar uma reunião com o recém-criado Movimento. Na altura, em Portugal, apenas 2% dos agrupamentos escolares impunham algumas restrições ao acesso a smartphones dentro das escolas. No rescaldo da reunião, o MECI emitiu um conjunto de recomendações às escolas sobre o uso de smartphones em contexto escolar.

Desde então, o número de escolas aderentes duplicou. A relutância em implementar restrições não é fácil de entender, mas Catarina Prado e Castro sugere uma hipótese. “Com quadros muito limitados, é mais fácil manter os alunos absorvidos em frente dos ecrãs do que a brincar no recreio, onde a vigilância seria mais exigente.” Entretanto, algumas escolas estão a trocar os manuais de papel e os cadernos por manuais digitais e tablets. Os indicadores internacionais sugerem que os problemas de saúde mental estão a crescer entre os mais novos e a pandemia tem costas largas, mas Catarina sublinha que vários estudos sugerem que estes problemas já estavam a aumentar quando o vírus surgiu e os ecrãs se estabeleceram ainda mais na vida dos jovens. “A pandemia acelerou um processo de crescimento de problemas de saúde mental, que já estavam em ascensão”, diz.

A médio prazo, as mães portuguesas que se organizaram neste movimento têm a expectativa de que, à semelhança do que sucede noutros países, as escolas sejam zonas livres de smartphones, mas no imediato concentram-se em assegurar que isso ocorra pelo menos até ao 9.º ano, contribuindo para que a idade com que a maioria das crianças recebe o seu primeiro smartphone possa passar da faixa de 9-10 anos para 14-15. Os gurus da tecnologia digital de Silicon Valley gabam-se de não terem ecrãs em casa e inscrevem os filhos em escolas alternativas como a Escola Waldorf, presente em todo o mundo e conhecida por promover a aprendizagem artística e experimental. No mundo pré-pandémico, era considerado um sonho proporcionar computadores portáteis aos alunos da escola primária. O número de computadores e tablets disponíveis reflectia a capacidade de cada escola para enfrentar os desafios do futuro e o nível socioeconómico das famílias. Agora, o lema é outro: quanto menos ecrãs, melhor.

O cérebro digital é uma realidade. Corresponde de facto àqueles que nasceram no século XXI, os “nativos digitais”, mas também se tornou, por adaptação, uma anatomia necessária para a “geração analógica”. É fascinante, mas o fenómeno exige uma observação mais minuciosa.

David Bueno, catedrático de Neuroeducação da Universidade de Barcelona, é membro da recém-criada Comissão para a Digitalização Responsável nos centros educativos da Catalunha. Biólogo de formação, gosta de lembrar que a ciência aprende com todas as expressões artísticas, quer se trate de música, poesia ou pensamento filosófico e que todas têm repercussões no desenvolvimento cognitivo, emocional e social. Talvez por isso, vê-lo posar com essa atitude para a nossa revista na instalação de arte imersiva digital de Irma de Vries, no Museu MOCO, é testemunhar uma cena improvável.

David alerta para o impacte negativo da digitalização excessiva: “Se vivermos num ambiente em que tudo é imediato, isso levará à impulsividade. Estamos a perder a nossa capacidade de atenção e não podemos adiar as recompensas.”

As redes sociais geram dependência: “As gratificações instantâneas que oferecem são descargas de dopamina, um neurotransmissor que funciona como nas adições: queremos mais e, se não o tivermos, sentimo-nos vazios. O humor oscila como numa montanha-russa.”

E podem essas faíscas de euforia alterar as funções cerebrais? Sim, sobretudo nas crianças e nos adolescentes: “Os que olham para as redes sociais com frequência mostram neurodesenvolvimento diferente nas redes emocionais, motivacionais e de controlo cognitivo; a verificação habitual à procura de likes pode estar associada a alterações da sensibilidade neural.”

A equipa do Laboratório ConnectedMinds de Amsterdão tem trabalhado sobre a impulsividade e o impacte dos likes. Wouter van den Bos, licenciado em Filosofia, fundou o laboratório em 2018 para monitorizar as mudanças no desenvolvimento cognitivo dos jovens em relação ao ambiente. A equipa “aterra” nas escolas secundárias munida de tablets com os quais os jovens respondem a todo o tipo de testes, depois analisados com modelos computacionais e técnicas de neuroimagem. O estudo mais recente aborda a repercussão das redes e dos likes na saúde mental e na autoestima: “Nesta faixa etária, são mais sensíveis à aceitação e à rejeição e já não estão só expostos ao que pensa um grupo ou uma pessoa: mostram-se ao mundo inteiro e, através do que publicam, constroem a sua identidade social”, diz Wouter por videoconferência. E, de facto, o humor dos adolescentes muda em função dos likes recebidos.

Quando lhe peço para se pronunciar como defensor ou opositor desta nova realidade, Wouter é evasivo: “Quase todos os estudos têm mais em conta o tempo que os jovens passam em frente aos ecrãs do que o conteúdo que consomem. Assistir a histórias no TikTok ou similares não conduzirá ao desenvolvimento de novas competências. Mas há outras utilizações em que o ecrã é apenas o suporte, e a mudança na forma como percebem os conteúdos não tem de ser negativa.” (...)

Continuação do artigo em National Geographic, por indicação de Livresco

segunda-feira, 21 de abril de 2025

Violência nas escolas – o tabu que é preciso enfrentar

Não vos venho falar sobre violência, um tema já amplamente discutido. Não é necessário repetir os dados, como os mais recentes da PSP, que apontam um aumento de ocorrências criminais em contexto escolar, com 4.107 crimes registados no ano letivo de 2023/2024 vs. 3.824 registados em 2022/2023. Crimes como ofensas corporais, injúrias e ameaças subiram de 8,6% para 14,2% em 2023/2024. Também não vos vou falar da série “Adolescência” que tem gerado atenção e discussão sobre a importância de tratar a violência em contexto escolar de forma consciente, aberta e urgente.
Venho falar sobre algo muito mais insidioso: o tabu da violência nas escolas e como ele é tratado, ou melhor, não tratado por aqueles que podem mudar a realidade.

A violência escolar não se resume a empurrões ou insultos. É muitas vezes subtil e invisível – como o cyberbullying, a exclusão social, as humilhações em grupo ou formas ainda mais graves e violentas – e tende a ser confundida com “simples” problemas disciplinares. É importante distinguir: a indisciplina transgride regras; a violência atinge pessoas e destrói relações. A primeira pode traduzir-se em comportamentos que violam as normas de convivência escolar, como desobediência, falta de respeito ou desordem. A segunda implica danos físicos ou psicológicos que comprometem a segurança e o bem-estar dos alunos.

Diretores, professores e até alguns pais continuam a acreditar que o problema está só “na escola do lado” e que “aqui não acontece” ou, quando acontece, “são situações pontuais” e “sempre provocadas pelos mesmos alunos problemáticos”. Esta perceção, embora compreensível, pode ser um obstáculo à mudança. Admitir a existência do problema não é sinónimo de incompetência, mas o primeiro passo para a solução.

A violência existe em todas as escolas? Talvez não. Mas é uma realidade para a maioria. Muitos alunos acabam por se sentir reféns de um ambiente que os devia proteger, mas que os expõe frequentemente a situações ameaçadoras, com efeitos devastadores não apenas no momento da agressão, mas também no seu desempenho académico, nas suas relações futuras, na sua saúde mental e integração social. E não são só os alunos que sofrem: também muitos professores enfrentam episódios de violência verbal, emocional e até física, tornando o seu local de trabalho num espaço de insegurança e desgaste.

O impacto é profundo e pode atravessar gerações e é isso que todos queremos evitar. “Há dias em que tenho mais medo de ir ao intervalo do que dos testes”, desabafou o Manuel, aluno do 8.º ano. A frase, dita em tom de brincadeira, parece refletir um mal-estar profundo e silenciado que compromete a experiência escolar de milhares de jovens. Como diretor, professor ou mãe/pai, como se sentiria se vivesse esse medo diariamente? Compreende-se o desconforto: reconhecer o problema pode obrigar a expor falhas ou comprometer a imagem da escola. Mas o silêncio não resolve, perpetua.

A boa notícia é que existem soluções. Programas como o “Escola Sem Bullying, Escola Sem Violência”, da Direção-Geral da Educação, oferecem ferramentas concretas de prevenção e intervenção. Outros projetos, promovidos por organizações da sociedade civil, focam-se na educação emocional, na promoção de competências sociais e no envolvimento ativo de toda a comunidade escolar. Em escolas onde foram implementados, observou-se uma melhoria na convivência escolar e uma redução nos episódios de agressão.

Estes programas mostram que é possível agir, com resultados positivos. O caminho, no geral, inclui quatro princípios: (1) a importância de reconhecer o problema; (2) a urgência de prevenir (através da formação contínua de docentes e não docentes, regulamentos e políticas claras e implementação de programas com eficácia comprovada); (3) a obrigatoriedade de envolver toda a comunidade escolar para alcançar resultados (pessoal docente e não docente, alunos e famílias) e (4) a garantia de um apoio integrado (equipas multidisciplinares em articulação com os serviços de saúde e de proteção social).

Cabe às direções escolares assumir este desafio com seriedade, colocando o tema no topo da agenda e envolvendo toda a comunidade. Ignorar o problema é contribuir, mesmo que involuntariamente, para um sistema que falha. Mais do que coragem, é preciso compromisso. O futuro dos nossos jovens não se protege com silêncio. Protege-se com ação.


Andreia Jaqueta Ferreira


Diretora de Programas EPIS (Empresários pela Inclusão Social) de Promoção do Sucesso Escolar

Fonte: Expresso

segunda-feira, 14 de abril de 2025

Adolescentes, violentos e misóginos: o perigo, afinal, está no bolso

Tito de Morais, fundador do projeto MiudosSegurosNa.Net. e especialista em parentalidade digital, aponta os encontros que a associação “Agarrados à Net” faz há vários anos nas escolas com pais, alunos e professores para exigir aos pais que deixem de dizer: “De internet percebo pouco, mas o meu filho percebe muito.”

“Se percebem pouco vão ter com os filhos e aprendam”, aconselha o especialista, que alerta para a dificuldade que os sistemas de tradução de linguagem que usam inteligência artificial têm em decifrar a linguagem codificada em que os miúdos falam nas redes sociais.

Este debate, em Portugal e noutros países europeus, ressurgiu após o êxito da série Adolescência, da Netflix, sobre um rapaz de 13 anos acusado de matar uma colega de escola, que voltou a trazer para o debate público o perigo da propagação entre os jovens, nas redes sociais e em grupos fechados na internet, de ideias misóginas, violentas e discriminatórias.

O uso de linguagem codificada – com emojis – levou esta semana a PSP a divulgar uma informação que explicava os diversos significados dos ‘emojis’ usados pelos jovens: uma beringela ou um cachorro podem simbolizar o órgão sexual masculino, uma flor o feminino, um alvo e um cavalo indicam a heroína, o trevo ou uma cabeça de bróculos a canábis, o gelo e o coco a cocaína e o diamante ou um tubo de ensaio as anfetaminas.

“A série fala-nos dos significados de alguns ‘emojis’ usados pelos miúdos, mas muitas das palavras usadas pelos jovens de hoje também têm significados diferentes dos que tinham quando éramos mais novos”, alertou Tito de Morais, exemplificando com um encontro em que participou: “Perguntei e poucas foram as pessoas que sabiam que ‘cenas’ pode significar drogas.”

Os riscos são muitos e o especialista acrescenta: “O foco agora está nas questões ligadas à misoginia, mas as pessoas parece que já se esquecerem que houve jovens portugueses que foram lutar pelo exército islâmico”. “A Internet é uma ferramenta de recrutamento para tudo".

Cristiane Miranda, cofundadora do projeto Agarrados à Net, que promove o “bem-estar digital” de crianças, jovens e adultos, combatendo o ‘bullying’, o ‘cyberbullying’ e a violência sexual com base em imagens, alerta: “É cada vez mais difícil, mas cada vez mais importante os pais encontrarem tempo para conversar com os filhos.”

Contudo, defende que não se pode “colocar toda a culpa nos ombros dos pais”, lembrando que se é verdade que devem acompanhar os filhos também “é preciso perceber que os miúdos são seres autónomos e, se tiverem de fazer alguma coisa, fazem”.

“Os pais devem estar atentos e conversar com os filhos, manter essa conexão, e isso vai diminuir a probabilidade destas coisas acontecerem”, acrescenta.

O ideal, defendem, é “manter sempre a porta aberta ao diálogo, sem julgamentos” para “tentar compreender a vida digital dos filhos”.

“Não é controlo parental, é acompanhamento”, sublinha Tito de Morais, acrescentando: “pode acontecer com qualquer família, sobretudo se não acompanharem os filhos”.

“Se não formos nós a transmitir valores aos filhos a internet vai fazê-lo, com o que tem de melhor e de pior”, considera Tito de Morais, lembrando: “em contexto de grupo, os nossos filhos podem ter comportamentos que não se coadunam com os valores segundo os quais os educamos e que promovemos em nossas casas”.

Cristiane Miranda lembra que “não há soluções 100% seguras” e que “há coisas que podem escapar”, alertando: “assim como se preocupam em fazer perguntas quando os jovens saem à noite, também é preciso perguntar sobre a vida ‘online’”. Porque o perigo, mais do que na rua, pode estar no bolso.

Depois do alerta lançado pela série Adolescência, Tito de Morais insiste: “Agora que os pais têm a informação, o importante é o que vão fazer com ela”.

A minissérie britânica de quatro episódios já teve 42 milhões de visualizações, segundo a plataforma Netflix. Está no número um do top 10 desde a estreia, há duas semanas, em 80 países, incluindo Portugal.

Fonte: Sapo por indicação de Livresco

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Recomendação ao Governo de um conjunto de medidas para prevenir e combater a violência em meio escolar

Pela Resolução da Assembleia da República n.º 35/2025, de 17 de fevereiro, a Assembleia da República recomenda ao Governo um conjunto de medidas para prevenir e combater a violência em meio escolar.

1 - Reforce o Programa Escola Segura, e os meios das forças de segurança, através do aumento dos meios humanos que lhe estão afetos e das ações junto da comunidade escolar, alunos, professores, pais, encarregados de educação, auxiliares de ação educativa, promovendo uma maior sensibilização para a segurança e prevenção da criminalidade.

2 - Promova, em articulação com os Ministérios da Educação, Ciência e Inovação, Administração Interna e Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, a aprovação de um protocolo de atuação, a acionar pelos diretores das instituições de ensino quando se verifique suspeita de violência ou maus-tratos a alunos.

3 - Divulgue o Programa Escola Segura em todos os níveis de ensino, através de ações de sensibilização, programas educativos e mitigação de comportamentos violentos ou que instiguem à violência, abrangendo temas como bullying, abuso sexual e violência doméstica, resolução de conflitos, violência e importância de denunciar abusos, para reforçar a responsabilidade social, e atuando numa ótica preventiva, que reduza o número de ocorrências de violência e criminalidade e a intervenção das equipas do Programa da Escola Segura.

4 - Proceda à recolha e análise integrada e compreensiva de dados no âmbito do Programa Escola Segura, enviados pelos estabelecimentos de educação e ensino e pelas forças de segurança, de forma a garantir a sua monitorização e respetivo acompanhamento, potenciando a plataforma informática de registo de ocorrências de violência em contexto escolar e de informação relevante para efeitos de segurança escolar.

5 - Proceda ao levantamento de necessidades em todos os níveis de ensino, a serem colmatadas nas equipas multidisciplinares, constituídas por, nomeadamente, psicólogos, assistentes sociais e enfermeiros, através de uma colaboração intersetorial, criando linhas de contacto e colaboração entre escolas, serviços de saúde, forças de segurança e organizações não governamentais, promovendo uma abordagem colaborativa e maximizada dos recursos, humanos e de formação, para a prevenção de comportamentos de risco, escalada de violência, resolução de ocorrências e combate ao consumo de droga em contexto escolar e nas zonas contíguas, e garantindo um acompanhamento imediato, especializado e adequado à recuperação e proteção das vítimas.

6 - Prossiga a implementação das medidas previstas na Estratégia Integrada de Segurança Urbana e recomendadas no relatório final da Comissão de Análise Integrada da Delinquência Juvenil e da Criminalidade Violenta.

7 - Providencie formação contínua para professores e funcionários escolares sobre como identificar sinais de violência e como proceder em casos de suspeição de ocorrências, e assegure programas de formação para profissionais de saúde e forças de segurança com foco nos métodos de identificação e intervenção em casos de deteção de violência infantil e juvenil.

8 - No âmbito do policiamento de proximidade, dê especial atenção ao tráfico e consumo de droga e a outros fenómenos criminais a eles associados nas imediações dos estabelecimentos de ensino e no quadro dos programas existentes, em especial do Programa Escola Segura.

9 - Reveja a Portaria n.º 272-A/2017, de 13 de setembro, que regulamenta os critérios e a respetiva fórmula de cálculo para a determinação da dotação máxima de referência do pessoal não docente, por agrupamento de escolas ou escolas não agrupadas, para incluir todos os níveis de ensino e prever que os rácios previstos de assistentes técnicos e de assistentes operacionais passem a constituir limiares mínimos, cabendo aos órgãos de gestão de cada agrupamento de escolas ou escola não agrupada identificar as suas necessidades, em função das suas características físicas e geográficas, oferta educativa e formativa, universo, características e contexto socioeconómico e cultural dos alunos, e valorizar as suas carreiras, adequando o seu conteúdo funcional às especificidades e exigências do ambiente escolar.

10 - Adote legislação adequada a garantir e elevar as expectativas de evolução remuneratória, de desenvolvimento profissional e de diferenciação salarial em razão dos anos de experiência, assegurando os recursos financeiros adequados à formação e qualificação profissional do pessoal não docente, com especial enfoque nos assistentes operacionais.

11 - Aprove legislação que facilite o recrutamento e a contratação de pessoal não docente, exclusivamente pelos órgãos de gestão dos agrupamentos de escolas ou das escolas não agrupadas.

domingo, 2 de fevereiro de 2025

Crianças do 1.º ciclo e raparigas são quem mais sofre de bullying nas escolas

As crianças do 1.º ciclo e as raparigas são quem mais sofre de bullying, segundo o Observatório Nacional do Bullying, que recebeu 666 denúncias em cinco anos, quase sempre entre colegas da mesma escola.

A plataforma informal de denúncia de casos de bullying foi lançada pela Associação Plano i em 30 de Janeiro de 2020 e, desde então, recebeu 666 denúncias, a maioria no primeiro ano de actividade, em que foram recebidas 407 queixas.

Ao longo dos últimos cinco anos, as tendências mantiveram-se: as raparigas são mais vulneráveis, os casos acontecem sobretudo no recreio sob a forma de violência psicológica e são vários os agressores.

Maioria das vítimas tem 13 a 14 anos

Segundo um balanço das denúncias reportadas entre 2020 e 2024, a média das idades das vítimas é 13,7 anos, maioritariamente raparigas (59%), enquanto os agressores foram sobretudo rapazes (56%) com uma média de 13,23 anos.

Os dados mostram também que os anos de escolaridade de maior ocorrência são o 1.º ciclo (32,9%), seguido do 3.º ciclo (23,4%) e do 2.º ciclo (22,4%), mas não significa que as crianç mais novas sejam mais vulneráveis, sugere Mafalda Ferreira, coordenadora do Observatório, em declarações à Lusa.

"Podemos assumir que os pais, o pessoal docente e não docente, as testemunhas estão mais sensibilizadas, por vezes, em torno da idade da criança, o que faz com que haja uma maior tendência para repudiar este comportamento e considerá-lo digno de ser comunicado", refere a investigadora, sublinhando que, por outro lado, a supervisão nas escolas também é maior no 1.º ciclo.

Os relatos, apresentados frequentemente pelos encarregados de educação, mostram que as situações de bullying ocorrem sobretudo nos recreios, durante os períodos de intervalo, mas com as novas tecnologias acabam por extravasar, cada vez mais, esse contexto.

Esta tendência começou durante a pandemia da covid-19, quando as escolas fecharam portas e os alunos continuaram a estudar em casa, mas não se limitou a esse período e tem-se agravado desde então, refere Mafalda Ferreira.

"Não podemos ignorar o que vemos à nossa volta no contexto das camadas mais jovens e do uso precoce dos telemóveis. Faz com que o bullying não cesse naquele momento", sublinha, referindo como exemplo que os alunos podem ser vítimas mesmo dentro da sala de aula, através das redes sociais, e depois de regressarem a casa.

Apesar de a maioria das situações continuar a ocorrer presencialmente, 4,8% dos casos denunciados foram online e em 22,5% as vítimas sofreram nos dois contextos.

Muitas vezes, o bullying ocorre quase todos os dias (54%) e em 21,4% dos casos é mesmo uma realidade vivida diariamente pelas vítimas, sendo os agressores, quase sempre, colegas da mesma escola.

Em média, por cada vítima são contabilizados três agressores, um dado que Mafalda Ferreira considera preocupante.

"Reforça a vulnerabilidade destas vítimas e alguma sensação de falso empoderamento por parte das pessoas agressoras. É um delito que acontece de forma colectiva e pode até ser potenciado nesse sentido", explica.

Trata-se também, na esmagadora maioria dos casos, de violência psicológica, muitas vezes combinada com violência social e física. Entre as mais de 600 denúncias recebidas, houve casos de violência sexual e financeira.

Aspecto físico é principal motivo

Os motivos mais apontados são o aspecto físico das vítimas (51,9%) e os resultados académicos (34,9%), havendo também quem sofra devido à idade, sexo, orientação sexual e identidade de género, e nacionalidade e etnia.

O resultado é quase sempre o mesmo: ansiedade, tristeza, vergonha e dificuldades concentração. Mas as consequências dos casos relatados não se ficam por aí: em 44% d casos as vítimas tiveram de receber apoio psicológico e em 20,9%, tratamento médico.

Ao longo dos cinco anos, registaram-se situações mais graves: perto de 90 denúncias relatam que os jovens estiveram em risco de vida e cerca de 30 relatam a necessidade de hospitalização.

Fonte: Público, de acesso livre, por indicação de Livresco

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Aumentam casos de "bullying" sobre professores e há "sensação de impunidade"

A falta de professores em certas escolas é justificada pelos alunos difíceis que as frequentam, admite à Renascença o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares, que denúncia que as escolas não têm mecanismos para travar o mau comportamento dos alunos.


No dia em que chegou aos mais de 800 agrupamentos de escolas o inquérito sobre "bullying" dirigido a professores, a Renascença falou com o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), que sublinha que um estudo deste género tem como objetivo “confirmar aquilo que é a perceção pública”.

Manuel Pereira, que está no setor da educação há mais de 40 anos, não tem dúvidas em afirmar que, “à medida que os anos vão passando, cada vez há mais situações de alunos que faltam ao respeito aos professores e a todos os profissionais de educação em geral”.

Por outro lado, Manuel Pereira refere que, “muitas vezes, os encarregados de educação não tomam as medidas necessárias e, em alguns casos, eles próprios têm dificuldades em proteger-se desse tipo de comportamento dos seus educandos”.

Este diretor não tem dúvidas em dizer que “a situação tem vindo a agudizar-se nos últimos anos, não é geral, mas há muitas escolas onde estas situações acontecem regularmente”.

Nestas declarações à Renascença, este dirigente escolar admite que a falta de professores em certas escolas é justificada pelos alunos difíceis que as frequentam, porque “professores informados não querem trabalhar nessas escolas, porque sabem que é muito difícil trabalhar e que boa parte das aulas são passadas a tentar pôr regras na sala”.

Manuel Pereira acrescenta que “todos nós conhecemos situações destas e percebemos as dificuldades que os professores têm, em alguns casos, em fazer o seu trabalho de forma produtiva”.

Escolas não têm mecanismos para travar o mau comportamento

O presidente da ANDE admite que as escolas não têm mecanismos legais para tomar decisões que possam limitar algum tipo de comportamento menos correto.

A este propósito, Manuel Pereira sublinha que o Estatuto do Aluno “não dá instrumentos às direções das escolas, nem aos professores para poderem tomar atitudes ou decisões que de alguma forma possam limitar algum tipo de comportamentos”.

Este dirigente escolar lamenta que “não haja mecanismos legais para poder parar determinado tipo de mau comportamento nas escolas”, que muitas vezes, admite “é mesmo 'bullying' contra profissionais de educação, sabemos que isso existe”.

Manuel Pereira denuncia ainda a “sensação de impunidade por parte de jovens e às vezes por parte de alguns adultos, que sabem ou que percebem que quase podem fazer tudo”.

Nestas declarações à Renascença, o presidente da ANDE admite que “para além da suspensão que o Estatuto do Aluno permite, quando não há solução e quando os pais não tomam as medidas que devem tomar, aquilo que sobra à escola é apenas entrar em contacto com o Ministério Público. Depois, conclui Manuel Pereira resta “esperar que (o Ministério Público) faça alguma coisa junto das famílias”.

Fonte: RR por indicação de Livresco

segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Papa apela a professores e educadores que lutem contra o bullying nas escolas

O papa encorajou também os responsáveis a transmitir aos alunos “uma nova cultura baseada no encontro entre gerações” e “responsabilidade pessoal e coletiva para enfrentar os desafios globais como as crises ambientais, sociais e económicas”.

Na audiência, Francisco apelou ainda a que lançassem “as bases para um mundo mais justo e fraterno, com o contributo de todas as disciplinas e a criatividade das crianças e dos jovens”.

“Mas se intimidarem as raparigas e os rapazes que têm problemas, isso é uma preparação para a guerra, não para a paz”, advertiu, apelando a que não se pratique bullying.

“Por favor, nunca pratiquem bullying, compreendem isto? Nada de bullying! Nunca pratiquem bullying”, acrescentou.

O pontífice lamentou ainda o facto de existirem crianças sem educação, “que vão trabalhar, muitas vezes exploradas, e que procuram comida ou coisas para vender no meio do lixo”.

Francisco apelou também a uma pedagogia próxima de Deus, como “um projeto em que a família ocupa um lugar central e insubstituível”.

Esta semana, o Papa alertou para uma “catástrofe educativa” a nível mundial, lembrando que cerca de 250 milhões de crianças não têm acesso à educação e dedicou as suas intenções de oração deste mês ao direito à educação dos migrantes, refugiados e pessoas afetadas pela guerra.

Fonte: Notícias de Coimbra por indicação de Livresco

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

PSP inicia operação para combater 'bullying' nas escolas

A PSP inicia [iniciou] esta segunda-feira a operação "Bullying é para fracos" junto da comunidade escolar em todo o território nacional, promovendo ainda uma campanha nas redes sociais para aumentar o conhecimento sobre estes fenómeno e fomentar a sua rejeição.

Em comunicado, a PSP explica que, no ano letivo 2023/24, nas mais de 2.900 ocorrências criminais registadas pelas equipas do Programa Escola Segura (EPES), 134 estão relacionadas com situações de 'bullying' e 30 com casos de 'cyberbullying'.

A operação deste ano decorre até dia 25 de outubro e abrange os estabelecimentos de ensino do 1.º ao 3.º ciclos, assim como do ensino secundário, envolvendo crianças e jovens dos seis aos 18 anos de idade.

Além das ações de sensibilização junto da comunidade escolar - direcionadas para alunos, pais/encarregados de educação, professores e auxiliares - decorrerá uma campanha nas redes sociais com partilha de conteúdos sobre como identificar o fenómeno e ajudar as vítimas deste tipo de crime.

No domingo assinala-se o Dia Mundial de Combate ao Bullying, mas a PSP sublinha que a luta contra este fenómeno "não se cinge a uma data isolada nem a um grupo restrito de pessoas", pois tem de ser "diária e constante" e a responsabilidade cabe a toda a comunidade.

O 'bullying' é um anglicanismo utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por uma ou mais pessoas no contexto de uma relação desigual de poder, causando dor e angústia na(s) vítima(s).

"Muitas crianças e jovens têm de lidar diariamente com este problema suscetível de interferir, de forma negativa e com grande impacto, no seu crescimento físico, emocional e psicológico", explica a Polícia de Segurança Pública.

'Cyberbullying' preocupa cada vez mais

Num mundo cada vez mais digital, associado ao crescente recurso às novas tecnologias numa fase mais precoce da vida das crianças e jovens, o 'bullying' tem assumido novos contornos, nomeadamente no domínio das redes sociais, passando o fenómeno a chamar-se do 'cyberbullying'.

Este tipo de vitimização poderá ocorrer durante bastante tempo até ser notado e/ou denunciado, uma vez que é passível de ocorrer de forma dissimulada ou de ser desvalorizado, contribuindo de forma significativa para a degradação do sentimento de segurança, especialmente no seio da comunidade escolar.

Além de aumentar o conhecimento sobre estes fenómenos, a operação da PSP pretende fazer crescer o sentimento de intolerância e de rejeição para com as práticas de bullying e fomentar a confiança nas capacidades das autoridades para intervir e lidar de forma eficaz com este problema.

Pretende ainda captar a atenção dos pais, educadores e outras testemunhas, aumentando a confiança na denúncia aos polícias da Escola Segura para ajudar a resolver o problema.

Só no último ano letivo, foram realizadas mais de 6.600 ações (+6,8% do que no ano anterior 2022/2023), abrangendo um total de 132.307 alunos.

Na nota divulgada, a PSP apela à denúncia destas situações, podendo estas ser feitas em qualquer esquadra ou através do e-mail escolasegura@psp.pt.

Fonte: SIC Notícias por indicação de Livresco

terça-feira, 18 de junho de 2024

"O bullying não é brincadeira". Casos de crianças com comportamentos autolesivos estão a aumentar

"O bullying que existe nas escolas não é uma brincadeira", alertou, esta quarta-feira, a presidente da Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens (CNPDPCJ), Rosário Farmhouse, durante uma audição parlamentar na Comissão de Educação para analisar o dever de reporte das escolas face às suspeitas de violência sobre crianças.

Rosário Farmhouse revelou que as Comissões de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) receberam "um aumento enorme de comportamentos autolesivos, grande parte delas vítima de bullying, de qualquer tipo de bullying, mas muito deste bullying que os pais não tem noção do que se está a passar, porque é mais invisível e só em casos extremados é que se apercebem".

Farmhouse referia-se ao "bullying social", dando como exemplos histórias em que todos os colegas da turma são convidados para uma festa menos um: "Ela percebe que foram todos a uma festa e ela foi excluída. E fazem-no sistematicamente".

"O bullying social é mais invisível mas tem trazido consequências enormes nas crianças, principalmente com comportamentos autolesivos", alertou, voltando a reforçar que o bullying é muitas vezes desvalorizado pelos próprios colegas, "que acham que é só a brincar". "Não é a brincar quando se faz um ato repetido, quando se exerce poder e quando a outra pessoa não quer, sejam humilhações, violência verbal ou física", salientou.

Alguns destes casos chegam à Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), que hoje também esteve no parlamento e disse receber em média oito denúncias por dia de famílias que se queixam de falta de apoio por parte das escolas quando sentem que os seus filhos são vítimas de um qualquer tipo de agressão.

"As crianças são confrontadas com formas perversas de violência dolorosas", disse David Cotrim, da APAV, apontando como as situações mais comuns na escola a indisciplina em sala de aula, os comportamentos antissociais e delinquentes, o bullying e atos de agressão contra profissionais de educação.

Apesar das críticas, tanto a coordenadora nacional das CPCJ como o representante dos diretores escolares Filinto Lima, defenderam que são "casos pontuais" aqueles que não são reportados às autoridades.

Dez mil casos de crianças em perigo

No ano passado, as escolas denunciaram quase dez mil casos de crianças em perigo às comissões de proteção de menores: Houve "9.929 comunicações de perigo vindas diretamente das escolas", disse Rosário Farmhouse, citando dados do relatório anual que será entregue ainda este mês no parlamento.

Este número revela um aumento em relação a 2022, quando houve 9.082 comunicações à CPCJ por parte de estabelecimentos de ensino, acrescentou a deputada Isabel Mendes Lopes, do Livre, partido que requereu a audição parlamentar de hoje.

Durante a audição, a presidente nacional das CPCJ aproveitou ainda para alertar para o modelo de proteção de dados que "muitas vezes protege os dados e não protege as pessoas".

Farhmouse disse que tal como está desenhada a legislação, a comissão nacional acaba por ter muita dificuldade em ter acesso a informações básicas, mesmo "quando uma criança está desaparecida".

Questionados por um tribunal sobre se existem processos a favor da criança desaparecida, "nós temos de dizer ao tribunal que escreva para as 312 comissões para saber se existe processo porque não temos acesso a isso", lamentou a presidente, apelando a um modelo semelhante ao de outros países, onde "são bastante mais protetores das crianças".

"As nossas plataformas correm o risco de serem vedadas pela proteção de dados de não termos este acesso transversal aos dados, respeitando na integra os dados das crianças, mas por uma questão de proteção das crianças termos acesso para as melhor proteger", concluiu.

Fonte: JN por indicação de Livresco

quarta-feira, 12 de junho de 2024

"Bullying nas escolas não é brincadeira." Há "um aumento enorme" de crianças com comportamentos autolesivos

As comissões de proteção das crianças e jovens estão a receber cada vez mais casos de crianças com comportamentos autolesivos, muitas delas vítimas de bullying nas escolas, alertou esta quarta-feira a presidente da comissão nacional.

"O bullying que existe nas escolas não é uma brincadeira", afirmou a presidente da Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens (CNPDPCJ), Rosário Farmhouse, durante uma audição parlamentar na Comissão de Educação para analisar o dever de reporte das escolas face às suspeitas de violência sobre crianças.

Rosário Farmhouse revelou que as Comissões de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) receberam "um aumento enorme de comportamentos autolesivos, grande parte delas vítima de bullying, de qualquer tido de bullying, mas muito deste bullying que os pais não tem noção do que se está a passar, porque é mais invisível e só em casos extremados é que se apercebem".

Farmhouse referia-se ao "bullying social", dando como exemplos histórias em que todos os colegas da turma são convidados para uma festa menos um: "Ela percebe que foram todos a uma festa e ela foi excluída. E fazem-no sistematicamente".

"O bullying social é mais invisível, mas tem trazido consequências enormes nas crianças, principalmente com comportamentos autolesivos", alertou, voltando a reforçar que o bullying é muitas vezes desvalorizado pelos próprios colegas, "que acham que é só a brincar".

"Não é a brincar quando se faz um ato repetido, quando se exerce poder e quando a outra pessoa não quer, sejam humilhações, violência verbal ou física", salientou.

Alguns destes casos chegam à Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), que também esteve no parlamento e disse receber em média oito denúncias por dia de famílias que se queixam de falta de apoio por parte das escolas quando sentem que os seus filhos são vítimas de um qualquer tipo de agressão.

"As crianças são confrontadas com formas perversas de violência dolorosas", disse David Cotrim, da APAV, apontando como as situações mais comuns na escola a indisciplina em sala de aula, os comportamentos antissociais e delinquentes, o bullying e atos de agressão contra profissionais de educação.

Apesar das críticas, tanto a coordenadora nacional das CPCJ como o representante dos diretores escolares Filinto Lima, defenderam que são "casos pontuais" aqueles que não são reportados às autoridades.

No ano passado, as escolas denunciaram quase dez mil casos de crianças em perigo às comissões de proteção de menores: Houve "9.929 comunicações de perigo vindas diretamente das escolas", disse Rosário Farmhouse, citando dados do relatório anual que será entregue ainda este mês no parlamento.

Este número revela um aumento em relação a 2022, quando houve 9.082 comunicações à CPCJ por parte de estabelecimentos de ensino, acrescentou a deputada Isabel Mendes Lopes, do Livre, partido que requereu a audição parlamentar.

Durante a audição, a presidente nacional das CPCJ aproveitou ainda para alertar para o modelo de proteção de dados que "muitas vezes protege os dados e não protege as pessoas".

Farhmouse disse que tal como está desenhada a legislação, a comissão nacional acaba por ter muita dificuldade em ter acesso a informações básicas, mesmo "quando uma criança está desaparecida".

Questionados por um tribunal sobre se existem processos a favor da criança desaparecida, "nós temos de dizer ao tribunal que escreva para as 312 comissões para saber se existe processo porque não temos acesso a isso", lamentou a presidente, apelando a um modelo semelhante ao de outros países, onde "são bastante mais protetores das crianças".

"As nossas plataformas correm o risco de serem vedadas pela proteção de dados de não termos este acesso transversal aos dados, respeitando na integra os dados das crianças, mas por uma questão de proteção das crianças termos acesso para as melhor proteger", concluiu.

Fonte: RR

terça-feira, 24 de outubro de 2023

GNR revela número preocupante de casos de bullying nas escolas

De acordo com o comunicado emitido pela GNR, o ano letivo 2022/23 registou mais de 100 casos de bullying e cyberbullying em contexto escolar.

A Guarda Nacional Republicana (GNR) divulgou estatísticas preocupantes, que revelam que no ano letivo 2022/2023 foram registados 140 casos de bullying e cyberbullying em escolas por todo o país. Esta triste realidade tem levado a força de segurança a intensificar as suas ações de sensibilização e de combate à violência no contexto escolar.

“No mesmo ano letivo, a guarda registou 140 crimes, envolvendo ‘bullying’ e ‘cyberbullying’”, revelou a GNR num comunicado emitido no Dia Mundial de Combate ao Bullying (20 de outubro).

Nesse mesmo comunicado, a GNR detalhou que no âmbito das suas responsabilidades na prevenção criminal, realizou 1.285 iniciativas de sensibilização no ano letivo passado e que estas ações foram dirigidas a um público de 52.652 crianças, jovens e adultos.

Através destas ações, a GNR tem como objetivo alertar e sensibilizar a sociedade em geral, com foco especial nas crianças e nos jovens. A estratégia de consciencialização procura contribuir para a transformação dos comportamentos na sociedade, fomentando uma maior intolerância social em relação à violência nas escolas.

A GNR também chama a atenção para o facto de que a violência muitas vezes “ocorre fora da visão dos adultos e grande parte das vítimas esconde ou evita a denúncia da agressão sofrida”. Esta sensibilização é extensível aos pais, professores e funcionários das instituições de ensino, que são encorajados a reconhecer e a denunciar os sinais de alerta tanto no ambiente escolar como em casa.

A GNR revela ainda que continua empenhada na realização de campanhas educativas que abordem questões de violência, cidadania, não discriminação, direitos humanos e direitos da criança, bem como das regras para o uso responsável da internet. Para além disso, a GNR dispõe ainda de “militares com formação especializada, que desempenham um papel essencial no acompanhamento personalizado às vítimas, encarregando-se de encaminhar as mesmas para outras instituições com competências neste âmbito”, pode ler-se no respetivo comunicado emitido.

O que é bullying e cyberbullying?

O bullying é uma série de atos intencionais e repetidos de violência física ou psicológica, praticados por uma ou mais pessoas numa relação desigual de poder, causando dor e angústia nas vítimas. Com a crescente presença das redes sociais, surgiu a variante virtual conhecida como cyberbullying.

Os sinais de alerta para o bullying muitas vezes são silenciosos e podem estar associados a mudanças de humor, desânimo físico ou psicológico, impaciência, ansiedade, queixas físicas persistentes como dores de cabeça e/ou de estômago, distúrbios do sono e hematomas inexplicáveis. Embora o bullying não seja categorizado como um crime específico na legislação penal de Portugal, o mesmo está ligado a vários delitos, incluindo ofensas à integridade física, injúrias, ameaças e coações.

Fonte: New Men por indicação de Livresco

sexta-feira, 21 de outubro de 2022

O que precisa saber sobre o bullying em 11 perguntas

No ano lectivo passado, as situações de bullying em contexto escolar aumentaram 37%. A PSP registou 2847 ocorrências criminais com as injúrias e ameaças a atingiram o valor mais elevado dos últimos nove anos lectivos, revelam dados daquela polícia, no Dia Mundial do Combate ao Bullying, que se assinala nesta quinta-feira.

A pensar nas crianças e nos jovens que são vítimas ou agressores, a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) criou um documento com o intuito de ajudar a aumentar a consciencialização para a gravidade deste fenómeno que deve ser acompanhado por pais e professores, mas também pelos alunos.

O que é o bullying?

Chama-se bullying a qualquer comportamento agressivo que seja exercido repetidamente, por um indivíduo ou grupo, com a intenção de magoar alguém física ou psicologicamente. Trata-se de um comportamento premeditado e repetitivo que acontece com o propósito de provocar mal-estar e ganhar controlo sobre outra pessoa.

Que comportamentos podem ser considerados bullying?

Todos os comportamentos que implicam uma forma de “intimidação, agressão ou humilhação física, psicológica, relacional ou sexual”, responde o documento “Vamos falar sobre Bullying”.

De acordo com a OPP existem vários tipos de bullying entre os quais o físico que envolve comportamentos como bater ou cuspir, mas também comportamentos de cariz sexual como acariciar ou tocar alguém contra a sua vontade. Fala-se também no bullying verbal que se manifesta através de insultos, ameaças ou provocações, e no bullying socioemocional que envolve o isolamento ou exclusão social de alguém fazendo com que se sinta rejeitado.

A Internet tornou-se também o palco para outro formato de bullying conhecido por cyberbullying e que envolve a sua utilização para enviar mensagens de cariz insultuoso e para a partilha de informação de alguém contra a sua vontade.

Com que frequência o bullying acontece?

Este é um fenómeno muito comum entre as crianças e os jovens ocorrendo, na maioria das vezes, em ambiente escolar. Apesar disso, a OPP afirma haver uma dificuldade na exactidão com que este fenómeno é praticado dado que mais de 60% das vítimas opta por não denunciar o agressor.

Segundo os dados da PSP, a que a Lusa teve acesso, houve um aumento do número total de ocorrências depois do período em que os estudantes estiveram em casa, por causa da pandemia de covid-19. No entanto, registou-se “um decréscimo no número de ocorrências registadas em contexto escolar relativamente ao ano lectivo de 2018/2019, último antes da pandemia”. Nesse ano foram registandas 3079 ocorrências criminais em contexto escolar, 1151 das quais por agressões e 721 por injúrias e agressões.

Quem pode ser vítima de bullying?

Qualquer criança ou jovem pode ser vítima de bullying, no entanto, a OPP considera que existem alguns factores que podem levar a que alguém seja mais propenso a tornar-se uma vítima como o facto de ser visto como diferente pelos outros.

As vítimas de bullying são frequentemente vistas como mais frágeis, por parte dos agressores, e são geralmente mais novas. De acordo com o relatório publicado pelo Projecto Free, em Maio de 2022, em Portugal as vítimas preferenciais de bullying são jovens LGBTQ+ com idades compreendidas entre os 14 e os 19 anos.

Quem pode ser um bully?

Bully é o nome que se dá aos agressores, a quem pratica o acto de bullying, podendo ser qualquer jovem com as mais diversas características. Este comportamento é, frequentemente, visto como associado à dificuldade que o agressor tem em gerir emoções, o seu preconceito em relação à vítima — seja por esta possuir uma aparência diferente ou pela sua etnia, religião ou orientação sexual —, ou como resposta aos comportamentos agressivos a que é exposto, por exemplo, em casa.

São jovens em que se reconhece geralmente menos empatia pelo outro, dificuldades em seguir regras e uma atitude positiva em relação a atitudes violentas.

Quais são os impactos do bullying?

O bullying afecta todos os envolvidos, directa ou indirectamente. As vítimas podem ter o seu desenvolvimento afectado comprometendo a sua aprendizagem e relações interpessoais. Também os agressores podem revelar consequências dos impactos do bullying entre as quais dificuldades académicas ou maior propensão ao consumo de substâncias.

Este fenómeno afecta também as testemunhas, dado ser frequente que as ocorrências aconteçam perante outras pessoas, levando as “testemunhas passivas a desenvolver sentimentos de culpa e vergonha”. Também as famílias “podem ser afectadas por sentimentos de preocupação e impotência, níveis mais elevados de stress, dúvidas e incertezas sobre como ajudar”, enumera o documento da OPP.

Como identificar uma vítima de bullying?

É importante que se esteja atento aos possíveis sinais de que uma criança ou jovem possa ser uma vítima como, por exemplo, a ocorrência de alterações de humor, demonstrações de medo e preocupação constantes, isolamento dos outros sem explicação, desconforto em ir à escola.

Podem também existir sinais visíveis como nódoas negras ou feridas sem explicação coerente. No entanto, é importante compreender que estes sinais nem sempre estão associados a situações de bullying, podendo ser comuns a outras situações.

Como saber se alguém pratica bullying?

Existem também alguns sinais que podem ajudar a identificar um bully, entre os quais se inclui o sentimento de dominar ou subjugar os outros, tentar obter o que deseja com ameaças, intimidação das crianças com quem brinca ou zangar-se facilmente com os outros. É também recorrente haver dificuldades em obedecer às regras ou desafiar a autoridade dos pais ou dos professores.

Como ajudar um amigo/a ou colega que é vítima de bullying?

A frequência com que as situações de bullying acontecem perante testemunhas demonstra o quão importante é fazermos alguma coisa para ajudar a travar este comportamento e não optarmos por incentivá-lo ou agir como meros espectadores.

O primeiro passo passa por falar com um adulto de confiança, explicando-lhe da melhor maneira possível o que se viu. Existem também outras coisas que podemos fazer para ajudar como o simples de acto de fazer companhia ao colega vítima de bullying, ajudando a que se sinta mais seguro por não estar sozinho, tal como travar estes comportamentos quando os vemos a acontecer dizendo ao bully para parar.

Como pais ou cuidadores o que fazer para ajudar?

A OPP considera que o envolvimento “dos pais, mães e cuidadores/as é essencial na prevenção do bullying”. Devido às dificuldades que podem existir de identificar alguns dos sinais ou comportamentos resultantes deste fenómeno é importante que os adultos prestem atenção a qualquer mudança de comportamento.

"Às vezes as crianças sentem que o bullying é culpa sua, que se tivessem agido de forma diferente, não teria acontecido. Às vezes, têm medo que o bully descubra que contaram a alguém e que tudo piore. Outras têm receio que os pais não acreditem nelas”, enuncia o documento da Ordem dos Psicólogos, apelando a que os pais não menosprezem o que lhes é relatado.

​Nesse sentido, a melhor forma de ajudar passa por ouvir e compreender se se trata de bullying, falando sobre a importância de estar atento e como se pode defender, garantindo que a criança ou o jovem compreende a gravidade e se sente segura para denunciar e procurar ajuda quando necessitar. É ainda fundamental fornecer-lhe um espaço seguro para que possa conversar abertamente.

A forma mais eficaz de falar com as crianças e os jovens passa por uma abordagem directa em que se tenta perceber o que entendem por bullying e como reagiriam em determinadas situações. É importante realçar que a gravidade do tema implica que seja frequentemente abordado, também dada a dificuldade que algumas crianças, mais introvertidas, possam ter de se pronunciar sobre o assunto.

A OPP recomenda aos pais que se reconhecerem alguns sinais nos seus filhos de que possa estar a praticar bullying, também é importante intervir e fazê-los compreender que não se trata de um comportamento “normal”.

A organização apela ainda a que se “resista à tendência para negar ou desvalorizar a gravidade do problema”, tentando ajudar a modificar os comportamentos agressivos que a criança possa ter face aos outros e mostrando-lhe que se trata de um comportamento inaceitável, sem nunca recorrer a castigos físicos porque apenas “reforçará a crença de que a agressividade e o bullying são aceitáveis”.

Sou professor/a ou educador/a, o que posso fazer?

Com a frequência em que situações de bullying ocorrem em contexto escolar torna-o o cenário privilegiado para a sua prevenção, devendo as escolas procurar colaborar com os pais e as mães neste trabalho.

Assim, no âmbito da prevenção, é fundamental que as escolas continuem o seu trabalho de sensibilização através da abordagem do tema em sala de aula e dando um espaço aos alunos para que discutam sobre o fenómeno, tal como se deve privilegiar a criação e implementação de acções de formação e sensibilização que ajudem a reconhecer e denunciar este género de comportamentos.

Na escola, é também importante promover um ambiente de respeito pelo próximo e procurar estar atento aos espaços onde o bullying pode ocorrer, entre os quais o recreio, as casas de banho ou os corredores da escola, e interferir ao menor sinal.

A Ordem dos Psicólogos Portugueses destaca ainda a importância das políticas anti-bullying nas escolas e da implementação dos programas de desenvolvimento de competências socioemocionais, com o apoio de psicólogos.

Fonte: Público

segunda-feira, 5 de setembro de 2022

225 casos de bullying reportados pelas escolas no último ano letivo

Gabinete do ministro da Educação adianta que, para o próximo ano, 240 estabelecimentos de ensino vão aderir ao Plano Escola sem Bullying.

As escolas reportaram 225 casos de bullying e de cyberbullying, no último ano letivo, um por cada dia de aulas. Os dados, cedidos (...) pelo Ministério da Educação (ME), foram recolhidos através do Sistema de Informação de Segurança Escolar, que permite a identificação deste tipo de episódios apenas desde 2019. (...)

Fonte: CM por indicação de Livresco

domingo, 1 de agosto de 2021

“O Bullying deve ser encarado com urgência como um problema estrutural”

Os dados mais recentes mostram que a pandemia e dois confinamentos não foram o bastante para impedir que o fenómeno do bullying crescesse em Portugal. Criado em janeiro de 2020, dois meses antes de declarada oficialmente a pandemia à escala mundial, o Observatório Nacional do Bullying (ObNB) é uma iniciativa da Associação Plano i, cujo objetivo é mapear o fenómeno do bullying em Portugal com base nas denúncias informais efetuadas por vítimas, ex-vítimas, testemunhas e pessoas que tiveram conhecimento da vitimação. De resto, só durante o primeiro período de confinamento motivado pela pandemia por COVID-19, “foram reportados ao ObNB cinco casos, quatro de ex-vítimas e um de uma vítima, três raparigas e dois rapazes. Num dos casos, a vitimação ocorre desde 2017”, revela aquela organização.

A verdade é que em menos de dois anos o ObNB tem feito a diferença em todo o território nacional. Porque apesar do tema fazer parte da esmagadora maioria dos planos de ação dos agrupamentos, e do combate ser unanimemente referido em todo o universo escolar, o flagelo faz-se sentir cada vez mais. A poucos dias do final do ano letivo, mais um caso chocou o país: no Seixal, três raparigas adolescentes foram filmadas a fazer bullying a um rapaz que acabou por ser atropelado enquanto fugia das agressões. As jovens acabaram por ser suspensas pela escola. É um entre as centenas de casos que chegaram ao conhecimento do Observatório, que logo no seu primeiro ano de funcionamento registou um total de 407 denúncias, 307 realizadas por pessoas de sexo feminino e 100 por pessoas de sexo masculino. Mas este ano o número foi superado.

Paula Allen, vice-presidente da Associação Plano i e co-coordenadora do ObNB, disse ao EDUCARE.PT que, para além das respostas aos pedidos de apoio - 466 denúncias e 204 pedidos de ajuda -, o grupo tem desenvolvido várias ações de sensibilização e formação para pais, docentes, assistentes operacionais técnicos da área psicossocial, entre outros.

“Lembramos que o Observatório Nacional do Bullying, e a equipa de especialistas que o coordena e realiza as ações de sensibilização/formação, trabalha gratuitamente uma vez que o projeto não se encontra financiado”, ressalva aquela responsável.

Projeto-piloto em Matosinhos

A Associação Plano i desenhou recentemente um projeto denominado Bairros Sem Bullying, que será financiado pela linha de Bairros Saudáveis e que irá permitir trabalhar esta matéria com crianças, jovens, famílias, profissionais de Educação e de Ação Social em conjuntos habitacionais e escolas de Matosinhos, durante cerca de um ano. Paula Allen adianta que estará pronto a arrancar dentro de um mês e que será um projeto de intervenção múltipla, de fora para dentro, “um pequeno exemplo do muito do que se pode fazer”.

“O bullying deve ser encarado com urgência como um problema estrutural que deixa marcas sérias e que atinge muitas crianças e jovens. Não se pode continuar a trabalhar nesta área de forma reativa e pontual. É urgente mudar o paradigma e prevenir, efetivamente”, sublinha Paula Allen.

De acordo com os dados revelados em janeiro deste ano no último relatório do ObNB, em 67% dos casos as pessoas denunciantes são encarregadas de educação das vítimas ou ex-vítimas. A média de idades das pessoas denunciantes é de 32 anos e na sua maioria tiveram conhecimento da existência do ObNB através das redes sociais. Em 66.3% casos chegaram ao Observatório através dos media tradicionais, em 13% dos casos por via de pessoas amigas ou conhecidas e há ainda7.9% de outras fontes.

A adolescência continua a revelar-se o ponto mais crítico em matéria de faixas etárias no que toca a esta questão. A média de idades de quem sofreu bullying é no caso das raparigas de 11.84 e no caso dos rapazes de 11.67 anos. Em 11.3% dos casos o bullying foi praticado quando as vítimas frequentavam o 5.º e o 7.º anos respetivamente e, em 10.6%, o 6.º ano. A média de idades de quem o praticou é no caso das raparigas de 12.56 e no caso dos rapazes,de 12.37 anos, sendo que a maioria dos agressores são do sexo masculino (211), seguindo-se depois os do sexo feminino (134).

Quando e onde acontece o bullying

O relatório disponibilizado pelo Observatório indica ainda que em 94.6% dos casos, tanto as vítimas como as pessoas agressoras frequentavam o mesmo estabelecimento de ensino. De resto, no que respeita ao modus operandi, na maioria dos casos continua a ser presencial (74%). Apenas em menos de 5% dos casos a violência é exercida online, e em 20% dos casos é um misto dos dois. Geralmente acontece no recreio, durante os intervalos, mas também antes mesmo das aulas começarem ou à hora de almoço.

Já os motivos que estarão na origem da prática de bullying são diversos, embora o aspeto físico surja à cabeça de todos: 51,80%. Seguem-se os resultados académicos (34,89%), a idade das vítimas (16,50%), a diversidade funcional (13,30%), o sexo (12%), a orientação sexual (9,10%), a nacionalidade (4,80%). A etnia e a identidade de género são ainda motivos apontados pelas vítimas, cada uma delas com pouco mais de 4% dos casos.

O último relatório do ObNB revela ainda que 24.3% dos casos ocorreram no distrito do Porto, 20.9% no de Lisboa, 10.6% no de Braga e 8.1% no de Setúbal. Em todas as vítimas o bullying deixa um rasto de destruição, que se traduz em impactos diversos. A maioria das vítimas revela dificuldades de concentração, tristeza, distúrbios de sono, ansiedade, nervosismo, vergonha e dores de cabeça.

O Observatório disponibilizou um formulário online que visa a recolha informação sobre a ocorrência de situações de bullying em Portugal.


Fonte: Educare