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segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Deficiência: Dificuldades no acesso a edifícios ou transportes causa isolamento

As pessoas com deficiência em Portugal sentem dificuldades no acesso aos edifícios, aos transportes públicos e aos sistemas de comunicação, o que provoca situações de isolamento e discriminação, revela um estudo do Observatório da Deficiência e Direitos Humanos.
O estudo insere-se no âmbito do projeto DRPI (Disability Rights Promotion International), que tem como objetivo a promoção da monitorização dos direitos das pessoas com deficiência à escala global.
Foram realizadas 32 entrevistas aprofundadas a adultos com diversos tipos de deficiência em três regiões do país (Lisboa, Porto e Algarve).
De acordo com o estudo, «as vidas das pessoas com deficiência em Portugal surgem fortemente marcadas pela discriminação resultante dos preconceitos e estereótipos negativos que subsistem face à deficiência».
Esta discriminação constitui uma limitação em todos os domínios da sociedade, com particular relevância no mercado de trabalho.
«A rotulagem com base na deficiência constitui ainda um elemento manifestamente perturbador no acesso ao emprego ou na progressão na carreira profissional», revelam os investigadores.
Os mesmos dão conta que da análise feita às histórias recolhidas surgiram «múltiplas situações de discriminação que se traduzem em vivências de negação ou violação dos princípios de direitos humanos».
Esta constatação acontece nos mais variados domínios, mas, segundo o estudo, acontece com mais incidência ao nível da participação social, do acesso aos serviços de apoio e do acesso e participação no mercado de trabalho.
«No domínio da participação social, as experiências de segregação e isolamento identificadas decorrem essencialmente da inacessibilidade ao meio edificado, aos sistemas de transporte e aos sistemas de comunicação», lê-se no documento.
«Apesar da existência em Portugal de um quadro normativo regulador e promotor das condições de acessibilidade ao meio e aos mecanismos de informação e comunicação, as pessoas com deficiência são frequentemente colocadas em situações de discriminação e marginalização pela falta de acessibilidade», acrescenta.
Aponta, por outro lado, que a garantia de acessibilidade está «comprometida» pelas medidas de austeridade, sublinhando que a falta de apoios para a concretização de uma vida independente representa outro «significativo constrangimento».
Diz mesmo que, nesta matéria, as opções oferecidas pelo Estado português são «insuficientes», quer pelo «valor irrisório do subsídio», quer pela «insipiência e fraca cobertura dos serviços de apoio domiciliário».
Alerta que esta questão assume particular relevância face «à situação de pobreza em que vive grande parte da população com deficiência em Portugal» e denuncia o «processo extremamente difícil, burocrático e longo» em matéria de tecnologias de apoio.
Outra constatação deste estudo é o facto de as pessoas com deficiência terem um «grande desconhecimento sobre os seus direitos e sobre as formas de os acionar».
Apesar das restrições orçamentais e de, com isso, a execução total da Estratégia Nacional para a Deficiência (ENDEF) poder estar comprometida, os investigadores sugerem a nomeação de um organismo independente que fiscalize a implementação da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.
Propõem a introdução do voto eletrónico, a revisão da legislação relativa aos regimes de interdição e inabilitação, a recolha de dados estatísticos e a revisão da legislação sobre a educação das pessoas com deficiência, nomeadamente os critérios de utilização da Classificação Internacional de Funcionalidade.

In: Diário Digital por indicação de Livresco

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

O regresso às aulas da educação Inclusiva

“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”, referiu aquele que é considerado o mais célebre educador brasileiro, Paulo Freire. Ora, no universo da deficiência a palavra, o tema, a missão, “Educação” tem ainda mais significado, provoca ainda mais angústias e levanta ainda mais polémicas e discussões…
No mês em que a maior parte dos alunos portugueses regressam às aulas, a Plural&Singular convida-o a iniciar o ano letivo dando prioridade à leitura, oferecendo-lhe 16 páginas sobre “Educação Inclusiva”, uma reflexão, uma análise, o ponto de vista dos principais envolvidos e responsáveis por este tema a nível nacional: Ministério da Educação e Associação Portuguesa de Deficientes, sindicatos e associações de pais, entre outros.
Mas os temas a ler são muitos e, por isso, a leitura tem por onde se prolongar até dezembro, data em que este projeto – a Plural&Singular, Órgão de Comunicação Digital Dedicado à Temática da Deficiência – completa o seu primeiro aniversário, para se dedicar a muitos outros temas espalhados ao longo das 125 páginas desta nossa quarta edição.
E sim! É verdade! Após o lançamento desta quarta revista digital trimestral, entraremos na reta final de um ano cheio, estimulante e frutífero… Mas com a certeza de que os desafios começaram agora e só tendem a aumentar e multiplicarem-se.
Assim, hora de repetir o lema: “Nada sobre vós, sem vós”… Porque o objetivo é dar voz! A ação não pára… Porque a missão é inesgotável…
É que TODOS contam!

Editorial da revista Plural&Singular, n.º 4.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Conclusões do 2º Congresso Internacional “Derrubar Barreiras Facilitar Percursos”


A Pró-Inclusão – Associação Nacional de Docentes de Educação Especial, realizou de 28 e 29 de Outubro o Segundo Congresso Internacional subordinado ao tema “Derrubar Barreiras. Facilitar Percursos”, com a presença de alguns dos mais proeminentes académicos e investigadores nacionais e internacionais. Os cerca de 300 participantes, na sua maioria professores desta área, debateram temas atuais relacionados com a Educação Especial e Inclusiva, nomeadamente Políticas, Educação de crianças e jovens com NEE, Equidade, Qualidade de vida, Identidade Profissional dos Docentes de Educação Especial, Centros de Recursos, Transição para a Vida Adulta, Investigação, Articulação entre Serviços, o Papel dos Pais, Intervenção Precoce e Unidades de Ensino Estruturado e Especializadas, entre outros. Da riqueza dos debates e das comunicações apresentadas, elaborou-se o seguinte documento que foi aprovado na sessão de encerramento do Congresso:

CONCLUSÕES

EDUCAÇÃO INCLUSIVA
A Educação Inclusiva (EI) continua a ser um conceito que se mantém na ordem do dia continuando a apresentar-se como suporte indispensável na definição das políticas e na implementação das práticas. Nestas transformações há que ter em conta que os modelos a usar devem primar pela flexibilidade, evitando aplicações “cegas” a realidades necessariamente diferenciadas e valorizando-se a especificidade cultural, o sistema de valores e as forças de mudança que muitas vezes já existem no seio das comunidades educativas. As mudanças devem partir de uma análise das situações concretas.

MUDANÇA NAS POLÍTICAS
Não é só a escola que deve mudar, também as autoridades locais e nacionais necessitam de operar mudanças significativas nas políticas. Não se pode organizar o ensino sem se definir claramente os objetivos e avaliar as lideranças de forma clara e consistente. A generalização da EI em termos nacionais e internacionais torna pertinente clarificar o conceito e a sua operacionalização ao nível central e local. Para qualificarmos a EI, há que planificar de forma fundamentada e clara através de avaliações consequentes. Essa avaliação faz parte de uma prática corrente dessa mesma mudança. A inclusão não se restringe ao interior da escola, envolve também um sistema político que saiba projetar e avaliar as mudanças nos momentos próprios e não apenas no âmbito dos calendários eleitorais. Saber manter uma política sistemática e continuada de consenso nacional é muito importante para que as transformações positivas na escola possam ocorrer de forma efetiva e sustentada, pois elas são necessariamente lentas.
O respeito pela autonomia das escolas e dos professores não deve inibir as entidades governamentais de enquadrar e coordenar a implementação de políticas em termos locais, de forma a promover a equidade e facilitar os processos de interpretação, que cada interveniente faz das políticas emanadas.
Decorrente dos resultados de vários estudos que avaliaram a aplicação do Dec.Lei 3/2008, torna-se necessária a sua melhoria, tendo em conta as diferentes perspetivas já conhecidas, bem como os resultados da investigação actual.

EQUIDADE
É sempre necessário desafiar o conceito de EI e ir mais além centrando a questão na vertente da “equidade”, de modo a que os alunos com NEE sejam tratados com justiça e tenham igualdade de acesso e de participação efetiva na aprendizagem e em toda a vida escolar.
Deveremos colocar hoje a questão se os nossos alunos estão a ser tratados de forma justa no seu processo de inclusão. Torna-se por isso imperioso que a avaliação das melhorias não tenham apenas em conta os resultados académicos, mas também de como as escolas contribuem de forma qualitativa para o sucesso e equidade das populações mais vulneráveis no seu seio.

COLABORAÇÃO
Continua a ser consensual como uma das peças chave da EI, a “colaboração”, não apenas dentro da própria escola entre alunos e entre professores, mas também numa perspetiva de colaboração entre escolas e entre as escolas e a comunidade, evitando possíveis assimetrias.
Fica o desafio: é imperiosa a colaboração nas escolas, entre as escolas e para além das escolas.
Para promover a EI com equidade é importante que as escolas possam aprender entre si e sem exceção de forma a não decalcar no sistema de ensino, o ciclo de desigualdades de uma sociedade hierarquizada.

QUALIDADE DE VIDA
Da mesma forma deveremos insistir no conceito de “qualidade de vida”. Neste contexto, a qualidade de vida determina processos de interação social, de lazer, de autonomia, de autodeterminação e de liberdade individual. No desenvolvimento dos projetos de vida dos alunos deverá existir um equilíbrio entre uma vertente académica, do currículo e o desenvolvimento formal e sistemático de competências que promovam a qualidade de vida em termos mais globais.

ARTICULAÇÃO ENTRE SERVIÇOS
Emerge a necessidade de uma articulação entre serviços e entre entidades locais e governamentais. A melhoria da qualidade educativa exige o envolvimento de todos os setores sociais e políticos. Essa necessidade tem-se manifestado mais no serviço de intervenção precoce, mas também em todos os processos de melhoria nas escolas portuguesas. Como exemplo: a implementação da CIF, onde as dificuldades de articulação entre os serviços foram (e continuam a ser) verdadeiramente sentidas.

CIF
A utilização da CIF cinge-se ao processo de classificação, cuja aplicação dos quantificadores fica ao livre arbítrio dos aplicadores, dado não existirem instrumentos de avaliação educacional com correspondência direta aos quantificadores. A aplicação da CIF em Portugal, quer na educação, quer na saúde, é sentida como um instrumento inadequado a uma avaliação compreensiva das necessidades educativas dos alunos. O acesso a medidas de apoio, ou a serviços, não deve depender da classificação das incapacidades, mas sim da necessidade que o aluno tem em beneficiar dos apoios. A prevalência dos critérios médicos sobre os critérios educacionais deverá ser definitivamente repensada em Portugal, dado que contraria a perspetiva de EI e de Necessidades Educativas Especiais.

CRI
A forma de funcionamento das equipas multidisciplinares dos CRI deveria ter como princípio um apoio a toda a escola, inclusivamente pais e professores. Não foi valorizada a eficácia de quantificadores, como a quantidade de apoios terapêuticos individuais, em detrimento do desejável reforço da articulação e do suporte à ação dos agentes educativos.
Numa perspetiva de articulação de serviços, a implementação dos CRI, continua a ser uma medida a necessitar de reavaliação. Dado que existem muitas outras entidades que poderiam constituir-se em recursos para a inclusão, inclusivamente as próprias escolas do ensino regular.
Este programa carece de uma avaliação que possibilite que os CRI vão ao encontro das necessidades das escolas de forma articulada, centrando este processo na escola do ensino regular como local de construção da EI.

PAIS
Os pais são uma força fundamental para as transformações qualitativas no sistema e na melhoria dos processos de inclusão nas escolas. É desejável a participação ativa dos pais no diagnóstico, planificação e no encontrar de soluções para os problemas, devendo fazer parte dos processos de decisão. A sua participação é reconhecida e valorizada neste processo. São desejáveis processos e programas de articulação entre os pais e os profissionais a vários níveis.

TVA
Numa altura em que a escolaridade básica é de 12 anos, há muito a clarificar e definir no âmbito da Transição para a Vida Activa. Sendo uma área fundamental, continua a não haver uma articulação e uma envolvência de entidades e recursos de toda a sociedade. Ficou a preocupação destes processos poderem não ter consequências, devido à ausência de planificações e de orientações e recursos que contemplem esta nova realidade.

LIDERANÇA
O sucesso da inclusão depende, em grande medida, das equipas de direção e do seu envolvimento nos processos de melhoria no sistema educativo. Uma liderança eficaz foi reconhecida como fundamental na implementação de uma EI.

PROFESSORES
Os professores, e em particular os Professores de Educação Especial, são elementos fundamentais e centrais para o desenvolvimento de uma escola que tenha como meta a equidade e a igualdade de oportunidades. Para que seja cumprido o direito a uma educação socialmente justa para todos os alunos é necessário o concurso de variados técnicos mas não deve ser esquecido o papel central do professor, profissional articulador de todos estes apoios e com um papel imprescindível na discussão e desenvolvimento de qualquer solução de escolarização e educação.

No final, os participantes do congresso reiteraram a importância de continuarmos a olhar a EI no âmbito do respeito pelos direitos humanos, no quadro da equidade educativa. Às crianças e jovens com NEE devem ver garantidos os seus direitos de participação em igualdade de oportunidades em todos os setores da sociedade,
Estando todos mobilizados para derrubar barreiras e facilitar percursos.
In: Newsletter Novembro de 2011 (1ª Quinzena) Pró Inclusão ANDEE

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Aplicação e implementação da CIF - acção de formação

No âmbito da missão do Instituto Nacional para a Reabilitação, IP,   e  da  promoção   dos direitos das pessoas com deficiência, informa-se a realização, nos próximos dias 25 e 26 de Julho, em Lagos de uma acção de sensibilização denominada:
A acção de sensibilização é gratuita,  confere certificação  e tem um número limitado de 18  formandos.
Pode inscrever-se utilizando a ficha de inscrição e enviando-a para manuela.s.branco@inr.mtss.pt ouinr@inr.mtss.ptaté ao dia 11 de Julho.
In: INR

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Utilização da CIF - ESTUDO DE CASOS - em Processos de Avaliação e Programação em Educação Especial

Objectivos
     Dotar os formandos de competências para operacionalizar a utilização da CIF, em contextos multidisciplinares, nos processos de avaliação e programação das Necessidades Educativas Especiais de carácter permanente.

Conteúdos 
Utilizando a metodologia do "Estudo de Caso", serão trabalhados os seguintes conteúdos:
            - Aplicação prática do "Roteiro de Avaliação";
            - Utilização da cheklist da CIF para atribuição dos qualificadores;
            - Elaboração do relatório Técnico-Pedagógico por referência à CIF e Tomada de Decisões;
            - Elaboração do Programa Educativo Individual.

Programa 
09:30h - Apresentação
10:00h - Início da formação - Breve enquadramento legal - Análise das implicações do Dec. Lei n.º3/2008 de 07 de Janeiro, no processo de avaliação das NEE e na organização das respostas. Fases do processo de avaliação; organização das equipas multidisciplinares e preparação das reuniões de avaliação.
11:30h - Intervalo
11:45h - Apresentação de "estudos de caso" para análise e instrumentos de apoio ao processo de avaliação.
13:00h - Almoço (Livre)
14:00h - Elaboração do Relatório Técnico-pedagógico e definição das linhas gerais de intervenção.
15:30h - Intervalo
15:45h - Construção do Programa Educativo Individual.
18:00h - Fim dos Trabalhos.

 Formadora
       Maria da Conceição Vitorino Baião – Professora de Educação Especial
- Especialização no domínio Cognitivo e Motor.
- Mestranda do Curso de Comunicação Alternativa e Tecnologias de Apoio da Universidade Lusófona.

Destinatários
            - Docentes de Educação Especial;
            - Docentes de Intervenção Precoce;
            - Educadores e docentes de todos os ciclos de ensino;
            - Psicólogos e Terapeutas;
            - Técnicos de Serviço Social;
            - Estudantes de cursos das áreas da Educação.

Nota:
Este workshop destina-se, preferencialmente, a profissionais e estudantes de áreas com intervenção na educação, que já conheçam a CIF e o novo paradigma da funcionalidade humana.

Local: Hospital CUF Descobertas - Lisboa (Parque das Nações)

Nº de Vagas -  35 (Admissão por Ordem de Chegada das Fichas de Inscrição)

Horário: 9.30 às 18 horas

Preço de Inscrição 
        Até  21/01/2011  - € 75   ;    Após  21/01/2011  - € 100 
Secretariado

Oficina Didáctica
Rua D. João V, nº 6-B (ao Rato)
1250-090 Lisboa
Tel.: 213 872 458 - Email: info@oficinadidactica.pt 

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Os 12 pilares da sabedoria num teste de meia hora

À partida é mais um teste de QI online, mas sem aquelas surpresas de no final tentarem arrancar -lhe o número de telemóvel para lhe darem os resultados. A Unidade de Ciências do Cérebro da Universidade de Cambridge, em parceria com a revista "News Scientist" e com o Discovery Channel, apresenta esta semana o "teste da inteligência por excelência". Com base nos últimos avanços das neurociências, conseguiram reduzir um teste cognitivo abrangente a 12 exercícios, com uma duração de meia hora. 

O teste é feito online (aqui), e no final tem um questionário para introduzir idade, naturalidade, prática religiosa ou outros dados como quantas horas dormiu na noite anterior ou quantos cafés bebeu. 
Sem estragar o desafio, os 12 exercícios exploram áreas como a memória, a dedução lógica ou a capacidade de planeamento. Os resultados surgem instantes depois e revelam, para cada tarefa, se o desempenho esteve acima da média e em que faixa da população se insere para uma determinada competência - com alguma trivia à mistura, por exemplo que os chimpanzés chegam a ter melhor memória espacial que os estudantes universitários. Adrian Owen, um dos cientistas que participaram na concepção do teste, escreve na "News Scientist" que se pode chamar a esta síntese das neurociências os "12 pilares da sabedoria". Os resultados vão ajudar os investigadores a tornar mais robusto o conceito de inteligência.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Deficiência tem custos para famílias


Ter uma pessoa com deficiência ou incapacidade na família implica custos adicionais que oscilam entre os 4.103 e os 25.307 euros por ano, revela o Estudo de Avaliação do Impacto dos Custos Financeiros e Sociais da Deficiência, apresentado, ontem, terça-feira, em Coimbra.


"As condições de vulnerabilidade social e económica das pessoas com deficiência são óbvias", concluiu Sílvia
Portugal, coordenadora do estudo, realizado pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, a pedido do Instituto Nacional para a Reabilitação. De acordo com a investigadora, a existência de pessoas com deficiência significa "elevadíssimos custos" para as famílias.
O modelo para calcular os custos consistiu na identificação de dez perfis, em função dos diferentes tipos de deficiência, com base na Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF).
Aquele que supõe um custo efectivo mais elevado - 25.307 euros anuais - é o perfil número dez, alusivo às pessoas com deficiências graves no que respeita à mobilidade e às faculdades de manipulação, e que possuem elevadas necessidades de assistência pessoal. O perfil que tem o custo mais baixo - 4.103 euros por ano - é o número oito. Diz respeito às pessoas que têm dificuldade em deslocar-se, devido a alterações nos membros inferiores, embora não careçam de cadeira de rodas.
Estes valores referem-se aos custos efectivos (neles está deduzida a contribuição do Estado) da satisfação das necessidades da pessoa com deficiência, da garantia da sua autonomia e qualidade de vida, não correspondendo ao que as famílias gastam, como vincou Sílvia Portugal, em declarações aos jornalistas. Há quem gaste menos que isso, por falta de condições financeiras; e quem, podendo, gaste mais.
Outra conclusão apontada pela investigadora é que "os apoios do Estado ainda são insuficientes, apesar do esforço enorme que foi feito", na área, nos últimos anos.
"Pela primeira vez, temos um ponto de partida para que possamos olhar para os diferentes cenários e os diferentes tipos de deficiência e ver quais são os custos associados e que são acrescidos para as famílias com pessoas com deficiência", disse a secretária de Estado Ajunta e da Reabilitação, Idália Moniz, aos jornalistas, à margem da sessão.
Sem deixar de observar que a deficiência é uma área sobre a qual "não é muito habitual produzir-se conhecimento", no país.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Recomendação ao Governo que, a partir da CIF, elabore uma tabela de incapacidades decorrentes de doenças crónicas e uma tabela de funcionalidade.

No dia 9 do corrente mês, foi publicada em Diário da República uma recomendação da Assembleia da República ao Governo (Resolução da Assembleia da República n.º 90/2010), que, a partir da Classificação Internacional da Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), elabore duas tabelas distintas, mas complementares: Tabela de incapacidades decorrentes de doenças crónicas; e Tabela de funcionalidade.
Para o efeito, crie uma estrutura composta por peritos interministeriais e multidisciplinares, designadamente representantes dos Ministérios das Finanças, do Trabalho e da Solidariedade Social, da Educação, da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e do Conselho Nacional para Reabilitação e Integração das Pessoas com Deficiência — CNRIPD, a funcionar na directa dependência do Ministro da Saúde.
Para a elaboração destas duas tabelas toma-se como base a CIF, desenvolvida pela Organização Mundial de Saúde.
Estipula um prazo para a apresentação destas duas tabelas, não superior a um ano.
Num prazo nunca superior a um ano após a sua conclusão, as tabelas deverão estar a ser obrigatoriamente aplicadas em todos os contactos dos doentes com os serviços de saúde, devendo, nomeadamente, integrar os respectivos sistemas de informação.
Na data da sua publicação, não lhe dei grande importância e, por esse motivo, não coloquei qualquer informação no blog. Reconheço que o conteúdo é pouco relevante e esclarecedor. Afinal, o que se pretende com as duas listas? Impor aos médicos aquilo que foi imposto na educação?
Pessoalmente, não reconheço ainda grandes vantagens na aplicação da CIF à educação, revendo-me nas críticas de Luís de Miranda Correia (ver texto abaixo). Se realmente estas listas vierem a ser elaboradas e colocadas em prática, aguardemos para ver a reacção dos médicos...

terça-feira, 10 de agosto de 2010

"Aflige-me que ninguém se tenha pronunciado de forma indelével sobre a falta de rigor científico no Decreto-Lei 3/2008"



Luís de Miranda Correia é um dos investigadores mais críticos das políticas ministeriais para a Educação Especial, em Portugal. Recentemente desenvolveu um estudo que mostra as "limitações e confusões" inerentes à legislação nesta matéria.
Reconhece que é uma voz incómoda aos ouvidos dos responsáveis políticos pela Educação em Portugal. Não se constrange em classificar a ex-ministra titular desta pasta, Maria de Lourdes Rodrigues, como "um dos piores ministros da Educação do pós-25 de Abril", pela forma como actuou em matéria de Educação Especial. Tem assistido a muitas "incongruências" políticas no que toca às necessidades educativas especiais (NEE). E não se cansa de as denunciar.

Luís de Miranda Correia nasceu em Braga em 1947. É psicólogo, professor catedrático e director do Departamento de Psicologia da Educação e Educação Especial da Universidade do Minho (UM). Foi psicólogo escolar nos Estados Unidos da América e investigador assistente na Universidade de Brown, tendo ainda colaborado com as Universidades de Rhode Island e de Fairfield.

Em 1996, criou e coordenou dois mestrados em Educação Especial, no âmbito das Dificuldades de Aprendizagem Específicas e da Intervenção Precoce, na UM. Luís de Miranda Correia é ainda autor de vários livros e estudos. O mais recente, apresentado em Maio e realizado em parceria com a investigadora Rute Lavrador, versou a utilidade da aplicação da Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF) na eleição de alunos com possíveis NEE para serviços de Educação Especial. Um tema polémico, ao qual o investigador não foge, já que a sua aplicação estará a excluir vários alunos dos apoios educativos a que teriam acesso, antes da obrigatoriedade legal do uso da CIF nas escolas.


Educare.pt (E): Numa conferência recente disse que "a inclusão começa por ser uma atitude, mas muitas vezes não é bem-vinda por parte dos professores por falta de recursos na sala de aula". É assim?

Luís de Miranda Correia (LMC): Quando disse que a inclusão começa por ser uma atitude, pretendi dizer que o movimento da inclusão só terá sucesso se, em primeiro lugar, os cidadãos o compreenderem e o aceitarem como um princípio cujas vantagens a todos beneficia. No entanto, ao considerarmos só os professores, por vezes ela não é bem-vinda, não só pela falta de recursos especializados necessários ao sucesso dos alunos com necessidades educativas especiais (NEE) significativas, o que é um facto, mas também pela preparação inadequada, quer a nível de formação inicial quer especializada, desses professores, o que os torna inseguros e, portanto, capazes de se rebelarem contra a inclusão dos alunos com NEE significativas nas suas salas de aula.


E: No estudo "A Utilidade da CIF em Educação" concluiu precisamente sobre a inutilidade deste instrumento. Como chegou a essa conclusão?

LMC: Considerei uma amostra composta por sete grupos de participantes que se estendia por sete agrupamentos, sendo cada grupo constituído por um professor do ensino regular, um professor de educação especial especializado e um psicólogo. Pedi aos 21 participantes que respondessem a um questionário sobre a utilização da Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF) em educação e aos sete grupos de participantes que analisassem um estudo de caso (o mesmo que o Ministério da Educação usou na formação que fez sobre a CIF), tendo por base, ipsis-verbis, as instruções e recomendações formuladas nos documentos emanados do ministério.

No que respeita aos resultados, as respostas dos participantes ao questionário foram totalmente contraditórias, revelando uma profunda falta de conhecimento sobre a utilidade da CIF em educação. Quanto ao tratamento do caso propriamente dito, tendo em conta a necessidade do uso da Checklist contida no manual Educação Especial: Manual de Apoio à Prática, os resultados foram os mais díspares, consubstanciando uma heterogeneidade de posições que aparentam um comportamento aleatório quanto à escolha das opções.


E: Pode dar-me um exemplo concreto das contradições que a aplicação da grelha gerou entre os diferentes grupos que tentavam classificar o mesmo caso?

LMC: Dou um exemplo que diz respeito à componente Actividade e Participação. No Capítulo I, ao analisarmos os resultados da categoria d175, "resolver problemas", verificamos que um grupo entendeu que o aluno apresentava uma "dificuldade ligeira"; dois grupos, uma "dificuldade moderada"; outros dois grupos consideram-no com uma "dificuldade grave"; um grupo optou por uma "dificuldade completa"; e, por último, um grupo considerou a opção "não especificado". Esta disparidade de resultados não só revela uma forte divergência de critérios na interpretação de um mesmo caso como também uma incongruência entre os comportamentos exibidos pelos grupos nesta matéria, deixando perceber que esta dissimilitude terá, porventura, a sua génese na subjectividade da CIF ou até na sua incompatibilidade prática quanto ao seu uso em educação.


E: O Ministério da Educação já reagiu a esse estudo?

LMC: Que eu tenha conhecimento, não. No entanto, antes da publicação do Decreto-Lei 3/2008, de 7 de Janeiro, dei conhecimento ao Ministério da Educação (ME) do erro crasso que iria cometer ao pretender inserir num Decreto-lei uma Classificação cuja investigação, quanto à sua utilidade em educação, era praticamente nula. Tornei ainda públicas as opiniões de eminentes especialistas, todos eles reticentes quanto ao uso da CIF em educação. Recordo as palavras do Professor James Kauffman, uma das maiores sumidades mundiais nestas matérias, quando afirmou que a inserção da CIF numa lei seria "um erro grave, mesmo trágico". Ou as conclusões a que chegou o Professor Robin MacWilliam, no que respeita à CIF para crianças e jovens (CIF-CJ). Diz ele: "Levámos cerca de três anos a explorar a adopção da CIF numa clínica pediátrica de diagnóstico desenvolvimental e comportamental, com muito pouco sucesso." Também na Assembleia da República se tratou o assunto, num encontro organizado pela Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, tendo a maioria dos participantes (especialistas, associações de pais, professores e investigadores) manifestado a sua preocupação pela obrigatoriedade do uso da CIF em educação quando a investigação não o aconselhava. Por tudo isto, o ME, já nessa altura, deveria ter tido o bom senso de não incluir a CIF no Decreto-Lei 3/2008. Não o fez. Talvez por teimosia, prepotência, petulância, ou sabe-se lá o quê, o diálogo nunca aconteceu.


E: Depois do que disse, por que razão a CIF permanece obrigatória?

LMC: Parece ser por uma ignorância generalizada, por parte dos envolvidos na implementação do Decreto-Lei 3/2008, quanto ao processo que pode e deve levar à construção de respostas educativas eficazes para os alunos com NEE.

Eu próprio pedi, por carta, à então ministra da Educação, uma audiência para discutir este assunto. Nunca recebi resposta que não fosse o silêncio. Questões de "educação". Contudo, a resposta foi dada a todos os portugueses, especialmente aos pais e aos alunos com NEE, de uma forma muito evidente: a destruição de um sistema de educação especial que até à data vinha a demonstrar alguns progressos. Considero mesmo que, nesta matéria, a doutora Maria de Lourdes Rodrigues, foi um dos piores ministros da Educação do pós-25 de Abril.


E: Escreveu que "o grosso da literatura existente sobre a CIF (...) mais parece pretender vender um produto do que implementar um modelo"...

LMC: A maioria das apresentações feitas sobre a CIF pouco ou nada diferem. O corpo de investigação não passa de uma "ecolália imaginária". Por isso, ficamos com a ideia de que se pretende sonegar informação para, assim, se dar a impressão de que ao usar a CIF se irão abrir as portas do sucesso para todas as crianças com NEE. Quando o próprio coordenador da adaptação da CIF-CJ, Doutor Rune Simonsson, diz em 2010, o mesmo que disse em 2005, que "a implementação da CIF está dependente da existência de instrumentos de avaliação que possam fornecer informação para atribuir níveis de severidade aos códigos da CIF", o que podem esperar aqueles que acreditam na investigação fidedigna e estão totalmente por dentro do processo que deve reger o atendimento a alunos com NEE? Apenas que lhes estão a tentar vender um produto talvez já fora de validade.


E: É autor do "Modelo de Atendimento à Diversidade", um meio de diagnóstico e acompanhamento de crianças e jovens com NEE. Como surgiu?

LMC: O modelo tem vindo a amadurecer desde 1977, altura em que comecei a trabalhar com alunos com NEE, fruto da minha experiência como psicólogo e professor, mas também da investigação que tenho feito e do que muito aprendi sobre estas matérias, especialmente nos EUA. Em 1989, começa a tomar forma e, em 1995, apresentei-o pela primeira vez numa conferência que efectuei na Universidade do Minho, descrevendo-o como um paradigma cujo objectivo era o de equacionar um processo faseado que permitisse responder adequadamente às necessidades de todos os alunos, designada e principalmente dos alunos com necessidades especiais (alunos em risco educacional, com necessidades educativas especiais e com sobredotação). Desde então, tem sido alvo de investigação por parte de alguns dos meus alunos de mestrado e de doutoramento e sido aplicado, com sucesso, quer na Região Autónoma da Madeira quer num agrupamento do Norte do país.


E: Por que razão não é posto em prática de modo generalizado?

LMC: Por razões políticas que se inscrevem na esfera do ME. Não por pertencer a partidos, pois não pertenço, nem nunca pertenci a nenhum, mas talvez por ser uma daquelas vozes incómodas que continuam, intransigentemente, a defender os direitos dos alunos com NEE e, portanto, a incomodar quem está no poder.


E: Qual é a verdadeira realidade das NEE nas escolas portuguesas?

LMC: Neste momento, caótica. Fruto das más políticas educativas, da falta de recursos, da falta de preparação de muitos desses recursos e de muitos professores especializados, da inadequação dos planos de estudos dos cursos de formação inicial e de especialização oferecidos pelas instituições de ensino superior. Enfim, há uma panóplia de factores que fazem com que a maioria dos alunos com NEE não esteja a receber os serviços a que tem direito.


E: A escola regular consegue dar resposta a alunos com multideficiência, deficiência auditiva, visual, problemas motores ou até mesmo autismo?

LMC: Com certeza. A escola regular poderia dar resposta à maioria dos alunos com NEE, incluindo à maioria das crianças que se inscrevem nas problemáticas que menciona. Contudo, é obrigatório que se considerem os factores que aludi na questão anterior e o facto de haver uma pequena percentagem de alunos que, possivelmente, necessitarão que os serviços de educação especial lhes sejam prestados fora das escolas regulares, em instituições preparadas para o efeito.


E: E no que toca a problemáticas como a hiperactividade ou a sobredotação?

LMC: Digo-lhe o mesmo. Os alunos com este tipo de problemáticas podem e devem frequentar as escolas regulares e ser alvo de apoios que tenham por base as suas características e respeitem as suas capacidades e necessidades


E: Qual a sua opinião sobre a apresentação preliminar da avaliação externa da Educação Especial, realizada em Julho pelo ME na presença da ministra Isabel Alçada?

LMC: Creio que a ministra Isabel Alçada, que conheço por ter sido colega e que respeito pelas suas características científicas, pedagógicas e humanas, poderá não fazer a mínima ideia no que se está a meter. Pode, eventualmente, deixar-se conduzir por um discurso, sempre repetitivo, que não tem levado a lado nenhum no que concerne a estas matérias. Seria bom que ouvisse quer especialistas com experiência comprovada nestas matérias, quer educadores e professores, quer ainda pais e organizações ligadas ao sector, coisa que a sua antecessora nunca fez.


E: O que mais o preocupa nesta matéria?

LMC: Aflige-me que ninguém, com responsabilidades políticas, sociais e académicas, se tenha pronunciado de uma forma indelével sobre as tantas incongruências, e a falta de rigor científico no Decreto-Lei 3/2008. O prejuízo que ele já causou e virá a causar a muitos milhares de alunos com NEE justifica plenamente a sua suspensão ou mesmo revogação.

Andreia Lobo

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Apoio e implementação da CIF - acção de formação

Tendo em vista contribuir para a promoção dos direitos das pessoas com deficiências, sustentada nos diplomas legais em vigor e instrumentos enquadradores actuais, o INR, I.P. organizou um plano de formação externa para 2010, dirigido a técnicos da administração pública, de organizações não governamentais, estudantes e outros, que desenvolvam a sua actividade nos processos de integração e participação das pessoas com deficiências.
Assim, informa-se a realização, nos próximos dias 15 e 16 de Julho, na Biblioteca Municipal do Porto - Rua de D. João IV, frente ao Jardim de S. Lázaro - , de uma acção de formação denominada Aplicação e implementação da CIF.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Educação especial: menos 16 mil alunos abrangidos em ano e meio

Em ano e meio, quase 16 mil alunos saíram da educação especial nas escolas públicas. O dado, divulgado em Janeiro, baseia-se na comparação dos números do balanço "Escola Inclusiva", do Ministério da Educação (ME), relativos a este ano lectivo, com os de 2008. Em Junho de 2008, estavam na educação especial 49 877 alunos do básico, 3,9% de um universo de 1,28 milhões. O balanço mais recente aponta para apenas 33 891 (2,85%) entre 1,24 milhões. Destes, 31 776 estão integrados em escolas normais e 2115 são estudantes de estabelecimentos públicos especializados. A descida coincide com a controversa aplicação às escolas da Classificação Internacional de Funcionalidade para Crianças e Jovens (CIF-CJ) - um instrumento de sinalização de deficiências físicas e cognitivas. Alguns especialistas portugueses da área da educação especial têm alertado para o risco de se deixar muitas necessidades, com as dislexias, de fora, citando estudos internacionais que apontam para taxas de prevalência de necessidades educativas especiais de 8% a 12% entre a população estudantil.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Educação especial está a avançar mas com dificuldades


A responsável pela avaliação externa da reforma da educação especial salientou que o balanço é positivo mas reconhece que a maioria das escolas ainda passa por um período de adaptação, com algumas dificuldades.
O decreto-lei que reformou a educação especial em Portugal entrou em vigor em 2008, mas, segundo Manuela Sanches Ferreira, há “muitas escolas com problemas de adaptação à legislação, mas na generalidade foram capazes de mudar” de um modelo mais médico (de diagnóstico) para um modelo de participação.
Os resultados conclusivos só serão conhecidos no final do ano, no entanto esta sexta-feira foi apresentado um estudo com resultados parcelares da avaliação desta reforma.
Os alunos com necessidades educativas especiais (NEE) são agora sinalizados de acordo com a Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF).
“A maior parte dos instrumentos que os professores utilizam para a recolha de informação são informais e passam pelo olhar e observar as crianças”, informou a coordenadora, citada pela agência Lusa.
Dentro dos métodos informais de avaliação estão a observação, a entrevista, o questionário e mostras de trabalho. A nível formal são realizados testes.
Foram estudados 252 alunos, mas 38 destes não precisaram de “avaliação especializada com referência à CIF” por serem crianças que “em determinado momento não estavam a conseguir acompanhar o currículo educativo”, informou Manuela Sanches Ferreira.
Assim, só 214 entraram efectivamente no estudo, das quais 156 foram considerados elegíveis (96 por cento dos quais foram alvo de mais do que uma medida de apoio) e as restantes foram consideradas não elegíveis (51 por cento receberam mais do que duas medidas de apoio).
As maiores queixas das escolas estão relacionadas com o facto de terem muitos alunos com dificuldades e que não se integram no actual decreto-lei e a falta de formação para a CIF.

Relacionado com este tema:

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Convenção e CIF


Tendo em vista contribuir para a promoção dos direitos das pessoas com deficiências, sustentada nos diplomas legais em vigor e instrumentos enquadradores actuais, o INR, I.P. organizou um plano de formação externa para 2010, dirigido a técnicos da administração pública, de organizações não governamentais, estudantes e outros, que desenvolvam a sua actividade nos processos de integração e participação das pessoas com deficiências.
Assim, informa-se a realização:
- no próximo dia 16 de Junho, nas instalações da APPACDM de Vila Nova de Gaia, Rua de São Caetano, 343, 4410-494 Canelas - Vila Nova de Gaia, de uma acção de formação denominada A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência;
- nos próximos dias 17 e 18 de Junho, no auditório da sede do INR, I.P., Av. Conde de Valbom, n.º 63, 1069-178 Lisboa, de uma acção de formação denominada Aplicação e Implementação da CIF.

domingo, 6 de junho de 2010

Professores não sabem identificar aluno com necessidades especiais


Estudo da Universidade do Minho conclui que a Classificação Internacional de Funcionalidade prejudica alunos e não deveria ser usada nas escolas.

O uso da Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF) como forma de avaliar os alunos com necessidades educativas especiais pode causar mais danos do que benefícios aos estudantes. O alerta é de Luís Miranda Correia e de Sónia Lavrador, investigadores do Instituto de Educação da Universidade do Minho, num estudo sobre a aplicação deste método para avaliar as crianças com necessidades educativas especiais permanentes. Para Luís Miranda Correia, uma das principais vozes contra a aplicação da CIF nas escolas, esta "não passa de uma classificação sem qualquer mérito científico em educação, uma vez que não existe investigação fidedigna que aconselhe o seu uso". Durante um ano, os investigadores acompanharam a aplicação da CIF junto de 21 inquiridos: sete professores do 1.º ciclo, sete da educação especial e sete psicólogos de sete escolas do distrito de Vila Real.

"O uso da CIF causa mais danos aos alunos do que lhes traz benefícios", afirma Miranda Correia, depois de analisar os resultados. O autor defende que enquanto não existir investigação fidedigna que aconselhe o uso deste instrumento, ele não devia ser usado, considerando que o Ministério da Educação cometeu "um grave erro" ao aprovar a sua utilização.

No inquérito, foi pedido aos participantes que analisassem um caso de um aluno à luz da CIF - o caso é o mesmo que a tutela utilizou na formação de professores. Os resultados foram "díspares", "consubstanciando uma heterogeneidade de posições que aparentam um comportamento aleatório quanto à escolha das opções", revela. Os dados "parecem levantar suspeitas sobre a credibilidade das respostas e sobre a inconsistência e inexperiência no que respeita aos saberes que levam a um processo eficaz de atendimento dos alunos", diz o estudo: 66 por cento dos inquiridos entendem que a CIF não permite determinar a elegibilidade de um aluno para os serviços de educação especial; 75 por cento afirmam que este método não devia servir de base à elaboração do programa educativo especial para cada aluno com necessidades educativas especiais.

Mais de metade dos inquiridos diz não ter recebido formação sobre a utilização da CIF, apesar de mais de 75 por cento terem utilizado a classificação mais de 11 vezes nos dois últimos anos lectivos. Entre os agentes educativos que participaram no estudo, 43 por cento consideram o instrumento eficaz e pouco confuso, embora para 71 por cento este seja subjectivo.

Em Janeiro de 2008, o ministério alterou a forma como os serviços de educação especial eram prestados. Esta foi alvo de críticas de professores, especialistas e associações de pais, especialmente devido à utilização da CIF - criada por Rune J. Simeonsson e adoptada pela Organização Mundial de Saúde - como base para a avaliação dos alunos que devem ser incluídos no ensino especial e também como instrumento para a elaboração dos seus planos educativos.

No início do ano passado, o ministério encomendou uma avaliação externa à aplicação da CIF - que ainda não está concluída -, convidando Rune J. Simeonsson e Manuela Sanches Ferreira, da Universidade do Porto, para a coordenar. Contactada, Manuela Sanches Ferreira não comenta o estudo do Minho.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Classificação Internacional de Funcionalidade leva à reflexão


"O uso da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde em educação causa mais danos aos alunos com Necessidades Educativas Especiais do que lhes traz benefícios", esta é a conclusão do primeiro estudo sobre a matéria.
"A Educação Especial é uma das áreas mais negligenciadas do sistema educativo português." A crítica vem de Luís de Miranda Correia, investigador da Universidade do Minho, autor de Modelo de Atendimento à Diversidade (1995) e um dos maiores especialistas portugueses nesta matéria. Durante o primeiro Encontro Internacional de Educação Inclusiva e Necessidades Educativas Especiais (NEE), realizado em Braga, este fim-de-semana, o investigador apresentou um estudo sobre a "Utilidade da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) em Educação".
Trata-se de um instrumento de uso obrigatório para a elegibilidade de um aluno com NEE para beneficiar dos serviços de educação especial e de um programa educativo individual (PEI). No entanto, para quem lida diariamente com alunos com NEE, a CIF é apenas um instrumento "burocrático", "subjectivo" e "inútil".
Os resultados do estudo realizado por Luís de Miranda Correia e Rute Lavrador confirmaram o que há muito os professores de Educação Especial já sabiam: obrigar ao uso da CIF para servir de base à elaboração de um programa educativo individual foi um dos erros cometidos no Decreto-Lei n.º 3/2008, de 7 de Janeiro. Rute Lavrador vai mais longe ao afirmar que o uso da CIF em educação "é altamente desaconselhado", pelo que na sua opinião o decreto-lei devia ser "suspenso" ou "revogado".
No final, a legislação apenas decepcionou quem, como Maria Leitão, professora de Educação Especial, no Agrupamento de Escolas Taveiro, em Coimbra, esperava um documento "que inferisse mais nas práticas, no como fazer e trabalhar e nas metodologias". Esta é a maior dificuldade no que toca a leccionar para alunos com NEE.
De facto, um outro estudo, ainda a publicar, realizado por alunos de mestrado em Educação Especial, veio mostrar que para muitos professores a inserção de alunos com NEE significativas na sua sala de aula não é bem-vinda devido à falta de recursos, à indefinição dos conceitos relacionados com a Educação Especial e à ausência de colaboração que deve existir nas escolas.
No que toca a conceitos como o de Necessidades Educativas Especiais ou de Inclusão, entre outros, usados diariamente pelos profissionais da Educação Especial, lamenta Luís de Miranda Correia: "Não há uniformidade!" Segundo o investigador, seria importante que estes conceitos "fossem perfilhados ao nível nacional", para que todos os intervenientes pudessem "falar a mesma linguagem e a partir daí criar um processo que levasse a respostas educativas eficazes para os alunos com NEE e criasse ambientes profícuos para que pudesse haver uma articulação entre a escola, os pais e os especialistas."
Com ou sem CIF?
Com mais de 20 anos de trabalho na área da Educação Especial, Maria Leitão não tem dúvidas: "A CIF teve como objectivo arranjar uma maneira de muitos alunos saírem da Educação Especial." Ao longo dos três anos em que foi coordenadora do serviço de Educação Especial, Maria Leitão apercebeu-se do quanto a CIF dificulta o trabalho nas escolas. "Para mim importante é descrever o perfil de funcionalidade do aluno em termos das suas competências, porque é a partir daí que planifico o PEI." Por isso, esta professora admite sentir até uma certa "desonestidade pedagógica", quando preenche a informação que lhe é pedida na CIF. "Estou a usar um instrumento que, para mim, não tem validade nenhuma", conclui.
Alice Couceiro, docente no Agrupamento Vertical António José de Almeida, em Penacova, não podia estar mais de acordo. A trabalhar na área de Educação Especial há 12 anos, a sua experiência tem confirmado a pouca utilidade da CIF. "A nossa observação do aluno, a avaliação e o trabalho que desenvolvemos antes [do preenchimento da CIF] é que nos permite saber que tipo de apoio o aluno precisa." Por isso, a sua forma de actuar é simples: "Se me chega um relatório ou uma referência, antes de classificar o aluno pela CIF, vou observá-lo e daí vejo logo se ele é ou não elegível para a Educação Especial." Posto isto, Alice Couceiro já se habituou a ver a CIF como uma mera formalidade. "Quando classifico um aluno pela CIF estou só a formalizar o processo."
Sobre o estudo de Luís de Miranda Correia e Rute Lavrador, que mostrou como a mesma criança com NEE foi classificada usando a CIF de modo diferente em sete agrupamentos, Alice Couceiro não se mostra surpreendida. E arrisca uma explicação para o sucedido: "As classificações foram diversas, porque quem as fez só olhou para a parte formal do processo, se existisse um conhecimento intrínseco da situação não teria acontecido assim."
Então, quantas crianças a CIF excluiu dos apoios de Educação Especial? Esta é a questão que tem incomodado os profissionais. Luís de Miranda Correia responde com alguns dados elucidativos das problemáticas que se inserem no conceito de necessidades educativas especiais. Cerca de 50% dos alunos com NEE têm dificuldades de aprendizagem específicas, entre 16 e 18% problemas de comunicação, entre 8 e 10% sofrem de perturbações emocionais e comportamentais, 6 e 8% sofrem de problemas intelectuais e 2 e 3% de outras problemáticas como o autismo, impedimentos visuais, auditivos e motores. Quase 90% dos alunos com NEE estão enquadrados nas quatro primeiras problemáticas. Por isso, "é importante considerar que estas crianças também têm direito a respostas por parte do sistema educativo", refere Luís de Miranda Correia.
No entanto, as dificuldades de aprendizagem específicas, que se prendem com problemas neurológicos ligados à cognição e se reflectem em dificuldades na leitura, no cálculo e nas interacções sociais, não são elegíveis para os apoios educativos especiais. "Como não as entendemos, não lhes damos resposta e é uma falha grave do nosso sistema não incluir estas crianças no atendimento das NEE", acusa Luís de Miranda Correia.
No encerramento do encontro as conversas versavam o estudo divulgado sobre a utilidade da CIF. Entre a assistência, um professor perguntava a Luís Miranda Correia, se já havia alguma reacção do Ministério da Educação à sua investigação. "O estudo só foi apresentado hoje", respondia o investigador. Ninguém arrisca antever uma reacção. Mas "no mínimo é preciso fazer-se uma reflexão", advoga Alice Couceiro.
Andreia Lobo

quinta-feira, 4 de março de 2010

16 mil alunos fora das necessidades educativas especiais


No último ano e meio 16 mil crianças deixaram de constar da lista de alunos com necessidades educativas especiais.
Em Junho de 2008 estão abrangidos por este regime cerca de 50 mil alunos. O último balanço feito em 2009 pelo Ministério da Educação aponta para cerca de 33.891. São números avançados esta terça-feira no agrupamento escolar de Freixo, no concelho de Ponte de Lima, visitado hoje pelo Grupo de Trabalho do Ensino Especial constituído pela Comissão Parlamentar de Educação e Ciência.
A coordenadora do grupo de trabalho de ensino especial diz que este decréscimo de alunos coincide com a aplicação do CIF. Raquel Coelho defende, por isso, a correcção do mecanismo de identificação e sinalização de crianças com necessidade educativas especiais. Para a deputadas do PSD, questões de natureza economicista, poderão também explicar esta redução.
O Grupo de Trabalho vai ainda visitar estabelecimento de ensino em Paredes, Gondomar, Lisboa e Évora. No final será elaborado um relatório a entregar à ministra da Educação.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Aplicação da CIF é um atentado à escola inclusiva, denuncia a Fenprof

No início da semana, a ministra da Educação Isabel Alçada esteve na Assembleia da República para falar sobre o Orçamento do Estado para o seu ministério e, confrontada com a questão do ensino especial, a governante afirmou que decidirá quais as medidas a tomar em função do resultado da avaliação externa que está em curso relativamente à aplicação da legislação sobre educação especial.
Em causa está a adopção da Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF), que alegadamente deixou "ao abandono, sem apoio, cerca de 20 mil alunos". A CIF é um instrumento de sinalização de deficiências físicas e cognitivas e que, por isso, deixa fora do ensino especial crianças com problemas de dislexia e de hiperactividade, entre outros casos considerados graves por especialistas do ensino especial.
De acordo com o estudo entregue, no final da semana, pela Federação Nacional de Professores (Fenprof) ao Ministério da Educação, quase seis em cada dez das direcções de agrupamentos de escolas queixam-se de não disporem de um número suficiente de professores para apoiar os alunos com necessidades especiais. "A escola pública é cada vez menos inclusiva", denuncia o secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, que acusa a antiga equipa ministerial, dirigida por Maria de Lurdes Rodrigues, da autoria de um "grave atentado contra a escola inclusiva".
Segundo o estudo da federação, nos 424 agrupamentos de escolas abrangidos pelo inquérito, mais de metade dos existentes no país, estão um total de 2282 docentes afectos à educação especial, mas apenas 1216 pertencem ao quadro. Dos restantes 1066, acrescentou, 437 foram contratados por oferta de escola e metade não tem qualquer especialização para prestar aquele tipo de apoios, revela.
No inquérito, as direcções das escolas ter-se-ão ainda queixado da falta de auxiliares de acção educativa, e também da falta de psicólogos e de terapeutas, que, muitas vezes, informa Mário Nogueira, não se encontram nos estabelecimentos de ensino a tempo inteiro, mas apenas em tempo parcial.

Pais e docentes reclamam mais apoios para ensino especial


Se o chamado plano de acção para a escola inclusiva afastou milhares de alunos da educação especial, os que ficaram no sistema também não estão a trilhar um caminho fácil.

Professores e pais denunciam que as escolas de referência criadas para as crianças cegas e surdas não estão a dar a resposta adequada. "Um ciclo que não se quebra sem uma aposta séria na qualidade do ensino", avisa Carlos Lopes, da Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal (Acapo). A Federação Nacional dos Professores (Fenprof) entregou esta semana um estudo ao Ministério da Educação (ME) onde denuncia a falta de professores para o ensino especial.

No ano lectivo passado, Maria José Salgueiro, coordenadora do Gabinete de Educação Especial da Confederação Nacional de Associações de Pais (Confap), teve de decidir: no 9.º ano deveria manter o filho de 16 anos, surdo profundo, em Gaia, "onde não teria apoios garantidos desde o início do ano", ou enviá-lo para o recém-criado agrupamento de escolas de referência para alunos surdos, no Porto, onde supostamente se concentrariam todos os professores e técnicos?

Esta mãe não foi a única a quem se colocou o problema, de acordo com o inquérito da Fenprof às direcções de mais de metade dos agrupamentos de escolas do país; nem a única a decidir manter o filho no local de residência, contra as expectativas do ME que, através do Decreto-Lei n.º 3/2008, deu o mais polémico passo da reforma da educação especial.

Graças à adopção da tão contestada Classificação Internacional de Funcionalidade, a equipa liderada por Maria de Lurdes Rodrigues tirou apoios a milhares de alunos, tornando assim possível oferecer condições excepcionais aos restantes, supostamente crianças e jovens com limitações mais significativas. Nesse sentido, criou duas redes de escolas de referência (para os alunos surdos e para cegos e com baixa visão, respectivamente) e outra de unidades de apoio especializado a alunos com espectro do autismo, a crianças com multideficiência e surdo-cegueira congénita.

No caso das escolas de referência, a estratégia definida pelo ME passou pela concentração dos recursos humanos e materiais em 20 agrupamentos de escolas e 20 secundárias para a educação bilingue de alunos surdos e em 25 agrupamentos e 27 secundárias para a educação de alunos cegos e com baixa visão. No entanto, a dispersão dos alunos - e, consequentemente, de recursos - mantém-se, segundo denuncia a Fenprof e confirmam as associações contactadas pelo PÚBLICO.

Valéria está 13 horas fora

Segundo Manuel Rodrigues, um dos coordenadores do estudo que a Fenprof realizou, a rede de unidades de apoio especializado para crianças autistas e com multideficiência (479) tem uma malha "relativamente mais apertada, embora desequilibrada, pelo que chega a haver casos de sobrelotação". Já os estabelecimentos de referência mostram-se "ineficazes na atracção de alunos, entre outras razões por se situarem, principalmente e quase só, nas sedes de distrito". "Ou os alunos têm a sorte de viver naquelas cidades ou, então, para os frequentarem podem ter de percorrer, diariamente, largas dezenas de quilómetros", alerta.

Maria José Salgueiro sublinha a importância da questão: o filho João "não é, apenas, um estudante surdo, é um adolescente que tem um grupo de colegas e de amigos no local de residência, que gosta de praticar desporto e que não passa sem navegar na Internet, ver televisão ou entreter-se com jogos electrónicos, como qualquer outro rapaz da sua idade", afirma. Daí a decisão de o manter em Gaia. Uma decisão semelhante à dos pais de mais 40 crianças surdas do concelho e de muitos outros em todo o país, assegura a mãe.

Esta opção corresponde, também, à posição oficial da Confap, que não contesta a estratégia do ME, mas reclama o urgente apertar da malha da rede de escolas de referência e a respectiva dotação de recursos humanos e materiais.

A Acapo tem uma posição semelhante, mas o presidente, Carlos Lopes, realça "uma agravante": "No secundário, este modelo limita imenso a oferta de cursos disponíveis, já que nenhuma escola, isoladamente, pode corresponder à diversidade da oferta existente para os restantes alunos". Para além disso, "se haveria vantagem em concentrar e rentabilizar recursos materiais e humanos, a verdade é que, na esmagadora maioria dos casos, o apetrechamento das escolas de referência está longe de ser o ideal, o número de professores especializados é escasso e a formação dos docentes e do pessoal auxiliar manifestamente insuficiente", enumera.

Do mesmo se queixa a Confap e confirmam pais que optaram por fazer deslocar os filhos para as escolas de referência. Por exemplo, Fátima Ottati, que vive em Santa Maria da Feira, conta que Valéria, a filha surda profunda, de 18 anos, acorda às 5h30 e regressa a casa 13 horas depois. "O mais grave é que, apesar das consequências sociais e familiares do desenraizamento", na escola secundária do Porto que frequenta, dita de referência, não tem terapia da fala e "é obrigada" a faltar às aulas de Língua Gestual Portuguesa, porque ocupam o último tempo do horário e a impedem de apanhar os transportes públicos de regresso a casa. Ou seja, na prática, Valéria, que optou pela escola de referência, não tem mais apoios do que os conseguidos ("depois de muita luta, é verdade", frisa Maria José Salgueiro) por João, que também frequenta o 10.º ano, mas a cinco minutos de casa.

É este tipo de fragilidades que, na perspectiva da Confap e da Acapo, contribui, também, para colocar em causa o êxito do modelo. "Enquanto não oferecerem um ensino de qualidade, as deslocações - que embora desejavelmente menores serão sempre inevitáveis - não se justificam e a concentração de meios continuará a ser impossível", insiste Carlos Lopes, que apela ao quebrar do "círculo vicioso".