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quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Arnaldo Afonso escreve sobre "Arame Farpado" no Estadão



(...) Se a literatura é uma espécie de vida quase traduzida, jamais decifrada, a poesia de Lisa é uma iluminação de enigmas. Seus poemas são adultas reflexões político-filosóficas sobre o peso de cada ato (isolado/coletivo), a culpa do passado, o futuro complexo e desesperançado e a futilidade do prosaico cotidiano dos homens. Não se tratam de poemas ao redor do umbigo. Ou o umbigo/mundo de Lisa é feito um nó de todos nós, nossos umbigos conservadores e egoístas, cheios de medo e preconceito. Ela não se esconde nem alisa nossa ferida. Luta cutuca machuca e avisa. LEIA O TEXTO COMPLETO

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Entrevista lá no Pianista Boxeador





O escritor, professor e mestre em filosofia pela Universidade Federal de São Paulo, Daniel Lopes me convidou para uma entrevista lá no Pianista Boxeador. Ano passado ele fez uma resenha para o meu livro "Arame Farpado" conectando com o conceito de literatura menor, no sentido em que Deleuze e Guattari constroem este conceito (desterritorialização e agenciamento).


Entrevista >>>> aqui
Resenha >>>> aqui






terça-feira, 20 de outubro de 2015

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Um conto lá na Revista Flaubert



Estou na sexta edição da Revista Flaubert com o conto  c o m e r c i a l ((A inevitável multiplicação do universo)). A convite do escritor e editor regional da revista Maurício de Almeida estou lá com mais três escritores de Brasília:  Lara Amaral, Lívia Milanez e Ser Leo. 

 A revista Flaubert foi citada pelo site espanhol Papeles Sueltos como uma das melhores revistas de literatura em língua portuguesa.

(...) Na maioria das ocasiões eu via alguém em prantos, alguém que era capaz de representar uma tristeza tão profunda que passei a intuir, desde cedo, a infelicidade anônima do universo...




 

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Carta para o meu Pai


Foto de Claudia Sofia Moreira


(...)
“Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas , que sobem.”

RESÍDUO (Carlos Drummond de Andrade)



Sempre critiquei esse constante retorno às épocas festivas – natal, ano novo, aniversários. Como se a vida variasse nesses ciclos e francamente nunca soube reparar um sentido lógico e nem mesmo uma transformação significativa. Mas nesse final de ano algo mudou aqui dentro, pois você partiu para sempre no ultimo mês e eu fiquei com a sensação que 2014 abriria com um gosto de vazio e assim foi. Quem dera poder passar novamente uma virada de ano com você e prestigiar seu riso de homem menino, quem dera  poder ouvir suas aventuras loucas e duvidar que alguém pudesse ter vivido aquilo. Ah aquela vida alienada e ingênua agora me faz falta, muita falta! Eu pensei que tinha uma migalha de fé em outras possibilidades de continuação de vida, mas  tudo o que me lembro é de terem colocado teu corpo naquele túmulo de concreto e terem lacrado – uma amostra da nossa insignificância. Sinto-me sem chão, sem fé e com uma decepção pessoal enorme. Sabe pai, eu sempre quis transformar o mundo, qualificava-me capaz disso, considerava-me potente para lutar pelo bem coletivo, mas quando você se foi compreendi minha alienação e minha fraude. Eu nunca lutei por você, eu nunca fui atrás para saber a causa de sua vida ter sido assim, porque de tanta solidão e isolamento. Compreendi então que eu nunca tentei transformar o mundo do homem que me trouxe nessa orbe azul. Nós humanos somos muitos prepotentes, arrogantes e egoístas (alguns de nós, pois sei que tem muita gente melhor do que eu por aí). Como pude acreditar que minhas idéias reverberariam para o coletivo de forma benéfica?  O sistema arrancou você de mim (ou será que fomos nós que nos perdemos)?  Essa doença maldita está no ar contaminado pela indústria, na comida inserida por bilhões de venenos e manipulação genética, nas drogas legalizadas,  na água contaminada pelas mineradoras e pela agroindústria e pior pelo nosso consumo irracional e nosso descarte irresponsável. É eu ainda sou carregada de argumentos, ainda culpo o externo, ainda culpo o outro coletivo que financia a própria morte do planeta, mas também sei que estamos dentro dele e estamos nos envenenando a cada segundo.  Eu prometo que vou mudar radicalmente e fazer das minhas palavras uma munição de vingança e ação. Se a vida é um prêmio único e sem direito a repetição vou fazer o melhor que eu puder começando pelo  meu universo ao redor e se eu conseguir quem sabe eu volte a falar do mundo. Obrigada por ter me plantado aqui e perdão por eu não ter feito nada ainda para fazer essa existência valer à pena.


(...)

“Mas de tudo, terrível, fica um pouco,
e sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob os túneis
e sob as labaredas e sob o sarcasmo
e sob a gosma e sob o vômito
e sob o soluço, o cárcere, o esquecido
e sob os espetáculos e sob a morte de escarlate
e sob as bibliotecas, os asilos, as igrejas triunfantes
e sob ti mesmo e sob teus pés já duros
e sob os gonzos da família e da classe,
fica sempre um pouco de tudo.
Às vezes um botão. Às vezes um rato.”

RESÍDUO (Carlos Drummond de Andrade)


sábado, 11 de fevereiro de 2012

Lembranças do meu Cordão Umbilical


Tela de Frida Kahlo, A minha ama e Eu (1937).

"O ser humano vivencia a si mesmo, 
os seus pensamentos como algo separado do resto do universo , 
numa espécie de ilusão de óptica da sua consciência.
E essa ilusão é uma espécie de prisão 
que nos restringe aos nossos desejos pessoais, 
conceitos e ao afecto por pessoas mais próximas.   " ( Albert Einstein )


“Porque doem os meus olhos?”  ( Neo)
“Porque você nunca os usou...”
( Morpheus)
(Matrix)




Está escura a passagem
para chegar à luz.

Duas mãos geladas
retiram-me deste habitat
morno e confortável.

A luz é incomoda
e naturalmente minhas
cordas vocais protestam
contra a dor que aquela
expulsão me tomou.

Injustamente cortam
o único elo que existia
entre este eu e o outro que aquele mundo
 hospedou com
tanto carinho.

Me seguram pelas pernas
e me olham como se
eu fosse o último exemplar
da espécie.

E como uma resposta
aos meus espectadores,
vomito o primeiro leite
que me obrigaram a ingerir.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

A Intimação





Talvez a revolução esteja 
em seus corpos e eu não a veja.

Cecilia Pavón - Bicicleta Roubada




Naquele dia olhamos a relva e não nos apercebemos da quantidade de sentimentos guardados na paisagem natural. Os suores e suspiros eram mantidos em estado de segredo e da capital chegavam motivos de uma separação. Eu engoli a seco aquele olhar acovardado do homem que deveria me proteger. Até hoje não chorei a quantidade certa de lágrimas pela sua perda. Cem passos adiante  e ele se jogou as pedras de um mar que nunca naveguei. Até hoje acho impossivel compreender Drummond e sua pedra. As minhas pedras foram polidas à sangue.




 
Da série: “Adeus, Companheiro!” Uma alusão a transformação ideológica do meu personagem Charles Gabriel do comunismo ao anarquismo. Todos esses escritos dentro da obra fazem parte de uma propaganda publicitária de seus livros. Sempre uma separação, um abandono das paixões e um novo alvorecer.  A primeira parte é “Missão Cumprida” publicada em 2010 neste blog. Segue o link http://lisaallves.blogspot.com/2010_07_01_archive.html#5656174946083063981

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O Dissolver da Primavera

Se você consegue ouvir este
sussurro você está morrendo"

The Great Gig in the Sky - Pink Floyd





Quando setembro chegou
recebi um grande buquê
de flores em extinção.
Medo do presente,
um pouco de deslumbre
e depois compaixão.

A principio imaginei honrarias,
privilegios e toda sorte de fantasias.
Mas quando setembro acabou
elas partiram, dissolveram-se
em um vaso antigo.

Agora só tenho uma dor calada,
um lamento triste que me segue pelas manhãs.


Η θεία μου

Desejo que você possa velejar nos mares mais calmos de todo o universo.
Desejo que você possa não apenas enxergar novamente as cores – mas também tocá-las e com o poder da sinestesia sentir o sabor do vermelho e do azul.
Desejo que você corra rumo ao infinito e nunca mais olhe para trás.
Desejo que você em algum minuto pare e possa contemplar a beleza do sol acariciando o mar.
E que possa sempre voar ao encontro do seu verdadeiro destino.


RUA TIA NICA 70 (escrito em 19 de novembro de 2007)

Na casa onde vivera por vinte anos, ela voltou
 (não para permanecer), mas para testificar suas raízes. 
Olhou os quadros, olhou para sua velha-guarda e sentiu um aperto no peito
                                          (não era um aperto de dor ruim e sim aquele aperto de ausência).
 Não tê-los ali, do seu lado, para trocarem olhares de vida
era tão ruim quanto ouvir gritos de socorro do lado de fora
e do lado de dentro não poder fazer nada. 
A avó com seu semblante confiante e elegância parecia dizer com seu tom imperativo:
“É isso mesmo, minha neta, continue indo! E jamais permaneça!”

Já o avô de olhos oceânicos, guarda-chuva na mão e paletó envelhecido,
não parecia dizer nada.  Em vida, foi um homem de poucas palavras,
 quando cogitava falar, optava pelo seu livro de anotações onde contabilizava perdas e ganhos da fazenda.

Os portais continuavam amarelos, a varanda
 e o banquinho também eram os mesmos,
 só ela que não se encaixava naquele livro de recordações.
Não era parte do Todo genealógico:
não estava nos santos expostos na parede,
não estava no jardim que outrora fora o mais florido de toda redondeza
e nem mesmo na garagem que servia para guardar a imaginação
de crianças “endiabradas”, como queixava-se Tia Deca.

Era incrível, mas a vizinhança era a mesma:
um monte de Donas Marias, Antônias, Comadres e Compadres.

Um verso passeou pela rua Tia Nica:

um verso imutável, digno de ser pintado,

um verso tão sólido que não se desmancharia no ar,
apenas voaria.

Entraria pelas portas, beijaria as comadres e saudaria os compadres.

E ela pôde ver a forma desse verso:
não era um soneto e muito menos um alexandrino.

Os parnasianos o invejariam e os pré/pós modernistas diriam:
Eta vida besta, me Deus!


terça-feira, 27 de setembro de 2011

A Ilha










Espera mil anos e verás que será precioso até o lixo
deixado atrás por uma civilização extinta.