Meu sogro é e será sempre uma inspiração! Muito pela defesa intransigente dos seus pontos de vista, mais pela sua integridade e lisura! Estávamos conversando após o almoço acerca das atitudes de alguns políticos (sempre eles!)e ele me disse uma frase que ficou martelando minha cabeça... A questão era: como Sarneys, ACMs, Siqueiras e quetais podem sentir-se ricos impingindo tanta miséria e desigualdade social nos locais onde são gorvernantes? Como podem fazer de Municípios e Estados uma extensão de seus quintais sem o menor pudor? Como suas consciências lhes permitem andar por ruas onde impera a mendicância e onde a prostituição se alastra? Onde a infância é deliberadamente explorada?
Claro, não conseguimos responder a tais questões! Pelo menos não com o pensamento simplista e desinteressado de quem não é sustentado pelo sistema político.
A cabeça do político, imagino eu, funciona da seguinte maneira: o que eu faço me beneficia? Faz bem aos meus comparsas? Torna dependentes aqueles que podem me reeleger? Dá a minha imagem pública uma perspectiva positiva e de nobreza? Quando pego em alguma atitude ostensivamente errada, será facilmente esquecida e superada?
Pois bem, respondidas a contento cada uma dessas perguntas, nenhum problema em fazer ouvidos de mercador para as solicitações de necessidade real.
Afinal de contas a realidade é extremamente relativa. Um mendigo debaixo da ponte pode significar muitíssias coisas diferentes, a depender de quem olha e do que quer ver...
Talvez meu olhar esteja viciado na indignação e eu veja descaso, incompetência, barbárie onde outro verá oportunidade de sucesso!
O Bolsa Família para mim pode ser a esmola institucionalizada, um incentivo a estagnação e à falta de perspectiva. Para outros, pode ser a manutenção de um eleitorado dependende e acéfalo. Para outros ainda, pode ser apenas a notícia na primeira capa do jornal, "neutra" e despida de pretensões outras que não a mera informação... (Como muitos querem nos fazer crer!)
No fim de tudo, a realidade é sempre um show. Um ponto de muitas vistas, vistas de muitos pontos. Cada vista entremeada pelo viés dos interesses imediatos e futuros.
Talvez o olhar do outro não esteja menos viciado no poder, que o meu na descrença de que um dia poderá ser diferente... Diferente daquela história do tapinha "afetuoso" e "amigo", do assessor com a cadernetinha de pedidos anotados, do discurso "emocionado", dos cargos rifados e das Marias com os meninos, cada vez mais meninos, na fila do Bolsa Família, do vale-gás e dos vale-nada a que o governo sentencia o esmoler!
Mas, enfim sogrinho, como eles podem sentir-se ricos e felizes com a miséria despudorada? É porque são almas miseráveis e nenhuma outra miséria pode ser maior do que a que arrastam consigo, nas suas entranhas! Daí o que vemos ser apenas o reflexo do que eles não podem deixar de ser. "A árvore má" não poderia mesmo dar bons frutos! Esse é o ponto da minha vista. !