
José Alves, Roma/09
O Vaticano é um ovo dentro da Cidade.
Quando chegámos, há mais de vinte anos, éramos meninos ainda. A Civitas tão bela, eterna, plácida para as nossas aventuras de jovens apaixonados...Leves, percorríamos as noites, que nos disseram ser perigosas, com Brigadas Vermelhas pelas esquinas. Eu inquietava-me, mas o teu abraço protegia-me de imperadores do mal e até daqueles que, nos bastidores - dizia-se - ,tinham planeado a morte do Papa que sorria. Lêramos tudo sobre o assunto, com paixão e procura, e riamos do número de liras que o postal de Albino Luciani custara. Ainda o temos.
De fé e esperanças se vestia o nosso futuro de recém casados. Os teus estudos clássicos liam-me cada pedra de Roma e o meu Latim recente e fresco, saído das caves da Clássica, ainda acompanhava os casos. Riamos alto e a nossa luz magnetizou velhas senhoras que nos que nos encheram de simpatia e de mimos.
Apaixonei-me por Roma, apaixonada por ti, eternamente.
Eternamente.

José Alves, Roma/09
A Praça tinha atiradores atrás das colunas. Tive medo. Entrámos e o fascínio, a maravilha, foram arquitectónicos. Revoltei-me. A Pietá impressionou-me no agónico da sua dor, na perfeição das suas formas. Marido, não quero uma religião agónica. O meu catolicismo fica aqui. Hoje!
Talvez por isso eu volte a Roma. Talvez, por isso, volte ... circularmente. Busca incessante do que aqui se foi esvaziando.
Hoje, o Papa já não ri, sorri mansamente, ancião e sábio de filosofias e lógicas que fui lendo sem entusiasmo. O Papa é culto e sabe que, ali, no belo cenário do nosso rectângulo, sob a luz clara, encostado ao cais das Descobertas, ocupa o espaço dos velhos Autos de Fé. O Papa, Bispo Inquisidor, preside ao ritual.
A turba aplaude.
Busca de Fé e de Esperança.
Eternamente.

José Alves, Roma/09
- «O papa eleito será traído pelos seus eleitores,
- Esta pessoa prudente será reduzida ao silêncio.
- Eles o matarão porque ele era muito bondoso,
- Atacados pelo medo, eles conduzirão sua morte à noite.»
Nostradamus
, Centúrias, 10, Quadrante 12
Ioannes Paulus PP. I Albino Luciani
26.VIII.1978
-
28.IX.1978
Ana