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segunda-feira, julho 02, 2012

WHISPER (2007)

SUSSURRO
Um filme de STEWART HENDLER




Com Josh Holloway, Sarah Wayne Callies, Blake Woodruff, Michael Rooker, Joel Edgerton, etc.


EUA - CANADÁ / 94min / COR / 
16X9 (1.85:1)


Estreia na FILIPINAS a 16/5/2007



David Sandborn: «Now, be a good boy and put the gun to your head»

Depois de saírem da prisão, Max (Josh Holloway) e a namorada Roxanne (Sarah Wayne Callies) decidem mudar de vida e pedir um empréstimo ao Banco para abrirem um pequeno restaurante. A pretensão é negada e o casal, sem meios de subsistência, resolve então aceitar a proposta de dois amigos, Sydney (Michael Rooker) e Vince (Joel Edgerton) para um pequeno trabalhinho. A ideia – o rapto do filho de 8 anos de uma ricaça de New England, visando a obtenção de um pagamento de resgate – tem origem em alguém misterioso com quem contactam apenas através de chamadas telefónicas periódicas. O rapto é bem sucedido e a criança, David (Blake Woodruff), é levada para uma cabana isolada nas montanhas do Maine. Mas aquilo que parecia uma empreitada simples começa a complicar-se devido à ocorrência de estranhos acontecimentos. E tudo aponta para que David seja a origem de todos os males…
Apesar de “Whisper” não trazer nada de novo ao cinema, nomeadamente no género do fantástico (o tema da criança diabólica já foi abordada por diversas vezes, sendo Damien, da trilogia “The Omen”, talvez a personagem mais conhecida), o filme apresenta um suspense crescente, bem condimentado por algumas sequências de grande tensão, uma óptima fotografia (da autoia de Dean Cundey), e sobretudo um naipe de actores bem dirigidos, e dos quais se destacam Holloway e Callies, ambos celebrizados pela participação em séries televisivas de grande popularidade: “Lost” e “The Walking Dead”, respectivamente.
Blake Woodruff, que desempenha o papel do pequeno David, até não se sai mal de todo e não tem culpa que a sua personagem não tenha tido, da parte do argumentista Christopher Borrelli, uma melhor caracterização e desenvolvimento. De qualquer modo, “Whisper” constitui um razoável entretenimento, um thriller de contornos sobrenaturais (até inclui uma inesperada reviravolta perto do final), aconselhado para aquelas ocasiões de certa preguiça mental que nos leva apenas a querer passar descontraídos uma boa hora e meia.

quinta-feira, junho 28, 2012

30 DAYS OF NIGHT (2007)

30 DIAS DE ESCURIDÃO
Um filme de DAVID SLADE


Com John Hartnett, Melissa George, Danny Huston, Ben Foster, Mark Boone Junior, Mark Rendall, Amber Sainsbury, etc.

EUA-NOVA ZELÂNDIA / 113 min / 
COR / 16X9 (2.35:1)

Estreia nos EUA a 19/10/2007
Estreia em PORTUGAL a 8/11/2007
Estreia no BRASIL a 7/12/2007


The Stranger: «Mr. and Mrs. Sheriff. So sweet.
So helpless against what is coming»

A história original de “30 Days of Night” foi escrita por Steve Niles com o intuito dela extrair posteriormente um argumento para o cinema. No entanto, nunca a conseguiu vender; e após anos de rejeição por parte de diversos estúdios, Niles resolveu transformá-la num comic book, com a comparticipação do desenhador Ben Templesmith. Curiosamente, um dos estúdios que lhe tinha dado nega, interessou-se pelo novo formato e em breve o projecto chegou aos ouvidos de Sam Raimi, que viria a produzir o filme (apesar de numa primeira fase ter pensado realizá-lo ele próprio). Filmado em 70 dias, na Nova Zelândia, “30 Days of Night”, com argumento do mesmo Steve Niles (em colaboração com Stuart Beattie e Brian Nelson) e direcção de David Slade, parte de uma premissa bastante curiosa e um pouco atípica dos filmes de vampiros.

Encontramo-nos no Alaska dos nossos dias, no seio da pequena comunidade de Barrow, com pouco mais de 500 habitantes. Com a aproximação do solstício de inverno e, consequentemente, de um mês sem luz solar (algo bastante comum naquelas paragens), a maioria das pessoas começa a partir por não suportar viver 30 dias mergulhada em trevas. Alguns, contudo, ficam para trás, como o casal policial responsável pela segurança da vila, Eben e Stella Oleson (Josh Hartnett e Melissa George). Um estranho indivíduo (Ben Foster) aparece não se sabe de onde, prevendo um perigo iminente: a chegada "deles". Com o avançar da primeira noite alguns episódios anormais começam a acontecer, como o esventramento de todos os cães do coveiro local ou a decapitação do responsável pela torre de comunicações. Os acontecimentos precipitam-se e a verdade vem ao de cima: Barrow está a ser atacada por um bando de vampiros, sedentos de sangue, que pretendem dizimar tudo à sua volta.

“30 Days of Night” é um filme de terror claustrofóbico, eficaz e bem construído, mas ao qual faltou um pouco de imaginação para se assumir verdadeiramente original e dinamitar os limites do género. Muito influenciado pelo cinema de John Carpenter (“The Thing” e “Assault on Precint 13” vêem-nos constantemente à memória) o filme peca sobretudo por uma falta de lógica explanativa, bem como uma deficiente progressão do tempo de acção: não se entende muito bem qual a razão do ataque dos vampiros naquela precisa altura e o avanço dos dias não é uniforme (o que traria muito mais tensão ao desenrolar da história), antes se processa por saltos temporais desconexos. Mas apesar das suas incongruências, “30 Days of Night” consegue agarrar o espectador, sobretudo o fã do género, sempre em busca de emoções fortes.

Uma das componentes mais interessantes do filme é a caracterização original dos sugadores de sangue: são do piorio, feios, maus e sanguinolentos, e com uma linguagem de comunicação muito própria (criada expressamente para o filme por um professor de línguas da Universidade da Nova Zelândia), o que, aliada à eficaz maquilhagem, lhes confere uma imagem de ferocidade muito acima da média. Vai longe o tempo em que um vampiro cravava delicadamente os dentes no pescoço da sua vítima. Esta nova espécie não pretende apenas saciar a sede, devora literalmente as presas como se de uma orgia vampiresca se tratasse. Permanentemente tingidos pelo sangue das vítimas, olhos negros e inexpressivos, desfigurados por uma imensidade de dentes pontiagudos, este bando de horrendas criaturas da noite é, provavelmente, a razão mais forte do sucesso do filme (e da banda-desenhada que lhe deu origem).

John Hartnett impõe-se uma vez mais como um bom actor mas é Melissa George que se destaca pela sua presença, sensual e inspirada. Diz quem conhece a banda-desenhada (não é o meu caso) que a relação entre os dois personagens sofreu algumas alterações na transposição para o grande écran. Não posso estabelecer qualquer comparação, mas o filme apresenta-a de um modo credível, ajudando a criar um contraponto à ameaça generalizada. Essa relação, que volta a aproximar o casal até então desavindo, irá ser levada aos limites do sacrifício, numa inesquecível sequência final, que tem dividido a crítica (eu, sinceramente, gostei, achei-a bem adequada ao fim do pesadelo). De referir ainda a prestação particularmente carismática de Danny Huston como líder do bando de vampiros, que ficará sem dúvida como uma referência cimeira do género. “30 Days of Night”, apesar de ser um filme cuja temporalidade desmente o seu título (o aspecto cronológico já acima referido, que nos impede de acreditar que toda a acção se passa em trinta dias) aposta claramente num clima forte de tensão, por vezes arrepiante, que por certo fará as delícias de todos os apaixonados pelo filme de terror, e o de vampiros em particular.


sexta-feira, setembro 30, 2011

FADOS (2007)

FADOS
Um filme de CARLOS SAURA


Com Mariza, Carlos do Carmo, Camané, Caetano Veloso, Chico Buarque, Lila Downa, Toni Garrido, Lura, Argentina Santos, Catarina Moura, Cuca Roseta, Miguel Poveda


PORTUGAL - ESPANHA / 93 min / COR / 16X9 (1.85:1)


Estreia no CANADÁ a 6/9/2007
(Festival de Toronto)
Estreia em PORTUGAL a 4/10/2007

Apresentado pela primeira vez ao público português numa estreia de gala em Lisboa, no dia 4 de Outubro de 2007, “Fados”, de Carlos Saura, tem alcançado um notório sucesso ao longo destes 4 anos, qualquer que seja o País em que seja apresentado. «Como é que um espanhol se atreve a vir a Portugal para fazer um filme sobre fados?», foi a pergunta colocada pelo próprio realizador nessa altura, considerando-se logo de seguida um felizardo por ter sido ele o autor de algo que nenhum português se tinha lembrado de fazer. Autor de outros filmes ditos musicais – “Carmen” (1983), “Sevillanas” (1992), “Flamenco” (1995) e “Tango” (1998) – Saura soube mostrar com inegável bom gosto a música e o mundo do Fado, por onde desfilam nomes que dispensam apresentação, quer da cena artística portuguesa quer da internacional. Mariza, Carlos do Carmo, Camané, a mexicana Lila Downs ou os brasileiros Caetano Veloso e Chico Buarque são alguns desses nomes.

Filme sem argumento, “Fados” é apenas uma colagem de momentos musicais, sem ter qualquer pretensão a documentário, como erradamente é comum apelidá-lo. O próprio Saura já desfez quaisquer dúvidas que pudessem existir ao declarar que a única coisa que procurou foi o prazer de escutar e difundir um género musical que se presta às variações mais diversas, desde a interpretação dita “clássica” ao mais verbal dos “hip-hop”. A propósito, esta peculiar interpretação (uma homenagem a Alfredo Marceneiro) tem arrepiado os ouvidos dos puristas mas, como muito bem lembrou Carlos do Carmo, o Ti Alfredo sempre foi um vanguardista e provavelmente teria apreciado tal ousadia. Mas passemos a palavra ao realizador espanhol:

«O cinema musical pode adoptar várias formas, mas considero que o seu estado mais puro é aquele que não se submete a um argumento do tipo narrativo. Neste caso, as histórias que se vão contar já se encontram nos próprios Fados e o material visual básico serão os fadistas, os músicos e os bailarinos que os interpretam. Porque se trata de fazer um filme sobre os Fados. Cresci com eles, com a voz e presença de Amália Rodrigues. Nos temas que não domino, procuro rodear-me dos melhores especialistas no tema. Assim fiz no passado e assim farei agora, nem que seja pelo respeito e pelo carinho que merece o nosso país vizinho, tão próximo e às vezes tão desconhecido.

Uma das vantagens de um musical, tal como o entendo, é a possibilidade de modificar a iluminação no caminho, de alterar cenários, utilizar todos os elementos modernos que temos à nossa disposição: espelhos de cristal e de plástico, luzes intermitentes, sombras, projecções, imagens digitais… A única obrigação é a de seguir o ritmo musical e não traír esse “tempo interno” que a execução, o canto, o bailado impõem por si só. Por outro lado, é necessário encontrar soluções que permitam ir um pouco mais além do que poderia resultar de  um documentário bem realizado. Tem de se procurar “esse algo mais” que ofereça ao espectador uma perspectiva distinta, um enfoque diferente no desenvolvimento da obra, que o “guie” através de uns olhos que não são os seus.

Não se trata de fazer um filme sobre a história e a evolução do Fado, e muito menos de fazer uma visita aos lugares onde se canta o Fado em Lisboa (o que já foi feito em outras ocasiões), trata-se de fazer um filme essencialmente visual, pelo que é necessário encontrar as imagens que transmitam o ritmo necessário: uma vezes pela surpresa, outras pela beleza plástica e outras pela qualidade dos fados e dos fadistas. Um aspecto que tenho procurado sempre nos meus trabalhos musicais é o de abrir novas perspectivas, ou seja, ancorar onde o Fado se abre para o futuro. Este é um tema delicado, mas que trataremos com muito respeito, buscando novos caminhos e orientações.

O fado identifica-se principalmente pela saudade: a nostalgia daqueles que ficaram em Portugal com a recordação daqueles que atravessaram os mares para não voltar e dos que partiram com a recordação da terra onde nasceram. Daí o cruzamento de ritmos e músicas entre a Europa, América e África numa incessante viagem de ida e volta. Hoje encontramos essa saudade tão portuguesa: tristeza, melancolia e lamento nas letras e na forma de cantar os Fados. São, na minha opinião, os Fados mais bonitos e existem centenas de exemplos maravilhosos. Por outro lado, não descuramos canções e bailes festivos (alguns já esquecidos no Portugal actual) e que quisemos recuperar e actualizar, pois estão relacionados com a evolução do Fado»

É costume cantar-se o Fado de olhos fechados, mas este filme de Carlos Saura merece ser visto de olhos bem abertos. Entre o genérico inicial (“Fado da Saudade“, de Carlos do Carmo) e o final (“Ó Gente da Minha Terra”, de Mariza), são 18 quadros musicais, com cenários simples mas eficazes, que cumprem a missão de ceder o foco principal à música e aos seus intérpretes. Todos eles de grande qualidade, mas é justo destacarem-se as prestações de Mariza no tema “Transparente”, impregnado de matizes moçambicanas; de Lila Downs na feliz recriação do fado de Lucília do Carmo, “Foi na Travessa da Palha”; de Caetano Veloso na pungente versão de “Estranha Forma de Vida” (uma sentida homenagem à grande Amália) e aquele magnífico quadro final, onde se recria o ambiente de uma casa de fados típica (a reter as vozes de Carminho e Ricardo Ribeiro, as novissimas vozes do Fado).

“Fados” já se encontra disponível em DVD – aconselha-se obviamente o Blu-Ray – e entre os diversos extras é de destacar uma tertúlia muito especial onde, à volta de uma mesa, alguns dos intervenientes no filme vão conversando descontraidamente com o jornalista Nuno Galopim, quer sobre o filme quer sobre outros assuntos. São cerca de 90 minutos de interessante e animada cavaqueira, no decorrer da qual ainda somos brindados com 4 temas, interpretados ao vivo por cada um dos fadistas presentes.

A banda-sonora encontra-se disponível neste blogue

sexta-feira, abril 08, 2011

CLOSING THE RING (2007)

O ELO DO AMOR
Um filme de RICHARD ATTENBOROUGH

Com Shirley MacLaine, Christopher Plummer, Neve Campbell, Pete Postlethewaite, Mischa Barton, David Alpay, etc.

EUA-GB-CANADÁ / 118 min /
COR / 16X9 (1.85:1)

Estreia no Canadá em 14/9/2007
Estreia na GB a 21/10/2007
Estreia nos EUA a 9/1/2009
Estreia em Portugal a 30/4/2009


Marie: «Everybody needs to talk»
Jack: «No, honey, everbody needs to cry. And your mother never did»

Richard Samuel Attenborough, actor, realizador, produtor e lorde inglês, nascido em Cambridge a 29 de Agosto de 1923, dirigiu este seu 12º filme depois de um interregno de 8 anos após “Grey Owl / A História de Um Guerreiro” (1999). Aos 84 anos de idade Attenborough evidenciava ainda toda uma paixão pela sua profissão ao transcrever para o écran mais uma história, desta vez baseada num argumento de Peter Woodward, inspirado em factos reais ao que parece. Tendo como pano de fundo a 2ª Guerra Mundial, “Closing the Ring” é um drama romântico, recheado de emoções, que envolve diferentes gerações e que se divide por dois locais separados no espaço e no tempo: North Carolina, nos EUA e Belfast, na Irlanda do Norte.


Quatro anos antes de eclodir o conflito, Ethel Ann (Mischa Barton), uma bela rapariga de Branagan, Michigan, é o centro das atenções por parte de três amigos, Teddy (Stephen Arnell), Jack (Gregory Smith) e Chuck (David Alpay), todos eles enamorados dos seus encantos. Teddy, que vem a ser o feliz eleito, inicia a construção de uma casa, e desposa Ethel Ann em segredo antes da partida de todos os três para a Irlanda, como aviadores. Temendo o pior, Teddy obriga um dos amigos  (no caso, Chuck) a prometer-lhe que cuidará da esposa, caso alguma coisa lhe venha a suceder. A tragédia acaba mesmo por se consumar, quando o B-17 de Teddy se despenha na Black Mountain, junto a Belfast. Após um período de dez anos, Chuck cumpre a promessa feita ao amigo e desposa Ethel Ann.


O filme começa na actualidade (1991), em que uma Ethel Ann septuagenária (Shirley MacLaine) procede às exéquias do funeral do marido, juntamente com a filha Marie (Neve Campbell) e o amigo de sempre Jack (Christopher Plummer). A partir daqui os fantasmas do passado regressam e o filme vai revelando segredos há muito adormecidos, promessas feitas na juventude que vêm agitar a vida de todos, sobretudo de Marie, que cresceu sempre na ignorância dos factos do passado.


“Closing the Ring” podia ter sido algo magnífico a todos os níveis se não fosse a desastrada montagem. Com efeito, o recurso sistemático a flash-backs retira muito do seu impacto, importunando a concentração do espectador e chegando a ocasionar alguma confusão na primeira meia-hora, em que os personagens não se encontram ainda bem definidos no espírito do público. Os constantes avanços e recuos da história contribuem desse modo para um certo desfasamento agressivo entre o passado e o presente, que só é em parte ultrapassado pela excelência da maioria dos actores. Apesar das suas inegáveis qualidades, “Closing the Ring” ficará como exemplo daquilo que se não deve fazer numa mesa de montagem (Lesley Walker foi o técnico responsável por este ónus do filme).


O percurso de tortura psicológica que Shirley MacLaine tão brilhantemente nos apresenta na figura de uma mulher que nunca soube chorar, é uma peça fundamental para a sedução que o filme acaba por exercer no espectador. Tal como a caracterização de Christopher Plummer como alguém que sempre conseguiu ocultar os seus mais íntimos sentimentos. “Closing the Ring” é, na sua essência, um filme épico em termos emocionais, que seria certamente muito mais apreciado pelas plateias dos cinemas dos anos 50, que rejubilavam por este tipo de histórias, envolvendo promessas de amores eternos. Hoje em dia tenho as minhas dúvidas sobre a aceitação do filme por parte da grande maioria dos espectadores, sobretudo nas camadas mais jovens. A não ser em casos pontuais, onde a nostalgia do passado se sobreponha à realidade do presente. Tal como acontece comigo.


quinta-feira, março 03, 2011

À L'INTÉRIEUR (2007)

INSIDE
Um Filme de ALEXANDRE BUSTILLO e JULIEN MAURY


Com Béatrice Dalle, Alysson Paradis, Nathalie Roussel, François-Régis Marchasson, Jean-Baptiste Tabourin, Dominique Frot, etc.

FRANÇA / 83 min / COR / 
16X9 (1.85:1)

Estreia em FRANÇA a 24/5/2007
(Festival de Cannes)
Estreia nos EUA a 17/10/2007
(Screamfest Film Festival)



“A L’Intérieur” é mais uma das revelações do gore francês, género do qual se têm comentado por aqui alguns títulos. Violento e sanguinolento como os demais, tem a particularidade de se desenrolar quase inteiramente no espaço fechado de uma residência, curiosamente (ou propositadamente) com o número 666 na porta de entrada. Trata-se, uma vez mais, de uma primeira obra, mas desta vez assinada por dois directores, Julien Maury e Alexandre Bustillo (ex-jornalista da revista francesa Mad Movies) que também é responsável pelo argumento.


A história, como convém neste tipo de filmes, é extremamente simples: Sarah Scarangelo (Alysson Paradis) é uma repórter fotográfica que consegue sobreviver a um violento acidente de carro, no qual o marido perde a vida. As imagens da colisão – magníficas – constituem o prólogo do filme. Sarah encontra-se grávida e o trauma provocado pela morte do companheiro vem alterar-lhe radicalmente o modo de encarar a vida, tornando-a em pouco tempo numa pessoa taciturna e apática, características bem evidenciadas nos primeiros quinze minutos do filme, durante os quais uma tensão em crescendo nos vai anunciando a tragédia que está para vir.


Chegada a véspera de Natal, Sarah encontra-se em casa, sózinha, tendo agendado o parto para a manhã do dia seguinte, altura em que o patrão a virá buscar para dar entrada no hospital. Mas aquela noite revelar-se-á tudo menos pacífica. A campainha da porta soa e uma silhueta de mulher perfila-se junto à entrada. Desconhecida para Sarah, a estranha visita parece saber tudo a seu respeito, tentando convencê-la a deixá-la entrar. Alarmada, Sarah telefona à polícia que chega algum tempo depois para constatar a ausência de qualquer intrusa. Fica a promessa de voltarem durante a ronda seguinte e Sarah vai deitar-se. Mas a mulher volta a aparecer, conseguindo desta vez introduzir-se dentro da casa. E as suas intenções não são nada pacíficas…


Desenrolando-se numa densa atmosfera de claustrofobia, “A L’Intérieur” conjuga o gosto pelo macabro com um mórbido sentido de humor na apresentação dos episódios que vão tendo lugar. Sarah luta desesperadamente pela sobrevivência (dela e do filho que traz no ventre), chegando a ter alguma esperança à medida que outras pessoas vão chegando à casa (o patrão, a mãe, os polícias). Mas todas elas vão sendo sucessivamente eliminadas pela intrusa demoníaca, aparentemente sem qualquer razão subjacente (o motivo será no entanto revelado no surpreendente final). O título do filme, mesmo a sua tradução inglesa (“Inside”) reflecte dois interiores distintos mas que se confundem na sua extrema vulnerabilidade – o interior da casa e o interior do ventre de Sarah, sendo ambos o objectivo de violação por parte da outra mulher. Uma violação que vem a concretizar-se numa terrível apoteose final, de contornos maléficos e de visão quase insustentável, requacionando-se a teoria da essência do mal estar ligado à natureza da mulher e ao seu papel de procriação.


 Um filme hiper-brutal, por vezes horripilante, mas de que não conseguimos desviar os olhos desde que aquele magnífico genérico nos fez regressar à grande escola do horror – uma escola famosa, onde leccionaram alguns dos melhores professores do passado: Argento, Fulci, Carpenter, Romero. No campo da interpretação, o realce vai para Alysson Paradis (irmã mais nova da cantora Vanessa Paradis) que nos dá uma angustiante e vulnerável Sarah mas sobretudo para Béatrice Dalle, que compõe aqui uma das mais perturbantes personagens femininas de que tenho memória. Dada a crueza das imagens e sobretudo por causa do distúrbio psicológico do enredo, “A L’Intérieur” deverá ser prudentemente evitado por parte de mulheres que se encontrem grávidas. De resto, convidam-se todos os apreciadores do género para se deliciarem durante cerca de 80 minutos num carrocel de contínuos sobressaltos.