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terça-feira, agosto 12, 2025

LET'S MAKE LOVE (1960)

VAMO-NOS AMAR
Um filme de George Cukor



Com Marilyn Monroe, Yves Montand, Tony Randall, Frankie Vaughan, Wilfrid Hyde-White, David Burns, Michael David, Marc Lynn, Milton Berle, Bing Crosby, Gene Kelly, etc.


EUA / 118 min / COR / 
16X9 (2.35:1)


Estreia nos EUA (NY) a 12/9/1960
Estreia em PORTUGAL (Lisboa) a 12/12/1960 (cinema Tivoli)



Amanda: My name is... Lolita... and uh... 
I'm not supposed to... play... with boys!

"Let’s Make Love" é o único filme em que o sobredito “cineasta das mulheres” dirigiu a Mulher: Marilyn Monroe. Devia tê-la dirigido outra vez, dois anos depois, em "Something’s Got to Give", mas a morte de Marilyn, a 5 de Agosto de 1962, deixou a obra incompleta ao fim de três semanas de rodagem. Marilyn, primeiro. Este foi o seu penúltimo filme, aos 33 anos, “l’âge du Christ” como se costuma dizer. E não sou eu, mas é Yves Montand no filme, quem descreve (para o incrédulo Hyde-White) a sua entrada no filme «She comes down, from the dark. Absolutely unbelievable. And then she sings ‘My name is Lolita and I’m not supposed to play with boys’. Absolutely unbelievable». E é-o. Como uma vez escrevi, a alma já lhe tinha tomado conta do corpo e essa entrada deve ser a mais mítica da história do cinema, desde a de Marlene no "Anjo Azul" de Sternberg (aliás, há uma citação expressa de Marlene no fabuloso “Specialization). Também ela é feita para o amor da cabeça aos pés. Também ela tem o sexo na voz. Porque Montand não repete tudo da celebérrima canção de Cole Porter (“My Heart Belongs to Dady” que Mary Martin criou em 1938 na Broadway, no "Leave It To Me"). 

É a maneira como Marilyn separa as palavras e os versos: “I’m not supposed to” - grande pausa insinuando tudo - depois o verbo “play” - nova e enorme pausa - e a conclusão: “with boys”. Já antes, logo no início, ouvíramos essa voz sussurrar: “Let’s Make Love” e é preciso ser-se bem insensível para não sentir várias coisas. É o milagre que só ela conseguia, mesmo em frases mais banais, como naquela incrível gravação que se conservou do último aniversário de Kennedy e em que sete vezes repete (de maneira diferente e com diferentes pausas) apenas a expressão: “Happy Birthday, Mr. President”. E não me chegavam folhas se me ficasse a demorar nas outras canções, no “Specialization” ou no “Let’s Make Love”. Nem em tudo o que Marilyn põe neste filme, desde essa entrada à saída do elevador, desde o “mundo é pequeno” a propósito dos "Três Mosqueteiros" e de Alexandre Dumas, até aos “crazy eyes”; desde o “footing down town” ao “just turn me”; desde a sequência do restaurante chinês à do camarim. Esta mulher. E os versos de Ruy Belo a aplicarem-se-lhe como nunca «Tão bela que não só era assim bela / como mais que chamar-lhe Marilyn / devíamos mas era reservar apenas para ela / o seco sóbrio simples nome de mulher / em vez de Marilyn dizer mulher». E por aqui me fico, com travão às quatro rodas. 

E "Let’s Make Love" - o filme de Marilyn - é também o mais portentoso dos filmes sobre as aparências saído das mãos e do olhar de Cukor. Um espectador mais distraído pode pensar que essas aparências (tudo é, todas o são) tem como cerne o personagem de Montand, o bimilionário Jean-Marc Clément, sexto da sua dinastia, que quer à viva força que nele desapareça o que faz a sua única aparência: o tal bilião de dólares. Mas a enorme ironia do filme não se volta só contra Montand que, quando se converte em Alexandre Dumas, nem um mosqueteiro evoca, quanto mais três. Esse é o jogo aparente, como lhe explica Hyde-White, que desde o início tem a certeza que o único afrodisíaco infalível é o dos milhões. Mas, se repararem bem, e à excepção de Marilyn, todos os outros são igualmente aparências despidas da sua carga mítica (a fama, a celebridade) são tão “pobres diabos” quanto Montand o é a fingir de actor. Por isso, teve Cukor a genial ideia de chamar ao filme “três personagens reais”, três mitos, que só funcionam (como Jean-Marc Clément) pela carga mítica que a eles associamos.

O primeiro é Milton Berle. Dos três (e essa é já em si uma ideia fabulosa) era o menos mundialmente conhecido. Na América, em 1960, 40 milhões de americanos lhe chamavam realmente “tio” (“Uncle Miltie” como Montand refere) e de 48 a 56 dominou practicamente esse “medium” (“Mr. Television” foi chamado). Mas, fora da América, é preciso explicar isto. Ora bem: Milton Berle, durante toda a lição a Montand, não consegue ser melhor ou mais cómico do que o “aluno”: do “gag” dos pés, ao do rapaz à espera da rapariga ou ao “I swear I kill you”, ninguém, para quem Milton Berle não seja uma “lenda” (como para os europeus não é) perceberá porque é o homem tão genial. E por isso a réplica final de Montand (no fim da lição) tem toda a razão de ser. Onde está o “génio” de Berle, se esse génio não fosse, à partida, como o dinheiro de Montand, um dado adquirido, uma imagem fixa? Se com ele gasta Cukor muito tempo (exactamente porque das três celebridades é a única que não é mito cinéfilo) e se ele é o único que se “vende” (quando, por bom preço, finge achar graça a Montand e decide do seu contrato), Bing Crosby e Gene Kelly, mundialmente famosos, podem ser despachados rapidamente. Mas, para lá do “gag” da aparição deles, alguma atenção fará reparar que nem Crosby canta o “Incurably Romantic” melhor do que Frankie Vaughan (o infeliz e imolado Tony Danton) nem Gene Kelly dança melhor do que ele (ambos já, em decadência, e deles nos despedimos nestes “paralíticos” de mitos). 

O que eles têm e que Frankie Vaughan não tem é precisamente esse mito. Se os não conhecessemos de perto a nenhum, distingui-los-íamos? Tanto quanto o grupo de teatro distingue Yves Montand (ou Jean-Marc Clément) e as várias Callas, os vários Presley, ou os vários Van Cliburn dos míticos personagens que usaram esses nomes. Tudo é (como na capital sequência da pulseira) uma questão de convicção e uma questão de imitação. À luz artificial tudo brilha, ou seja só não passa pela cabeça de ninguém que um desempregado ofereça uma pulseira de 10.000 dólares ou um milionário uma de 5. Nada depende da apresentação, tudo depende da representação. Não são as aparências que iludem, é só a ilusão o que aparece. "Let’s Make Love" é construído sobre essa ilusão e essa representação. A pulseira acaba por ser oferecida a Alex para que este se cale, ou seja para que este represente; Hyde-White aprende a mudar do décor do Clément V para o do Clément IV; se Milton Berle diz que Alexandre Dumas é cómico, Alexandre Dumas passa a ser cómico. 






E Marilyn? É muito possível sustentar que foi muito antes do fim que ela percebeu a comédia. Desconcertada pelas aparências (a reacção de Berle, o seu “Let’s Make Love”) talvez seja no restaurante chinês, e não no gabinete de Clément, que ela percebe (e daí a sua saída) que Yves Montand lhe está a dizer a verdade. Mas, aceitá-la logo, era perder o jogo, ou seja tornar visível o que o milionário queria que fosse invisível. De qualquer maneira, a sequência do camarim é paralela à do “Let’s Make Love”, ou seja é representada (para Montand) da mesma forma que o fora para Vaughan. E a história de Lincoln é bastante esclarecedora. Faltava o tiro e o tiro é o final: “No, sir, I don’t”. “Now tell me: who are you?” perguntou Marilyn no camarim. E a resposta de Clément já não é resposta, porque ele já é tanto Clément como a imitação de Clément. Já não há ninguém. Há apenas representações de outros que com essas representações se identificam e só nessas representações existem. Por isso, "Let’s Make Love" é, talvez, o mais “decupado” dos filmes de Cukor e aquele em que os pontos de vista mais variam. Falando de Marilyn, disse o realizador: «Marilyn Monroe was a miraculous phenomenon of the screen. Her performance was done in very minute bits and yet, when you put them all together, they fitted together, perfectly smooth ...». Estas palavras podem aplicar-se a todos, “fenómenos” que só existem “in very minute bits”. Talvez o cinema seja isso. Ou, talvez, como Montand não aprende, ninguém possa existir por si próprio, mas tão só pela sua imagem. E só as imagens “make love”. (João Bénard da Costa)

CURIOSIDADES:

- Marilyn Monroe fez uma doação anónima de 1.000 dollars para um membro da equipa no set que precisava do dinheiro para cobrir as despesas do funeral da esposa.

- Yves Montand descreveu a experiência neste filme como aterrorizante, pois não sabia inglês e teve que soletrar os seus diálogos foneticamente, auxiliado pela sua esposa, Simone Signoret.

- Marilyn não gostou do argumento do filme; só assinou para cumprir o seu contrato com a 20th Century Fox.

Quando Frankie Vaughan voou da Grã-Bretanha para começar a rodar o filme, o New Musical Express publicou a manchete "Frankie Goes To Hollywood". Essa foi a inspiração para mais tarde um grupo rock ter escolhido o nome de Frankie Goes to Hollywood.

O carro de Clément é um Rolls Royce Silver Wraith 1957.

- Durante a rodagem do filme Montand e Marilyn viveram uma tórrida relação de amor, apesar da presença de Simone Signoret. No entanto, a mulher de Montand aceitou muito bem a relação, tendo inclusivé ficado muito amiga de Marilyn. Será oportuno dizer que "contra factos não há argumentos"...



IT'S A MAD, MAD, MAD, MAD WORLD (1963)

O MUNDO MALUCO
Um filme de STANLEY KRAMER


Com Spencer Tracy, Milton Berle, Sid Caesar, Buddy Hackett, Ethel Merman, Mickey Rooney, Dick Shawn, Phil Silvers, Terry-Thomas, Jonathan Winters, Edie Adams, Dorothy Provine, Jimmy Durante, Jim Backus, etc.


EUA / 154 min (192) / COR / 16X9 (2.76:1)

Estreia nos EUA a 18/11/1963
Estreia em PORTUGAL (Lisboa) a 10/5/1965 (cinema Monumental)



J. Algernon Hawthorne: «As far as I can see, American men have been totally emasculated- they're like slaves! They die like flies from coronary thrombosis while their women sit under hairdryers eating chocolates & arranging for every 2nd Tuesday to be some sort of Mother's Day! And this positively infantile preoccupation with bosoms. In all time in this wretched Godforsaken country, the one thing that has appalled me most of all this this prepostrous preoccupation with bosoms. Don't you realize they have become the dominant theme in American culture: in literature, advertising and all fields of entertainment and everything. I'll wager you anything you like that if American women stopped wearing brassieres, your whole national economy would collapse overnight»

“It’s a Mad, Mad, Mad, Mad World” é não apenas uma comédia típica dos anos 60, mas também uma fábula amarga sobre a cupidez e a corrupção, que desenvolve nas dimensões do Ultra-Panavision 70 (sistema de projecção que evoluiu a partir do Cinerama, em que o triplo écran foi reformulado para apenas um, mas de dimensões idênticas) o burlesco da escola de Mark Sennett, Harold Lloyd ou Buster Keaton. E por causa da sua longa duração e do nº de cómicos que nela participa (cerca de 40, a grande maioria dos que se encontravam no activo à data da sua produção), pode-se ainda considerá-la como uma verdadeira comédia épica (Stanley Kramer chegou a afirmar que era seu desejo fazer «uma comédia para acabar com todas as comédias»). Surpreendente catálogo das misérias e baixezas humanas, o filme constitui um sinal das matizes cada vez mais sombrias que a comédia vinha a atingir nos princípios da década de 60.


Depois de uns créditos iniciais bem divertidos e prometedores, o filme arranca com uma viatura em alta velocidade pela estrada do actual deserto Palm da Califórnia do Sul. Depois de ultrapassar quatro outros veículos, não consegue fazer uma curva mais apertada e despenha-se por uma ravina abaixo. O aparato do acidente leva a que os cinco homens ocupantes das quatro viaturas corram em auxílio da vítima, de cuja identidade seremos posteriormente informados: trata-se de ‘Smiler’ Grogan (Jimmy Durante), suspeito de um roubo, que andava há 15 anos fugido da polícia. Os cinco socorristas são Dingy Bell (Mickey Rooney) e Benjy Benjamin (Buddy Hackett), dois amigos que viajam no mesmo carro; Melville Crump (Sid Caesar) um dentista que viaja com a mulher, Monica (Edie Adams); Lennie Pike (Jonathan Winters), um camionista que transporta mobílias; e Russell Finch (Milton Berle), marido de Ermeline (Dorothy Provine) e que viaja em companhia da sogra, Mrs. Marcus (Ethel Merman).

Antes de se finar, o moribundo consegue ainda alertar os cinco homens para a existência do roubo, no valor de 350 mil dólares, que se encontra enterrado debaixo de um grande “W” num parque de Santa Rosita, junto à fronteira com o México e a cerca de 200 milhas para sul. Desconfiados numa fase inicial, os cinco homens mais as três mulheres que os acompanham, começam a pensar que um homem à beira da morte não seria capaz de mentir - o dinheiro era mesmo capaz de existir e poderia ser dividido por todos. Começam a arquitectar as divisões mais estapafúrdias (contabilizando pessoas, carros, ocupantes e descidas à ravina), mas depressa chegam à conclusão de que não se conseguem entender. A partir dali é cada um por si, numa louca corrida ao dinheiro, onde as regras são mandadas às urtigas, interessando apenas o objectivo comum do saque. Entretanto, um chefe de polícia, o capitão Culpepper (Spencer Tracy), que há 15 anos perseguia o ladrão agora morto e que está farto de esperar por uma reforma condigna, vê ali uma oportunidade de se apoderar tranquilamente do dinheiro roubado, para depois atravessar a fronteira para o México. Mas as coisas não são assim tão fáceis e as complicações começam a aparecer…

Durante os 154 minutos que o filme dura em DVD (na versão original a duração era de 192 minutos), vamos testemunhando as mais loucas e diversas peripécias. Novas personagens vão engrossando o núcleo inicial – Sylvester (Dick Shawn), filho de Mrs. Marcus, que vê interrompida uma sessão terapêutica de beat music (uma das sequências mais hilariantes de todo o filme), Phil Silvers (Otto Meyer), um caixeiro-viajante sem escrúpulos, ou J. Algernon Hawthorne, um típico englishman, brilhantemente interpretado por Terry-Thomas. Mas os nomes de cómicos conhecidos não acabam por aqui. Temos ainda direito a pequenos cameos de gente como Peter Falk (um dos motoristas de táxi), Jerry Lewis (um gag delicioso, aquele do chapéu), Norman Fell, Jack Benny, Buster Keaton, entre muitos outros.

No final deste extravagante monumento ao cinema cómico temos direito a uma das mais célebres sequências do género – aquela em que todos os protagonistas se vêem à mercê de uma escada de bombeiros enlouquecida que os vai lançando pelos ares numa enorme praça apinhada de curiosos. Logo depois, e antes do filme acabar, o gag final da banana com todos eles engessados numa enfermaria de hospital. "It's A Mad, Mad, Mad, Mad World" é hoje um clássico incontornável da comédia e traz com ele uma certa nostalgia de um tempo que não volta mais. De lastimar apenas que até à presente data não tenha sido editada uma versão com toda a metragem original do filme.

CURIOSIDADES:

- Na filmagem da sequência da entrada do carro no rio, o  actor Phil Silvers ia-se afogando por não saber nadar.

- O Santa Rosita State Park não existe na realidade. Toda a acção decorre no Portuguese Bend em Rancho Palos Verdes.

- O cómico Stan Laurel não aceitou aparecer no filme devido à morte de Oliver Hardy, em 1957. Quando a dupla (“Bucha e Estica”) se desfez, Stan jurou nunca mais participar no cinema. Promessa que cumpriu até ao dia da sua morte, a 23 de Fevereiro de 1965.

- Só muito relutantemente é que Edie Adams aceitou desempenhar o papel de Monica Crump, devido ao seu marido, o actor-realizador Ernie Kovacs, ter falecido num desastre automóvel pouco tempo antes do filme começar a ser rodado.

- Na ante-estreia do filme no teatro Cinerama, a 17 de Novembro de 1963, esteve presente a maioria da família do Presidente John Kennedy, atendendo a que a sessão se destinava a angariar fundos para o Kennedy Child Study Center em Nova Iorque e para o Joseph P. Kennedy Jr. Institute em Washington. Cinco dias depois o Presidente era assassinado em Dallas.


- Foi filmada uma sequência musical com o grupo as Shirelles, que não chegou a ser incluída no filme. O tema – “31 Flavours” – pode ser ouvido na banda-sonora.

- Bob Hope, Jackie Mason, George Burns, Red Skelton e Judy Holliday foram alguns dos actores ligados à comédia que não aceitaram entrar no filme.

- Devido a questões de saúde, Spencer Tracy só trabalhou nove dias na rodagem do filme, nunca ultrapassando as 4 horas diárias. As cenas mais arriscadas, incluindo a subida do edifício na sequência final, foram todas desempenhadas por um duplo.

- Do elenco principal todos os actores já faleceram.

- “It’s a Mad, Mad, Mad, Mad World” conseguiu duas nomeaçãoes para os Globos de Ouro (Filme Musical ou Comédia e Actor de Musical ou Comédia, Jonathan Winters) e também 6 nomeações para os Óscars nas categorias de Cinematografia, Montagem, Canção Original, Som, Música e Efeitos Sonoros, tendo ganho apenas nesta última categoria.