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domingo, agosto 31, 2025

DIAL M FOR MURDER (1954)

CHAMADA PARA A MORTE
Um filme de ALFRED HITCHCOCK



Com Ray Milland, Grace Kelly, Robert Cummings, John Williams, Anthony Dawson, etc.


EUA / 88 min / COR / 4X3 (1.66:1)


Estreia nos EUA a 18/5/1954
Estreia em PORTUGAL a 17/5/1955






“Dial M For Murder” estreou-se em 1954, dois anos depois de “I Confess”. 1953 foi o primeiro ano da carreira de Hitchcock (iniciada em 1922) em que o realizador não apresentou um filme. A sua primeira pausa. Em compensação, estrearam-se em 1954 duas obras fundamentais: a que agora me ocupa e “Rear Window”. Ambas tendo como protagonista feminino Grace Kelly que iria fazer com ele três filmes sucessivos (caso único) que constituem o ponto mais alto da carreira da futura princesa do Mónaco. A versão original de “Dial M For Murder” era em Três Dimensões (3D) e em NaturalVision, aproveitando as grandes novidades técnicas desses inícios dos anos 50. Quando o filme se estreou, contudo, as três dimensões estavam a revelar-se pouco convidativas para o público e, por esse motivo, o filme foi distribuído, em quase todo o mundo, “normalmente”. Hitchcock não deplorou muito esse facto. A Truffaut disse que «a impressão de relevo era sobretudo dada nas tomadas de vista em contra-plongé. Preparei um fosso para colocar a câmara ao nível do chão. Tirando isso, havia poucos efeitos directamente baseados no relevo». À época da entrevista, quase ninguém (nem Truffaut) conhecia a versão em 3D. Só nos anos 80, ela voltou a circular e veio a Portugal, pela primeira vez, numa memorável sessão na Cinemateca Portuguesa, a 20 de Março de 1982, para regressar depois algumas vezes e sempre a esta sala.



“Dial M For Murder” baseia-se numa peça de teatro que o filme segue fielmente. A grande aposta formal de Hitchcock foi não sair quase nunca do décor, filmando quase tudo no apartamento dos Wendice e sem que o espectador sinta qualquer saturação por esse facto ou, sequer, se aperceba muito dessa omnipresença dum único espaço. A Truffaut explicou a sua teoria sobre filmes baseados em peças: «Muitos cineastas pegam numa peça de teatro e dizem: ‘Vou fazer disto um filme’, ou seja começam a ‘desenvolver’ a peça destruindo a unidade do lugar e saindo do décor (...) Por exemplo, na peça um personagem vem da rua e diz ter vindo de táxi. No filme, esses cineastas mostram a chegada do táxi, as pessoas que saem do táxi, que pagam ao chauffeur, que sobem a escada, batem à porta e entram na sala. Intercalam, depois, uma longa cena que já existe na peça. Mas se um personagem conta uma viagem, aproveitam para no-la mostrar em flash-back. Esquecem-se que a qualidade fundamental da peça reside na concentração (...) Em “Dial M For Murder” só saí do décor duas ou três vezes, por exemplo quando o inspector quer verificar qualquer coisa. Pedi mesmo um chão autêntico, para que se pudesse ouvir o barulho dos passos, ou seja sublinhei o lado teatral».



Essa extrema concentração, sentida ao longo de todo o filme, não vem apenas do sublinhado do lado teatral, mas do uso de assombrosas elipses que em dois ou três planos permitem avançar consideravelmente a narrativa. Dois exemplos fundamentais. O primeiro é o início da obra. Depois de vermos o plano do telefone (o “dial M”), temos três breves sequências mudas: a primeira mostra-nos Grace Kelly ao colo de Ray Milland, beijando-se como bons marido e mulher, a segunda mostra-nos Grace Kelly a ler no jornal (que lemos com ela) a notícia da chegada de Robert Cummings. Olha furtivamente para o marido, como quem tem medo de ser surpreendida. Encadeado rápido e terceira sequência com Grace Kelly ao colo de Robert Cummings (amante dela), beijando-se também, em total simetria com o plano do casal. Em menos tempo do que leva a contar e sem palavras, o espectador está informado da relação triangular e do adultério. Fica a saber também que Grace Kelly julga que o marido não sabe, o que depois é desenvolvido na conversa entre ela e Cummings.



O segundo exemplo é a sequência do tribunal. Quando as suspeitas se começam a acumular sobre a protagonista e logo após a saída de casa para a esquadra, afim de prestar declarações, intervém essa brevíssima sequência fortemente onírica (cores intensíssimas e totalmente irrealistas dos planos de Grace e do juíz) em que sabemos da condenação à morte. Mas o processo é tão inusitado e a sequência tão irreal que o espectador é levado a pensar num pesadelo de Grace até voltar ao apartamento (sequência entre Milland e Cummings) e ser informado que tudo aquilo já de facto aconteceu. É uma genial passagem do segundo ao terceiro acto da peça, que preserva, como Hitchcock disse, a unidade da emoção («Se tivesse mostrado a sala do tribunal e o processo, o público pensaria que um segundo filme estava a começar»).




Fundamentalmente, “Dial M For Murder” é, uma vez mais, uma história de transfert de culpabilidade. Grace Kelly sente-se culpada (da sua relação com Cummings) desde o início e isso lhe permite assumir o crime que involuntariamente cometeu, ajudando o plano de Ray Milland. Mais uma vez os beneficiários do crime são os “inocentes” Cummings e Kelly (que podem finalmente casar e ter muitos meninos) e o culpado (Milland) nada lucra. E saltará à vista do espectador a semelhança do pacto Milland-Dawson com o pacto Walker-Granger de "Strangers On a Train" (Ray Milland como Farley Granger é um jogador de ténis). Uma vez mais também o espectador é levado a identificar-se com o criminoso. Na famosa sequência do telefonema e da morte falhada de Kelly (vítima transformada em assassina) sofremos com o fatídico atraso de Milland (o relógio parado) e desejamos, tão intensamente como ele, que o plano não falhe. A nossa expectativa é ver o crime e só não nos sentimos inteiramente defraudados porque de facto o vemos, só que assistindo à morte de Dawson em vez da de Kelly.



Mas Hitchcock brinca muito mais com o espectador. A suprema astúcia é a armadilha final estendida a Milland, com o “filme mudo” (comentado pelo inspector) em que seguimos da janela do apartamento o raciocínio de Milland a propósito da chave. Como o inspector receamos que Milland não perceba o acontecido, como o inspector exultamos quando ele bate na testa e volta atrás. Colocados no “ponto de vista de Deus” somos os justiceiros, saboreando essa inultrapassável partida do destino. E quem estiver atento reparará em mais um requinte: tanto Milland como o inspector se enganam àcerca do momento em que a chave foi posta debaixo do tapete (julgam que Dawson a deixou lá antes de entrar na casa, ao contrário do que estava combinado). Só nós, espectadores, os únicos que vimos, sabemos que não foi assim e que Dawson pôs lá a chave, quando, por causa do atraso do telefonema, ia a sair do apartamento. Dawson não errou. Toda a culpa veio do relógio parado, momento fatal que desarticulou o plano. Dele todos foram joguetes, como nós também, sempre suspensos da inconcebível maestria deste filme e do inexcedível rigor da sua mise-en-scène. (João Bénard da Costa)



CURIOSIDADES:

- Adaptado de uma peça da Broadway que estreou no Teatro Plymouth, em Nova York, na quarta-feira, 29 de outubro de 1952, e teve 552 apresentações. Na produção original, Maurice Evans interpretou Tony Wendice. Neste filme, John Williams e Anthony Dawson recriaram seus papéis teatrais do Inspetor-Chefe Hubbard e do Capitão Lesgate.

- Alfred Hitchcock havia escolhido um robe caríssimo para Grace Kelly usar ao atender o telefone. Kelly se opôs e disse que nenhuma mulher vestiria um robe daqueles só para atender o telefone enquanto dormia sózinha; ela atenderia de camisa de dormir. Hitchcock concordou e gostou do resultado das filmagens, permitindo que Kelly tomasse todas as decisões de figurino para os filmes subsequentes.

- Filmado em 3D, o que explica a prevalência de tomadas em ângulos baixos com lâmpadas e outros objetos entre o público e o elenco. Houve apenas um breve lançamento original em 3D, seguido por um lançamento convencional "plano". A crítica do New York Times mencionou que o filme estreou com o lançamento "plano" no Paramount Theater, em Nova York. A versão em 3D foi relançada em 1980.



sexta-feira, dezembro 31, 2010

LOVE STORY (1970)

UMA HISTÓRIA DE AMOR
Um filme de ARTHUR HILLER


Com Ali MacGraw, Ryan O'Neal, John Marley, Ray Milland, Russell Nype, Katherine Balfour, Tommy Lee Jones

EUA / 99 min / COR / 16X9 (1.85:1)

Estreia nos EUA a 16/12/1970
Estreia em MOÇAMBIQUE a 23/4/1971
(LM, teatro Manuel Rodrigues)
Estreia em PORTUGAL a 16/9/1971
(Lisboa, cinema Vox)

“Love means never having to say you're sorry”

«What can you say about a twenty-five-year-old girl who died? That she was beautiful and brilliant? That she loved Mozart and Bach? The Beatles? And me?» Assim começa “Love Story”, um dos melodramas mais célebres da história do cinema. Mais célebre e quase por certo o mais popular de todos. Passado já mais de meio século desde a sua estreia, ainda custa a acreditar como é que um filme tão simples e linear atravessa décadas atrás de décadas, conseguindo sempre emocionar-nos de todas as vezes a que a ele assistimos. Talvez que seja de facto essa desarmante simplicidade o grande segredo do seu sucesso. Hoje, a tantos anos de distância, e apesar do filme ter tido para mim um significado muito pessoal naquele início dos anos 70, não consigo encontrar qualquer outra explicação para a sua longevidade e para a aquisição do estatuto de clássico do género que hoje disfruta.

Quando “Love Story” se estreou nos EUA, em Dezembro de 1970, o livro de Erich Segal já era um grande êxito de vendas. Numa época consagrada ao hedonismo, à provocação e aos panfletos contestatários, às drogas e ao sexo desenfreado, afinal parece que ainda havia espaço para um pouco de romantismo, para se contar uma história de amor, pura e simples – algo que constituíu uma autêntica lufada de ar fresco, apanhando quase toda a gente de surpresa. Um argumento sem grandes pretensões ou floreados (escrito, curiosamente, antes do próprio livro), mas com personagens identificativos aos padrões da época (para quem não viveu aqueles anos convém referir que a grande maioria da juventude não embarcava de ânimo leve nos movimentos hippies ou contestários, apesar de neles irem colher muita inspiração) foi sem dúvida o ponto de partida para que o filme de Arthur Hiller atingisse o seu objectivo com uma facilidade desconcertante.

Adicione-se a pungente banda sonora (uma das mais melancólicas partituras que Francis Lai escreveu para o cinema e que viria muito merecidamente a arrebatar os respectivos Oscar e Globo de Ouro) e uma eficaz direcção de belos actores (belos em ambos os sentidos, físico e representativo) e talvez as peças já sejam suficientes para que o puzzle do inesperado fenómeno que foi o sucesso do filme fique completo. Recorde-se o baixo orçamento de cerca de 2,2 milhões de dólares, quantia que foi logo reposta nos primeiros três dias de exibição. Doze semanas mais tarde “Love Story” já tinha sido visto por 17 milhões de americanos. Foi, a larga distância, o grande êxito do ano de 1971, apesar da grande maioria dos críticos de serviço ter pretendido imolar o filme logo à nascença, adjectivando-o de charopada e outros mimos que tais.

O enredo do filme é de facto simples e banal mas, visto hoje, à distância, consegue ser bem representativo do tipo de conflitos geracionais que na altura estavam em voga, e que levavam a esmagadora maioria da juventude de então a libertar-se bem cedo da tutela familiar e a iniciar uma vida própria e independente que quase sempre passava por experiências de vidas comunitárias, em lares ou nas chamadas “repúblicas”, antecâmeras quase obrigatórias de uma vivência a dois. Essa vivência tinha sempre a sua componente romântica (e qual a história de amor que não a tem?) mas “Love Story” afasta-se um pouco desse caminho, optando antes por uma relação franca e aberta, onde chega a haver lugar para um certo sarcasmo, o que faz de Jenny e Oliver o prototipo quase perfeito do casal adolescente da classe média-alta daquela época.

Ali MacGraw e Ryan O’Neal eram na altura dois actores practicamente desconhecidos que viram as respectivas carreiras descolarem com o enorme sucesso do filme. MacGraw tinha já 31 anos e só o facto de ser casada com Robert Evans, o chefe de produção da Paramount, a possibilitou desempenhar o papel de Jenny Cavalleri. Ryan O’Neal, três anos mais novo, não foi uma primeira escolha, longe disso. Actores mais consagrados, como Beau Bridges, Peter Fonda ou Michael York (entre muitos outros) recusaram entrar no filme. Mas a verdade é que a química entre Ryan e Ali funcionou às mil maravilhas, tendo ajudado, e muito, à mitificação do filme.

Para além de ter ganho o Oscar para a melhor banda-sonora, o filme foi ainda nomeado em mais 6 categorias: Filme, Argumento-Adaptado, Realizador, Actor e Actriz Principais e ainda Actor Secundário (John Marley). Teve igual número de nomeações para os Globos de Ouro, tendo no entanto ganho 5 destes prémios: Filme dramático, Argumento, Realização, Actriz Principal e a Banda-Sonora original. Em 1978 seria feita uma sequela, “Oliver’s Story”, também com Ryan O’Neal (que contracenava com a actriz Candice Bergen) e Ray Milland, mas como tantas outras insistências de Hollywood o filme passou practicamente despercebido, não deixando qualquer traço para a posteridade.




Disponibiliza-se aqui a banda-sonora original, da autoria de Francis Lai, à qual foram acrescentadas 4 faixas bónus com interpretações vocais do tema principal - "Where Do I Begin" - a cargo de Andy Williams, Shirley Bassey, Perry Como e Patricia Kaas.


A letra da versão vocal foi composta por Carl Sigman:

Where do I begin?
To tell the story of how great a love can be
The sweet love story that is older than the sea
The simple truth about the love she (he) brings to me
Where do I start?

Like a summer rain 
That cools the pavement with a patent leather shine 
She (he) came into my life and made the living fine 
And gave a meaning to this empty world of mine 
She (he) fills my heart

She (he) fills my heart with very special things 
With angels' songs, with wild imaginings 
She (he) fills my soul with so much love 
That anywhere I go, I'm never lonely 
With him along, who could be lonely 
I reach for her (his) hand, it's always there

How long does it last? 
Can love be measured by the hours in a day? 
I have no answers now, but this much I can say 
I'm going to need her (him) till the stars all burn away 
And she (he) 'll be there