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quinta-feira, 8 de março de 2012

Mulheres que não desistem de amar


As últimas flores do verão
recolhem as pétalas frágeis
num regaço de terra macia,
dobram o tronco exausto
pela carícia de uma luz ardente
e se preparam, em silêncio,
para a melancolia do outono;
a longa carruagem do frio
a atravessar a sombra dos dias.

Não choram nem lamentam,
o pólen desvanecido
e o estio que se enreda no corpo;
não reclamam o vigor despido
pelas unhas agrestes do tempo,
nem murcham
com o sopro bafiento do inverno.

Descalças desenham no chão
o perfume de um horizonte futuro
e nos braços do vento flutuam
sem nunca desistir de sonhar,
sabendo que sempre existe
um oculto caminho de regresso
à primavera e aos braços do amor.


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sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Secreta respiração dos amantes


Entre os véus de fumo aveludado
que tecem o cristal dos aromas noturnos
mãos enlaçadas num suor de luzes escondidas
procuram a sedução proibida dos corpos
nas camas de cascalho e plumas
onde a explosão de lava dormente
cresce nos lábios derretidos do vulcão.

Nos tetos suspensos do luar
um roçar de asas estendidas
acende um fogo de leques transparentes
a queimar o incenso de línguas rasgadas
num ritual de secretos desejos
por detrás das portas onde pulsa
o clamor febril das fogueiras.

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sábado, 1 de outubro de 2011

Dança do fogo


Ergo o cálice de sol e bebo a luz que transborda do peito
derretendo a ilha de gelo que o frio teceu nos teus lábios.
Pedra a pedra desvendo a trilha oculta nos teus ombros
cumprindo o ritual de sangue que teus deuses reclamam.
Desço a escadaria que me leva aos teus seios macios
onde a persistência do vento ergueu imponentes dunas
deixando em cada degrau o eco de mil gemidos.
Dou as mãos à fúria dos presságios que te sacodem
com as unhas feridas de acariciar falsas rosas
tateando com o frémito ofegante dos meus dedos
os caminhos proibidos que me levam ao templo escondido.
Mordo-te o ventre incendiado com dentes que roubei a um cego
cavando minha perdição no abismo que te cerca as entranhas.

É hoje que me deixo imolar nas labaredas do teu abraço
para amanhã renascer com asas de homem novo.


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sábado, 4 de junho de 2011

Sabores fortes


O amor pode ser comparado
a uma chávena de café,
fumegante e aromática.
Sento-me à mesa do desejo
e deixo-me levar pelos sabores fortes
que a minha imaginação tece
enquanto espero o café que pedi.


Se o levar aos lábios, no entanto,
sem lhe juntar um pouco de açúcar,
será um gosto amargo e intragável
aquilo que ele me irá devolver,
e nunca serei capaz de esvaziar a chávena
e apreciar toda a extensão do seu sabor,

assim como, sem o mel do teu corpo,
nunca saberei a que sabe o amor.

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sábado, 5 de fevereiro de 2011

Respira ainda dentro de mim


Respira ainda dentro de mim
uma réstia arrefecida de ti,
estranho epitáfio de folhas mortas
entre poeiras e cinza calcinada

Respira ainda dentro de mim
o clamor surdo do teu rosto,
sombras e defuntos fiapos
de um sonho que o vento cristalizou

Os ossos descarnados da quimera
arrefeceram, num charco de lamentos
e no prolongado gelo da tua ausência,
mas, na peneira triste da memória,
uma réstia sufocante de ti
respira ainda dentro de mim


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quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Era para ser um poema romântico




O sopro frio da tua ausência
entrou pela janela mal fechada
do primeiro verso,
rastejou
por entre as sílabas
da caligrafia hesitante,
devorando
toda a métrica febril
das palavras dispersas
entre as margens do papel.

Contaminada pelo hálito
desse sopro doente,
a inspiração perdeu-se
num bater de portas
nos confins da estrofe,
empurrando-me
para o canto da folha,
onde rabisco, em desespero,
o final deste poema
que era para ser romântico.

domingo, 26 de setembro de 2010

Tela mística

Poema inspirado na tela, acima, da artista plástica
Florbella (Reinadi Samapio), pintada apenas com
o dedo indicador, em óleo sobre tela.


Queria pintar uma tela onde te louvar
Sem pincéis, tinta, ou outro material
Só com a luz serena do teu olhar
A colorir uma paisagem intemporal

Queria acender um sol perfumado
Que reflectisse teu sorriso radiante
E projectá-lo num céu exaltado
A iluminar meu horizonte distante

Queria desenhar o mar profundo
À sombra dos teus braços abertos
E o amor que derramas no mundo
Num cenário de anjos despertos

E como a gaivota liberta de medos
Em que na tela me irei transformar
Voar sobre o cume dos rochedos
E no coração da tua luz mergulhar






poema escrito em 2010-09-26

sábado, 25 de setembro de 2010

No gelo da vidraça



Algemada aos caixilhos da janela cerrada,
Estendes o azul crucificado do teu olhar
Na direcção da chuva que cai estrangulada,
Afogando a luz lamacenta de um sórdido luar.

Como um barco ancorado num cais sombrio,
Vês a vida esvoaçar nos varais da maré, lá fora;
Miragem que naufraga nas águas de um vazio
E no errante exílio desse sonho que demora.

Um triste abismo cerca as falésias desse miradouro
Onde invocas a dor de uma ausência que te cega
E, o alento, em apagadas cinzas se desagrega.

Derramando o dolente veludo do teu choro,
Embalas o grito da saudade que te abraça,
Desenhando corações partidos no gelo da vidraça.



poema escrito em 2010-05-04

Um lugar para enterrar o coração


Quando duas pessoas se amam,
quase sempre uma delas está enganada!

Que pensará a outra do amor,
quando esta descobrir o erro
e lhe cravar as garras no peito?

Continuará a crer no amor
ou, profundamente ferida,
buscará na solidão
um lugar para enterrar o coração?



poema escrito em 1992-01-19

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Movimento migratório


Dizer outra vez que te quero,
talvez solucionasse o problema,
mas retenho ainda o receio
que o eco repetido da tua resposta
me persiga dentro da noite,
com um chicote de catafonias
a castigar os flancos desta ilusão.

E nada digo.


Desenho um coração esbatido,
com o silêncio dormente dos meus lábios,
à espera que abras as janelas
e respires o pólen destes versos,
antes que o vento se revolte
e te martele furiosamente no peito
o desejo atroz de abrir asas
e voar, de novo, para além do sonho.



poema escrito em 2010-08-24

terça-feira, 21 de setembro de 2010

O regresso do amor



O amor não morreu!
Moribundo e frio,
arrasta-se na penumbra,
com o corpo em chagas
e a alma a sangrar.

Resistiu à tormenta
e à ira sinistra das vagas,
boiando nas águas gélidas,
como um naufrago solitário,
ao sabor de ventos e marés.

Agora, que o sol se levanta,
rompendo os ferrolhos da escuridão
e os exércitos do vento
libertam os corações cativos,
é tempo dele regressar,
porque se esconde dentro de nós
e não morreu ainda,
porque vem do eterno
e eterno é,
e será...


poema escrito em 1999-04-25
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