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sábado, 1 de outubro de 2011

Dança do fogo


Ergo o cálice de sol e bebo a luz que transborda do peito
derretendo a ilha de gelo que o frio teceu nos teus lábios.
Pedra a pedra desvendo a trilha oculta nos teus ombros
cumprindo o ritual de sangue que teus deuses reclamam.
Desço a escadaria que me leva aos teus seios macios
onde a persistência do vento ergueu imponentes dunas
deixando em cada degrau o eco de mil gemidos.
Dou as mãos à fúria dos presságios que te sacodem
com as unhas feridas de acariciar falsas rosas
tateando com o frémito ofegante dos meus dedos
os caminhos proibidos que me levam ao templo escondido.
Mordo-te o ventre incendiado com dentes que roubei a um cego
cavando minha perdição no abismo que te cerca as entranhas.

É hoje que me deixo imolar nas labaredas do teu abraço
para amanhã renascer com asas de homem novo.


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sábado, 2 de julho de 2011

Imolámos um deus


Aquele que era esperado já chegou.
A estrela da manhã sopra a boa nova
nas asas radiantes do vento.
Concretizou-se o sonho de remotas gerações,
a promessa antiga dos profetas,
a derradeira esperança de sedentos e famintos.
Envolta na brancura do linho
chegou a luz que atravessou os desertos
para vir iluminar a escuridão;
aquele vem acender o fogo esquecido
e rasgar as mortalhas do frio,
com o sopro da verdade
e o calor que irradia.
Já chegou o pastor dos rebanhos tresmalhados,
a redenção das tribos dispersas,
abrindo novos caminhos no horizonte.

Rejubilam os céus num clamor infinito
que sacode a fragilidade pestilenta dos tronos.
De todo o lado se erguem multidões.
Dos desertos e das montanhas distantes
onde ecoou o rumor da sua chegada
um coro de oprimidos se agita,
uma nuvem de gentes ofegante
que galga as margens do rio,
num turbilhão de almas doentes
buscando curas e milagres.
Todos o querem ver.
Cegos, coxos e dementes,
leprosos e paralíticos,
toda a escumalha andrajosa e renegada
se dobra à sua passagem
abrindo os braços para o receber.
E a todos ele sacia,
distribuindo bênçãos e conforto,
repartindo o pão, o vinho
e a luz serena da sua glória.
Unge pecadores e réprobos,
devolve a visão aos cegos
e o andar aos paralíticos e entrevados,
resgata a vida aos que definham
nos braços de terra da morte,
apelando a uma força interior
que os homens ainda desconhecem.

Já chegou o enviado das alturas,
o Deus vivo da redenção,
o poema que lápis algum escreveu.
E nós, incapazes de conjugar o verbo amar,
enfeitiçados pelo mármore dos falsos deuses,
fariseus da ignorância e do egoísmo,
tudo aquilo que temos para o coroar
é o fel amargo e denso do nosso desdém,
o escárnio profano de um chicote de trevas
e a imolação num patíbulo sangrento.


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terça-feira, 14 de junho de 2011

Nas teias da luz *


Com um beijo selas-me a boca
e me impedes de respirar.
Nada faço para me libertar desse feitiço
e, de bruços, deixo-me afogar
na ondulação morna dos teus lábios.

Com um sorriso perfuras-me o olhar
e me impedes de contemplar as estrelas.
Aceito essa cegueira súbita
mesmo sabendo que jamais voltarei a ver.

Com um suspiro rasgas-me o peito
e devassas todo o meu interior,
mas já nada importa, agora
que o leque aberto do teu corpo
me promete a libertação de todos os medos
e uma nova lâmpada se acende
na bruma desfeita dos meus sonhos solitários.



* Dedicado à amiga Célia do blog http://passosdailha.blogspot.com/
   por reclamar mais luz nos meus versos. 
   Não sei se cheguei lá, mas, pelo menos, acendi uma lâmpada...

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quarta-feira, 25 de maio de 2011

Até que a luz nos resgate


Vivemos dentro de um pesadelo antigo
sonhado por mentes perversas.
Uma teia disforme e negra
tecida com fios de sangue e escuridão.
Vivemos no ventre tumular de uma mentira
que nos suga a alma mirrada
e nos arrasta, em hipnótico transe,
até ao centro profano do labirinto.

Cativos do pecado e da iludida glória
de estranhos deuses de aluguer,
batemos os trilhos enferrujados da sombra
onde toda a esperança se afunda
num disforme gemido de poeira e ruínas.
Tudo aquilo que aprendemos,
e que nunca trouxe consolo nem alivio,
afoga-se agora no coração estagnado da lama
e nas pontes que desabam na boca do abismo.

De olhos cerrados, dormimos este sono falso,
sonhamos a angústia deste exílio decadente,
numa cega peregrinação pelo colapso da fé,
até à chama extinta da encruzilhada,
onde, em resignado silêncio, uma voz esquecida
entoa a melodia aprisionada das manhãs;
farol de esperança que nos há-de guiar
para fora desta tumba sombria,
quando a noite se devorar a si própria,
num agonizante estertor de espanto,
e, rasgando a mortalha de trevas,
a luz do novo dia nos vier resgatar.

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quinta-feira, 19 de maio de 2011

Luz derradeira


Tenho ainda guardado
num recanto invicto do peito
cinco minutos de uma luz branca
que nunca usei,
como um fogo de último recurso,
que irei acender
quando a névoa me cercar
com as unhas gretadas da cegueira
e por detrás da porta
os dias mirrarem
na treva inerte
do fim dos caminhos.

Não quero partir
sem ver para onde me levam.

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sábado, 12 de março de 2011

Espelhos


É inútil tentar corromper os espelhos
ou pedir-lhes que adulterem a realidade.

Eles nunca serão capazes de mentir.

Apenas devolvem o que não lhes pertence:
as emoções que o tempo cristalizou,
a luz ancorada nas rugas do sonho,
e a cegueira embaciada do presente.

Nada recordam do passado.

Nada sabem de futuro algum.


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sábado, 8 de janeiro de 2011

Escuridão




Olhos sem luz
empurram a sombra
para dentro do dia

Numa maldição de treva
demónios do crepúsculo
cerram fileiras
e continuam a empurrar a sombra
que alastra
nos corredores asfixiados da manhã

Até que só a noite reste
neste labirinto de portas fechadas

_

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

À espera de uma outra luz



Do alto sem mácula da folha
tombou uma luz suave
sobre o mar liso do papel
onde navego pela manhã

Seus pequenos raios brilham
sobre a ondulação suave do poema
e, por breves momentos,
desviam-me do objectivo traçado

Mas eras tu,
quem eu queria captar
na viagem sem rumo
da minha inspiração matinal

E esta luz não és tu

É apenas uma luz branca
que se move entre duas margens
como uma ponte que as liga
e me convida a uma constante travessia

E eu fico indeciso,
sem saber em que margem me sentar,
à espera que tu chegues,
na luz que tarda
de uma outra inspiração


--

domingo, 12 de dezembro de 2010

Ubiquidade



Podias ter vindo hoje,
como quem chega de longe,
rompendo o silêncio da manhã
num voo de velas desfraldadas
ou num canto súbito de rouxinol
anunciando a primavera.

Podias não ter vindo hoje,
perdida numa maré de nevoeiro,
sem encontrar o caminho,
deixando-me preso à margem deserta
de um rio de águas estagnadas
como um barco sem rumo.

Podias ou não ter vindo hoje,
encher meu dia de luz ou sombra,
que não impedirias a noite de cair
nem o vento de bater nas janelas
ou que os cães latissem à lua
incapazes de compreender o futuro.

O que te queria mesmo dizer,
tivesses ou não ter vindo hoje,
é que sempre estarás dentro de mim,
mesmo nos dias em que nunca vens.


poema escrito em 2010-12-11

domingo, 26 de setembro de 2010

Tela mística

Poema inspirado na tela, acima, da artista plástica
Florbella (Reinadi Samapio), pintada apenas com
o dedo indicador, em óleo sobre tela.


Queria pintar uma tela onde te louvar
Sem pincéis, tinta, ou outro material
Só com a luz serena do teu olhar
A colorir uma paisagem intemporal

Queria acender um sol perfumado
Que reflectisse teu sorriso radiante
E projectá-lo num céu exaltado
A iluminar meu horizonte distante

Queria desenhar o mar profundo
À sombra dos teus braços abertos
E o amor que derramas no mundo
Num cenário de anjos despertos

E como a gaivota liberta de medos
Em que na tela me irei transformar
Voar sobre o cume dos rochedos
E no coração da tua luz mergulhar






poema escrito em 2010-09-26

domingo, 12 de setembro de 2010

Entre a sombra e a luz



Entre a sombra e a luz te moves,
como o vento nas árvores,
chegando e partindo.
Entre a sombra e a luz,
entrando e saindo,
flutuando deslizas,
entre os meus braços e o vazio...
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