Antes que o dia abra as portas
para que as pessoas possam nele entrar,
muito é o trabalho feito a encoberto da noite
no silêncio difuso da madrugada.
Funcionários anónimos e mal remunerados
varrem átrios e corredores
expurgando-os dos despojos do dia anterior,
lavam vidros de montras e janelas
por onde a claridade há de passar,
descarregam das camionetas alugadas
a luz do sol que vem em paletes
e que é preciso montar ainda.
Enceram soalhos e estendem passadeiras
por onde a manhã desfilará,
substituem os sacos nos caixotes
onde iremos deitar o lixo das horas acumuladas
que de nada nos servem;
num tinir frenético de vassouras, rodos e esfregonas
a raspar, polir e esfregar,
numa azáfama que passa despercebida
a quem se levanta e depara com o dia já aberto.
Todo um trabalho de cosmética tem de ser feito
a tempo e horas
com uma precisão de ponteiros
para que o dia possa chegar sem atrasos
à hora a que tem de chegar.
___________________________________________________________