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terça-feira, julho 08, 2025

Tarefas

     Não poder falar verdade é uma tortura para o espírito. Tentar encontrar formas sinuosas de afirmar coisas simples é trabalho que dispenso, obrigadinho. Se a tarefa não for exclusivamente imaginativa então que seja o mais objectiva possível.

    Assistir ao último suspiro de uma pessoa não é tarefa fácil. É como se um pedaço de nós fosse também embora. E depois há o odor, o estranho odor que a morte desprende ao passar (quanto tempo ficará ela ali, junto ao cadáver?). A flacidez dos tecidos cutâneos aliada ao frio que sentimos nas mãos enquanto tentamos reanimar o corpo ali estendido.

    Agora não tenho vontade de fazer nada. 

sábado, julho 05, 2025

Morremo-nos

     Eu sei que não vou ser capaz de escrever um post todos os dias deste mês mas, não sei se reparaste, estou a tentar. Porquê? Por nada, lembrei-me agora dessa possibilidade. Ter assunto não é complicado uma vez que sou muito bem capaz de escrever umas linhas valentes sem dizer absolutamente nada. Pelo menos, sem dizer alguma coisa que tenha algum interesse.

    Hoje soube da morte de mais um homem que foi um grande amigo meu. Nos últimos anos tinha-me cruzado com ele apenas um par de vezes. Abraços, festinhas e, até, troca de beijos. Amigo é amigo, mesmo que não saibamos nada dele, mesmo que estejamos anos sem nos vermos. Ser amigo de alguém é um bocado como ser um cão. 

    Morreu mais esse amigo e eu percebi que "vamos morrendo". Eu ainda estou vivo, muitos de "nós" ainda vivem, mas o número dos que já morreram não pára de aumentar (coisa mais óbvia...) fazendo com que a "nossa" presença neste mundo vá perdendo nitidez de contorno, se desvaneça.

    Sinto uma súbita vontade de sublinhar a minha existência. Mas, isso faz falta a alguém, a minha existência marcada a traço grosso nas paredes deste mundo? Parece-me ser apenas um reflexo da angústia que me provoca a percepção de que o tempo que me resta é muito menos do que o tempo que já vivi.

    Será isto, a percepção da caducidade, o que faz com que os ditadores fiquem bandidos cada vez mais ásperos à medida que envelhecem e percebem que a Eternidade ainda não será por eles alcançada? Será esta necessidade ditada por uma certa inveja em relação às vidas mais jovens? Fico inquieto. Tinha-me por melhor pessoa.

terça-feira, maio 28, 2024

Menos morte

     À medida que o tempo passa os amigos vão morrendo. O mundo virtual encarrega-se de deixar vestígios dos que falecem. Recebemos notificações dos seus aniversários, de vez em quando encontramos um comentário na página do Facebook ou num post antigo do blogue. Revemos uma filmagenzita, a saudade aperta-nos o coração. 

    Talvez o mundo virtual retarde um nadinha o desaparecimento completo dos que já lá vão. Não nos liberta da lei da morte mas arranja maneira de a contrariar um bocadinho. É pouco, eu sei, mas é qualquer coisa.

quarta-feira, março 13, 2024

Silencioso

     Faz hoje exactamente um ano. Caronte vinha já deslizando, silencioso como ele só. Terá por mim passado no caminho, não me apercebi, não o vi, não o senti. Faz hoje exactamente um ano que chegou Caronte.

    Chegou cedo, encontrou-o a dormir. Não sei se falaram, se olharam nos olhos um do outro. Caronte levou-mo. Não mais voltei a ver o meu pai. Fica a saudade, enquanto Caronte não voltar, dessa vez para me levar.

sábado, janeiro 06, 2024

Saudade

     Também te acontece, sentir uma tristeza tal que as lágrimas te aquecem um pouquinho os globos oculares? Quando recordas um familiar, um amigo, alguém que te falece, essa tristeza, também a sentes? 

      Fico a reflectir se o pesar que sinto é por eles se por mim. E não consigo separar-nos: eu deles, eles de mim, como se a tristeza nos contornasse num abraço de piton mas apertasse só um bocadinho. Como se apertasse apenas o suficiente para que nos seja impossível separar aquilo que somos daquilo que já fomos. 

      E é isso que é triste. Irmos assistindo à transformação da vida em morte.

quarta-feira, julho 12, 2023

A beleza da morte

     Hoje faleceu Milan Kundera.

    Impressiona-me a rapidez com que os meios de comunicação fazem o elogio fúnebre dos defuntos célebres. Ainda a alma não disparou em direcção ao céu e já os ecos da morte se misturam nos da vida, foram recolhidos testemunhos dos que privaram com o cadáver quando tinha dentro o sopro da vida, encontraram-se familiares que choram, amigos que suspiram, é espectacular! Tem de haver ali segredo.

    Pensando bem, nos tempos que correm, tempos de chatgpt, a coisa fica ainda mais aerodinâmica. Temos a possibilidade de pedir a uma máquina que nos recorde o valor e a grandeza da vida de pessoas especiais. E a máquina não se acanha. No seu estilo limpo (o correspondente escrito a uma voz de atendedor automático) a máquina explica-nos com rigor e transparência o que é ser-se humano e ter valor.

    Em tempo record.


domingo, janeiro 15, 2023

Da melancolia

     Assistir à desistência da vida é uma coisa muito triste. Perceber o esvaziamento, a energia vital a diluir-se no sopro frágil da respiração, cada movimento do peito mais próximo de ser o último que haverá de ser feito. É assim com todos nós, cada momento mais longe do início, mais próximo do fim. Mas não costumamos pensar nisso, não costumamos assistir a isso. Vê-lo é ver o lamento da existência, ver a vida a enrodilhar-se na morte. Não é belo, não é feio, apenas profundamente melancólico.

segunda-feira, janeiro 02, 2023

Morbidez evitável

     Podes viver sem pensar na morte? Claro que sim! Seria impossível caminhar, rir, saltar ao eixo, conduzir o automóvel, impossível passeares o cão (apanhar-lhe a merda) ou imaginar alimentar o periquito. Se pensasses na morte terias uma vida menos preenchida por possibilidades de alegria genuína? Pensas na morte? Eu tenho pensado.

    Tenho pensado na morte e não adianta nada. Para mim não adianta nada. Pensar na morte faz-me compreender que é muito mais nítido viver cada dia e celebrar a vida. Quando a morte chegar logo se vê.

terça-feira, dezembro 28, 2021

Dúvida

     Um gajo tenta ignorar a morte, fazer de contas que ela não existe, mas o fracasso é total. Quando a morte chega faz os seus estragos e volta e desaparecer, como se não fosse nada com ela. Ficamos tristes, limpamos os despojos, reorganizamos a vida e, com a proverbial ajuda do tempo, regressamos à linha narrativa da nossa existência enquanto aguardamos a nossa vez.

    Sei que escrevi algures, aí para trás, num ou dois ou mais posts, que viver é entreter a morte. Tenho uma forte percepção de que isto faz sentido. E morrer!? O que será morrer? Temos uma visão parcial da coisa, observamo-la deste lado, do lado da vida, como poderemos sequer imaginar o que se passa quando exalamos o último suspiro?

    Poupo-te à descrição das várias possibilidades que me ocorrem. Imaginar o que acontece depois da morte é um pouco mais complicado do que tentar perceber por que razão os nossos antepassados pintavam paredes de cavernas (outra tarefa à beira do absolutamente impossível). No entanto, a imaginação permite-nos lançar hipóteses, podemos até adivinhar! Nunca o saberemos.

sexta-feira, maio 22, 2020

Lição leonina

E é assim. Anuncia-se uma nova normalidade para os tempos futuros. Que faremos desta (futura) velha anormalidade? Iremos nós apagar o isolamento voluntário, transformá-lo em isolamento forçado ou iremos simplesmente aguardar que tudo se dissolva nas voltas do tempo? O tempo tem peso? O tempo ocupa espaço?

Já se nota o desafogo. As pessoas andam com fome de rua, estão capazes de comer pedras da calçada. Já começamos a cagar para o confinamento, o confinamento que se foda! Ansiosos por fazer do presente um qualquer passado longínquo fingimos nunca termos acreditado na nossa própria morte às mãos do novo coronavírus (até porque mãos são coisa que ele não tem).

E é assim, começamos a sentir aquela coragem que nos nasce no peito quando o medo passa e ganhamos uma certa sobranceria, quando o perigo passou somos todos uns valentes. Torço o nariz a tudo isto. Sinto-me como os porquinhos da história quando o lobo aparece vindo do nada depois de termos imaginado que regressara em definitivo à profundeza perdida da floresta (estou a inventar à pressão a história dos 3 porquinhos).

Bem vistas as coisas havemos todos de esticar o pernil, a nossa civilização baterá a bota, tal como outras bateram a sandália ou lá o que calçavam os que as ergueram das cinzas da civilização anterior. É o ciclo da vida. Aprende-se no Rei Leão.

sexta-feira, março 06, 2020

Ressurreição

Uma dúvida me assalta vinda sabe Deus de onde: quando ressuscitarmos que corpos vamos utilizar no nosso regresso a este mundo? Dadas as primeiras imagens que se me formam no espírito depreendo que esta dúvida que me assalta é formada e influenciada por um misto de série de TV e educação católica demasiado esquecida.

O paraíso terreal habitado por uma multidão de zombies tipo Walking Dead, 10ª temporada, quando os corpos meio destruídos da zombieria já trazem ramos agarrados e restos dos corpos devorados pelo caminho? Não posso dizer que seja uma imagem bonita de reter mas poderei afirmar que é apropriada.

Ou bem que Deus se esmera e faz o maior de todos os milagres, restituindo um corpo limpinho aos ressuscitados ou vai haver reclamações em barda.

Mas, por falar em corpos limpinhos e partindo do princípio que os vamos ter, ressuscitaremos com que idade? Com a idade da hora da nossa morte? Regressaremos todos em corpos jovens e vigorosos? Convenhamos que são dúvidas perfeitamente plausíveis, capazes de influenciar a minha mente na hora de bater a caçoleta. Convinha estar informado.

segunda-feira, junho 04, 2018

Morreu a senhora do 1.º esquerdo

Depois do Inverno da vida... puf, lá vamos. Com as pessoas não há cá a regeneração primaveril nem regressam os calores do estio. Temos direito a provar uma coisinha de cada vez e chega. Nada da alambazanços que a vida é como cozinha gourmet, criação de chef.

Ainda assim, é com a nossa assinatura individual que leva. Afinal de contas somos nós quem a vive, não é o vizinho do lado, que esse tem os seus próprios problemas; sonhos, pesadelos e pequenos-almoços.

A conversa vai meio parva. Não tenho coragem de cortar a direito para aquilo que estou a pensar. Custa-me dizê-lo, seja oralmente, seja por escrito. É a constatação de um certo óbvio horrendo que não valerá muito a pena estar a sublinhar com tinta fluorescente e a atirar para a frente dos teus olhos, camarada leitor.

Na verdade todas estas linhas são absolutamente inúteis... como tantas outras coisas.


terça-feira, janeiro 02, 2018

Uma dúvida existencial



Estive a rever os meus desenhos de 2017. Foi um ano de grande produção, desenhei como raras vezes me lembro de o ter feito. Provavelmente foi o ano da minha vida de maior produção artística,criei dezenas de peças, ultrapassei, seguramente, a centena. Porquê?

Sim, por que razão se passou isto em 2017? Não é um número redondo, fiz 54 anos, não tive nenhuma exposição especial... o que me levou a desenhar tanto e de forma tão continuada?

De há uns anos para cá que, quando penso no tempo que já vivi, constato uma coisa óbvia: já lá vai muito mais de metade do tempo que tenho guardado na caixinha do meu destino. Já lá vão dois terços ou mais, como saber o tempo que me resta?

É essa dúvida que começa a mexer com os motores da minha existência quotidiana e me torna um pouco ansioso, quase muito, no que diz respeito à produção artística que imaginei ser capaz de conceber e transformar em objectos palpáveis? Será por isso que 2017 foi um ano tão produtivo?

Mal posso esperar por 2018.

quarta-feira, novembro 01, 2017

Afectos

Muito se tem por aí falado de afectos nos últimos tempos. A questão da forma como os políticos reagiram à tragédia contínua dos incêndios e das mortes por eles provocadas é uma questão muito pantanosa.

Costa não mostrou consternação adequada, já Marcelo foi autêntica Madalena  e muito comoveu o nosso povo. Encontrou-se ali uma nesga de oportunidade para desenvolver duvidosa narrativa com os afectos como pano de fundo.

Nunca gostei de velórios nem de funerais. Talvez porque não tenho a certeza de como é suposto comportar-me nesses momentos de dor. Tenho lágrima fácil e comovo-me com facilidade perante a dor alheia mas não sei medir se é muita dor ou se é poucochinha.

Quer-me parecer que esta história é coisa que mete muita lágrima de crocodilo. Não confio em pessoas que choram com excelência e no momento exacto. Os crocodilos usam gravata preta.

terça-feira, maio 31, 2016

Nojo

Já nem se nota. Morreram mais umas mãos cheias de pessoas afogadas no Mar Mediterrâneo mas os jornais já quase não ligam. As pessoas já quase não ligam. É uma fatalidade, uma nova lei da natureza. Que se há-de fazer?

A comunidade ocidental já se fartou de chorar por estes mortos. A comunidade europeia já mostrou que não está disposta a recebê-los vivos. Até é preferível que morram no caminho. Assim poupam-se à desilusão dos campos de refugiados improvisados, aos insultos xenófobos, à angústia de estarem tão perto do sonho e perceberem que, afinal, é apenas um outro pesadelo... enfim, resta-lhes a consolação de morrerem esperançados num futuro melhor.

Isto mete nojo.

terça-feira, dezembro 29, 2015

Fim de ano

2015 vai dando os últimos suspiros. Estes dias finais são estranhos. É como se  o calendário tivesse poderes mágicos, como se os dias obedecessem a números alinhados num papelito. Nada mais errado. São dias como os outros.

Morreram-me dois amigos nestes dias. Inesperadamente, foram-se como o vento. Desapareceram. 2015 acaba negro e frio. Para o António e para o Marcelino foi o fim da vida. O ano acaba negro e frio.

sábado, agosto 15, 2015

Genuinidade democrática


Qualquer cidadão de qualquer nacionalidade é elegível para obter o “golden visa”, basta-lhe ter dinheiro suficiente para pôr a salivar certos agentes económicos e as portas da Europa ser-lhe-ão abertas de par em par. Entretanto, no Mar Mediterrâneo, continuam a naufragar outros aspirantes a habitar este espaço genuinamente democrático que é a comunidade europeia. É tudo uma questão de capacidade de investimento. 

Os que morrem no Nosso Mar investiram tudo o que tinham para comprar o seu lugar miserável num bote mortífero, às mãos de traficantes sem escrúpulos. Os que compram moradias de luxo negoceiam com outro género de traficantes, nem por isso mais escrupulosos do que os outros mas os riscos que correm são praticamente nulos. 

É tudo uma questão de quantidade. Se forem podres de ricos, os aspirantes a um lugar deste lado do mar não encontram obstáculos. Se forem pobres têm assegurada uma aventura inesquecível: ondas, enjoo, muros, arames farpados, centros de detenção, anilhas e pulseiras, fome medo e, caso sobrevivam, talvez consigam um buraquito qualquer onde aconchegar o que restar das suas pessoas e dos seus entes queridos.

Esta diferença na atribuição de autorizações para habitar o espaço europeu é o retrato perfeito daquilo que somos, enquanto projecto social e político comum. O dinheiro impera, o dinheiro é deus, o dinheiro justifica tudo, limpa tudo, limpa-se a si próprio e limpa os crimes cometidos por aqueles que o acumulam. 

Nem quero pensar que algum do capital aplicado a comprar casas de luxo em Portugal seja proveniente do tráfico de emigrantes no Mediterrâneo ou do comércio de armamento nas guerras que os obrigam a navegar para a morte.

Se é isto que temos para oferecer aos países não democráticos ou a democracias pouco genuínas, não admira que nos odeiem e nos combatam com quanta força têm.


sábado, dezembro 15, 2012

Massacres

Os massacres de inocentes sucedem-se a um ritmo estranho nos EUA (ver aqui lista). Os assassinos, nitidamente loucos varridos, dedicam a sua fúria desconcertante para os mais variados grupos.

Em Agosto um gajo abateu seis cidadãos e feriu outros três, cuja particularidade, inquietante para a sua mente perturbada, era o uso de turbante sikh. Pouco tempo antes, em Julho, um outro maluco assassinara a tiro de metralhadora 12 espectadores de um cinema no Colorado (e feriu mais 59) que se preparavam para assistir à estreia do mais recente filme do Batman.

Os assassinos suicidam-se, são abatidos ou apanhados e condenados, isso não interessa muito para o caso. A questão é: porque acontece isto tão regularmente em território norte americano?  A resposta parece ser óbvia: porque um gajo pode ir, por exemplo, ao barbeiro e, entre um corte de cabelo e uma manicure, comprar uma arma automática com munições sem ter que explicar a ninguém o desejo de possuir tão macabro brinquedo.

É conhecido o poder dos fabricantes de armas nos EUA (se fosse só nos EUA...) e a sua inacreditável capacidade para perpetuar a venda livre de pistolas, metralhadoras e bazucas lá na terra deles. O argumento económico pesa, e de que maneira, para manter esta situação selvagem.

Tudo isto configura uma metáfora poderosa do estado civilizacional a que chegámos. A morte é fácil mas o dinheiro flui... já a vida parece demasiado cara para ser preservada. A morte é, de longe, mais barata e lucrativa do que a vida.

quarta-feira, dezembro 21, 2011

Kim III

Eu sei que não sei grande coisa sobre o que se passa na Coreia do Norte. Eu sei que, para um gajo que vive neste lado do planeta, é complicado compreender o que vai nas cabeças dos norte-coreanos quando choram assim, como madalenas arrependidas, baba e ranho, perante as imagens dos seus queridos líderes feitos múmias ou, mais simplesmente, transformados em memórias. Eu sei.

Além do que acima fica escrito também me faz confusão que os comunistas que conheço fiquem todos eriçados quando se fala mal da Coreia do Norte. Agora que o mundo contemporâneo se torceu todo de fora para dentro e de dentro para fora, resta-lhes este cadáver político e social como âncora ideológica, o que não deixa de ser paradigmático da fome doutrinária que passam.

Como pode ser comunista um país onde o poder é hereditário, passando de pai tirano para filho? Qual  a sustentação ideológica para esta situação aberrante? Como designar o regime norte-coreano? Monarquia?

Deixem-me finalizar este post meio macaco dizendo que a morte de Kim II me tocou tanto como a do Kim que o antecedeu na cadeira de rei da Coreia do Norte. Dois gordos que governaram com pata de ferro um país de pobres escanzelados e  que agora têm em Kim III um herdeiro gordo e seboso como eles.


domingo, outubro 23, 2011

Não ver

Consegui não ver as imagens do assassinato do tirano líbio.

Kadafi apareceu algumas vezes aqui, no 100 Cabeças, principalmente na sua qualidade de amigo dos líderes mundiais. Eram fotos glamourosas que mostravam um homem bem vestido e arrogante abraçado ou apertando a mão dos poderosos das democracias ocidentais. Nalgumas atestava-lhes, até, umas beijocas!

A forma como caíu em desgraça e acabou, abatido como um rato de esgoto, mostram bem a fragilidade da condição política no mundo em que vivemos. Hoje és um gajo poderoso, amanhã és um cadáver sujo de sangue e de merda. Hoje vales tudo o que imaginas e, se calhar, até um pouco mais, amanhã não vales mesmo nada. É a vida... e a morte.

Não sei bem como aconteceu mas li algures que as imagens da morte de Kadafi eram indecorosas. Acreditei e não vi, muito menos as procurei. Não quero vê-las, não quero saber, a exibição da morte enoja-me. Enojaram-me as imagnes das execuções de Saddam Hussein e de Ceausescu, certamente iria acontecer o mesmo com Kadafi. Morreu, está morto. Espero que o enterrem.

Não deixa de ser irónico que Kadafi e Saddam tenham sido ambos apanhados enfiados em buracos, como bichos.