8. Oito. OITO. O-I-T-O.
Meses sem escrever sobre ela dão-nos o direito de destilar a baba toda de uma só vez. Isso e sermos proprietárias do blogue ;))).
Não fosse o decoro e o direito de reserva da cria e hoje só encheríamos o blogue de fotografias da morena de sorriso luminoso e pestanudo.
Nunca fomos gabarolas nas palavras ditas, nas noites dormidas, nos gatinhanços, nos dentes nascidos (esta é a minha preferida ehehe), nos passinhos caminhados. Tudo isso nos parecia tão natural. Conquistas normais com mais mês menos mês. Normalmente mais mês com ela.
Mas agora não. Tenham paciência. Ide para dentro se preferíreis. Eu agora encho o peito de orgulho e os olhos de água para falar dela. Da pessoa em que ela se está a tornar, da matéria com que se está a moldar. Porque as conquista dela agora são outras. Primeiro são só dela e graças a ela. Depois porque são até muito pouco inatas à espécie, acho.
É tão humilde e ainda assim tão segura que até faz impressão. É tão esforçada e tão trabalhadora que até cansa. É tão corajosa e destemida que até assusta. É tão sensível e perspicaz que até comove. É tão educada e tão meiga que só envaidece.
Tem 8 anos e, sinal dos tempos, 8 professores diferentes e idóneos a (a)testar permanentemente o que acabei de escrever.
E faz de mim tão, mas tão melhor mãe. Lemos diálogos, lengalengas e poesia “a meias”. Fazemos a volta à aldeia em bicicleta. Trocamos bilhetinhos. Suspiramos com as birras da mais nova e com os atrasos do progenitor. Caminhamos pelos pomares com a cadela. Nadamos piscinas. Patinamos de mão dada sendo que ela é que me equilibra a mim. Literalmente e não só. Vemos filmes à lareira enroladas em mantas e na gata. Sonhamos com uma viagem a Londres sozinhas.
É a maternidade na sua verdadeira cumplicidade. Até ver. Aproveitamos até ao tutano.
No outro dia, ao fim de uma dúzia de aulas, (e comunicamos que trocamos definitivamente os sapatos de ballet pelas botas de equitação – escolha dela, ok?) o cavalo dela agitou-se e durante os segundos que ela saltou o chão fugiu-me dos pés. Ela segurou o cavalo, eu abri os olhos e tentei voltar a respirar, a aula continuou normalmente. Eu apanhei o susto da minha vida, mesmo, ela ganhou a recompensa porque suspirava: no final da aula o professor mandou-a passear sozinha fora do picadeiro. Tinha-o merecido. Eu arregalei os olhos, ela olhou para mim tão feliz e tão cheiinha de medo, mas sobretudo tão feliz que nem consegui protestar. Ela seguiu em frente sem pestanejar, eu fiquei colada ao chão até ela voltar. E percebi ali que a nossa vida ia ser feita muito disto mesmo: ela a arriscar e a seguir em frente, eu a sofrer sem poder fazer nada. As duas a vibrar de orgulho ou a lamber feridas consoante o caso.
Com ela já no chão e os corações acelerados encostadinhos disse-me ao ouvido: - tive tanto medo mãe! E depois pensei no que tu me dizes sempre. Para nunca desistir, que eu sou capaz, que eu consigo tudo. E fui.
Mai’ nada.
Não há muito mais que eu lhe possa ensinar de verdadeiramente importante.
Aos 8 anos não quis escolher uma prenda e perguntou só se a íamos surpreender como fizemos ao pai. Gosta de festas, de celebrações e de surpresas.
Eu, confesso, passei-me um bocadinho e tive um gozo do caraças a escolher um cabaz inteirinho: a caixa completa de maquilhagem para a irmã lhe dar (é a cobaia logo precisa de bons produtos), a enciclopédia e mais um kit de lápis de cor para o pai oferecer (a escola é a paixão dela, quem diria há 365 dias atrás? Eu, não!), euzinha uns sapatos hiper femininos que ela andava a namorar (para a compensar que da ultima vez comprou ela uns Fly London nos saldos com o dinheiro que “juntou”, há lá gaja mais gaja?), um mp3 rosa-choque e para equilibrar um livro com tudo sobre cavalos que tanta feminilidade também não.
Subestimei a avó, a sogra, que nunca compra(va) prendas para ninguém, e comprei um perfume por ela. Tss. Tss. Depois de ter dado uma gata à irmã devíamos ter adivinhado que tinha alguma na manga outra vez: saem 4 minúsculos patos para
Para não variar não consegui acordar a tempo de lhe levar o pequeno-almoço à cama. Mas fiz-lhe ovos mexidos como no hotel e escolhi-lhe uma roupa gira a combinar com os sapatos novos. Agora está na escola. Feliz e radiante com o bolo que escolheu, as prendas que embrulhou, os convites que escreveu. Logo deixo jantar piza no sofá, alugo-lhes um filme e faço um balde de pipocas. No Domingo tenho a casa invadida pelas miúdas todas da sala dela (calma, respira, repete, são só sete. Fora os primos e as amigas da irmã).
É tão, mas tão fácil fazê-la feliz. E eu falho-lhe tantas vezes…
Ufa! Tantos caracteres só para dizer que é um prazer imenso ser parte da vida desta miúda.