Nas matérias anteriores informamos como, nos anos 1970/1990,
não era difícil criar vinho-moda e convencer os eno-palermas que, apesar dos preços,
muitas vezes estrelares, as garrafas valiam o que custavam.
Eno-Idiotice absoluta!
Eno-Idiotice, todavia, que transformou muitíssimos anônimos
viticultores em, quase, estelas hollywoodianas.
Em poucas décadas, alguns espertos vinhateiros, passaram de
vendedores de vinhos a granel a milionários empreendedores vinícolas.
Alguns nomes italianos?
Gaja, Conterno,
Quintarelli, Giacosa, Biondi Santi, Benanti, Roagna, Dal Forno, Della Rocchetta, Ceretto etc.
Os nomes elencados são de vinícolas milionárias, da Bota, mas
em todos os países há produtores que se especializaram em assaltar os bolsos
dos eno-palermas e até no Brasil, Maranhão do mundo vinícola, pasmem, há muitas
empresas picaretas que cobram verdadeiras fortunas por vinhos banais.
Alguns exemplos:
Miolo = “Sesmaria” de R$ 900
Lidio Carraro = “Amphorae” de R$ 730
Geisse
= “Terroir Nature” de R$ 630
Casa Valduga = “Maria Valduga” de R$ 569
Luiz Agenta = La Cave Merlot uvas desidratadas R$ 1,600 (quem
comprou concorre à “Medalha de Ouro Eno-Palerma 2025 -2026-2027-2050....)
Vinícolas brasileiras, anunciando seus quase vinhos por preços
de Grand Crus franceses, são claros exemplos
que os eno-retardados não conhecem fronteiras e, muito menos, vinho....
Sorte nossa que milhares de pequenos, médios e verdadeiros
viticultores, continuam produzindo ótimos vinhos por preços humanos.
Voltemos, agora, ao Dolcetto e sua à via crucis que o marcou
nas últimas décadas
Um dos melhores tintos do Piemonte e Ligúria, sim, leu bem... Ligúria,
pois, para quem não sabe, ou seja, 99,99% dos nossos influencers, críticos,
sommeliers youtubers etc. é bem provável, que o Dolcetto tenha migrado, das aldeias lígures, da "Valle Arroscia", onde é conhecido como “ORMEASCO”, para o vizinho Monferrato e em seguida, em todo o
território piemontês.
No Piemonte, o Dolcetto, encontrou seu melhor “habitat”,
progrediu, se transformou no segundo vinho mais popular da região e esteve sempre
presente nos bares, restaurantes e taças, de então.
Mas, “La Dolce Vita”
do Dolcetto começou a amargar quando apareceram os vinhos parkerianos.
Os viticultores não demoraram muito para perceber que o
Dolcetto era muito menos rentável do que os vinhos da nova moda e, aos poucos, foram
relegando a casta a um segundo e até terceiro plano.
Um dos problemas do “Dolcetto” está no próprio nome que sugere
um vinho doce.
Longe de ser doce, o Dolcetto é um vinho tinto, seco, de médio
corpo, que pode envelhecer moderadamente, mas exalta suas melhores qualidades
quando bebido jovem.
A uva “Dolcetto”, quando madura, é muito doce e os
piemonteses, em sua língua nativa, a conheciam como “Dosset”, (docinho, no dialeto piemontês)
Outro grande problema, do Dolcetto, tem origem no exigente
trabalho em vinha (requer mais cuidado até do que o muito mais rentável,
economicamente, Nebbiolo) e continua em sua complicada vinificação.
A forte tanicidade e a grande quantidade de grainhas, se não
bem administradas, podem “amargar’ o vinho
Como já não bastasse, o
problema com os taninos, a vinificação do Dolcetto exige muitíssimos cuidados na
gestão do processo fermentativo e constante atenção com a oxigenação para
evitar o problema da redução e maus cheiros.
É fácil perceber, então, o porquê do Dolcetto perder terreno
para os novos vinhos-moda e a razão de seu inexorável declínio.
Os produtores alarmados, com a perda de mercado, tentaram uma saída:
Parkerizar o Dolcetto!
Talvez tenha sido a mais desastrosas das decisões na história
do Dolcetto.
Dolcetto, barricado, impenetrável, muito alcoólico etc.
afugentou o que restava dos fieis consumidores.
Em 1999, a “Slow Food” promoveu mais uma edição do “Cheese” (feira para
conhecer e degustar os grandes queijos do mundo) em vários restaurantes em Alba
e arredores.
Cada restaurante deveria criar um menu especial, tendo o queijo como principal protagonista e escolher um vinho para acompanhar.
Escolhi jantar, em La
Morra, no então famoso, restaurante “Belvedere” que escolhera o Dolcetto como
vinho da ceia.
Desastre total!
Já não lembro quais os produtores, mas recordo que todos os
Dolcetto servidos eram parkerizados (nenhum abaixo de 14º e alguns declaravam,
até, 15º), difíceis de beber, impenetráveis..... deploráveis.
Resultado 1): O Dolcetto, ao tentar percorrer caminhos
“inovadores”, amargou uma enorme perda de consumo, assim, os viticultores não hesitaram
em erradicar grande parte dos vinhedos substituindo-os pelo Nebbiolo casta
muito mais comercial e rentável.
Resultado 2): Perdeu 70%
do mercado e apesar de patéticas e ridícula tentativas, não conseguiu,
encontrar um Giacomo
Bologna para elevá-lo ao Olimpo
dos vinhos e reconquistar o paraíso e os bolsos dos eno-palermas.
Resultado 3): Após anos e anos de purgatório vinícola e quase
esquecimento, finalmente, com a decadência dos vinhos parkerianos, surge uma
nova tendência, liderada pelos jovens consumidores, que exige vinhos com baixa
gradação alcoólica, mais fáceis de beber e mais acessíveis ao bolso
É a hora e a vez do
Dolcetto que ressurge, “purificado”, com seus 12º/12,5º, sua bela e brilhante
cor rubi, fresco, frutado e ......barato.
Quando passar pelo Piemonte não deixe de provar alguns ótimos Dolcetto todos abaixo de 12 Euros
Poderi Colla “Pian Balbo” - Domenico
Clerico “Visadi” – Bricco Mollea “Assanen” (do meu amigo Massimo Martinelli) – Renato Ratti
“Colombè” – Castello di Tagliolo “Dolcetto Ovada”
Há muitos outros, mas creio que a relação já convença, os
eno-palermas, que se pode beber bem sem fazer chorar o cartão de credito.
Vinhos piemonteses, baratos que recomendo, quando possível, degustar: Carema,
Grignolino, Freisa, Avanà, Fara, Lessona, Bramaterra, Gavi, Ghemme, Doux d’
Henry (cultivado em apenas 9 hectares), Verduno Pelaverga, Rossese Bianco, Timorasso,
Gamba di Pernice (Calosso DOC), Erbaluce di Caluso......
Cin Cin
Bacco