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Abstract:
No âmbito de um estudo mais amplo sobre o Kitab-i-Iqan, foi feita uma breve análise sobre o fundador do Judaismo e a forma como as Escrituras Bahá'ís abordam a Sua Vida e Ensinamentos. Este texto foi inicialmente publicado no blog Povo de Bahá.
Notes:
A brief baha'i perspective on Moses.
Crossreferences:
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Entre parêntesis rectos indica-se o nº do parágrafo citado no Kitáb-i-Íqán. Sobre a numeração dos parágrafos do Kitáb-í-Iqan, ver Notes on paragraph numbering of the Kitab-i-Iqan. ---------------------------- INTRODUÇÃO As primeiras conversões à religião bahá'í ocorreram entre muçulmanos desde 1844; na década de 1890, a Fé Bahá’í “chegou” ao Ocidente e a partir desse momento deram-se as primeiras conversões entre cristãos ocidentais(a). Não admira, pois, que nas Escrituras Bahá’is, se encontrem vários livros e epístolas reveladas como resposta a esses primeiros crentes, onde – fruto da necessidade de enquadrar as respostas em função dos valores e das convicções originais desses crentes – existem muitas referências a Cristo e a Maomé. Desta forma, compreende-se que Cristo e Maomé sejam os fundadores das Religiões Mundiais mais referidos nas Escrituras Bahá’ís. Mas sendo a divindade de Moisés prontamente reconhecida quer por Cristãos, que por Muçulmanos, é com alguma naturalidade que, nesses livros e epístolas, encontramos uma significativa quantidade de referências ao fundador do Judaísmo. Além do Kitáb-i-Íqán, onde o nome do fundador do Judaísmo é mencionado em trinta e uma ocasiões, existem ainda outros dois livros das Escrituras Bahá’ís onde o Seu nome é referido com frequência: Epístola ao Filho do Lobo (b) e Respostas a Algumas Perguntas (c). Nas Escrituras reveladas por Bahá'u'lláh as referências a anteriores Manifestantes de Deus é acompanhada por título ou designações elogiosas. Mantendo este estilo, no Kitáb-i-Íqán, Moisés é descrito como uma "Árvore Sagrada"[12], "Divina Árvore de Lótus"(d), "Guia Divino"[58], "Aquele que conversava com Deus"[68] e "filho de 'Imrán, um dos Profetas excelsos e Autor de um Livro divinamente revelado."[57] OS SIMBOLISMOS Comparativamente aos textos do Antigo Testamento, com a qual a maioria dos leitores ocidentais se encontra mais familiarizado, uma das primeiras diferenças que se nota nas palavras de Bahá'u'lláh é a ênfase no simbolismo de algumas descrições. Apesar de nunca negar a historicidade dos relatos contidos nos Textos Sagrados, o fundador da religião baha'i prefere levar o leitor perceber que a verdadeira riqueza do Texto se encontra nos múltiplos significados simbólicos ali contidos (e). A título de exemplo veja-se a seguinte referência a Moisés: "Armado com a vara do domínio celestial e adornado com a nívea mão do conhecimento divino, procedendo do Paran do amor de Deus e manejando a serpente do poder e da majestade eterna, Ele brilhou do Sinai da luz sobre o mundo.[12] Nesta frase, a vara e a serpente(f) em que este se transforma são apresentados como símbolos do poder divino de Moisés. A luz que brilhou da sarça ardente(g) e o próprio Moisés são usados para representar o conhecimento divino transmitido pela revelação de Moisés; o Faraó representa o expoente máximo da oposição à Mensagem Divina, da injustiça e da descrença". Algumas mais conhecidas do Êxodo dos Hebreus, como as pragas do Egipto ou a travessia do Mar Vermelho, encontram-se ausentes do Kitáb-i-Íqán; em contrapartida, Bahá'u'lláh enfatiza o confronto entre Moisés e o Faraó[12, 57, 92] como um choque entre os que acreditavam na mensagem Divina e os que lhe faziam oposição e a perseguiam. Mais do que um confronto entre hebreus e egípcios, Bahá'u'lláh descreve-o como um choque entre os crentes e os descrentes: "O tirano copta jamais participará do cálice tocado pelos lábios do clã da justiça, e o Faraó da descrença não poderá esperar reconhecer jamais a mão do Moisés da verdade."[16] "Rejeitando o Moisés do conhecimento e da justiça, aderiram ao Samiri (h) da ignorância."[210] A MENSAGEM DE MOISÉS Os ensinamentos de Moisés, tal como os ensinamentos de outros Manifestantes de Deus, têm por objectivo proceder ao renascimento espiritual dos povos. Ao contrário do que afirmam as tradicionais interpretações do Antigo Testamento, Bahá'u'lláh sustenta que a Mensagem de Moisés não se destinava apenas ao povo hebreu; nas palavras do fundador da religião bahá’í, Moisés "...chamou todos os povos e raças da terra para o reino da eternidade; convidou-os a participar dos frutos da árvore da fidelidade"[12]. Bahá'u'lláh reforça esta universalidade da Mensagem de Moisés, ao citar o Alcorão descrevendo o caso de um familiar do Faraó que acreditou na Mensagem de Moisés: "E disse um homem da família do Faraó, que era crente mas ocultava a sua fé – Quereis matar um homem por dizer que o meu Senhor é Deus, quando já veio com sinais do vosso Senhor? Se for um mentiroso, sobre ele cairá a sua mentira, mas se for homem da verdade, uma parte daquilo que ele ameaça haverá de cair sobre vós. Em verdade, Deus não guia quem é transgressor ou mentiroso."(40:28) [12] 'Abdu'l-Bahá, filho de Bahá'u'lláh, refere que a influência da Mensagem de Moisés perdurou vários séculos e a sua influência estendeu-se aos povos vizinhos. "Tão grande foi o desenvolvimento atingido por esse povo, que os sábios da Grécia chegaram a considerar os homens ilustres de Israel como modelos de perfeição. Sócrates, por exemplo, visitou a Síria, e recebeu dos filhos de Israel os ensinamentos relativos à unidade de Deus e à imortalidade da alma e, após seu regresso, disseminou-os por toda a Grécia."(i) OS PRIMEIROS ANOS Bahá'u'lláh refere que o advento de Moisés foi profetizado por magos egípcios e sábios hebreus. "Os adivinhos do Seu tempo advertiram o Faraó nestes termos: «Surgiu uma estrela no céu! Ei-la! Prognostica a concepção de uma Criança que segura nas mãos o vosso destino e o de vosso povo.» Assim também apareceu, na escuridão da noite, um sábio trazendo novas de júbilo ao povo de Israel, consolando-lhe a alma e tranquilizando-lhe o coração."[68] Neste episódio vemos um paralelismo com o relato do Evangelho onde se descreve o aparecimento de uma estrela no céu nos dias que antecederam o nascimento de Jesus. (j) (Mt 2:1-2) Num outro parágrafo do Kitáb-i-Íqán, é referido que Moisés "por quase trinta anos fora, aos olhos do mundo, criado na casa de Faraó e alimentado à sua mesa"[58]. Mas um episódio viria a mudar o rumo da Sua vida: "Um dia, Ele, ainda na juventude, antes de haver proclamado o Seu ministério, passava pelo mercado, quando viu dois homens lutando. Um deles pediu socorro a Moisés contra o adversário e então Moisés interveio e matou a este."[42] A condição social de Moisés era um obstáculo para que a Sua mensagem fosse aceite quer por egípcios, quer por hebreus. Aos olhos dos egípcios, Ele era um assassino; aos olhos dos hebreus, Ele era um egípcio, um filho do povo opressor. A propósito disto, Bahá'u'lláh chama mais uma vez a atenção do leitor para o facto dos desígnios de Deus serem frequentemente contrários aos desejos dos seres humanos. Esses desígnios são verdadeiras provações que o Criador coloca à humanidade: "...como são múltiplas e estranhas as provações com que Ele experimenta Seus servos. Considera tu como Ele escolheu subitamente dentre Seus servos e Lhe confiou a exaltada missão de ser um Guia divino, Àquele conhecido como homicida, que confessara, Ele mesmo, a Sua crueldade e que por quase trinta anos fora, aos olhos do mundo, criado na casa de Faraó e alimentado à sua mesa. Não poderia Deus, o Rei Omnipotente, ter impedido de cometer assassínio a mão de Moisés para que Lhe não fosse atribuído, facto este que tanta perplexidade e aversão causou entre o povo?"[58] A SARÇA ARDENTE / A REVELAÇÃO É extremamente difícil perceber o momento em que o Manifestante de Deus toma consciência da Sua missão. Esse momento de íntima ligação entre Deus e o Manifestante é frequentemente descrito com metáforas e simbolismos que nos permitem um vislumbre da intensidade espiritual desse momento. Os Livros Sagrados do passado afirmam que durante o exílio em Midian, Moisés recebeu a revelação de Deus e tomou consciência da Sua missão. Segundo Bahá'u'lláh, "Moisés entrou no vale santo, na solidão do Sinai, e aí, da «Árvore que não pertence nem ao Este nem ao Oeste», teve a visão do Rei da glória. Ai ouviu Ele a Voz comovedora do Espírito, que do Fogo ardente Lhe falava..." [42]. Noutras epístolas reveladas anos mais tarde, Bahá'u'lláh apresentou descrições das palavras que Moisés ouviu de Deus noutras ocasiões: "Recorda tu os dias em que Aquele que conversou com Deus vigiava no deserto, as ovelhas de Jetro, Seu sogro. Escutou Ele a Voz do Senhor do género humano proveniente da Sarça Ardente que fora erguida na Terra Santa - Voz essa que exclamava: «Ó Moisés! Verdadeiramente, sou Deus, teu Senhor e o Senhor de teus antepassados, Abraão, Isaac e Jacob»". (k) (cf. Ex 3:6) Na Epístola ao Filho do Lobo, Bahá'u'lláh apresenta outras descrições dos momentos em que Moisés recebeu revelações divinas: "E quando Ele subiu até o fogo, uma Voz clamou-Lhe da Sarça, à direita do Vale, no Local sagrado: 'Ó Moisés, eu, verdadeiramente, sou Deus, o Senhor dos mundos!" (l) E ainda: "E quando chegou até o fogo, Ele foi chamado: «Ó Moisés! Verdadeiramente Eu sou Teu Senhor; tira portanto, Tuas sandálias, pois está no vale sagrado de Towa(m). E Eu escolhi-Te: dá ouvidos, então ao que Te será revelado. Verdadeiramente, Eu sou Deus, não há outro Deus além de Mim, Portanto, adora-Me.»"(n) (cf. Ex 3:5) UM EPISÓDIO FINAL Um episódio ocorrido no final da vida de Moisés é mencionado por 'Abdu'l-Bahá no livro Respostas a Algumas Perguntas. Numa entrevista com uma das primeiras crentes ocidentais, o filho de Bahá'u'lláh esclarece que nos livros sagrados as repreensões dirigidas por Deus aos Seus Manifestantes são na verdade dirigidas ao povo. E entre os exemplos apresentados cita o Antigo Testamento: "... todo Profeta é a expressão do povo inteiro. Portanto, as promessas e as palavras que Deus Lhe dirige são dirigidas a todos. A linguagem da repreensão é, geralmente, muito severa para o povo, e também seria arrasadora. Assim, a Perfeita Sabedoria adopta esse modo de falar, como se encontra na Bíblia, por exemplo, quando os filhos de Israel se revoltaram e disseram a Moisés: «Nós não podemos lutar contra os amalecitas, porque eles são poderosos, fortes e corajosos.» Então, Deus repreendeu Moisés e Aarão, embora a obediência de Moisés fosse completa e Ele jamais se revoltasse. De certo que um tão grande homem – o mediador da Graça de Deus, incumbido de transmitir a Sua Lei – há necessariamente de obedecer aos mandamentos de Deus. (...)" "E mais; em Números, capítulo XX, versículo 23: "E falou o Senhor a Moisés e a Aarão no monte de Hor, na costa da terra de Edom, dizendo: Aarão juntar-se-á ao seu povo, porque não entrará na terra que doei aos filhos de Israel,pois tende-vos revoltado contra a Minha Palavra nas águas de Meriba"(o); e no versículo 13: «Estas são as águas de Meriba, porque os filhos de Israel discutiram com o Senhor, Ele santificou-Se nelas»." "Vejamos: o povo de Israel revoltou-se, mas aparentemente a repreensão foi dirigida a Moisés e Aarão. No Livro de Deuteronómio, capítulo III, versículo 26, está escrito: "Mas o Senhor indignou-se comigo por vossa causa, e não me ouviu. Em vez disso, disse-me: Baste-te, não Me fales mais nisto." "Ora, essas palavras e essas repreensões eram realmente para os filhos de Israel que, por se terem revoltado contra os mandamentos de Deus, tinham permanecido durante muito tempo, cativos no deserto árido, do outro lado Jordão, até o tempo de Josué – bendito seja! Essas repreensões, pois, destinavam-se ao povo de Israel, embora parecessem ser para Moisés e Aarão."(p) ----------------------------------------- REFERÊNCIAS (a) – Sobre as conversões de outras minorias religiosas iranianas (judeus, cristãos e zoroastrianos) à Fé Bahá'í ver The Conversion of Religious Minorities to the Bahá'í Faith in Iran de Susan Maneck. (b) – Este livro foi revelado por Bahá'u'lláh em 1891, um ano antes de falecer. Nele, o fundador da religião baha’i recorda vários episódios da Sua vida, acontecimentos relacionados com os primeiros crentes e revela novamente textos revelados anteriormente. Neste livro o nome de Moisés é mencionado vinte e uma vezes. (c) – Este livro contém o registo de várias conversas entre 'Abdu'l-Bahá e uma das primeiras crentes ocidentais (Laura Clifford Barney), durante a visita desta em 1907, a ‘Akká. Ao contrário do Kitáb-i-Íqán, onde Bahá'u'lláh aborda diversos temas islâmicos e cita frequentemente o Alcorão (não nos podemos esquecer que o destinatário deste livro era muçulmano), durante estas conversas, 'Abdu'l-Bahá abordou muitos temas cristãos e citou frequentemente a Bíblia. Neste livro, o nome de Moisés é mencionado trinta e duas vezes. (d) – Epistle to the Son of the Wolf, pag. 65. Sobre a representação dos Manifestantes de Deus como Árvores, ver o post A Árvore da Vida. (e) – No Kitáb-i-Íqán, Bahá'u'lláh apresenta um modelo de interpretação das Escrituras Sagradas que assenta na ênfase do simbolismo. Segundo este modelo, é particularmente importante procurar os significados simbólicos do Texto Sagrado sempre que o seu sentido literal possa ir contra o senso comum e a ciência. Sobre o propósito do simbolismo nas Escrituras, ver o post Para que serve o Simbolismo nas Escrituras? (f) – Exodo 4:2-3, 7:9-12 (g) – Exodo 3:2-4 (h) – Um mago contemporâneo de Moisés. (i) – Respostas a Algumas Perguntas, cap. 5 (j) – Bahá'u'lláh refere que quando os Livros Sagrados mencionam a estrela que surge no céu anunciando o aparecimento de um Manifestante esses trechos podem ter uma leitura literal ou simbólica [68-73]. No sentido literal, tratar-se-á de um fenómeno físico; no sentido simbólico refere-se a figuras proféticas que anunciam o aparecimento do novo Manifestante (semelhante a João Baptista). Na religião baha'i, essas figuras foram Sheik Ahmad e Siyyid Kazim. (k) – Epistolas de Bahá'u'lláh, diversas, pag. 292 (l) – Epistle to the Son of the Wolf, pag. 118 (m) – Alcorão 20:12. Também mencionado como o "Vale Sagrado" (n) – Epistle to the Son of the Wolf, 117 (o) – 1 Num 20:2-13 (p) – Respostas a Algumas Perguntas, cap. 44 |
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