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segunda-feira, dezembro 01, 2025

ROSA MECHIÇO, ČHIRANAN PITPREECHA, ALYSON NOEL, INDÍGENAS & DITADURA MILITAR

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som de Uma Antologia do Violão Feminino Brasileiro (Sesc Consolação, 2025), da violonista, cantora, compositora e arranjadora Helô Ferreira. Ela é bacharela e mestre em violão, produtora do Samba das Mulheres e do Festival Cancioneiras: Música Feminina em Primeira Pessoa, além de consultora do Instituto OuvirAtivo.

 

De festa em tragédia se desfaz e refaz... – Era dia de boi do barão, o mais festivo de Alagoinhanduba, eructação extravagante do bafo pros pipocos louvadores do maioral arrojado. Não só, girândolas de atrativos demorados, mais de semana no giro de roda gigante, montanha russa, tobogãs, escorregos, barcaças, tiro ao alvo, barracas de fogos e jogos, artistas variados no palanque e, embaixo, o desfile vistoso de curau do muito com domingueira nos trinques, dentes no quarador de bumba-meu-boi, mesuras adiantadas pra matuta bonita dos olhos vivos nas tranças de sonsa: Roda a saia, fulô, pro aroma do amor. De todo canto, caravanas; comitivas das lonjuras mais ignotas. Era gente como a praga! Chega dava gosto de ver, maior arrocho, entre transeuntes de fisionomia ignorada. Zeca Biu mesmo queria era se aproveitar dos muitos festejos, dava uma de vaqueiro aos traques para render o Espácio, tudo no faz de conta, peido-de-véia nos cascos do que foi Surubim, batia pé no Rabicho da Geralda, ou vaias pro Mão-de-pau, danças do Boi-Barroso que não tolerava apartação, nem vaquejada; e o mimoso Pintadinho na queda de rabo da mucica ou de vara pra virar o mocotó e o pescoço quebrado: Hê, Zebedeu, ô boi do cu cagado! Aboio do tanto pro ABC do Boi Prata, aplausos pra décima do Bico Branco, claque convocada pro romance do Boi Liso, qual boi-de-mamão, se passando por calemba, de fita ou de reis, ou vai na-vara quem não foi boi-santo, o zebu Mansinho do Padre Cícero; e praquele que morreu na boiada, mandava logo buscar outro lá no Piauí, pra festa de solfas e gestas, no meio dum feixe de capim verde, jogado num roçado qualquer pra ouvir aqueles da conversa de Rosa. Um primor de variedades. De repente, maior rebuliço! O que foi? Corre! E pé na bunda, saia na cabeça, zigue-zague, puxavanques, barruada de fuças, pernas enganchadas, a roda virou e girou os assustados, correria em todas as direções. A confusão exorbitou de quase ninguém sair do lugar, travados de pavor. O pânico formou alarido, assombrados metiam-se dentro de loca que fosse escapando do obnóxio. Esconderijos impossíveis arranjados na hora, escondidos no desembesto. Que droga é nove? Trancados e trêmulos, onde estavam apavorados, nem podiam sequer falar, nem se entendiam. Zeca Biu coração saindo pela boca, tremia mais que vara verde, os dentes chacoalhavam no queixo. Via-se gente desmaiando, morto carregando vivo, todos na carreira pra se abrigar, menino que perdeu os pais, mulher à procura do marido, quem perdeu a fé desgraçado, quem escafedeu de nunca mais voltar, quem perdeu a coragem paralisado, quem perdeu o norte e se desencontrou, quem cegou de vez, ou emudecia pra sempre, ou endoidava, como se safar daquela tragédia, um escarcéu. Oxe! O que foi? Não viu o boi brabo da venta fumaçando? Quem viu nada não. Balbuciou-se: Será a volta do feroz Jauaraicica que saiu do remoinho do Uirapiá? Danou-se! Cadê um vaqueiro bom nessa hora? Era. Tanger como? Perigava era mais penar. Parece mais o touro de Pasifae! Vixe! Isso é peta! Quem não soubera da fúria majestosa dum bicho desse pelos arredores, hem? Mesmo. E agora? O desencontro tamanho de nem darem fé de armas, espingardas, rifles, pistolas, garruchas que espoletas, pólvoras, coisas do tipo: Cadê moral pra mira? Brabo perdia a homência ofendendo a coragem com o serviço efetivo de dar cabo daquela rumorosa situação vexatória; certificava-se a frouxidão, o que de enorme se fizera. Isso não tem cabimento! O povo amuava. Alguém afirmou solene e saiu: É Ápis! Quem? Um boi endemoninhado! Como assim? Oxe, o cara foi lá no boi! Quem é esse lelé? Eis que um incipiente anônimo discípulo do doutor Zé Gulu esclareceu respostante: É Apolônio. O marido da Maria Biruteia? Não, o de Tiana. Ficou no mesmo, nunca vi mais gordo! Parece mais um metido a Jesus! Pois é, o mundo é muito grande para um único salvador... Essa é boa, conta outra! Ora, vamos tomar pé da situação, gente! E quem é esse tal de Ápis tão brabo? Um deus egípcio associado com Ptah e que personifica a Terra! Entendi nada, de novo. Como é que é? Simboliza a vida e a morte, era venerado em Mênfis! Pronto. Conversa! Pelo jeito quer matar a gente tudinho! Será? E tem muitos outros nomes! E quem és tu, cara pálida falador? George de Wells. Quem? Deixa pra lá, ouça! Num pode! Veja! E o medo virou curiosidade e, desta, expectativa: O que vai fazer aquele embirutado ali? Ouve-se um berrante, o boi se aquieta diante da presença daquele estranho: O boi sentou-se sobre o silêncio de Deus... Pronto, agora é o Touro Sentado. Chi! Silêncio. E explicou a cena: Apascentou a fera. Vixe! E era hora vagarosa, o barbatão moroso, os chifres retiniam afoiceados, o focinho estremecedor, o mugido trovejado, bulia as ventas estarrecedor, afinal refestelava com aquele que parecia domá-lo, estalando os dedos e, ambos, pareciam numa amizade antiga e tomaram apaziguada direção de sumirem por léguas. Aaaaaaahhhhhhh! Aos poucos cabeças apareciam às portas que se abriam furtivas, janelas escancaravam com esmaecidas luzes acesas, conversagens, remoques, corajosos atrasados e o converseiro tomou conta: havia quem quisesse pegar aquele que escapava de todas as emboscadas, não temia nem vaqueiro nem cavalo, mas cadê coragem? Daria um bom repasto! Heresia! Oxe! Quem não quer? Aquele porte, que lombo! Sequiosos, lambiam os beiços: o coração, fígado, os quartos, saborosos. E queriam o sebo pra temperar feijão e fazer sabão; queriam o couro vacum pra fazer surrão e carregar farinha; queriam a língua fritada pros comensais; queriam os miolos pruma panelada, os cascos pra canoa, os olhos pro botão das casacas, os chifres para colher temperar banquetes, as costelas pro cavador de cacimbas, as canelas pra mão pisar milho, a pá pra tamborete, o rabo pra bastão nas mãos das velhas, o esterco pra estrume embelezar florada, a baba pra remédio, os pelos pra amuleto, a urina pra remédios, o sangue pra cabidela, o nome pras gestas e solfas e o resto que sobrasse pras relíquias de sortilégios do beato Zé Lourenço. E depois colocar um boi Ápis de barro numa manjedoura encantada pros milagres cotidianos. Doer de bicho é graça! Desalmado, o boi também é gente, também sofre o sentimento. Os temores se dissipavam, ressabiados iam íntimos pras suas casas. Foram então surpreendidos pelos retardatários capangas do barão à caça do fabuloso boi, agora já era tarde. Zeca Biu ainda tomado pelo susto, seguia mais que impressionado, a ponto de não conseguir pregar os olhos: a imagem viva do perigo e a desgraça de quase morrer. Cochilava aos sobressaltos, com pesadelos recorrentes. Passou a noite dorminhoco, assaltado pela ameaça dum ataque, de ver o dia amanhecer e não dormir quase nada. Enfim, despertou sonolento, ainda tomado pelo susto. Abriu a porta e fez menção de ir pro quintal, cismou, bateu os pés e paralisou aterrorizado: o boi estava lá, entre os seus tantos outros bichos, maior intimidade. E agora? Até mais ver.

 

Florbela Espanca: O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais, há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesmo compreendo, pois estou longe de ser uma pessimista; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que se não sente bem onde está, que tem saudades... sei lá de quê!... Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

Willa Cather: Os tolos acreditam que ser sincero é fácil; só o artista, o grande artista, sabe o quão difícil é... Há coisas que se aprendem melhor na calmaria e outras na tempestade... Os mortos bem que poderiam tentar falar com os vivos, assim como os velhos com os jovens... Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

Camille Claudel: Caí num abismo. Vivo num mundo tão curioso, tão estranho. Do sonho que era a minha vida, isto é o meu pesadelo... Há sempre alguma coisa que falta e que me atormenta... Não quero dizer nada porque sei que não posso protegê-lo do mal que vejo... Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 

A REBELDIA DE UMA FLOR

Imagem: Acervo ArtLAM.

A mulher tem duas mãos \ Agarrar com força a essência da vida \ Os tendões retorcidos são dilacerados pelo trabalho. \ Não se enfeitando com sedas brilhantes. \ A mulher tem dois pés. \ Para alcançar seus sonhos, \ Para permanecermos unidos, firmes \ Não se alimentar do trabalho alheio. \ A mulher tem olhos \ Em busca de uma nova vida. \ Para olhar para longe, através da Terra. \ Não lançar olhares amorosos em tom de flerte. \ Mulher de coração, \ Uma chama constante \ Aumentar a força, criar uma massa, \ Porque ela, ela é uma pessoa. \ A mulher tem uma vida. \ Apagar os vestígios do mal com a razão. \ Ela tem valor como pessoa livre. \ Não como servo da luxúria. \ Uma flor tem espinhos afiados. \ Não desabrochando para um admirador \ Ela floresce para criar \ A glória da terra.

Poema da premiada poeta e feminista tailandesa Čhiranan Pitpreecha (Čhiranan Prasertkul ou Phitprīchā).

 

EM BUSCA DA ETERNIDADE – [...] Fico impressionada com o fato de que o que antes parecia uma revelação devastadora e transformadora agora é apenas mais um evento infeliz em uma longa série deles. O tempo e a clareza têm o poder de suavizar as arestas. [...] Às vezes, a explicação mais simples é aquela que está bem na sua frente. [...] O amor não te enlouquece. Não é drama, caos e insegurança. Não quando é verdadeiro. O amor é ancorador, curador, a força mais estabilizadora do mundo. [...]. Trechos extraídos da obra Chasing Eternity (Entangled Publishing, LLC, 2024), da escritora estadunidense Alyson Noel, que na sua obra Ruling Destiny (Entangled Publishing, LLC 2023), ela expressou que: […] Não importa o que nos separe — oceanos, continentes ou até mesmo o próprio tempo — sempre encontraremos o caminho de volta um para o outro. [...] Ao longo da história, são os inconformistas que realmente desbravam o mundo em seu tempo. [...] Homens fracos sempre foram aterrorizados pelo poder inato das mulheres fortes — de todas as mulheres, na verdade. E mulheres que temem seu próprio poder sempre apoiaram esses mesmos homens fracos. Um ciclo vicioso. [...]. Também noutro de seus livros, o Stealing Infinity (Entangled: Teen, 2022), ela menciona que: […] A combinação inebriante de extremo conforto e luxo, aliada à monotonia da rotina, faz com que os dias se misturem tão perfeitamente que é fácil esquecer a que mundo realmente pertenço. [...]. Ela é autora de obras como Saving Zoë (2019), Dark Flame (2010), Evermore (2009), Blue Moon (2009) e Shadowland (2009). Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

 

A BANALIZAÇÃO DA VIDA HUMANA - [...] por que será que se banaliza a vida humana? Por qual razão os homens optam pela violência para reivindicar o que quer que seja ao invés de optarem pela via do diálogo e consenso? O que move e/ou motiva um ser humano a tirar a vida de outro humano? Por que Deus, sendo um Deus Bondoso, Omnipotente, e com todos os atributos belos que tem, conforme os meus pais e os catequistas me ensinavam, permite ou deixa que tais atrocidades aconteçam? Por que será que um Deus Justo consente tanta injustiça sobre os inocentes? Por que será que ele, sendo um Deus Bom, fez homens bons e dobem e, de modo igual, em contrapartida, homens maus, adeptos do mal e, em função disso, impendiosos? O que impede que os homens vivam em paz e em harmonia uns com os outros? Qual será a raiz da maldade e da violência existente no interior do homem e, por conseguinte, no mundo? Se sou ensinada que Deus fez-nos (criou-nos) à sua imagem e semelhança será que, pelo facto de existirem homens bons e maus, ele também é, simultaneamente, bom e mau, bondoso e maldoso, justiceiro e vingativo? Afinal quem é esse Deus, ou que Deus é esse, tão poderoso, que admite e/ou autoriza os maus a tomarem conta dos bons, que permite que a maldade (o mal e o mau) prevaleça sobre a bondade (bem e bom) e não o contrário? Será por isso que, após a morte, existe o paraíso como recompensa para os bons e o inferno como castigo para os maus? Estas e outras questões, de forma recorrente, atravessavam o meu juízo, se quisermos pensamentos e, de certo modo, pelo facto de, intrinsecamente, constituírem uma preocupação, sobretudo pela incapacidade de, na altura, poder ter ou dar uma resposta cabal às mesmas, mais do que me interessavam, lamentavelmente, acabavam sufocando e perturbando o meu juízo. Talvez, no fundo, o que realmente me interessava era que nós, o povo moçambicano, vivêssemos em paz e harmonia. Era o fim da guerra. Era, mais do que a possibilidade, a necessidade premente de termos uma vida digna, uma vida isenta de todo o tipo de escassez. [...] Cada país subdesenvolvido/pobre assume uma função produtiva. Os subdesenvolvidos ficam responsáveis com a parte de produção sem muito valor agregado e os desenvolvidos/ricos ficam responsáveis pela marca, montagem e venda do produto e com o lucro final, que é a “maior parte do bolo”. Assim, seria oportuno notarem (os estudantes) que este panorama marcou o início das transnacionais, cuja sede é, por via de regra, estabelecida no país rico e as filiais, quase sempre, nos países pobres. O país rico somente tem o controle da economia e da indústria. É a hegemonia globalizada. [...] Trechos da entrevista Relatos de uma Filósofa: Entrevista com Rosa Mechiço (Abatirá - Revista de Ciências Humanas e Linguagens, 2021), concedida pela filósofa e professora moçambicana Rosa Mechiço.

 

INDÍGENAS & DITADURA MILITAR

O livro Indígenas e ditadura: crimes e corrupção no SPI e na FUNAI (Telha, 2024), do historiador e professor da Rede Estadual de Pernambuco, Rodrigo Lins Barbosa, é a continuidade dos estudos realizados para a dissertação de mestrado O Estado e a questão indígena: crimes e corrupção no SPI e na FUNAI (1964-1969) (UFPE,2016), na qual trata sobre a política indigenista no Serviço de Proteção aos Índios, o governo militar e a questão indígena, a violência contra indígenas e corrupção no SPI e na FUNAI, concluindo que: [...] os crimes contidos no extenso Relatório Figueiredo, que se situa em torno dos 20 anos finais do SPI, envolvendo a existência de casos de abandono e de violência contra indígenas em várias regiões do Brasil, principalmente, na Amazônia e no Centro-Oeste. Observamos que os indígenas, muitas vezes, resistiram na defesa de suas terras contra fazendeiros, seringueiros, grileiros, garimpeiros, madeireiros e à instalação de empresas seringalistas, mineradoras e madeireiras. Entre os casos, nos chama à atenção a existência de funcionários e diretores do SPI que se omitiram aos casos de violência e invasões em terras indígenas, sendo coniventes e até participantes das negociações e delitos. [...] Casos de violências contra índios ocorreram ao mesmo tempo do avanço das frentes de expansão nas regiões da Amazônia e do Centro-Oeste, observando várias formas de usurpação e exploração das terras indígenas. Algo que provocaria mudanças drásticas nos modos de vida e na cultura dos índios [...] as violências contra indígenas existiram e continuam existindo independente se o governo tem uma postura ditatorial ou democrática, porque os interesses econômicos sempre tem se sobressaído aos Direitos e garantias desses povos, que almejam viver em suas terras e manterem seus costumes. Os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade tiveram o papel de trazer para a visibilidade estas “violações de direitos humanos por agentes do Estado na repressão aos opositores”. Cabe ao Estado apurar as denúncias e investigar os casos de violências, em especial, às comunidades e indivíduos indígenas, mas não apenas a esses, bem como às pessoas mortas porque recusavam os ditames negligentes, repressivos e autoritários do Governo Militar, coadunado com os interesses das corporações agroindustriais. No Brasil, as questões econômicas sempre influenciaram a realidade dos povos indígenas, por interesses de fazendeiros, seringalistas, grileiros, empresas mineradoras, madeireiras, bem como políticos e o próprio Estado com a implantação de projetos governamentais, como a recente construção da Hidrelétrica Belo Monte que, se concluída, além de trazer danos ambientais, como a inundação das matas com o desvio do rio Xingu, e a escassez de animais nativos para a caça e a pesca das populações locais que sobrevivem da terra, mas também o desalojamento de comunidades pertencentes à terra. No momento, a Hidrelétrica Belo Monte está sendo debatida e criticada por ambientalistas, antropólogos, promotores públicos e pelos índios. [...]. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 

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USINA DE ARTE

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ITINERARTE – COLETIVO ARTEVISTA MULTIDESBRAVADOR:

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domingo, novembro 23, 2025

CONCEIÇÃO EVARISTO, PIEDAD BONNETT, ANITA PRESTES & ARTE AFRO NA ESCOLA

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som de J. Brahms: Symphony n.4 in E minor Op. 98 (Teatro B32 -SP, 2025) & Mozart: Piano Concerto n.23, K. 488 (Anfiteatro Camargo Guarnieri USP, 2023), com a SP Chamber Orchestra, sob a regência da maestra e pianista Giovanna Elias.

 

Fábula em ata: o doce com gosto de guarda-chuva velho no paladar... - Quando padre Quiba pisou pela primeira vez o chão de Alagoinhanduba, logo foi embalado por uma revelação feita visagem que julgou premonitória: teve a convicção de que ali estava o local para sua ascensão aos céus. Ficou inebriado ao visualizar claramente seu próprio nome inscrito na hagiografia celestial, como um recipiendário escolhido e santificado pela hagiologia sagrada, no panteão da hierarquia católica. O devaneio era mais que real e via-se nitidamente ocupando a santa ceia, ao lado direito de Deus e à esquerda da santa Maria, com Jesus do outro lado. Impava de satisfação ao prever ali o monsenhor que seria além de protonotário apostólico: o prelado de honra de sua santidade, ou até mesmo capelão, ou quem sabe cônego, realizando o sonho de ser um presbítero que logo chegaria a vigário-geral, alcançaria o episcopado para posar de bispo numa diocese para chamar de sua; e dela galgar para arcebispo e ser um primaz, um patriarca e cardeal, até se tornar: o papa Quiba I, o dono da porratoda do clero. Eita! Chega ofegava de empáfia, levitando na quimera de realizar prodígios de repartir bênçãos e fabulosas riquezas entre todos. Não previa ele, evidentemente, catombos pelo caminho, claro. E logo o primeiro: foi surpreendido já na chegada pela recepção calorosa da irmã Eufêmia. Vixe! Um despropósito: deu-lhe na hora um arrepio de ficar paralisado diante daqueles olhos graúdos mimosos, aqueles lábios formosos naquela boca bem talhada, a pele sedosa, a fala mansa, minha nossa! Cruz-credo! Viu-se tomado por um prurido que lhe subiu pelas pernas e explodiu numa agonia pélvica incontida. Valha-me, Deus! Que é que é isso? Viagem longa, dissimulou; mas por dentro: Isso é um pedaço de mau caminho, valei-me! Julgara coisa de mil demônios num só ser a consumi-lo de uma sarna da moléstia. Recuperou-se do mal estar e, com um pé na frente e outro atrás, desconfiado e aos tropicões, ele foi levado pela generosíssima sóror à casa paroquial, local em que era aguardado por séquito de fiéis pendurados por todo ambiente, com regabofe suntuoso e festivo, de vivas e salves. Foi surpreendido e vibrava porque tudo aquilo convalidava sua fantasia, tudo a favor e se enchia de ar, levando corda com os aplausos e louvações. Na hora do discurso, ele estava tão eufórico – não era pra menos, sabia, havia chegada a sua vez! -, ao abrir a boca para abafar idolatrado e segurando o microfone na maior pregação, tinha tanto pra dizer entusiasmado e repetiu seu nome diversas vezes, Quiba Quiou, e engasgou-se, enrolou a língua, arregalou os olhos e quase aos gritos de tão arrebatado, despencou de vez aos prantos: Nunca fui tão bem tratado na minha vida! Óóóóóóóó! Só se recompôs disso uns cinco ou seis meses depois, a ficha foi caindo e tomou pé da situação ao tombar num monte de quebra-molas, um em cima do outro, tome catabi. Danou-se! Ih, a coisa começava a catingar na trepidação. Partiu ineivado aos solavancos e, como não era lá muito achegado a monges e frades, fossem beneditinos, dominicanos, jerônimos ou mesmo basilianos, muito menos com franciscanos, salesianos ou scalabrinianos, deu logo um chega-pra-lá! Pronto, faxina feita! Menos um. Seu negócio mesmo era com as freiras e seria a partir delas que faria dali uma cidade cristã por excelência, aspirando domínio total sobre os fiéis e, assim, o levariam, indubitavelmente, à redenção da glória venerada. Procurou intimidade com elas, quando deparou com outro óbice: Quem é esse? Ah, esse é o nosso Bidião, o coroinha – Consigo repugnou: Ah, o cheleléu das freiras! Ô cabra de pêia! Gostou disso não: Isso é um desaforo! E com o tempo teve justificada sua antipatia, tendo de engolir indigestos ossos, caroços, amargores, purgantes e pedras inchadas de tão repugnantes, tudo atravessado goela abaixo. A coisa começou mesmo de véspera e foi tangendo tudo pras colisões que sucederam com o sacristão. De primeira: As poltronas da Marocas - A vida imita a arte! Logo o auxiliar que já não era lá bem quisto que se diga, passou a ser tratado por hagiômaco, quando não néscio ou parvo: Isso é um desgraçado! Nem foram superadas as primeiras intrigas, um novo escarcéu medonho inchou de mesmo: o padroeiro da cidade! Isso é um vitupério! E o pároco partiu pra cima do assessor, quando outro estouro estilhaçou e não conseguiu segurar a espoletada: Os milagres de Gideão! Isso é embuste do anticristo! Mas a coisa pegou de juntar gente pro fuxico, da bola dele murchar de tanto se espremer: Que asco! Mal teve fôlego para se restabelecer direito e outra cipoada lascou fedendo: a hagiomaquia do Zebedeu! Será o Benedito? Foi o ponto alto e fedeu, aí: fodeu tudo! É a besta-fera! Bastava ouvir alguém mencionar ou ele mesmo dar de cara com o nome de Bidião, que tinha logo um troço incontrolável e se danava a dar logo um sinal quiasmático de desaprovação: Esse abominável! E agitava o bastão inseparável que carregava consigo, o Calígula, prometendo pisas bem dadas nas costelas do malcriado: Vai ver! A coisa chegou ao ponto máximo na temperatura, quando soube que falavam da burrinha que ele arrastava pronde fosse: diziam que era um jumento. Como? Aí enfureceu-se de quase revolver-se dentro da batina, movendo céus e infernos, vociferando: Vou capar esse safado e excomungá-lo de vez! Oxe! As irmãs caíram em pânico e acharam por bem poupar o afilhado: providenciaram traslado e manutenção eterna longe dali. Cadê-lo? Quem? O salafrário? Alistou-se no serviço militar. Ainda pego aquele fi-duma-égua, ah, se pego! Esse esconjurado ainda me paga! O seu lugar está garantido nos quintos dos infernos, cheleléu! Benzodeus! Pax tecum! Aí as pinguins se perfilaram clementes ao seu redor e, para acalmá-lo encheram-no de ocupações que o fizeram sonhar de novo, como no primeiro dia que ali chegou, esquecendo os percalços que desnortearam até então. Com as sugestivas contribuições delas, logo ele retomou com afinco os seus propósitos superiores. Vexou-se cismado, pois, dizia ver as inteiras coisas ocultas e, de antemão, cheio-de-não-me-digas, estreitou convívio às risadagens com as beatas mais achegadas e outras aliadas pro seu plantel. E como passou a ver o capeta por todo canto e coisas, botou gosto ruim nas saias e decotes das moças e senhoras, passou a visitar rearrumando enfermos e apenados, mudou o fardamento das escolas, definiu o horário e o montante das esmolas, escolhia os pretendentes e maridos pras solteiras e viúvas desimpedidas, organizava a fila de cegos, aleijados, enfermos, precisados e até ufanos abastados para receberem a hóstia consagrada; determinou a criação dum conselho de orações perenes de manhã, de tarde e de noite na igreja, pelas casas, rua afora, todo mundo no rosário, como um apostolado para quem comprasse títulos de sócios do santuário ou adquirentes dos cargos e das indulgências dispostas para abrir as portas do paraíso, enquanto aplicava benzeduras, penitências, cânticos e orações; definia quem seria admitido para integrar os peregrinos de santas e santos – Quem der mais, tá dentro! -, a hora e o preço dos batizados, o dia das novenas, o sacramento dos casórios, as procissões, os benditos diários, as confissões regulares – aliás, as confissões é que eram seu álibi, sabia, cavilava. Suas pregações levaram-no a realizar procissões meia-noite em ponto, saindo da capela do cemitério e percorrendo todos os logradouros da localidade, findando ao amanhecer do dia, prum brevíssimo descanso, mera cochilada  e retomava probo logo todo santo dia, de segunda a domingo, ininterruptamente, sob argumento ameaçador: O céu é inacessível! Prometia o purgatório: O peso do pecado é enorme. Só entraria no céu quem desse uma joia e comprasse não sei quantos frascos de água-benta, um tanto de litros da garrafada, caixas de licores e vinhos, crucifixos, broches, amuletos e brebotes vários, tudo por ele fabricado para salvação de sua gente e manutenção da paróquia. Afora isso, vendia e trocava de tudo, quando não chantageava uma ou outro empancando suas resoluções. E vangloriava-se do tanto que fez e mais fará para não sei quantos moribundos, quantas almas pecadoras veladas foram e seriam ainda salvas por sua intervenção, e se metia no ofício das trevas, maldizendo de gente despeitada - catimbozeiros, xangozeiros, crente evangélico, espírita e falsos profetas, arreda escoria funesta do fim do mundo! E providenciava as quatro festas do ano e que duravam meses, desde a Folia de Reis até o pastoril do Natal pro Ano Novo: Aqui é pra louvar Deus todo dia e o ano todo! E virava a noite insone a rondar pelos quatro cantos da cidade com suas visitas inicialmente bem-vindas e, com o tempo, passaram a inoportunas no café da manhã, no lanche das 10, no almoço, nos petiscos da tarde, na ceia e na hora de pegar no sono, lá estava ele suspendendo casais no vucovuco, com o sermão de que sexo era só pra reprodução e, armado do crucifixo afugentava o demônio e exigia mil rezas de joelhos e ele ali conferindo o cumprimento inarredável: - Esse homem num dorme não é? Fala baixo, ele vive no ar direto feito cantiga de grilo! Santa paciência! Tornou-se assim vigilante da fé fazendo serão todo dia, sempre de plantão e, invariavelmente, de sopetão flagrava deslizes, beijos insolentes, mãos bobas no cós das saias, agarramentos afetados e inferninhos que combatia todo diverso e ardido da fúria. E se achasse uma alma doida, sacudia água benta e aplicava exorcismo persignando-se a obrigar todos os presentes arrodearem a endemoninhada para acuá-la com remelexos de varar a madrugada por uns três dias encarreados e sem bater pestana. Quando não era isso e, como o cemitério era limítrofe com o baixo meretrício, convocava todos numa vigília diuturna barrando os que quisessem passar pros chambregos pecaminosos ou quem ousasse pular o muro pego no flagra. E mais: por conta de seu inexorável capricho, ganhou vasta titulatura antipática nos cochichos secretos dos fiéis: Empata-foda, Boca-de-ponche, Trinca-colhão, Missionário entrão, Má-notícia, Sá-porra-afoita, e como invariavelmente inchava com uma prisão de ventre eterna, vez em sempre aliviava-se soltando uns peidinhos nababescos, de deixar todo mundo inturido por anos: Eita, cu-fedorento da praga! Isso pega, cagão-besta-fera! Ninguém aguentava mais e ele, todo adiantado, nem se dava conta de que caía nas graças e desgraças do povo, de quase ninguém mesmo nem mais se lixar pra sua presença folclórica, cortando caminho, evitando-o, dele beiço dobrado, bicudo, escorado choramiando: Ih, acabou-se o que era doce, parece! Até mais ver.

 

Duília de Mello: Começamos a ver o Universo como nunca tínhamos visto antes... O futuro é agora!... Veja mais aqui, aqui & aqui.

Anne Rice: Temos medo do que nos faz diferentes... O mundo não precisa de mais mediocridade ou apostas protegidas... Veja mais aqui, aqui & aqui.

Charlaine Harris: Há anos vivo à beira da loucura. Sou rápida e precisa em identificar instabilidades em outras pessoas... Sou autodidata e aprendi através de livros de gênero... Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 

DO FOGO QUE EM MIM ARDE

Imagem: Acervo ArtLAM.

Sim, eu trago o fogo, \ o outro, \ não aquele que te apraz. \ Ele queima sim, \ é chama voraz \ que derrete o bivo de teu pincel \ incendiando até às cinzas \ O desejo-desenho que fazes de mim. \ Sim, eu trago o fogo, \ o outro, \ aquele que me faz, \ e que molda a dura pena \ de minha escrita. \ é este o fogo, \ o meu, o que me arde \ e cunha a minha face \ na letra desenho \ do autorretrato meu.

Poema da escritora e linguista Conceição Evaristo (Maria da Conceição Evaristo de Brito), que é autora dos romances: Ponciá Vicêncio (2003), Becos da Memória (2006) e Canção para Ninar Menino Grande (2022) e do livro Poemas da recordação e outros movimentos (2017), entre outros. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 

O QUE FAZER COM OS PEDAÇOS... - [...] Às vezes, a dor é elétrica. Como um choque que atravessa a carne. "Quanto, de zero a dez?", pergunta o médico em todas as consultas. "Às vezes cinco, às vezes sete, às vezes nove", ela responde, mas o que ela realmente quer dizer é nunca um, nunca dois, nunca menos que cinco. Sempre dor. Outras vezes, a dor é ardente, aguda. Como um prego quente. Ou profunda, como uma espátula raspando o osso. Mas ela parou de reclamar há muito tempo. Porque reclamar exige ouvidos, palavras, compaixão. E, em vez disso, encontra apenas silêncio, um gesto de irritação, uma acusação. Quando a dor é insuportável ou constante, ela nos isola. [...] Porque uma história — qualquer história — é algo que sempre vence o vazio, que cria um vínculo ou sustenta aquele que ainda existe. [...] Porque aos vinte anos, uma biblioteca é uma ilusão, aos quarenta um lugar de realização, e aos sessenta um lembrete constante de que a vida não será longa o suficiente para ler todos os livros. [...] Sim. Sempre há um "sim". Quando fechamos uma porta, quando nos viramos depois de dizer adeus, quando terminamos um trabalho que levou horas, meses ou anos, quando uma cortina se fecha. [...]. Trechos extraídos da obra Qué hacer con estos pedazos (Alfaguara, 2021), da poeta, professora e dramaturga colombiana Piedad Bonnett, autora de obras tais como Lo que no tiene nombre (2013) e Explicaciones no pedidas (2011). Veja mais aquí & aquí.

 

A LUTA CONTRA O CAPITALISMO - [...] A luta é longa e difícil. Não acho que o que está acontecendo hoje é repetição do passado. [...] A luta é longa, feita de vitórias e derrotas. Para ter vitória final, é demorado, complicado, tem muitos fatores, então eu acho que não foi nada em vão. Tudo isso são forças se acumulando dentro disso tudo, acontecendo derrotas também, não só a vitória. Por isso, às vezes, tem períodos longos que são de derrota, realmente. [...] A gente vê aí a polarização econômica, cada vez mais grupos trilionários acumulam a maior parte da riqueza produzida no mundo e as grandes massas trabalhadoras com dificuldades crescentes. [...] O capitalismo está em crise econômica, em primeiro lugar, mas não só. Crise política, social, quer dizer, as coisas não funcionam mais como funcionavam. Isso leva a uma desigualdade social crescente. São os trilionários acumulando riqueza gigantesca e as grandes massas populares cada vez com uma parcela reduzida do que se gera no mundo. [...] A burguesia mundial e a brasileira pagam muito bem seus intelectuais para produzir uma história falsificada. Isso não é só no Brasil, é no mundo inteiro. Isso não é só no Brasil, é no mundo inteiro. Quer dizer, a história oficial, que inclusive é apresentada às crianças nas escolas, uma grande parte é falsificação [...]. Trecho da entrevista (A União, 2025), concedida pela química, professora e historiadora Anita Prestes (Anita Leocádia Benário Prestes), que noutra entrevista (PCB, 2015), sobre Getúlio Vargas ela expressou: [...] Uns endeusam, outros atacam. A verdade é que o Getúlio Vargas foi uma figura muito complexa. Ocupou uma posição importante na história do Brasil do século XX e que deve ser avaliada nas suas condições. Ele era representante da elite brasileira. Entrou para a política porque fazia parte da oligarquia agrária do Rio Grande do Sul. Foi muito influenciado na década de 1930 por ideologias de caráter autoritário e fascista que estavam em ascensão no mundo. E, claro, foi o que serviu de base para atingir os objetivos propostos pelo grupo que ele representava. No entanto, a cabeça pensante do grupo era o general Pedro Aurélio de Góes Monteiro, criador da chamada doutrina Góes Monteiro, hoje pouco conhecida. O objetivo da doutrina era a reconstrução do Brasil a partir de um estado autoritário centralizador e corporativista. E foi o que colocaram em prática com a Revolução de 1930, chegando ao auge com o Estado Novo. Uma das promessas da doutrina era fazer com que o Estado desse um salto no processo de industrialização. Até 1930, tínhamos um país com indústrias leves. A partir dessa política, o Brasil começou a investir em indústrias pesadas, o que era muito importante para a defesa nacional. O Góes Monteiro viu isso também como um instrumento de combate às manifestações. Para criar um cenário favorável à industrialização, o governo estabeleceu um arrocho salarial e uma série de medidas prejudiciais a maior parte da população e benéfica ao desenvolvimento capitalista. Houve resistência dos setores populares e as insatisfações foram combatidas com bastante repressão. [...]. É autora dos livros Os militares e a Reação Republicana: As Origens do Tenentismo (1994), A Coluna Prestes (1997), Tenentismo pós-30: continuidade ou ruptura? (1999), Anos Tormentosos (2002), Olga Benário Prestes - uma comunista nos arquivos da Gestapo (2017) e Viver é tomar partido: memórias (2019), entre outros.

 

ARTE DA CONSCIÊNCIA NEGRA NA ESCOLA

Os alunos do 9º B e 8º C da Escola Caic, sob a supervisão da professora Fátima Portela, e os alunos do 7º ano A, da Escola Ivonete Ferreira Lins, sob orientação da professora Luciana Girlan, realizaram atividades de Arte Afro, por ocasião das comemorações do Dia da Consciência Negra, em Palmares (PE). Foram atividades de pinturas em telha, confecção de máscaras e pequenos quadros com a temática. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

 

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segunda-feira, julho 07, 2025

DIAGNE MBENGUÉ. SARAH HALL. NATALIA LITVINOVA & MARCELA BARROS

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som dos álbuns Standard Stoppages (Cedille, 2025), Montgomery: Rhapsody nº 1 (Rubicon, 2024), Contemporary American Composers (CSO Resound, 2023), Songs for Our Times (Deutsche Grammophon, 2023), Bach / Gould Project (Azica, 2015) e Strum: Music for Strings (Azica, 2015), da violinista, compositora, musicista de câmara e educadora musical estadunidense Jessie Montgomery.

 

Jogral do Quinteto Normótico Neuroticida... - Sabe aquela do como é que é mesmo? Sonsonildo repentinamente adentrou no recinto laboral e de supetão sapecou seu escrutínio como uma cusparada provocadora: - O ser humano é a desgraça da humanidade! Disse e esperou o rastilho dos pipocos aos estilhaços, pronto pro escarcéu. Logo ele um impulsivo peidão hipocondríaco, que arrastava uma mala como se fosse uma farmácia ambulante, com sua imaginária autodiagnosticada doença grave e rara, um abjeto TOC de amolegar seu pênis e depois levar os dedos às ventas para conferir o teor da catinga, e sempre assombrado aos reclamos com o menor zunido de moscas, mosquitos, muriçocas, pernilongo ou inseto que fosse, entre os asquerosos tratados por contagiosos e capaz de acamá-lo até a sepultura! Diante dele, a primeira a dar conta do vitupério e pronta pro bateu-levou, foi a Aviduslina, ressuscitando de suas prolepses como se emergisse avexada assim do nada a dar o seu veredicto: - Taí, dessa vez concordo com você! E se riu com seu ar de arroz de festa, logo empanturrando-se com dois pacotes de salgadinhos e esquecendo por um instante sua guerra contra o relógio. Ao lado dela, o Prostracildo parecia acordar-se do marasmo de sua apatia, pelo sinal milagrosamente alentador que o tirou de sua suicida vida depressiva: - Oxe! E num é que é mesmo, nem havia me dado conta disso! Disse com seu jeito insosso de desânimo, deixando de lado as ruminações do seu caleidoscópio de analepses, para chamar a atenção dos demais presentes: Há dias que deveríamos ter feito isso! Do outro extremo da sala, Curiosaldia calmamente ajeitou os óculos para enxergar direito o que ouvira e obtemperou: - Você, Sonsonildo, pela primeira vez, tem razão! Mas, diga logo aí: Qual é a sua droga? Ponderou ela envolvida na fedentina de sua própria flatulência, esquivando-se à francesa, como quem escapole pra não ver o circo pegar fogo: - Vou ao banheiro! E à porta, como se jogasse mais gasolina no fogaréu: E quem é essa tal de Dias, hem? Das funduras do ambiente despertou Artesildo concentradíssimo com os últimos lançamentos da moda: - E num é que ele está certo! Nossa! Eita! Nem perceberam a unanimidade inaugurada desarmando os encrenqueiros prontos pro embate. Entreolharam-se e o hipocondríaco revoltado deu meia volta e, arrependido com a concórdia, querelou: - Vou-me embora, vocês estão todos infectados pela moléstia, desgraçados! A glutona-que-não-parava-quieta arranchada no seu birô estraçalhava um pacote de biscoito recheado e, às mastigadas, sentenciou: - Esse perebento não aguenta o badalo: arma o gatilho e, na hora do disparo, sai correndo! Frouxo! Por sua vez, o pessimista vicariante amargava a disputa se desvanecendo fugidia, fechou-se em si com desdém: - Ah, tenho mais o que fazer diante da morte, ora! Então a zarolha desentendida voltava do banheiro e sem saber o que se sucedera de fato, demorava para enxergar o que realmente acontecera, soltou um pum e deu de ombros: - Eu, hem? Já com ar de vitorioso, o shopaholic-com-um-cotoco-no-rabo ajeitou a gola da camisa, conferiu o vinco da calça e preferiu voltar pras escolhas de suas novas aquisições da moda, ignorando a situação constrangedora ao destilar, por fim, o seu veneno: - Vôte! Vai pra lá, pé-frio-duma-figa! Assim se entendiam entediados aos desentendimentos, não se tratasse de ocasião tão risível quanto deprimente, tudo seguia naquela esquecida repartição de Psicopatolândia (ou seria Alagoinhanduba?). Ah! Até mais ver.

 

Jhumpa Lahiri: Por que eu escrevo? Investigar o mistério da existência. Para me tolerar. Para chegar mais perto de tudo o que está fora de mim... Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

Phoebe Waller-Bridge: Eu sempre soube que dizer que o indizível seria uma coisa poderosa... É por isso que colocam borracha na ponta dos lápis... Porque as pessoas cometem erros... Veja mais aqui.

Marianne Williamson: E ninguém nos ouvirá até que nós mesmos nos ouçamos... A prática do perdão é a nossa contribuição mais importante para a cura do mundo... Veja mais aqui, aqui & aqui.

 

DOIS POEMAS

Imagem: Acervo ArtLAM.

O RISO DELA - é uma explosão \ de alegria \ e nostalgia \ como a minha dança \ diante do espelho \ em seu vestido. \ O que aconteceu com o homem \ que um dia a recebeu \ do outro lado da floresta?

PARA SE ENCONTRAR - Com um homem \ do outro lado da floresta \ é viver o mistério,\ explicou mamãe \ quando perguntei \ para onde ela ia \ à noite. \ O mistério \ é um pombinho cacarejando, \ implorando por comida \ de uma mãe ausente. Desespero \ maravilhoso saciado.

Poemas da escritora, tradutora e editora argentina de origem bielorrussa, Natalia Litvinova.

 

CASACO QUEIMADO - [...] Eu sou a madeira no fogo. Eu experimentei, alterei a natureza. Estou queimado, danificado, mais resiliente. Uma vida é uma gota d'água na superfície negra, tão frágil, tão forte, seu mundo incrivelmente sustentado. [...] Tenho essa sensação de estar desconectado e muito longe da tomada e o que resta é uma barra vermelha de alerta. [...] Há cegueira para novos amantes. Eles existem na atmosfera rara de sua própria colônia, confiando por instinto e tato, criaturas se consumindo, construindo abrigos com suas esperanças. Outros mundos cessam. Eu sei que senti algo quando começou, uma compreensão, um pressentimento, até mesmo uma ordenança. O amor nunca é a história mais antiga. Ele cresce na escuridão intensa. [...]. Trechos extraídos da obra Burntcoat (Faber & Faber, 2021), da escritora inglesa Sarah Hall, autora das obras Mrs Fox (2019), Madame Zero: 9 Stories (2017), The Wolf Border (2015), The Beautiful Indifference (2011), How to Paint a Dead Man (2009), Daughters of the North (2007), The Electric Michelangelo (2004) e Haweswater (2002).

 

FALAR AO MUNDO DA MESMA FORMA QUE OS OUTROS - [...] Além da emoção, além da reação, precisamos ser capazes de sentar juntos, ler o mundo juntos de maneiras diferentes e entender que essas diferentes maneiras de ler o mundo só podem nos enriquecer, em vez de nos tirar algo. E acredito que essa co-construção do mundo, essa coconstrução da humanidade que compartilhamos, é um dos maiores desafios do momento. Este consórcio também busca contribuir para isso. [...] Agora somos um mundo interconectado: os problemas de uma pessoa são problemas globais, e os problemas de outra pessoa são problemas globais. [...]. Trechos da entrevista l’Afrique doit «dire le monde au même titre que les autre (Reseau Scolaire, 2023), concedida pela filósofa senegalesa Diagne Mbengué (Ramatoulaye Diagne Mbengué), que na obra Le modernisme en Islam: Introduction à la pensée de Sayyid Amir Ali (L'Harmattan, 2019), expressou que: [...] A sociedade deve ser uma sociedade aberta, uma sociedade na qual cada pessoa possa se reconhecer. [...].

 

AGRESTE LENTICULAR, DE MARCELA CAMELO BARROS

[...] Escrever sobre o que somos é uma história que não é exclusivamente minha, ela se repete na ancestralidade de milhares de mulheres nordestinas [...] É um reforço para a nossa identidade, constantemente apagada pelo silenciamento da história das mulheres, para entendermos que viemos de mulheres fortes [...] corajosas e transmissoras de conhecimento. Assim como eu recebi esse saber, quem sabe agora não transmito? O lenticular é a ponte para a transmissão da representação de mulheres do Agreste, mas também um fenômeno de ilusão. Teria a comunidade do Trapiá, a partir do fenômeno das rezadeiras, um vestígio de dominância feminina? Acredito que o ideal de sociedade matriarcal nas zonas rurais do Nordeste é como a ambiguidade da imagem lenticularizada: entre pequenos movimentos do olhar, surgem lampejos como as manifestações da religiosidade popular, os encontros das mulheres, da insubordinação às instituições oficiais. Uma árvore tem sua origem na semente. Sem demagogia, há esperança. [...].

Trecho extraído da tese de doutoramento sob a temática Agreste lenticular: pesquisa e criação em suporte artístico (UFPE, 2023), da artista visual e professora Marcela Camelo Barros, que concentra em suas pesquisas recentes autoestereoscopia, imagem lenticular e processos de criação junto às manifestações da religiosidade popular feminina do Agreste de Pernambuco, autora do projeto Agreste lenticular: Pesquisa e Criação em Suporte Artístico. Veja mais aqui.

 

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domingo, dezembro 05, 2021

CHRISTINA ROSSETI, SUSAN WENDELL, AFANASY FET, ANN HAMILTON & RONALDO CORREIA DE BRITO

 

 

TRÍPTICO DQP – Umestória puxoutra... - Ao som do álbum Em família (EMI, 1981), de Egberto Gismonti. - No meio de tantontens, lembrançadvenas, uma: primeiro peixes pulavam fora d’água e morriam à beira do rio. No começo aquilo era o espetáculo de todos os dias na cidade. Depois, com o acúmulo deles, tudo dançava até as plantas secarem, as árvores, e o chão se abriu. Um buraco espetacular dos olhos pularem quase fora. Tornou-se uma cratera e, na borda dela, juntavam-se gatos, depois cachorros, galos e galinhas, bodes e cabras, bezerros, vacas e bois, cavalos e éguas, pássaros e répteis, todos os bichos da redondeza ali se amontoavam numa dança estranha. Em seguida todos despencavam como se fossem engolidos pela cova que mais se agigantava. As coisas andavam realmente bizarras por ali e, com o passar do tempo, perdia o fascínio nem mais engraçado. Mais dias e as crianças lá chegavam aos passos e gestos extravagantes. Não pode ser! Também moças e rapazes, senhores com suas senhoras, anciões de mãos dadas com suas consortes anciãs, todos num bailado excêntrico, para, em seguida, como se fosse ritual macabro, jogavam-se voluntários para serem consumidos pelo insaciável algar. Outros temiam a ponto de não se aproximarem dali, nem arredarem o pé de casa. Só crescendo o perau. Os que fugiam, nunca voltavam, nem que fosse na marra, pois cismavam de cabelo em pé e, aos tombos, para recorrerem atônitos às autoridades. Rondava a alegação de que aquilo era pior que o Incidente em Antares, de Érico Veríssimo. Mesmo? Nada a ver. Muito maior! E diziam disso e daquilo. Amedrontados, não sabiam o que fazer: rezavam de joelhos e de mãos dadas continuamente. Como não surtia efeito, vagavam para todos os lados, buscando providência que desse cabo do inusitado. Muque, munheca, caixa dos peitos, insuficientes. Revolver, espingarda, fuzil, canhão, reles brinquedos perto do estrupício. Aquilo, afinal, o que seria? Apareceu uma tuia de pesquisador, jornalistas, curiosos e boateiros, tudo para saber do ocorrido, até um bocado deles desaparecer na tragédia. Minha nossa! Alguns mais precavidos logo assimilavam ter sido o mesmo que ocorrera na primeira tragédia de Alagoinhanduba. Como é? Teve até quem relacionasse a ocorrência com o desastre do Minamata e, por coincidência, foi justo na hora em que fui abordado pela atriz japonesa Minami Bages. Epa! Logo me confundiu com um fotógrafo desconhecido e tudo já se parecia com o enredo de Andrew Levitas. Endoidou geral, para mim. Ela se ria de tudo, contando-me os mínimos detalhes do ocorrido por lá. Fui levado a acreditar porque o cogitado sequer foi descartado. O pior foi que à boca da noite só se via uma movimentação nos ares, como se fossem os defuntos do Cerro do Pasco de Scorza: um bocado de fantasmas atiçando a todos para uma revolução! Oxe! Pernas pra que te quero, ora! Escondido numa sala dum prédio enorme, ela ali, arfante, olhou-me severa e me disse como se fosse a poeta britânica Christina Rosseti (1830-1894): É melhor esquecer e sorrir do que recordar e entristecer-se... O silêncio é mais musical do que qualquer canção... Era o maior vexame e ela como se nada acontecesse por ali. Como pode? Lá fora maior azáfama. Cá dentro, ela deitou a cabeça sobre minha coxa e adormeceu...

 


Vida de trovador... – Imagem: arte da artista visual estadunidense Ann Hamilton. - Ao despertar, não sei se o dia era outro ou o mesmo, entendia nada, se sonho ou real. Só sentia indisposição para me levantar. Logo percebi ao meu colo um volume aberto e com a inscrição: Eu, Miquel de la Tour, escrevo, faço-vos saber... Danou-se! Mais que curioso folheei e tomei ciência quais damas eram cortejadas pelos menestréis lá por volta dum século lá da Idade Média, coisa parecida com o que havia lido n’A Arte da Poesia de Pound. Reli para me certificar e contava: O monge Gaubertz de Poicebot era um de estirpe; era do bispado de Limousin, filho do castelão de Poicebot. Fizeram-no monge quando criança, num monastério chamado Sai Leonar. E conhecia bem as letras e sabia cantar e trobar. E por desejo de mulher, ele saiu do monastério. E dali foi à procura do homem a quem buscavam todos aqueles que, por cortesania, ambicionavam honras e grandes feitos – Savaric de Mauleon – e esse homem lhe deu o arnês de um jogral, um cavalo e roupas; e ele então percorreu as cortes, compôs e fez belas canzos. E entregou o coração a uma bela e gentil donzela, pelo que Savaric o fez cavalheiro, concedendo-lhe que ele conseguisse tomá-la  por esposa. E ele contou a Savaric de que maneira o recusara aquela donzela, pelo que Savaric, concedeu-lhe terras e as rendas delas. E ele desposou a donzela e a honrou sobremaneira. E aconteceu que ele foi para a Espanha, deixando-a. E um cavalheiro vindo de Inglaterra a desejou; e tanto o fez e tanto disse que a levou consigo e a teve muito tempo por amante e depois a deixou na sarjeta. E Gaubertz voltou da Espanha, e hospedou-se certa noite na cidade onde ela estava. E desejando uma mulher, saiu e entrou no alberc de uma pobre mulher, pois tinham-lhe dito haver ali uma bela mulher. E ele encontrou a esposa. E quando a viu, e ela a ele, grande foi a tristeza e maior a vergonha entre ambos. E ele esteve aquela noite com ela, e pela manhã foram para um convento onde ele a fez entrar. E, de tristeza, deixou de cantar e compor. Ah, esse relato era o mesmo citado, agora sim, me certificara. Voltei à leitura e fui interrompido por ela que ali adentrara para dizer que íamos fugir naquela noite. Como assim? Respondeu-me ironicamente com o Autorretrato de Joel Silveira: Sou um homem que faz perguntas – nunca fui mais na vida. E assim serei, certamente, até o último dia, que também será o dia da última pergunta. E me sorriu lindamente como quem possuía a urgência no olhar, trêmula dentro do hábito, porque o asteroide Kamo’oalewa se aproximara perigosamente da Terra. Era uma urgência desmedida: havia um grande contingente de cegos e surdos, outros apresentando fraqueza e distúrbios sensoriais nos pés e mãos, alguns tantos chegaram a ficar paralíticos e muitos outros morreram. Não brinca! Verdade, arrume-se! Para onde? E num misto entre angelical e ansiosa, recitou-me o poeta russo Afanasy Fet (1820-1892): Compartilhe comigo seus sonhos de viver, / Dirija-se diretamente à minha alma; / O que não pode ser expresso apenas em palavras - / Ventile minha alma na forma de som. Depois, aproximou-se mais e senti sua alma tomando a minha. Éramos um: olhos nos olhos, sua respiração rente às minhas faces, sua vibrante carne: uma sinapse na minha. Beijou-me e saiu como se fosse nunca mais.

 


A sina da caçula... – Imagem: a arte da escultora, fotógrafa e artista visual britânica Helen Chadwick (1953-1996). – Décadas passaram e, um dia lá, ao reencontrá-la, a vida parecia não ter sido tão madrasta assim: estava mais linda que nunca. Depois de muita conversa, contou-me a sua história - talqualzinha aquela contada pelo escritor, médico e dramaturgo, Ronaldo Correia de Brito, numa das edições da Continente Multicultural: era caçula de três irmãs e o pai, que era podre de rico, enviuvara de repente. Macambúzio com seu luto, resolveu reunir uma em outra, às confidências. Da conversa, a mais velha saiu cantarolando, havia recebido um quinhão polpudo por herança. Era a vez da do meio que saiu mais feliz que nunca, bailando a partilha vantajosa. Era a vez dela. Ao término da conversa, o pai ficou calado. Ela esperando. Nenhuma reação dele. Então ele se levantou, ficou mudo em pé na janela pro mundo, por um longo tempo. Lá pras tantas, voltou-se pra ela cheio de ira e deu-lhe o castigo: de casa para a rua! Estava deserdada. Por quê? Deve ter sido pelos namoricos ou por gostar de artes, ou por ser a saidinha nada obediente, ou coisa parecida, tudo que ele reprovava demais. As irmãs nem intercederam e, nem bem amanheceu, caiu estrada afora. Mais vinte anos e, de repente, à sua porta, alguém pedia socorro. Era um senhor de idade e, mesmo que quisesse, não havia como negar abrigo. Afinal, o solicitante estava em petição de miséria – a situação dela nada diferente em privação. Acolheu e cuidou por semanas. Ao se restabelecer, o ancião contou-lhe a história. Ela chorou muito: era o seu pai. E as irmãs premiadas haviam fechado a porta. Da mesma forma que ela não soube a razão pela qual foi expulsa de casa, ocultou quem era. E mesmo assim cuidou dele até o dia em que ele, à morte, atendeu o pedido dele e revelou seu segredo. Não havia mais tempo: ele só ouviu, apertou-lhe uma das mãos e deu o último suspiro. Tudo muito triste. Diante da minha expressão interrogativa, respondeu-me como se lesse para mim um trecho da obra The Rejected Body: Feminist Philosophical Reflections on Disability (Routledge, 1996 ), da professora e editora estadunidense Susan Wendell: Se as pessoas com deficiência fossem realmente ouvidas, ocorreria uma explosão de conhecimento do corpo humano e da psique... Compreendi em parte, evidentemente. E havia muito mais para contar: ela fora acometida por uma enfermidade que a deixou inválida por dois longos anos, até se recuperar quase sem esperança. Perguntei: Então é você? Sim sou eu. A vida somos todos nós. Até mais ver.

 

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