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terça-feira, setembro 15, 2020

BOCAGE, RUBEM ALVES, BETH FORMAGINI, NICOLINA VAZ & DEYSON GILBERT



DIÁRIO DO GENOCÍDIO NO FECAMEPA – UMA: SABE AQUELA... DOS UMBRAIS DE MIM... - O meu país arde como se o meu povo fosse o desespero dos acrófobos à beira do abismo, no cortejo de Paddy Digman do Joyce e eu pseudOdisseu errasse à procura de uma das sete vidas de Tirésias para reencontrar a Ítaca perdida, o meu Paraíso de Milton. Essa a coragem do passo adiante quando tudo é precipício na fumaça sem maçaneta, arrimo, apoio ou paredes: o rio de sudorese excessiva e a tremedeira no sorvedouro nas pontes dissolvidas para tudo despencar no frio da barriga perambeira. Desnudo no sonho o rei entre meras catábases por aclives íngremes, não olho para baixo nem posso voltar porque tudo ficou para trás com o pânico larófobo, porque caio para o báratro com o inútil instinto de sobrevivência de Ícaro sem paraquedas, alpinista nas cataratas do inevitável tropeço pelas escadas de nuvens. E ouço os versos do Soneto infernal de Bocage: Dizem que o rei cruel do Averno imundo e seja isto já; que é curta a idade, e as horas de prazer voam ligeiras... são os fios que se soltam na minha eterna corda bamba pelo meio-fio entre a vida e a morte. Ainda vivo, voo.

DUAS CENAS DE FILMESDepois de ter assistido o documentário Memória para uso diário (2007), da premiada cineasta Beth Formagini, tive a oportunidade de ainda ver o documentário Angeli 24 horas (2011), que trata sobre a obsessão pelo trabalho do cartunista Angeli e o seu dilema de artista, como também o premiado Xingu Cariri Caruaru Carioca (2016), que trata a respeito das origens e evolução do pífano na história do Brasil. Ela é formada em História, especializou-se em documentário na Universidade de Roma, foi presidente da Associação Brasileira de Documentaristas no Rio de Janeiro e trabalhou na produção e pesquisa de alguns filmes de Eduardo Coutinho. Foi dela que captei: Estamos infelizmente dominados. Se não discutirmos isso, entraremos de novo nesse período vivido no passado. Espero que a juventude de agora não volte a experimentar aquilo tudo. Tenho esperança de que as pessoas resistam, que se imponham. Esse é o alerta de que precisamos fazer alguma coisa aqui e agora, vambora.


TRÊS CONTAS NOS DEDOS SEGUINDO - (Imagem: escultura de Nicolina Vaz) – Ah, os meus dias, eram ventanias de tempestades terríveis com o esquecimento e nenhuma vontade de errar pela vida dentro de um odre de poderosos ventos e aberto para festa das sereias enlouquecedoras que me deixaram boiando num pedaço de madeira mar afora, para que findasse mendigo no meu próprio reinado em ruínas. Assim as funduras insondáveis da solidão e ao me deparar com as inscrições da tabuleta chinesa no meio dos antros do cabo Averno: Ande com calma na estrada escorregadia, pois nela se embosca o demônio do desastre. Eu sabia, um pé na frente e outro atrás, todos os caminhos levavam ao inferno. É como se do fundo do Érebo surgissem todos os pálidos espectros da minha convivência de ontens, com os seus castigos do julgamento e a minha veneranda mãe a testemunhar minha tribulação pela escuridão de charcos umbrosos. Presenciava tudo e quedava de terror como quem havia sido expulso do éden para invocar a musa, porque só havia em mim a imagem de Penélope a me esperar distante quase sem esperança, a tecer sua manta com as palavras de Rubem Alves: Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses. A vida não pode ser economizada para amanhã. Acontece sempre no presente. Vivo agora e voo pra ela. Até mais ver.

A ARTE DE DEYSON GILBERT
A arte do artista Deyson Gilbert, que é graduado em Artes Visuais pela Universidade de São (USP), fundador e editor da revista Dazibao e que já participou de mostras e exposições no Brasil e exterior. Veja mais aqui.


domingo, agosto 30, 2020

BAUDELAIRE, GAUTIER, DÉLIA FISCHER, MONTESSORI, ANGELI, SÉRGIO GODINHO & BETH DA MATTA


DIÁRIO DO GENOCÍDIO NO FECAMEPA – UMA: SABE AQUELA... LEVIANDADE DEMAIS... - Apesar dos milhares de mortos diários e do estouro de casos de reinfecção, a vida parece normalizada para muitos indiferentes. Depois de quase seis meses enclausurado, saio às ruas e as pessoas para lá para e para cá, como se nada de extraordinário acontecesse no planeta. Fiéis de todos os credos saúdam entre si e não uns aos outros, o que me chamou atenção, uma discussão entre rivais religiosos. Longe de mim os donos do que dizem não mais que farsa do berço ao túmulo, os que governam sobre aqueloutros nem tão incautos assim, teimosos que são sabidos e submetem a quem do mando a caolhice para a verdade mais absoluta. Assim o fazem como se donos de tantos outros, a se acharem doutos do destino alheio para obediência e temor dos subalternos. É assim e definem o que é permitido ou proibido de sua crença furiosa com seus castigos. Faça não, senão eles inventam no exótico de suas excentricidades sofismáveis o que possa caber no entendimento das verossimilhanças mais esdrúxulas. Ah, são eles lá coisonários e se acusam de infames, sequer ouviram Maria Montessori: As pessoas educam para a competição e esse é o princípio de qualquer guerra. E guerras fazem com o seu embusteiro e apoplético credo, jurando ao deus para que haja um céu pros seus escolhidos e um inferno pros desafetos. Assim, só os asseclas e só eles são os irmãos da verdade, em fé e vida, para o bem e o certo, os demais excluídos que fervam nas caldeiras demoníacas das desgraças escatológicas. Enquanto isso, explodem escândalos no noticiário com seus guias e mentores, nem se dão conta, os seus mesmo que cometam crimes cabeludos, são santos e absolvidos na fé exclusiva. Pois é, a vida passa sob todos os seus juízos sectários, incapazes da diferença. A vida passa, eu sei, vou com Théophile Gautier: Nascer é apenas começar a morrer. E viver, uma dança transformadora e muito longe disso tudo. Vou nessa.

DOIS ESTALOS E UM MONTE DE IDEIAS – No meu recolhimento de sempre, ouvia uma bela música, imagens tantas surgiram por cenário e me davam um futuro possível da conquista embalado pelos tons. No começo um tanto disformes, depois tomavam corpo e se apresentavam reais à palma da mão. Sabia de Charles Baudelaire: A imaginação é positivamente aparentada com o infinito. Como foi a imaginação que criou o mundo, ela governa-o. A canção instrumental me embalou numa viagem imagética interminável até outra canção soar com afago: era Délia Fischer cantando bonito o Meu tempo (Tempo mínimo, 2019) e a me dizer amável & linda: Exatamente, a minha busca é essa. Busco a música, tem um acorde aqui, uma levada lá. Fico querendo entrar na música como um todo. Me vejo a cada dia mais aberta para interpretar e buscar uma visão própria, que tenha a minha marca. E do seu talento desde o Duo Fênix vou curtindo umas e tantas interpretações, a vida é outra que não esta de tanta calamidade, uma vida feita de sonhos em que viver em paz e com todos é fundamentalmente possível. Nessa também vou.

TRÊS ESTALOS & UM OUTRO OLHAR PARA AS COISAS – Ah, os meus dias, persigo tão desajeitado quanto distraído, e algo me chama atenção nas entrelinhas das coisas, isso sempre e a ponto de atentar para mínimos detalhes entre o fecundo e o necessário. É nessa hora que ouço a troça de Angeli: Quando a gente vai ficando velho, percebe que a adolescência é mais longa do que se espera. Sequer senti o tempo passar tão rapidamente, nem o envelhecimento. Ainda ontem eu pulava o muro do quintal para pegar a bola que pulou fora e a vizinha nua se bronzeando na grama, aos gritos com minha intromissão. Quantas de anteontem ou do mês passado, acho, sei lá, um dia desses aí e nem lembro. Mesmo com as dificuldades motoras, as dores nos quartos e coluna, aqueles esquecimentos imprevisíveis, mesmo assim o coração assobia como se menino entre pássaros e flores no quintal, com o Sérgio Godinho poeticamente cantando: Sem cordas que os amarrem a descoberta de novos campos. Sem memórias, livres correm velozes ou a passo, por dias soltos. Bonito esse seu Primeiro dia, assim voo e vivo. Até mais ver.

A ARTE DE BETH DA MATA
Nossa história precisa ser reescrita. Como artista e cozinheira, abri uma nova pesquisa que é a comida brasileira a partir dos índios, que têm muitas técnicas que foram apagadas da história. Aqui já havia a prática do pirão, bebida fermentada e o domínio da mandioca, por exemplo, antes dos europeus chegarem. Os povos indígenas foram muito silenciados. Há pouco conhecimento sobre sua cultura. Após essa experiência de descolonização, estou em reconciliação com quem sou de fato.
A arte da artista plástica e performática, curadora e gestora pública Beth da Matta (Judith Elizabeth da Matta Ribeiro), que também possui formação em Gastronomia e é atual diretora do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (MAMAM). Veja mais aqui & aqui.


quinta-feira, novembro 05, 2015

CREMA, BEZALY, MOZART, LEILA, MARTINS PENA, ANGELI, CAPSI, EUDES, ZORN, JOÃO MONTEIRO & DAS IDAS E VINDAS DA VIDA.


VAMOS APRUMAR A CONVERSA? DAS IDAS E VINDAS, A VIDA - Era um mormaço de tarde na segunda metade dos anos 1980. Local: a rua da delegacia de uma cidade pacata de interior. O povo em polvorosa, indignação geral. Foi que um mês antes, Judilidinho resolvera dar as caras depois de alguns bons anos de sumido na capital paulista. A mãe quase teve um troço, tinha-o na conta dos desencantados nas curvas do destino. Nada, vivinho da silva, gírias nas jaquetas, ginga nos blusões. Temperatura alta e ele vincado nos trinques do frio de sulista, pronúncia de erres e esses das aventuras de bafos ousados pra delírio das mocinhas debutantes. Encantadas, viam-no príncipe nas suas calcinhas úmidas de desejo embaixo das saias, seios buliçosos no decote do vestido. Ele, ancho pervertido, retribuía-lhes arrancando o cabaço dia a dia, uma a uma. Contava nos dedos, Francinilza, Leucidalva, Dilmanilde, Marizalda, Nilmaria, Belazita e quantas mais viessem assanhadas e oferecidas, papadas nos prêmios da conquista: – Hoje só três perdero os vinténs -, era o troféu da empáfia no pódio da galera. É-he! Quando sentiu o arrepio da Lurdivalnia, a sua própria mãe vem com carão de arrancar-lhe a pele. – Não mexa com a da cumade Dezinha, ela é minha afilhada! -, e sapecou-lhe jura de pisas em meio a beliscões. Ele enfureceu e revidou aos tabefes, dela estender-se aos gritos no chão. – Sou sua mãe! A vizinhança acudiu, ele escapulira. Coração de mãe abafa: - Foi ladrão! E tome caçada dele chegar depois, cara lisa: – Que s’assucedeu? Ciente do ocorrido, tal qual Édipo jurou vingança: - Vou capar o desgracento! Acreditaram, mãe de esguelha. Nisso deram por falta da Francinilza, enquanto a Lurdivalnia se enrabichava inquieta mais pra sua banda no brejo do quintal. Há dois dias Leucidalva não voltara pra casa, enquanto ele picava a sua peçonha no brejo da moça com a saia na cabeça. - Cadê a Dilmanilde? No meio do vuque-vuque, ele insaciável meteu-lhe martelada, o sangue descia pelo pescoço e entre as pernas dela. – Pronde foi Marizalda? Quase desfalecida, rasgou-lhe o esfíncter anal com seu mondrongo avantajado, do sangue descer pelo rego da bunda branca e sedosa. Ela desmaia. Ele aproveitou-se das folhas de zinco e cobriu-a deitada nua no brejo. A água fria, ela acordou-se desorientada. Novos golpes, pênis na vagina, pedras no peito para não boiar. Trabalho feito, arrumou-se e rumou pra rodoviária. – Quédi Nilmária? No guichê, passagem pra São Paulo, embarque 23hs. – Belazita sumiu! Foi pra casa, pegou a bolsa e começou arrumar seus pertences. – Pronde tu vai, desgraçado? – perguntou-lhe a mãe de través. – Já vou-me, as férias findaram. – Tu tais sabendo que tão querendo o paradeiro da minha afilhada? – Oxe, ela sumiu? – Tu num tem nada a ver com o sumiço das meninas que viviam tudo assanhada atrás de tu, né? Ele virou-se com um olhar implacável. Ela temeu, sentiu fedor de enxofre no ar. – Valha-me, Deus! Nem deu tempo dela findar balbucio, viu-lhe os olhos vermelhos de fúria. Saiu às pressas segurando as saias, chamando atenção. – Que foi? Aos prantos, voz enrolada, só sabia apontar pra sua casa. Vizinhos acorreram, não deram por nada. – Ele escapou de novo, vai pra rodoviária! -, conseguiu, enfim, avisar. Era o fim da picada, coração materno destroçado. E a população em peso na captura com toda justiça nas mãos. Foi preciso chegar a polícia para conter o linchamento. Levaram-no protegido pra delegacia. Os apupos de opróbrio geral. Horas de aperto e ameaça do povaréu de invadir o recinto, depôs tudo: o ódio da mãe desde que nascera, o abuso do pai escafedido, a rejeição do padre em dar-lhe primeira comunhão... o delegado impaciente já lhe dera uns tapas e logo o paradeiro dos corpos seminus das estupradas na grota do canavial, na gruta do rio, na beira do açude, nas valetas da estrada. Todas irreconhecíveis. Uma a uma pesou-lhe a sentença. Foi preciso um batalhão de soldados para protegê-lo no trajeto pro presídio. Nem esquentou canto, naquela mesma noite, madrugada no meio, um apenado primo das ofendidas estrangulou-o na cela. O povo de alma lavada; e os anjos no céu, amém. Veja mais aqui.

Imagem: Nude girl stretched out on her bed Art, do pintor sueco Anders Zorn (1860-1920).


Curtindo Flute Concert - Wolfgang Amadeus Mozart (BIS, 2005), com a flautista israelita Sharon Bezaly & Ostrobothnian Chamber Orchestra, Juha Kangas.

VOCAÇÃO: A TAREFA PESSOAL – O livro Saúde e plenitude: um caminho para o ser (Summus, 1995), do antropólogo e psicólogo Roberto Crema, apresenta a contribuição da visão holística aplicada aos campos da saúde, educação, consultoria e pesquisa psíquica, com inspiração na antropologia, ética e prática dos terapeutas de Alexandria, cujos princípios são reforçados pelas evidências das descobertas científicas de ponta, oferecendo uma visão inovadora e criativa dos campos mencionados. O livro aborda temas como integração do método, desafios e liderança do facilitador holocentrado, memórias da prisão e espaço vivencial, metaprincípios para uma abordagem transdisciplinar em terapia, vestígios de encontros, entre outros temas. Da obra destaco os trechos da parte da Vocação a tarefa pessoal: [...] quando nos convocamos a existir, numa coordenada tempo-espaço, nós nos fazemos um propósito. Há uma promessa inerente ao nosso ser. Não estamos aqui apenas para um pic-nic ou aposentadoria. Estamos aqui para realizar uma tarefa pessoal intransferível. Estamos aqui para concretizar uma obra-prima; para trazer uma diferença ao universo. É o que denomino de vocação: a voz interna de nosso desejo mais fundamental e o imperioso impulso para realizarmos o que somos. [...] Há uma significativa dimensão educacional holística em psicoterapia. No seu sentido original, educação provém do latim educare, significando traze3r para fora a sabedoria inerente ao individuo: atualizar o seu potencial inato. Aprender a fazer delicada escuta e leitura da sintomatologia como denuncia de contradição e desvio, é uma importante etapa no caminho do autoconhecimento e individuação. [...] Uma só pergunta nos será feita, pelo senhor da totalidade psíquica, o Ser, na ocasião do ajuste de contas final, no findar de nossas existências: Você foi você mesmo? O que você fez com os talentos que lhe foram confiados? Bem ou mal, a esta pergunta haveremos de responder. [...] Veja mais aqui, aqui e aqui.

A ROSA – No livro O lobisomem e outros contos (Pasárgada, 1994), do advogado, jornalista e escritor Eudes Jarbas de Melo (1925-1999), encontrei o conto A Rosa, o qual transcrevo a seguir: A moça descia a alameda em direção a casa. Caminhava despreocupada, na tarde indecisa que se avizinhava da noite. Os garis, que trabalharam o dia todo nas redondezas, já estavam prontos, aguardando o transporte da firma. Nesse interim, um homem dela se aproximou e falou do seu marido. “Olha, ele está bem e pede que não se preocupe...” A moça não se assustou com a abordagem. O homem prosseguiu: “...ele também me pediu que olhe desse essa rosa”. Embaraçada, sem raciocinar sobre o que se passava, ela agradeceu e retornou o seu caminho. Só em casa, recomeçou a lembra-se e disse a irmã: “Eu nunca vi aquele homem... e por que meu marido mandaria um estranho entregar-me uma rosa? Ah, eu quero esclarecer este fato. Vem comigo... é possível que o homem ainda se encontre nas redondezas...” Colocou a rosa em um copo com água e saiu com a irmã. Só encontrou os garis. Perguntou a um deles pelo homem com quem falara. “Eu vi a senhora olhando uma flor e falando sozinha. Pensei que houvesse perdido algum objeto...” A moça voltou para casa, cheia de pressentimentos. “Eu não estou maluca. Falei àquele homem... e a flor? Onde fui arranjá-la?” Naquela noite a insônia lhe fez companhia. Mas só quando o dia amanheceu, chegou a notícia. Seu marido morrera de um desastre de carro. Muitos dias se passaram para que a moça se refizesse do golpe. O tempo foi o analgésico de sua dor. Hoje, passados alguns meses, ninguém mais comenta sobre o falecido, mas, pergunta, sim, pela flor que permanece no copo, viva e freca, tal como no dia em que o homem a entregou... Veja mais aqui.

SONETO AOS SUJOS & OUTROS POEMAS – No livro Gavetário (Medusa, 2012), do poeta, músico e advogado João Monteiro - que edita o ótimo blog Momento Monteiro -, destaco inicialmente destaco o Soneto aos sujos: merda miséria / miséria de merda, / merda mui séria / de merda / dar-me de mudo / te merda que séria / em série de merdas e surdos / que merda! / séria miséria / te surtam que sabem / e gostam de sujos / de merda que mudos / só medram em miséria, / miséria de muitos. Depois, o poema Cânone: Dará vida forma em rica / e já sim de como dará vida / forma rica dava fome onde / modo já de sim e dívida / dado como ode fome onde / cara forma caricato rica / mofa dado dado já em vida / vinda cara dada já em onde / já em dado cara a cara fome / dado mas mas não encara e come / come sim e já não vê saída / forma vinda vida cara e onde / modo cada forma dado e come / já de sim de com jaz a vida. Também Cera quente: Dou-lhe um candelabro / e você com os lábios / vai-me atiçar os nervos. Mais o poema Solidão: despiu-se da carne arrebatada no peito / do sangue de todas as angustias tardias / infindas no tempo-estridor dos dias / calados em dor implodida, / tudo o mais claro intento, / satirizar a morte / e martirizar a vida. Por fim, Acalanto cordial: Um dia a mamãe me disse, / e eu jamais esqueci: / - Joãozinho, o mundo é triste, / mas não para ti! / Eu sou lindinho, sensível e especial / não há nada que me possa magoar / o coraçãozinho: / Dorme, neném, / que a vida ensinará, / descubra logo as coisas / o amor devorará. / Ai, mamãe, você tem sempre razão! Veja mais aqui.

QUEM CASA QUER CASA – A peça teatral em 1 ato Quem casa, quer casa (1845), do dramaturgo e diplomata Martins Pena (1815-1848), introdutor da comédia de costumes com obras recheadas de ironia e humor, graças as desventuras da sociedade brasileira. Da obra destaco a cena inicial: Sala com uma porta no fundo, duas à direita e duas à esquerda, uma mesa com o que é necessário para escrever-se, cadeiras, etc. Paulina e Fabiana. Paulina junto à porta da esquerda e Fabiana no meio da sala; mostram-se enfurecidas. PAULINA (batendo o pé) - Hei de mandar!... FABIANA (no mesmo) - Não há de mandar!... PAULINA (no mesmo) - Hei-de e hei-de mandar!... FABIANA - Não há-de e não há- de mandar!... PAULINA - Eu lho mostrarei. (Sai.) FABIANA - Ai que estalo! Isto assim não vai longe... Duas senhoras a mandarem em uma casa... é o inferno! Duas senhoras? A senhora aqui sou eu; esta casa é de meu marido, e ela deve obedecer-me, porque é minha nora. Quer também dar ordens; isso veremos... PAULINA (aparecendo à porta) - Hei de mandar e hei de mandar, tenho dito! (Sai.) FABIANA (arrepelando-se de raiva) - Hum! Ora, eis aí está para que se casou meu filho, e trouxe a mulher para minha casa. É isto constantemente. Não sabe o senhor meu filho que quem casa quer casa... Já não posso, não posso, não posso! (Batendo com o pé:) Um dia arrebento, e então veremos! (Tocam dentro rabeca.) Ai, que lá está o outro com a maldita rabeca... É o que se vê: casa-se meu filho e traz a mulher para minha casa... É uma desavergonhada, que se não pode aturar. Casa-se minha filha, e vem seu marido da mesma sorte morar comigo... É um preguiçoso, um indolente, que para nada serve. Depois que ouviu no teatro tocar rabeca, deu-lhe a mania para aí, e leva todo o santo dia - vum,vum,vim,vim! Já tenho a alma esfalfada. (Gritando para a direita:) Ó homem, não deixarás essa maldita sanfona? Nada! (Chamando:) Olaia! (Gritando:) Olaia! Veja mais aqui e aqui.

AMOR, CARNAVAL E SONHOS – No Dia Nacional do Cinema Brasileiro, nada mais justo que trazer aqui a homenagem oportuna ao drama Amor, carnaval e sonhos (1972) dirigido pelo cineasta Paulo César Saraceni (1933-2012), conta a história que ocorre nas vésperas do carnaval, quando uma jovem suplica um milagre a uma santa de sua devoção: quer um rapaz com quem possa brincar durante a folia. E, quando todas as esperanças parecem perdidas, o milagre acontece; um malandro surge pela janela. A partir daí, o filme mostra dramas íntimos que se extravasam nos quatro dias de folia, tendo como pano de fundo o carnaval. O destaque do longa-metragem é nada mais nada menos que a grandiosa atriz Leila Diniz (1945-1972) que ao concluir as filmagens, faz a viagem que não tem volta e o país fica órfão desta grande mulher. Veja mais aqui e aqui

CONTANDO HISTÓRIAS - O Centro Acadêmico de Psicologia Martin-Baró (Capsi) realizará neste dia 11 de novembro, no horário das 17:30 às 19:30 hs, no adutirótio do curso de Direito do Centro Universitário Cesmac, o evento Conversas em Psicologia: contando histórias, que contará com a presença e apresentação de abordagem temática pelo psicólogo, psicoterapeuta e professor Afonso Henrique Lisboa Fonseca, e pela psicóloga e professora Daniela Botti da Rosa. Informações no Capsi Cesmac. Entrada: um livro infantil novo ou usado ou R$ 5,00. Certificação: 2 horas. Realização: Centro Acadêmico de Psicologia Martin-Baró, do Cesmac. Veja mais aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
A arte & as mulheres de Angeli.
Veja mais aqui.


Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do programa SuperNova, a partir das 21hs (horário de verão), com a apresentação sempre especial e apaixonante de Meimei Corrêa. Em seguida, o programa Mix MCLAM, com Verney Filho e na madrugada Hot Night, uma programação toda especial para os ouvintes amantes. Para conferir online acesse aqui .

CURSO DINÂMICO DE ORATÓRIA
Veja mais detalhes aqui.
 

sexta-feira, setembro 04, 2015

CHAUÍ, ARTAUD, BRUCKNER, INGRES, GUITRY, NOBRE, ANGELI & POLA RIBEIRO.

VAMOS APRUMAR A CONVERSA? COÁGULOS, COÁGULOS - Era uma vez. Era uma vez. Era uma vez duas três vezes, mais provável que nenhuma na inexistência do flagra do minuto preciso na minha vida inexata na hora em ponto! Era uma vez. Era uma vez. Era uma vez duas três vezes, mais provável que a justiça num pote encarcerada, mais provável que a remissão da lágrima na face lavada! Mais provável que nenhuma porque foi pingando na veia, escorrendo pela biqueira do peito, pela cumeeira dos sonhos evaporando desejos que findavam sangrando as ruínas do meu tempo! Do meu tempo caótico, do meu tempo patético, do meu tempo dilacerado! Eu escondo em meu peito as ruínas do meu tempo! Esse tempo apoliptico, megalomaníaco, irrespirável, fantástico de horror. Cheio de pantins, frescuras, teréns, loucuras!´Feito uma semente num invólucro das possibilidades improváveis no meio de flâmulas matemáticas de signos secretos e farsantes e alusões absurdas! Sou apenas dois braços de espera no suor redimido porque da morte já arrastei ferros e o mundo é apenas as minhas mãos enterradas no blusão, o sonho estiado e a alegria transferida para alhures. Em meu peito não cabe o pacto da pátria desfeita a terra acumulada e o homem obliterado a sujar as mãos na carne da terra e na paixão dos limites jamais alcançados pela ambição dos sentidos enquanto a lama da boca sugere traduzir amor, a boca de aço sugere traduzir amor engolindo desejos, sugere traduzir amor debulhando prazeres como o se o desejo esganasse miragens e é verdade porque o coração quer dizer verdades ou meias e não sabe o que dizer diante dessa tragédia toda. Em meu peito não cabem jamais as síndromes da China, dos afegãos, dos bancos e das cabeças! Não cabem as claques de merda pros oligopólios em alcatéias transnacionais com seu delirium-tremens do consumo no meio de uma economia falida emergindo sobre o sangue dado como aquele da escravaria açucarocrata que adoçava e adoça a boca dos festeiros enquanto a minha dor desmedida, enquanto a minha dor comungada é repisada e vira graúda criando coágulos por todo o meu corpo! E que me esfolem e me esganem pelos metros profundos dos infernos dessa terra porque mesmo assim ainda continuo a erguer cantos sobre este mundo porque das torneiras citadinas jorram sangue inocente adubados nas terras perdidas por hectares infames que só afugentam quem dela vive e morre de fome no meio de outro sonho perdido na pulsação das turbinas e outra coisa com uma marcha escabrosa de botas que guardam o patrimônio dos ricos com lesões homicidas quando outro é o meio do meio-dia e a indigência e outras são as pastilhas de carbono e o frio asfixiante da febre. Já nada é suportável neste tempo de lama e podridão e nada vale a pena e vale a pena tragar o hálito dos alicates grosseiros e compartilha da fome dos órfãos de El Salvador e da dor das mães da Praça de Mayo e dos flagelados da seca e da exclusão social do Brasil mundializado para furor inadimplente de assalariados e estornados das promessas não cumpridas de todas as políticas de mentira! Avante pra onde? Já não mendigo a vida pelos infortúnios, mazelas, porqueiras nem a devoção cega das crenças mutiladas nem da vil matéria lânguida e escassa espremida no dia-a-dia sarcófago de totens de sempre e tabus de nada! Eu vou com meu corpo cheio de holocaustos e cataclismos e o punhal da vida me avassala e maldigo a terra ficam as sombras vãs que atormentam minha sanidade e os meus desejos remendados na alegria mal-assada com os recheios fugazes que findam na dor, mas se a dor não traz nada, parafraseando Gregório, é porque enfim leva tudo e deixa a mão espalmada ao jugo da palmatória da vida! Eu vou com a chuva que explode lá fora onde a cidade sustenta seus fantasmas que pulam nas praças ruas avenidas e becos e bares e vidas sem no entanto se furtarem a pelo menos aprumarem a vida dos seus fiéis lambe-botas enquanto eu me embriago na chuva coletando os segredos dos rios com sua correnteza mansa escondendo o alvoroço do fundo e tudo encharca o meu país enxaguando essa terra embebida de sangue e suor, enxertada de sangue e suor e se dana como uma pólvora guardada no peito com o mísero crepúsculo que traz a noite e a vida já se foi pela janela e só resta cigarro e bebida e a loucura de se embriagar engolindo a ocasião inteira! Era uma vez.  Era uma vez duas três vezes. mais provável que nenhuma na sóbria ou na lúcida vontade de se perder na metafísica do espaço no meio da prismática reluzência da catarse e na carismática inocência da poesia úmida lavando a estatística do cansaço que só consegue seguir aonde vai dar dali pra diante no ignoto mudo da urdidura do vácuo. Era uma vez. Era uma vez duas três vezes, mais provável que nenhuma e sobre este mundo erguer cantos, sim! Em meu canto há minha maldição, eis o meu suor, a minha maldição: as lajes, a comunhão, o inusitado, o paradoxal, o álcool, o beijo molhado, o adeus, o agasalho, a mão meiga, a dor amedrontada, a culatra, a pulsação, o medo e a agonia. Assim me foi concedido. (Coágulos, coágulos, Luiz Alberto Machado. Primeira Reuniã. Recife: Bagaço, 1992). Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.


Imagem: The source (A fonte – óleo sobre tela, 1820-1855), do pintor e desenhista Romantismo francês Dominique Ingres (1780-1867). Veja mais aqui.


Curtindo a Symphony Nº 6 (EMI GROC), do compositor austríaco Anton Bruckner (1824-1896),c om a New Philharmonia Orchestra & Otto Klemperer & lendo O menestrel de Deus – Vida e obra de Anton Bruckner (Algool, 2009), do jornalista e crítico musical Lauro Machado Coelho.

MITO FUNDADOR – O livro Brasil, mito fundador e sociedade autoritária (Fundação Perseu Abramo, 2000), da filósofa e educadora brasileira Marilena Chauí, trata de fé e orgulho, a nação como semióforo, o verdeamarelismo, o centenário, o mito fundador, entre outros assuntos. Da obra destaco o trecho: [...] Ao falarmos em mito, nós o tomamos não apenas no sentido etimológico de narração pública de feitos lendários da comunidade (isto é, no sentido grego da palavra mythos), mas também no sentido antropológico, no qual essa narrativa é a solução imaginária para tensões, conflitos e contradições que não encontram caminhos para serem resolvidos no nível da realidade. Se também dizemos mito fundador é porque, à maneira de toda fundatio, esse mito impõe um vínculo interno com o passado como origem, isto é, com um passado que não cessa nunca, que se conserva perenemente presente e, por isso mesmo, não permite o trabalho da diferença temporal e da compreensão do presente enquanto tal. Nesse sentido, falamos em mito também na acepção psicanalítica, ou seja, como impulso à repetição de algo imaginário, que cria um bloqueio à percepção da realidade e impede lidar com ela. Um mito fundador é aquele que não cessa de encontrar novos meios para exprimir-se, novas linguagens, novos valores e idéias, de tal modo que, quanto mais parece ser outra coisa, tanto mais é a repetição de si mesmo. Insistimos na expressão mito fundador porque diferenciamos fundação e formação. Quando os historiadores falam em formação, referem-se não só às determinações econômicas, sociais e políticas que produzem um acontecimento histórico, mas também pensam em transformação e, portanto, na continuidade ou na descontinuidade dos acontecimentos, percebidos como processos temporais. Numa palavra, o registro da formação é a história propriamente dita, aí incluídas suas representações, sejam aquelas que conhecem o processo histórico, sejam as que o ocultam (isto é, as ideologias). Diferentemente da formação, a fundação se refere a um momento passado imaginário, tido como instante originário que se mantém vivo e presente no curso do tempo, isto é, a fundação visa a algo tido como perene (quase eterno) que traveja e sustenta o curso temporal e lhe dá sentido. A fundação pretende situar-se além do tempo, fora da história, num presente que não cessa nunca sob a multiplicidade de formas ou aspectos que pode tomar. Não só isso. A marca peculiar da fundação é a maneira como ela põe a transcendência e a imanência do momento fundador: a fundação aparece como emanando da sociedade (em nosso caso, da nação) e, simultaneamente, como engendrando essa própria sociedade (ou a nação) da qual ela emana. É por isso que estamos nos referindo à fundação como mito. O mito fundador oferece um repertório inicial de representações da realidade e, em cada momento da formação histórica, esses elementos são reorganizados tanto do ponto de vista de sua hierarquia interna (isto é, qual o elemento principal que comanda os outros) como da ampliação de seu sentido (isto é, novos elementos vêm se acrescentar ao significado primitivo). Assim, as ideologias, que necessariamente acompanham o movimento histórico da formação, alimenta-se das representações produzidas pela fundação, atualizando-as para adequá-las à nova quadra histórica. É exatamente por isso que, sob novas roupagens, o mito pode repetir-se indefinidamente. [...] Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

O ESPELHO – O conto O espelho (Cultrix, 1958), do ator, cineasta e escritor russo radicado na França Sacha Guitry (1885-1957), segue transcrito: Esta aconteceu na China. Um chinês preparava-se para ir ao mercado, que fica a alguns dias de viagem. Está anoitecendo. O chinês despede-se da mulher. — Até à volta, Mel de Crisântemo. Que quer que lhe traga do mercado? — Eu queria um pente. — Um pente? Está bem. Mas eu tenho que comprar tanta coisa, como é que me vou lembrar? — Não precisará mais do que olhar para a lua. Veja: a lua é crescente. Pois bem, o pente que eu quero é exatamente da forma da lua crescente. — Até à volta. E o chinês parte. Chega ao mercado. Faz suas compras. Terminando-as, já bem tarde, lembra-se da promessa, mas não se lembra muito bem do objeto desejado pela mulher. Encontra-se, nesse momento, junto de um mercador e lhe diz: — Pois veja só: prometi levar um presente a minha mulher, mas não me lembro mais o que foi. Ah! sim, espera. Estou-me lembrando agora que ela me disse para olhar a lua. — Olhe, é lua cheia. (A lua, que estava no seu primeiro quarto no dia da partida do chinês, agora era cheia). — Deve ser um objeto redondo. E o chinês compra um espelho, paga-o, faz um pacote e põe-se a caminho para a volta. Ao chegar em casa, diz-lhe a mulher: — Bom dia, meu marido. Trouxe-me o que eu lhe pedi? — Naturalmente. Aqui está. E o chinês dá o pacote à mulher, que apressadamente o abre. Essa mulher nunca tinha visto um espelho. E vendo nele um vulto de mulher, fica indignada: — Meu marido, comprou outra mulher! E Mel de Crisântemo chora todas as lágrimas de seu pequenino coração. Os seus olhos chamam a atenção de sua mãe. — Ah! mamãe, mamãe — grita ela. — Venha ver. Meu marido trouxe para casa outra mulher. A mãe toma o espelho, olha-o e diz à filha: — Fica sossegada: é tão velha e tão feia! Veja mais aqui.

ELEGIA & SONETO, QUANDO CHEGAR A HORA – No livro Só (1892), do poeta português António Nobre, encontro inicialmente o poema Quando chegar a hora: Quando Chegar a Hora / Quando eu, feliz! morrer, / ouça, Sr. Abbade, Ouça isto que lhe peço: / Mande-me abrir, alli, uma cova / À vontade, / Olhe: eu mesmo lh'a meço... / O coveiro não poderá fazer sempre tão baixas... O não poderá ir: / Diga ao moço, que tem a pratica das sachas, / Que m'a venha elle abrir. / E o sineiro que, em vez de dobrar a finados, / Que toque a Aleluia! / Não me diga orações, que eu não tenho peccados: / A minha alma um dia! / Será meu confessor o vento, e a luz do raio / A minha Extrema-Unção! / E as carvalhas (chorae o poeta, encommendae-o!) / De padres farão. / Mas as aguias, um dia, em bando como astros, / Virão devagarinho, E hão-de exhumar-me o corpo e leval-o- de rastros, / Em tiras, para o ninho! / E ha-de ser um deboche, um pagode, o demonio, / N'aquelle dia, ai! Aguias! sugae o sangue a vosso filho Antonio, / Sugae! sugae! sugae! Raro tão de comer. / A pobreza consome / As aguias, coitadinhas! / Ao menos, n'esse dia, eu matarei a fome / A essas desgraçadinhas... / De que serve, Sr. Abbade! o nosso pacto: / Não me lembrei, não vi / Que tinha feito com as aguias um contrato, / No dia em que nasci. Também o seu Elegia: Ó virgens que passais, ao sol poente, / Pelas estradas ermas, a cantar: / Eu quero ouvir uma canção ardente / Que me recorde as afeições do lar. / Cantai-me, n´essa voz omnipotente, / O sol que tomba, aureolando o mar, / A fartura da seara reluzente, / O vinho, a graça, a formosura, o luar! / Cantai, cantai as límpidas cantigas! / Das ruínas do meu lar desenterrai / Todas aquelas ilusões antigas / Que eu vi morrer n- um sonho como um ai... / Ó suaves e frescas raparigas, / Adormecei-me n´essa voz... Cantai! Por fim, o seu Soneto: Meus dias de rapaz, de adolescente, / Abrem a boca a bocejar, sombrios: / Deslizam vagarosos, como os Rios, / Sucedem-se uns aos outros, igualmente. / Nunca desperto de manhã, contente. / Pálido sempre com os lábios frios, / Ora, desfiando os meus rosários pios... / Fora melhor dormir, eternamente! / Mas não ter eu aspirações vivazes, / E não ter como têm os mais rapazes, / Olhos boiados em sol, lábio vermelho! / Quero viver, eu sinto-o, mas não posso: / E não sei, sendo assim enquanto moço, / O que serei, então, depois de velho. Veja mais aqui.

OS TEMAS DO TEATRO DA CRUELDADE – Na obra O teatro e o seu duplo (Martins Fontes, 1993), do poeta, ator, dramaturgo e diretor de teatro francês Antonin Artaud (1896-1948), o autor trata dos temas inerentes ao teatro da crueldade no seu primeiro manifesto: [...] Não se trata de arrastar o público com preocupações cósmicas transcendentes. Que haja chaves profundas do pensamento e da ação pelas quais se possa interpretar todo o espetáculo, não é coisa que diga geralmente respeito ao espectador que nem por tal se interessa. Todavia, tais preocupações têm de estar presentes; e, além disso, dizem-nos respeito. O ESPETÁCULO: Não haverá nenhum espetáculo que não contenha um elemento físico e objetivo, sensível a todos. Gritos, gemidos, aparições, surpresas, golpes de teatro de toda a casta, a beleza mágica do vestuário inspirada em certos modelos rituais. Resplendor da iluminação, beleza de sortilégio das vozes, sedução da harmonia, notas raras da música, cores dos objetos, ritmo físico dos movimentos cujo crescendo e decrescendo se conjugará com a pulsação dos movimentos familiares a todos, aparições concretas de objetos novos e surpreendentes, mascaras, manequins de vários metros de tamanho, alterações bruscas da luz, ação física da luz que suscita o calor e o frio, etc. A ENCENAÇÃO – É em torno da encenação, considerada não como um simples grau de refração dum texto sobre o palco, mas como o ponto de partida de toda a criação teatral, que se constituirá a linguagem típica do teatro. E é na utilização e na manipulação desta linguagem que se dissolverá a velha dualidade do autor e do encenador, substituídos por uma espécie de criador único a quem caberá a responsabilidade dupla do espetáculo e da ação. [...] Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

JARDIM DAS FOLHAS SAGRADAS - O drama O jardim das folhas sagradas (2011), dirigido pelo cineasta, comunicador e gestor público brasileiro Pola Ribeiro, com roteiro do diretor e Henrique Andrade, conta a história de um bancário negro e bissexual bem sucedido, casado com uma mulher branca e de crença evangélica. Ele vive na Salvador contemporânea e recebe a incumbência de montar um terreiro de candomblé no espaço urbano. Para isto, enfrentará a especulação imobiliária numa cidade de crescimento vertiginoso, preconceito racial e intolerância religiosa. Este homem, embora questione a tradição da própria religião, tem a missão de montar um ambiente sagrado e de respeito à natureza, superando as contradições e conflitos trazidos pela modernidade. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
Charge & capa do livro Os broncos também amam (L&PM, 2007), do chargista Angeli.


Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do programa Some Moments, a partir das 21hs, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação sempre especial e apaixonante de Meimei Corrêa & Verney Filho. E para conferir online acesse aqui.

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CRÔNICA DE AMOR POR ELA
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ROSA MECHIÇO, ČHIRANAN PITPREECHA, ALYSON NOEL, INDÍGENAS & DITADURA MILITAR

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som de Uma Antologia do Violão Feminino Brasileiro (Sesc Consolação, 2025), da violonista, cantora, compos...