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segunda-feira, agosto 15, 2022

IMRE KERTSZ, MAVIS GALLANT, VERONICA FRANCO, CHARLOTTE YONGE& CLODOALDO CARDOSO

 

Ao som do show Almério e Martins gravado ao vivo no Teatro do Parque, Recife, 21 de novembro de 2021.

 

TRÍPTICO DQP: Isso é aquilo ou outro...Ainda que não tivesse esperança da manhã eu saía porta afora e em cada esquina a implacável presença de dementadores prontos para devorar cada um dos passantes: a frieza das atitudes desumanas como gente que pulsa com a surdez na iminência letal, tão cegos quanto mudos de braços cruzados com a sua resignada covardia, seu raciocínio inútil de quem odeia por não saber amar e seu ar perfurador apagando palavras e emoções como quem mais odeia e eu precisava comiserar como nem sei. Precisava mesmo estar atento. E ao me esquivar do ataque deles, logo dei de cara com o hipogrifo de Ariosto: sabia, acenar ou correr – cara ou coroa, dá no mesmo. Nem me assustei porque já sabia dos Tetrálios para quem via constantemente a morte rondando cada vez mais perto. Mas, por via de dúvidas optei pela segunda, não podia correr mais risco e sabia que a vida não cabia num simples silogismo: se havia enigmas, nada tão factual que saber meu quarto verdadeiro simulacro de cela penitenciária. Precisava sair: um lugar qualquer de nenhum local, só para refrescar a ideia e lembrar que minha irmã sempre me tratou por palerma; a do meio, era tanto faz; e a caçula sequer entendia nada direito. E eu entre os horrores do museu do Terror de Budapest, ouvindo Imre Kertsz: Você sobrevive à sua falta de sensibilidade e compreende que o vazio do mundo é, de certa maneira, obra sua... Com o meu espanto diante do que dissera, acrescentou: A leitura é como que uma droga que confere um adorno agradável aos contornos da crueldade da vida... Ah, sim, e me serviu como uma alquimia revivificante ou bricolagem instantânea para animar meus passos assimétricos de quem quase claudica a se precipitar pelas horas abissais no meio da noite trágica, mesmo que fosse dia ensolarado, como se fosse um deus inapropriado anulado pela própria sorte da anárquica ousadia disso ou daquilo e era outro, nada mais e o ditado: cobra que não anda não engole sapo.

 


Antes que chegue amanhã... - Imagem da artista japonesa Tomoko Takahashi. - O acorde a corda olhos dum poema estival advenoite augurando: Não chegue amanhã, por favor, oh, não chegue. E era como se Charlotte Mary Yonge me dissesse: O erro que fazemos, é quando procuramos ser amados, em vez de amar. Ah se pelo menos o mundo eu tivesse um tiquinho de nada, não me atemorizaria com a fugacidade e descontinuidades. Mas não, como Candeia precisava se encontrar consigo e com o Sol, rios, pássaros, eu precisava das passagens excruciantes como se fosse Ulisses diante de Atena, sem precisar lançar mão do dolo diante dos secretos desesperos inconsoláveis, ou como um deus que dança a poetar que sou o tempo que me esfacela e me destroça feito um rio incendiado pelas chamas do tempo. Atrevo-me a abrir o trinco dos labirintos e eis que emerge Mavis Gallant: Decida o que o resto da sua vida é ser. Tudo o que você é agora, você pode ser para sempre. Mas como se a vida reduzida ao buraco da fechadura, porque aqui se matam sonhos, aqui se mata de tudo e todos: a gentrificação na festa apoplética dos ignorantes abastados sobre almas desgarradas. Antes que chegue a manhã eu preciso subir à superfície: a distância entre o que digo e sinto, a desvalorização humana, o ódio pelo amor e o fracasso humano, as filigranas da vileza inapelável sob o Sermão contra usurários de Gregório de Nissa, tudo algaravias pelo entardecimento.

 


A vertigem da deriva... Imagem do ilustrador britânico Tom Poulton (1897-1963) – Lá longe quase via a dança das Horas nuas. Ao chegar mais perto, não, não era: a vida prega das suas. E só muito depois quando a boca noite se fizera a primeira das moiras ali me chegou e era Cloto desnudadivosa como aquela do Querubim de Rops, a tomar das minhas mãos, ajeitando-se para beijar meu sexo e surpreendentemente entregar-se escancarada para meu prazer sobre a poltrona. Tão surpreso quanto curioso deixei-me levar e assim como veio se foi, o trâmite de um dia atrás do outro. Escapei por pouco, mas sabia envolvido de forma inescapável. Sim. Foi no outro dia de tarde, a segunda, Láquesis, achegou-se como aquela da jarra de Shuvalon: vasculhou minhas intimidades, despiu-se apressada para atrepar-se sobre meu ventre, voluptuosamente enlouquecida. E se ela espichou a minha vida, nada saberia. Até que na noite seguinte, a terceira, Átropo, puxou-me até sua alcova, arrancou-me as vestes e empurrou-me sob os cobertores para arranchar despida e de costas, tomando-me as mãos ao seio e deitando-se como aquela do Amor do Liber Tacuina Sanitatis. O que aprendi ali não sei para quem se eternizava no corte entre o previsto e a prevenção, era só o que restava. Até que dois dias depois apareceu a translúcida Veronica Franco: Quando nós também estamos armadas e treinadas, podemos convencer os homens de que temos mãos, pés e um coração como o seu; e embora possamos ser delicadas e macias, alguns homens delicados também são fortes; e outros, grosseiros e duros , são covardes. As mulheres ainda não perceberam isso, pois se assim o decidissem, poderiam lutar contra você até a morte; e para provar que falo a verdade, entre tantas mulheres, serei a primeira a agir, dando um exemplo para eles seguirem. E me enfrentou como a Hidra para geminiano que almejasse a lua inteira só para si, tão longe da repugnância humana e dos desapontamentos da memória longínqua da ruína e a pressentir ocasos sucessivos. Ela então se apossou de um enorme espelho, depôs ao chão e ajoelhou-se perante um jarro de flores a deslizar uma fita mágica. Pude então ver-lhe a intimidade escondida para entender que a vida e a morte não são duas, mas uma só e mútua experiência. Até mais ver.

 


[...] Educar significa utilizar práticas pedagógicas que desenvolvam simultaneamente razão, sensação, sentimento e intuição e que estimule a integração intercultural e a visão planetária das coisas [...] A aprendizagem integral depende, portanto, do desenvolvimento harmonioso de todos estes canais de relação homem-mundo [...] Isto porque a aprendizagem no sentido holístico não objetiva apenas capacitar o individuo para entender o funcionamento do mundo [...].

Trechos extraídos da obra A canção da inteireza: uma visão holística da educação (Summus, 1995), do filósofo e professor Clodoaldo Meneguello Cardoso. Veja mais Educação & Livroterapia aqui e aqui.

 



terça-feira, maio 31, 2016

HÄNDEL & MEGHAN LINDSAY, PAULINHO DA COSTA, MARY HACKETT, CASTAGNINO, STEVE HESTER, BONNEFOIT, RAUSCHENBERG, NINA MORAES & TRAMPO & QUINGUMBO & POESIA ESTADUNIDENSE

O SISIFISMO DA SEMANA - (Imagem: Arte de Nina Moraes & Trampo para o Projeto Arte Urbana, proposta cultural promovida pelo Sindicato da Industria e da Construção Civil do Rio Grande do Sul (SINDUSCON/RS) em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre, promovendo a humanização do meio ambiente urbano e, em especial, redesenhar o cenário urbanístico da cidade a partir da apropriação de tapumes de obras realizadas na capital como suporte para a arte urbana em 2009).- SEGUNDA – O dia internacional da ressaca é sui generis: embora seja dia de branco, é sempre de meia embreagem, bandeira a meio pau. No câmbio do corpo, passar da segunda marcha já é desembesto dos grandes, altíssima rotação. É só debreiando da primeira pra segunda e só, tudo desacostumado da puxada que foi o final de semana, com a aventura que começou na sexta, uma noite virada e que foi no embalo o sábado todo até se acordar só na tarde do domingo e aproveitar o restinho, pra só empurrar o trampo com a barriga, retornando a dieta, arrumando a beca, ajeitando a gola, conferindo o abanhado, sacada na braguilha e na algibeira para ver toda valia. Se vê direitinho, é o mais longo da semana, vez que se fica só nos ponteiros do relógio: dá meia noite, mas num chega nunca no final do expediente! TERÇA – É ir com tudo e com todo gás. Restaurado por uma noite pra lá de bem dormida, renovado, remoçado, está pronto pra briga: do pescoço pra baixo tudo é perna. É hora de começar a cobertura da cota, vai de cabeça que o mar não está pra peixe. Mergulha na resolução das broncas, seguindo à risca a agenda nunca cumprida. Dá uma afinada no fôlego e usa de todas as marchas, menos a de ré porque ninquem tá pra andar de costas. Segura o sopapo. QUARTA – O que foi adiado, vai ter de vigir. Inteiraço, manda ver mesmo. A orelha abanando com todas as pulgas feito vagalume pra levantar a lebre que der. Vale tudo: rasteira, cama-de-gato, quem tiver cardan que se aguente. Senão, tora na emenda. O foguete decolou desde ontem e a coisa está mais para fora de órbita que de costume. Vai administrando os catombos, não deixa o beiço cair na moleza que está na hora de sacudir a poeira, pegar a onda que não é pegadinha, é na vera e pode botar tudo a perder. QUINTA – O maior fuzuê: o que não deu até agora, vai ter que dar. Tem que fazer varredura, as coisas saíram do traçado. Tem de rearrumar a troçada pra deixar tudos nos trinques. Amanhã é o dia. Se não for dessa vez, fica tudo no desconforme. Então é hora de mira no alvo, afiando a pontaria, dando o bote e tentando pegar a ocasião pelos cornos que o bicho é brabo. SEXTA – Ufa! É hoje! Não adianta língua de fora, senão o pencó agarra e seja lá o que Deus quiser. É hora de pular na mola, dá um trato no topete, chamar na grande em riba da fivela, chô pros encostos num banho de sal grosso que o negócio tá todo enganchado. Afina a goela que o pódium da noite tá só esperando pra comemoração e pé na taboa. Segura o cabresto que o animal tá indomável, não deve deixar nada embirrar que tudo se esfola e fica só no couro cru. E haja remédio. Tem que dá uma saneada na tripa gaiteira pra num virar munganga na maior rebordosa. Pronto. Foi-se o dia. Agora é deixar rolar que a noite é olê olá e só segunda pra trabalhar. SÁBADO – Vixe! Emendado desde ontem até segunda de manhã, joga a conversa fora, monta na fuleragem de nem ver o tempo passar. É só o vira virar de não saber o que é de dia nem de noite, só na folga do cinturão. DOMINGO – Eita! Já? Nunca foi tão rápido o fim de semana, mas sempre é. Nem amanheceu e já é meio dia. É hora de se empanturrar de tudo que for quitute, lavagem e porqueira. Na primeira golada já findou a tarde com a trilha sonora da despedida da boa vida e do que foi o que era doce. Bota fé e ótima semana. Tudo de novo. E vamos aprumar a conversa e tataritaritatá! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.


Imagem: Nude in a briar patch, da artista visual Mary Addison Hackett.


Curtindo o álbum Breakdown (A & M 1987), do percussionista Paulinho da Costa, considerado pela revista Down Beat "um dos percussionistas mais talentosos do nosso tempo" e ganhador por três anos consecutivos Most Valuable Player Award, da National Academy of Recording Arts and Sciences.

PESQUISA
Tempo e expressão literária (Mestre Jou, 1970), do doutor em Letras e catedrático das universidades de Buenos Aires e La Plata, Raúl H. Castagnino. Veja mais aqui.

LEITURA 
Quingumbo: nova poesia norte-americana (Escrita, 1980), organizada por Kerry Shawn Keys, reunindo poetas como Allan Ginsberg, Sylvia Plath, Rbert Lowell, Lwrence Ferlinghetti, LeRoi Jones, Denise Levertov, Susan Musgrave, entre outros.

PENSAMENTO DO DIA:
Imagem: Time Travel by Steve Hester
[...] o homem contemporâneo traz dentro de si, inerente à sua realidade psicológica, tanto o tempo cíclico enraizado no inconsciente, que é a morada dos símbolos, mitos e arquétipos, como o tempo-sucessão, ideia que contem valores culturais históricos. Se o próprio existir, o estar no mundo, implica findamentalmente na idéia de tempo, de um tempo fracionado em finitude e infinitude, o existir de uma obra literária, pelas razões próprias de sua natureza ficcional, tem como matéria-prima o tempo, que também é a essência da memória.
Trecho de Tempo e antitempo na ficção, do professor, escritor e jornalista Luiz Toledo Machado (1927-2010).

IMAGEM DO DIA 
 Cena da soprano canadense Meghan Lindsay na ópera em três atos Alcina (HWV 34 - 1735), do compositor alemão naturalizado britânico Georg Friedrich Händel (1785-1759), baseada no poema épico Orlando furioso, do poeta italiano Ludovico Ariosto (1474-1533), com a Tafelmusik Baroque Orchestra de Toronto, sob a regência do maestro David Fallis. Veja mais aqui, aqui e aqui.

Veja mais sobre Brincarte do Nitolino, Prosérpina, Walt Whitman, Alessandro Bronzino, Richard Strauss, Gian Lorenzo Bernini, Francis Fergusson, Reinaud Victor, Charb, Diana Damrau, Sandrine Bonnaire & Mitologia Latina aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Arte do pintor, gravador e escultor Alain Bonnefoit.
Veja mais aquiaqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Arte do artista do Expressionismo Abstrato e Pop Art estadunidense Robert Rauschenberg (1925-2008). Veja mais aqui.
Recital Musical Tataritaritatá
Veja aqui.

terça-feira, janeiro 05, 2016

DESEJO, NIETZSCHE, ARIOSTO, ARETINO, TAUTOU, ÍBYS, PERSSON, KIKI SUDÁRIO & MUITO MAIS!!


CRÔNICA DE AMOR POR ELA: DESEJO - Foi nela que a canção se fez semente como o que brota da terra pro sabor de todas as satisfações. Foi dela que nasceu a canção: dos seus olhos brilhantes a me criar visões de tudo e de nada na mais plena paisagem de todas as belezas do mundo, a me dar o universo para que eu me embriague com seus olhares e me tenha cada vez mais cioso do seu encanto na minha fortaleza e esperança. Foi de suas faces boas de beijar todo dia e o dia todo pela maciez e requinte de beleza além de todas as mais mimosas coisas do mundo, que a canção se fez solfejo no dia. Foi dos seus lábios que beijam e me fazem refém de seu carinho no mais prazeroso hálito de perfume de todas as rosas, que a canção se fez compasso. Foi do seu beijo que me ensina todos os caminhos de ir e voltar para recolher a panaceia de todos os meus males e sofrimentos, que a canção se fez estribilho. Foi do seu riso ensolarado que ilumina a minha vida e me faz mais que refeito pronto para viver os desafios de toda a existência, a canção se fez refrão. Foi de sua boca abrasada e abraçadora de todas as volúpias que me recolhe do nada para ser-me inteiro na posse de todas as posses, que a canção se fez melodia completa para embalar a minha alma. Foi da sua voz que me encanta a alma e me alcança para fazer-me doce e mel no seu paladar, que a canção se fez harmonia na minha para cantar seus atributos generosos. Foi do seu jeito benévolo de me dar a fragrância do mundo com todas as diversões profusas e a se esforçar em reter minhas tresnoitadas indômitas de todas as premências e quedas, que a canção chegou à minha voz para ser plena aos seus ouvidos. Foi do seu coração de amada que me guarda errante solitário com todos os meus navios e naufrágios para eu navegar e dormir; foi do meneio dos seus ombros que me levam amiúde à devassidão impávida de devaneios do amor na sua sensualidade extrema; foi da sua aparição repentina com todos os encantos de céu e terra a me deixar a sua mercê para ajeitar o proposito do artífice na arte da poesia pra cantá-la todos os louvores e seus feitos pormenorizados nas entregas e lascívias. Foi dos seus seios que me abrigam além de maternal e me ilumina com as duas luas do seu decote augurando o amor eterno; foi dos seus braços com o abraço mais acolhedor onde tudo o que existe se torna real para que eu viva sem ter que ir tão longe além da sua entrega a me dar o mar de todas as ondas, o brilho de todas as estrelas, a queda de todas as cachoeiras e toda a festa de toda natureza. Foi do seu andar cativante de aprazível elegância a bulir com meu coração que se agiganta ao seu convite de seguir seus passos por todas as veredas do universo a cometer os versos mais audazes. Foi da candura dos seus movimentos de requintada beleza e pompa singular para júbilo das minhas querências de querer acariciar todos os seus pendores de bem-amada na maior experiência do amor. Foi da forma como encara a vida a vê-la revirada para que dê tudo certo mesmo que nada por satisfeito de tudo; foi dos seus sonhos de menina que alentam a maturidade de sua eterna infância quando me tem por menino travesso e virado da breca; foi das vestes que compõem sua indumentária cotidiana e me encanta a se ajeitar toda formosura de fêmea mais que gueixa na minha predileção; foi seu modo de me fitar com atenção e um não sei quê de perdão sempre guardado a cada desatino meu de maluco beleza; foi do pensar que tudo pode ser melhor e que há de haver uma forma de felicidade possível na vida; foi do agir muitas vezes sem ter que ficar repisando os erros de ontem e os acertos de nunca; foi da entrega, ah, sobretudo da entrega de sua alma e corpo na carne de quem nada detém as fantasias do seu inebriante jeito de gozar e dar prazer, a vê-la nítida e clara completamente arrebatada com minhas investidas ao se revelar a aproximação sensual dos nossos corpos com a turgência do meu sexo, as loas de nossas juras, o aranzel dos meus galanteios na minha poesia estupefata a desfrutar de sua graça e todos os amanheceres carentes e manhosos que guarda todas as minhas insônias selenitas. Foi por todos os entardeceres de ebriez erótica por todas as formas de me dar a vida com seu sexo quente; por todos os anoiteceres que me agasalha porque conhece o ardor da minha luxúria que atravessa a noite a buscar dos palpitantes aromas caprichosos da sua perfeita noite a oferecer o infinito e sou maior que a mim mesmo a devorar sua vastidão; por todos os madrugares dos seus prazeres nos leitos esplêndidos de todas as suas querências; e por todos os novos amanheceres com seus desejos intensos como quem tudo quer de novo outra vez e todas as vezes para dar-me a poesia e a canção que cantarei pro seu coração. (Luiz Alberto Machado. Veja mais aquiaqui, aqui, aqui e aqui).


PICADINHO


Imagem: Labandon Italian female nude, do pintor da Renascença italiana Piero Della Francesca (1415-1492). Veja mais aqui

 Curtindo a música Aqui Alagoas e o álbum Cabelo de Milho (Carambola, 2002), do violonista, cantor e compositor Ibys Maceioh. Veja mais aqui.

EPÍGRAFELes vertus sont à pied, le vice est à cheval, verso de um epigrama anônimo francês que se tornou proverbial por satirizar que as virtudes estão a pé e o vício está a cavalo. Veja mais aqui.

ESPÍRITO APOLÍNEO E DIONISÍACO – No livro A origem da tragédia (Guimarães, 1954), do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), destaco o trecho em que: Teremos dado um grande passo, e promovido o processo da ciência estética, quando chegarmos não só à indução lógica, mas também à certeza imediata, deste pensamento: a evolução progressiva da arte resulta do duplo caráter do espírito apolíneo e do espírito dionisíaco, tal como a dualidade dos sexos gera a vida no meio de lutas, que são perpetuas e por aproximações que são periódicas. Tais designações, fomos nós busca-las aos gregos. Foram eles quem tornou inteligível ao pensador o sentido oculto e profundo da concepção artística, não por meio de noções abstratas, mas com auxilio das figuras altamente significativas do mundo dos seus deuses. É, pois, às suas duas divindades das artes, a Apolo e a Dionisos, que se refere a nossa consciência do extraordinário antagonismo, tanto de origens como de fins, que existe no mundo grego entre a arte plástica ou apolínea e a arte sem formas ou musical, a arte dionisíaca. Estes dois instintos impulsivos andam lado a lado e na maior parte do tempo em guerra aberta, mutuamente se desafiando e excitando para darem origem a criações novas, cada vez mais robustas, para com elas perpetuarem o conflito deste antagonismo que a palavra arte, comum dos dois, consegue mascarar, até que por fim, devido a um milagre metafísico da vontade helênica, os dois instintos se encontrem e se abraçem para, num amplexo, gerarem a obra superior que está ao nosso tempo apolínea e dionisíaca – a tragédia ática. [...]. Veja aqui e aqui.

SÓROR FILOMELA – No conto Soror Filomela (Cultrix, 1962), do escritor do Modernismo nicaraguense Rubén Darío, destaco o trecho: - Já está feito, com todos os diabos! – rugiu o gordo empresário, dirigindo-se à mesinha de mármore onde o pobre Tenório afogava sua amargura no opalino corpo de absinto. O empresário, esse famoso Krau – não conhecia por acaso o seu soberbo nariz, uma joia de coral pintado de um ruivo alcóolico? – pediu o seu absinto com pouca água. Depois, enxugou o suor da teste e, dando um murro na mesa, que fez tremerem a bandeja e os copos, deu à língua: - Sabe, Barlet? Estive lá durante toda a cerimonia; presenciei tudo. Para dizer a verdade, foi uma coisa comovedora... a gente não é feita de ferro... Contou-lhe o que tinha visto: a bonita pequena, que era a joia de sua companhia, tomar o ver, sepultar a beleza num convento, professar, com o vestido escuro de religiosa, a vela de cera na mão branca. Depois os comentários daquela gente: - Uma cômica feito freira! Isto é difícil de engolir! Barlet – o namorado romântico – olhava o teto e bebia a pequenos goles. [...]. Veja mais aqui.

SONETO LUXURIOSO – Entre os Sonetos luxuriosos (Companhia das Letras, 2011), do poeta Pietro Aretino (1492-1556), destaco: I - Mais que sonetos este livro aninha, / Mais que éclogas, capítulos, canções. / Tu, Bembo ou Sannazaro, aqui não pões / Nem líquidos cristais e nem florinhas. / Marignan madrigais não escrevinha / Aqui, onde há caralhos sem bridões, / Que em cu ou cona lépidos dispõem- se / Como confeitos dentro da caixinha. / Gente aqui há que fode e que é fodida, / De conas e caralhos há caudal / E pelo cu muita alma já perdida. / Fode-se aqui com graça sem igual, / Alhures nunca assaz reproduzida / Por toda a jerarquia putanal. / Enfim loucura tal / Que até dá nojo essa iguaria toda, / E Deus perdoe a quem no cu não foda. Veja mais aqui, aqui e aqui.

TEATRO RENASCENTISTA – O poeta italiano Ludovico Ariosto (1474-1533), é autor da obra capital Orlando furioso (1516), epopeia feérica e tragicômica, publicada a principio em 40 cantos, acrescidos de outros seis posteriormente. Em Morgante (1481), os elementos do enredo cavalheiresco são pretexto para fazer como o povo, ridicularizando sua credulidade nas façanhas da gesta medieval. Em suas obras ele confessa suas inclinações pessoais para a vida familiar e meditativa, ironiza os costumes da época e exprime, ainda que sem rancor, seu descontentamento pelas espinhosas funções que lhe haviam destinado o cardeal Ippolito e o duque Alfonso. Suas comédias Os supostos (1509) e O necromante (1520), calcadas em Plauto e Terencio, tem o mérito de iniciar a assimilação convincente dos modelos clássicos ao ambiente da Renascença, constituindo a primeira manifestação relevante do gênero na Itália. Veja mais aqui, aqui e aqui.

UN LONG DIMANCHE DE FIANÇAILLES – O filme Un long dimanche de fiançailles (Amor Eterno, 2004), dirigido pelo cineasta e roteirista francês Jean-Pierre Jeunet, conta a história ocorrida após o fim da primeira guerra mundial, quando uma jovem aguarda notícias sobre seu noivo e fica sabendo que ele fez parte de um grupo de cinco soldados que, individualmente, provocaram a sua própria mutilação, para que deixassem a frente de batalha da guerra. Os cinco são condenados à morte pela corte marcial e, após serem levados para uma trincheira francesa, são deixados à morte no território existente entre o local em que estavam e a trincheira alemã. Apesar de todos serem considerados mortos pelo exército francês, ela acredita que ele está vivo e inicia, por conta própria, uma busca por pistas que confirmem isso. O destaque do filme fica por conta da atriz francesa Audrey Tautou. Veja aqui e aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
A arte de Maria Luisa Persson
Veja mais aquiaqui e aqui.

DEDICATÓRIA
A edição é dedicado à lindamiga e maravilhosa atriz, cantora e escritora Kiki Sudário. Veja aqui.

TODO DIA É DIA DA MULHER
Veja as homenageadas aqui.


quarta-feira, outubro 10, 2012

DIANE DI PRIMA, CHARLOTTE MARY YONGE, GARY SNYDER, VERONICA FRANCO, RUBIÃO, BOVARY & LITERÓTICA

 Quem ama persegue o alcandor e segue adiante o alvo da paixão...

 

[...] O coração de Ema palpitou, quando o seu cavalheiro lhe pegou a mão, pela ponta dos dedos, e colocou-se em linha, esperando o sinal de partida [...] logo, desapareceu a comoção e balouçando-se ao ritmo da orquestra, deslizou para frente com ligeiros movimentos de pescoço. O sorriso assomava-se aos lábios... [...] Entretanto, como a luz das velas o ofuscava ele se voltava para a parede e adormecia, ela escapulia então retendo o fôlego, sorridente, palpitante, nua [...] E voltaram para se beijar ainda, foi então que ela lhe prometeu a achar um pretexto qualquer, a ocasião permanente de se verem em liberdade, ao menos uma vez por semana [...] atraída para o homem pela ilusão da personagem, ela tentou imaginar a sua vida, essa vida retumbante, extraordinária, esplêndida, e que poderia ter sido a sua se a sorte o tivesse querido. Eles ter-se-iam conhecido, ter-se-iam amado! Com ele, por todos os reinos da Europa, ela teria viajado de capital em capital, partilhando-lhe as fadigas e os triunfos, colhendo as flores que lhe arremessavam, bordando-lhe ela própria os seus fatos de cena; depois, todas as noites, no fundo de um camarote, atrás da grade com a sua rede de ouro, teria recolhido, boquiaberta, as expansões dessa alma que cantaria só para ela; da cena, enquanto representava, ele olharia para ela. Mas uma alucinação apoderou-se de Emma; o cantor estava realmente com os olhos postos nela. Sentiu ânsias de correr para os seus braços e refugiar-se na sua força, como na própria encarnação do amor, e de lhe dizer, de lhe gritar: «Arrebata-me, leva-me, partamos! Para ti, para ti todos os meus ardores e todos os meus sonhos [...] Ema trinchava, servia-o, fazendo toda espécie de pieguices, e ria-se com riso sonoro e libertino quando a espuma do champanhe lhe transbordava do copo para os anéis que lhe enfeitavam os dedos. Estavam tão completamente perdidos na posse de si mesmos, que se julgavam já na sua própria casa, onde deveriam viver até a morte, como dois eternos noivos. Diziam “o nosso quarto, o nosso tapete, as nossas poltronas” e Ema chegava mesmo a dizer “os meus chinelos”, uma prenda de Léon, uma fantasia que ela tivera. [...] Quando ela sentava nos joelhos dele, a perna ficava-lhe batendo e o chinelinho se sustinha apenas nos dedos do pezinho nu. Léon saboreava pela primeira vez a inexprimível delicadeza das elegâncias femininas. Nunca encontrara aquela graça de expressões, aquela reserva de vestuário, aquelas atitudes de pomba meio adormecida. Admirava-lhe a exaltação da alma e as rendas do vestido. Além disso, não era ela uma mulher da sociedade, uma mulher casada, uma verdadeira amante, enfim? Pela diversidade de seu caráter, alternativamente mística ou alegre, faladora, taciturna, arrebatada, indolente, despertava-lhe mil desejos, evocando instintos ou reminiscências. Ema era apaixonada de todos os romances, a heroína de todos os dramas, a vaga ela de todos os volumes de versos. Achava-lhe nos ombros a cor de âmbar da odalisca no banho; tinha colete pontiagudo das castelãs feudais; assemelhava-se também à mulher pálida de Barcelona, mas era sobretudo anjo! [...] Ela se prometia continuamente, na próxima viagem, uma felicidade profunda; depois se confessava não sentir nada de extraordinário. Esta decepção voltava para ele – mais inflamada, mais ávida. Despia-se brutalmente, desatava o fino cordão do colete, que lhe sibilava como uma cobra rastejando em volta dos quadris. Ia no bico dos pés nus ver mais uma vez se a porta estava fechada, depois, com um só gesto, deixava cair ao chão toda a roupa; e, pálida, sem falar, séria, cingia-o ao peito, com um prolongado estremecimento... [...]

MADAME BOVARY – Na tradução de Araújo Nabuco, a obra foi inspirada em um caso de adultério seguido do suicídio da mulher, começando a sair em 1856 na Revue de Paris e foi publicado em livro em 1857. A obra acarretou ao autor um processo por ofensa à moral pública e religiosa. No julgamento perguntaram-lhe quem teria sido o modelo, tal a veracidade da personagem. Sua resposta foi histórica: “Madame Bovary sou eu”. O romance é considerado o mais importante da literatura francesa. Também se tornou o primeiro romance realista da história universal. O livro nos conta a história de Emma, uma jovem simples do interior da França, casada com o Dr. Carlos Bovary. No casamento, ela se queixava de não sair a lugar algum e também de nunca ter ido a um baile. Um dia ela conhece o Sr. Leon Dupuis, escrevente da cidade, que logo no jantar de boas vindas já dava sinais de flerte com ela. Depois, Rudolfo Boulauger, dono de uma grande propriedade denominada de La Fouchantte, que era jovem e ostentava uma riqueza e um patrimônio gigantesco. Após animada conversa, ambos subiram até o primeiro andar da prefeitura, lá passaram a dialogar e nesse cenário se deu o primeiro beijo. Ema enfim trairia Carlos. A história prossegue e muitos acontecimentos ocorrem.

GUSTAVE FLAUBERT – Nascido em Rouen, França, a 12 de dezembro de 1821, faleceu em Croisset, perto de Rouen, a 8 de maio de 1880. Filho de um cirurgião, Flaubert cresceu entre todas as misérias humanas, delas só se afastando ao ingressar no colégio Real, onde foi tomado de entusiasmo e encantamento pela poesia, pelas reconstituições históricas e pelos romances. Aos 15 anos apaixonou-se por Elisa Schlésinger, casada, com um filho e 15 anos mais velha que ele. A paixão acompanhou-o toda a vida, inspirando, anos depois, uma literatura romântica, entremeada de confissões melancólicas. Publicou vários livros, entre eles Salambô, romance histórico sobre a queda de Cartago, seguindo-se de Educação Sentimental, A Tentação de Santo Antonio, A Lenda de São Julião Hospitaleiro, Heródias, Um Coração Simples, entre outros.  FONTE: FLAUBERT, Gustave. Madame Bovary. São Paulo: Abril Cultural, 1979. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

 

A CHEGADA DELA, ELERÓTICA - Naquela noite ela chegou com seu vestido curto colado à pele, expondo a gostosura de sua geografia exaltada: seios fartos, coxas expansivas, bico do sexo à mostra, nada por baixo das vestes. E logo se aproximou com suas mãos pedintes como se eu fosse Rogério para sua salvação Angélica de Ingres no Orlando de Ariosto. Tão inquietante quanto sedenta descobriu meu sexo potente e espalmado sob suas carícias. Aproximou-se e mais chegou ofegante, ajoelhando-se vestal impudica com carícias no meu membro já exposto aos seus meneios. Alisados manuais mais dilatavam minha tesão com seus beijos à glande e a dizer que se parecia um coração, para mais friccioná-lo às lambidas insinuadas como se fosse o morango mais apetecido. E mais abocanhou com a língua inquieta a chamuscar todo meu engrandecimento e mais sobejou até quase ápice, a se deixar desmaiar com zis ereções arriando ao chão, lindeza estirada quase nua e tudo à mostra, como se fosse repasto ofertado em minha comemoração. Levantei-me, alisei os seus pés, deitei minha face entre suas pernas e rocei meus lábios por toda sua pele, pernas, coxas, até sentir o cheiro da sua intimidade majestosa servida. Acariciei seu púbis, beijei seu ventre e invadi sua reclusa língua solta para alcançar a sua profundidade corporal, até vê-la totalmente entregue animicamente. Aos gritos de prazer da sua plena volúpia, revirou-se deitada ao chão e, de bruços, ofereceu-me seus glúteos, a maçã cobiçada que saboreei penetrando-a em riste e dela murmúrios obscenos jamais ditos a clamar que a cavalgasse égua louca e mais se escancarava seu ser num remexido galopante exposta e pronta para o domínio por inteiro da minha posse ali efetivada. E se permitiu invadida enquanto mordia seus ombros arrepiados e mais ultrajada para que roçasse a nuca e a fizesse minha completamente desvairada. Mais fizesse, mais admitia que a torturasse com o látego do meu prazer pecaminoso, a se fazer escrava consentida para que eu lhe desse todas as estocadas do pleno poder e que a fizesse prostituída por minha sanha selvagem e priápica, mais pedia e rogava por Deus e todas as crenças que dali jamais saísse nem me afastasse, a se sentir atravessada pela minha gula e crucificada por meu gozo estabanado, realizando-nos na odisseia de nossa sofreguidão mais que resoluta, mais que desejada. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo, aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Precisamos mudar nossa sociedade, nosso estilo de vida, e para isso precisamos de novos valores e normas que acompanham e orientam-nos dessa maneira... Pense como uma montanha... Pensamento do filósofo e ecologista norueguês Arne Næss (1912-2000). Veja mais aqui.

 

ALGUÉM FALOU: A fêmea é fértil, e a disciplina (contra naturam) só a confunde... Pensamento do poeta, tradutor, linguista, mitólogo e antropólogo estadunidense Gary Snyder, autor do poema O que você devia saber para ser poeta: tudo que puder sobre animais como pessoas. / nomes de árvores e flores e ervas daninhas. / nomes de estrelas, e o movimento dos planetas / e da lua. / seus próprios seis sentidos, com uma mente atenta e elegante. / pelo menos um tipo de mágica tradicional: / adivinhação, astrologia, o livro das mudanças, o tarô; / sonhos. / os demônios ilusórios e os deuses reluzentes e ilusórios; / beijar o cu do demo e comer merda; / foder seu pau farpado e tarado, / foder a bruxa, / e todos os anjos celestiais / e donzelas perfumadas e douradas — / & então amar o humano: esposas maridos / e amigos. / brincadeiras infantis, quadrinhos, chiclete, / a maluquice da propaganda e da TV. / trabalho, longas horas de trabalho chato engolido e aceito / e vivido e enfim amado. / cansaço, fome, descanso. / a liberdade selvagem da dança, êxtase / silente e solitária iluminação, ênstase / perigo real. apostas. e o gume da morte.

 

OUTRA QUE FALOU: O sucesso só pode ser medido em termos de distância percorrida. Pensamento da escritora canadense Mavis Gallant (1922-2014). Veja mais aqui e aqui.

 

PIROTÉCNICO ZACARIAS – [...] Uma coisa ninguém discute: se Zacarias morreu, o seu corpo não foi enterrado. A única pessoa que poderia dar informações certas sobre o assunto sou eu. Porém estou impedido de fazê-lo porque os meus companheiros fogem de mim, tão logo me avistam pela frente. Quando apanhados de surpresa, ficam estarrecidos e não conseguem articular uma palavra. Em verdade morri, o que vem ao encontro da versão dos que creem na minha morte. Por outro lado, também não estou morto, pois faço tudo o que antes fazia e, devo dizer, com mais agrado do que anteriormente. [...]. Trecho extraído da obra Pirotécnico Zacarias (Companhia das Letras, 2006), do escritor, advogado, professor e jornalista Murilo Rubião (1916-1991). Veja mais aqui e aqui

 

CADEIA DE MARGARIDAS, ASPIRAÇÕES – [...] E, para seu pai, parecia que era um pensamento caseiro e confortável para ele, que sua mãe tinha um de seus filhos com ela. Ele a chamou de o primeiro elo de sua Daisy Chain desenhado fora de vista; e, durante os dias tranquilos que se seguiram, ele parecia estar acima da dor, permanecendo na esperança. [...] Os desastre desse dia desanimaram e desconcertaram Etheldred. Fazer mal onde ela mais desejava fazer o bem, lamentar onde desejava confortar, parecia ser seu destino; era inútil tentar qualquer coisa para o bem de alguém, enquanto todos os seus sentimentos calorosos e altas aspirações eram frustrados pelas mãos desajeitadas e desajeitadas e olhos desatentos que a Natureza lhe dera. Nem o dia seguinte, sábado, fez muito pelo seu conforto, dando-lhe a companhia de seus irmãos. O fato de ser o aniversário de dezesseis anos de Norman parecia apenas piorar as coisas. O pai deles aparentemente tinha esquecido, e Norman parou Blanche quando ela ia lembrar dele; deteve-a com um olhar que a criança jamais esqueceria, embora não houvesse raiva nele. […]. Trechos extraídos da obra The Daisy chain, or Aspirations (Nabu, 2011), da novelista britânica Charlotte Mary Yonge (1823-1901).

 

A PRÁTICA DA EVOCAÇÃO MÁGICA - eu sou uma mulher e meus poemas / são de mulher: fácil dizer / assim. / a fêmea é dúctil / e / (golpe após golpe) / criada para uma calma / masoquista. / O nervo amortecido / faz parte dela: / sexo acordado, retina morta / olhos de peixe; / na raiz do cabelo / abalo mínimo / e a arquitetura funcional pélvica / por dentro & por fora atacada / (dá à luz) a boceta se alarga / e meio molhada / só dá à luz filhos homens / a fêmea / é dúctil / mulher, um véu pelo qual a Vontade dedada é / duas vezes rasgada / duas vezes rasgada / por dentro & por fora / o fluxo / qual ritmo dar à inércia / qual elogio? 2 DE NOVEMBRO DE 1972 (para Ezra Pound) - lembro que te visitei / em “St. Liz” / sua fala civilizada; os delírios dos loucos ao seu redor / você me deu comida roubada quando eu partia / dizendo “forrem esses estômagos” / dizendo “poetas têm que comer” / e me levou gentilmente à sua porta / e esperou que o vigia a destrancasse. Poemas da poeta estadunidense Diane di Prima (1934-2020). Veja mais aqui.

 

Imagem: La chanson de Chérubin, do pintor, desenhista, litógrafo e gravurista belga Felicien Rops (1833-1898), Veja mais aqui e aqui.

 

EM LUTA PELO AMOR, BELEZA PERIGOSA – O drama biográfico Dangerous Beauty (1998), dirigido pelo cineasta estadunidense Marshall Herskovitz é baseado na obra The Honest Courtesan: Veronica Franco, Citizen and Writer in Sixteenth-Century Venice ( University of Chicago Press, 1993), da escritora italiana Margaret F. Rosenthal, conta a história da vida da poeta e cortesã italiana Veronica Franco (1546-1591), que era conhecida por sua notável clientes, sua advocacia feminista, afora contribuições literárias e filantropia. Entre as obras da poeta estão Terze rime e sonetti (1575), contendo 18 epístolas em versos por ela e 7 por homens escrevendo em seu louvor. Outra obra sua é Lettere familiari a diversi (1580), que incluía 50 cartas, bem como dois sonetos dirigidos ao rei Henrique III, da França. Ela se tornou uma heroína para sua cidade, mas depois se torna alvo de uma inquisição da Igreja por bruxaria. Literariamente ela havia desenvolvido sua obra em formato de desafios, mas ela acredita que o seu amado lhe oferecerá paz depois de um duelo que vai lutar com armas tradicionais. Segundo o artigo Veronica Franco Y su Tenzone con Maffio Venier (Mujeres En La Literatura, 2009), de Isabel Parga, a respeito deste duelo: Veronica se diverte propondo tenzone, exasperando a crueldade dramática em descrever o seu desenvolvimento imaginário, mostrando agressividade. A tenzone é um jogo de amor que termina sem vitória para qualquer um dos dois amantes. Pois a poeta foi ofendida pelo amante: Não há mais palavras! Às ações, ao campo de batalha, às armas! / Pois, resolvido a morrer, quero me libertar / de tão impiedosos maus tratos. / Devo chamar isso de desafio? Eu não sei, / já que estou respondendo a uma provocação; / Mas por que devemos duelar com palavras? / Se quiser, digo que você me desafiou; / se não, eu desafio você; Eu tomarei qualquer rota, / e qualquer oportunidade me convém igualmente bem. / A sua escolha é a escolha do lugar ou das armas, / e farei a escolha escolhida; / Em vez disso, que ambos sejam sua decisão. / Ao mesmo tempo, tenho certeza, você vai perceber / quão ingrato e sem fé você foi / e com que injustiças você me traiu. / E a menos que minha fúria cai em amor esmagador, / com essas mesmas mãos, com toda a ousadia, / rasgue seu coração vivo do seu peito. Várias de suas frases tornaram-se imortalizadas ao longo do tempo: Vira mais uma página da sua vida e não se incomoda. Isso só quer dizer que seu livro será mais grosso do que de muita gente. Mais páginas, mais conteúdo, mais experiências, mais vida. Isso não é ruim se for olhado do ponto de vista certo. Crescimento, amadurecimento, você está sendo preparada para a vida que Deus tem pra você. Todos os seus sonhos só podem ser vividos por uma pessoa forte, determinada, inteligente, sábia... Tudo isso e muito mais está sendo escrito nessas muitas páginas, muita das vezes com lágrimas, eu sei. Sei também que esse livro vai ter um fim, um lindo e maravilhoso fim como você merece... Tão doce e deliciosa eu me torno, quando estou na cama com um homem que, eu sinto, ama e me aprovei, que o prazer que trago desse lugar, então o nó de Amor, por mais apertado, parecia antes, está amarrado ainda... O filme foi estrelado pela atriz britânica Catherine McCormack.

 

Imagem: Amantes, jarra de vinho em cerâmica, pintor de Shuvalov, sec. V aC.

 

SERMÃO CONTRA USURÁRIOS - Talvez dês esmolas. Mas, de onde as tiras, senão de tuas rapinas cruéis, do sofrimento, das lágrimas, dos suspiros? Se o pobre soubesse de onde vem o teu óbulo, ele o recusaria porque teria a impressão de morder a carne de seus irmãos e de sugar o sangue de seu próximo. Ele te diria estas palavras corajosas: não sacies a minha sede com as lágrimas de meus irmãos. Não dês ao pobre o pão endurecido com os soluços de meus companheiros de miséria. Devolve a teu semelhante aquilo que reclamaste e eu te serei muito grato. De que vale consolar um pobre, se tu fazes outros cem? Sermão atribuído ao teólogo e escritor capadócio Gregório de Nissa (330-395).

 

AS MOIRAS & AS HORAS - As moiras na mitologia grega eram as três irmãs que determinavam o destino, tanto dos deuses, quanto dos seres humanos. Eram três mulheres lúgubres, responsáveis por fabricar, tecer e cortar aquilo que seria o fio da vida de todos os indivíduos. Durante o trabalho, as moiras fazem uso da Roda da Fortuna, que é o tear utilizado para se tecer os fios. As voltas da roda posicionam o fio do indivíduo em sua parte mais privilegiada (o topo) ou em sua parte menos desejável (o fundo), explicando-se assim os períodos de boa ou má sorte de todos. As três deusas decidiam o destino individual dos antigos gregos, e criaram Têmis, Nêmesis e as erínias. Elas pertenciam à primeira geração divina (os deuses primordiais), e assim como Nix, eram domadoras de deusas e homens. As Moiras eram: Cloto, fiar, que segurava o fuso e tecia o fio da vida, deusas dos nascimentos e partos. Láquesis, sortear, puxava e enrolava o fio tecido e sorteando o quinhão de atribuições que se ganhava em vida. Por fim, Átropos, afastar, ela cortava o fio da vida, determinando o seu fim. As Horas era um grupo de deusas que presidiam sobre as estações do ano e originalmente eram três: Eunomia, representa a legalidade, a boa ordem, as leis cívicas; Irene representa a paz e Dice representa a justiça. Posteriormente, o número de Horas passou de três a nove, dez ou doze deusas guardiãs da ordem natural, do ciclo anual de crescimento da vegetação e das estações climáticas anuais.

 

LIBER TACUINA SANITATIS – O liber Tacuina Sanitatis é um livro medieval sobre o bem-estar, baseado nas Tábuas da Saúde, um tratado médico árabe de Ibn Butlan, com várias versões latinas e manuscritos profusamente ilustrados, tornando-se mais que um herbário que inclui amplas seções sobre respiração, exercício, descanso e saúde mental.

 

ORLANDO FURIOSO (fragmento)– [...] Damas e paladis, armas e amores, / As cortesias e façanhas canto / Do tempo em que o mar d’Africa os rigores / Dos mouros trouxe, e França esteve em pranto, / Ira os movia e juvenis furores / De Agramante seu rei, disposto a tanto / Que ousou vingar a morte de Troiano / Em Carlos, rei e imperador romano / De Orlando, ao mesmo tempo, direi eu / O que nunca se disse, em prosa ou rima, / Que o amor o pôs em fúrias de sandeu / E lhe tirou de homem cordato a estima; / Isto, se a que igual fim quase me deu / E o pouco engenho me corrói qual lima, / Assentir em poupar-me em tal medida, / Que eu possa dar a obra prometida. [...]. Trechos extraídos da obra Orlando Furioso, que é um poema épico de cavalaria escrito pelo poeta Ludovico Ariosto em oitavas (estrofe de oito versos decassílabos usada pela primeira vez por Boccaccio, em Teseida, de 1340). A primeira edição da obra com 40 cantos é de 1516, enquanto a segunda e terceira edições foram publicadas respectivamente em 1521 e 1536, sendo que a última edição contém 46 cantos. O poema é dedicado ao cardeal Ippolito d'Este (1479–1520) e tem um caráter encomiástico. Veja mais aqui

 

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