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segunda-feira, dezembro 26, 2022

ELENA FERRANTE, JULIA KRISTEVA, NOELLE-NEUMANN & HIDEKA TONOMURA

 

 

Ao som Concert Classical Guitar at Siccas Guitars, da violonista inglesa Alexandra Whittingham.

 

TRÍPTICO DQP: - O legado & o abismo me vê ali... - A rua está deserta e as lembranças saltam pelas frestas do guarda-roupa como uma batucada de Naná Vasconcelos e dão conta de como tudo se tornou tão cruel agora, assombro e sombrio... Ouvi e vivo incerteza, a pupila dilatada pelo volátil e o ameaçador, quantos lobos nem sei mais. Para conversar restavam apenas o Gato de Schrödinger que brincava com minhas ideias desarrumadas. Do outro lado os besouros da caixa de Wittgenstein insistiam que a vida é só pra viver, que deixasse de lado todo viés da confirmação, pronto! Mais nada porque não adiantava eu me defender de todas as tribos, nunca pertenci a nenhuma delas e fui alijado até da família: ou luto ou fujo para a galáxia espiral NGC7469 lá na constelação de Pegasus. Eu me ajudo o mais que posso. Como os outros, a culpa é geral e lá estou eu exposto ao oganessônio – ou é polônio, sei lá! As galáxias se diluem e a existência é o que importa: sou o verdadeiro desconhecido. Sei que não é o desejável, nem nunca será: o arrependimento virá de qualquer jeito, mesmo que aprenda de cor as metamorfoses do espírito que Nietzsche me fez do camelo ao leão e a criança, ao amor fati. O bom foi que no meio da doidice pura pude ouvir Elena Ferrante: A vida era assim e ponto final, crescíamos com a obrigação de torná-la difícil aos outros antes que os outros a tornassem difícil para nós... Em todas as investidas eu ia com punho fechado pro inopinado e me desarmei, fui em frente: nunca esperei por milagre ciente de que jamais sairia impune. Ninguém é sábio para ser imune aos infortúnios. Duvidava do mero acaso porque o mundo se dilatava sem que tivesse de constranger caminhos. Aturdido, sabia: o que tenho apenas é vida, nada mais...

 


Pacto: o caos sou eu... – Escrevi o poema e não tinha a quem dedicá-lo porque não é nada: nem ele, nem dedicatória alguma, como se os ditirambos hesitassem dos meus umbrais, enquanto eu me fartasse da carne da estátua, do uivo da pedra, das dores dos insetos. Estou tão cansado como se o chão cansasse das pisadas, a casa dos seus moradores, o crepúsculo do dia, deste a madrugada, e esta da noite, do mesmo modo que ela de tarde, o cansaço geral... Consegui me desvencilhar das alegorias da caverna e dos metais, da mentira nobre de Platão, das qualias, Post hoc, e me afastei ao máximo do zoadeiro, porque não havia como me conformar com a navalha de Hitchens: O que pode ser afirmado sem provas pode ser rejeitado sem provas - Quod gratis asseritur, gratis negatur. Cá comigo, os filósofos não sabem nada, mas nos dão a lição: precisamos aprender, ora! Estamos todos neuróticos e confusos como o diário de Neil Young, não há significado e isto soa como uma bomba no meu juízo! Parafraseando Montaigne: Escrever é aprender a morrer. Posso ser excêntrico e me viro, mas não divido a cena com essa realidade paralela do doidismo escroque, porque não tenho nenhuma preocupação com o que acontecerá depois da morte, o agora é que o problema, o que será não mais importa entre o suficiente e o desejado, suportar a finitude enquanto a cabeça segue infinitas ideias... Tudo passará, não adianta.

 


Coração de areia… – Imagem: arte da fotógrafa japonesa Hideka Tonomura. - Sou coração ao vento arrancando as vestes aos varais e a vida desnuda das flâmulas e bandeiras tremulantes. É só vento... E ela aparece Olga de Kiev depois que subjugou os Drevilianos e agora era a minha vez e pregou uma peça com seu bote de tigresa, trazendo o saco da noite de Valpurgis: Vamos comemorar com Julia Kristeva: O amor é a hora e o espaço onde "eu" me entrego o direito de ser extraordinária. E me levou qual musa da elegia de Donne para, depois de tudo, se insinuar Elizabeth Noelle-Neumann: Solta-se o verbo quando se sente que está em harmonia com o espírito de seu tempo... E depois da agonia dormimos na rede de pernas pro ar, graças! Ainda bem que normalmente tudo acaba em sexo, u-hu! A festa é dela quando sou vento de maio entre as pernas da moça, saia esvoaçante e o cheiro da vida... Quando sou vento forte agito as páginas, parafraseando Heine: Quem indiferente aos livros, também às pessoas... Faço o rascunho da vida, escarafunchei o que passou... Sobrevivi pra contar... Até mais ver.

 


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segunda-feira, fevereiro 07, 2022

LAURA INGALLS WILDER, IZAURA RUFINO FISCHER, RITA VON HUNTY & JOÃO CÂMARA

 

 

TRÍPTICO DQP – Entre devires e distopias... - Ao som do álbum Dedicado a você (1967), de Rogério Duprat. – Ouço a música do dia, as ruas dão nas estradas caminhos afora e se por trás das montanhas ao redor da minha cidade, o dia dorme, a noite é viva para que ninguém, ninguém mesmo, Anteu vunerável arrede dali - resíduos que sobram de mim entre o latente e o que se perdeu. Não vejo ninguém e voo perdido, até que a escritora estadunidense Laura Ingalls Wilder (19867-1957) me saúda com um sorriso: Uma boa risada supera mais dificuldades e dissipa mais nuvens negras do que qualquer outra coisa. Estou começando a entender que são as coisas simples e doces da vida, que são as verdadeiras. Entendo o que fala, mas sei que meu povo teima temores de certo fantasma vermelho que atenta suas vidas e pode se danar pelo precipício. Nada mais bizarro porque não enxergam nada mais além do colorido das vitrines ou imersos nos seus rancores por desejar o ócio da riqueza dos seus sonhos triturados queimando a carne, enquanto singram pela milenar mentira do crucifixo entre as mãos, pedintes de paz que só fazem guerrear porque a escola é a grande vaca reprodutora dos estúpidos que se escondem medrosos com a tela acesa na sala. É só o que veem e não vivem. Eu sei que a vergonha do meu país não é de hoje! Como disse Antônio Cândido: A vergonha do Brasil sobreviveria até em páginas de poetas imortais, como uma de Heine em que o poeta fala no capitão negreiro que deixou trezentos escravos no Rio. É tudo tão deprimente, quando nem me dou conta de cruzar com Michel Laub que me fala: ... sobre o que era ser jovem numa América tomada por corporações, individualismo e falta de perspectivas... Bem que me lembro que me vivi ilhado por tudo isso, nada mais sem graça e os que passam e voltam logo somem nas sombras que se alimentam do meu sangue e não viverei tanto para ver este século 21 seguir à revelia de todos.

 


Duas ou três coisas de nada... – Imagem: Arte de CarybéMas que dia é hoje e nem sei das horas, faz tempo que ontem se repete cabisbaixo por quantos anos de escuridão e incúria. Vivo de acenos esporádicos, quando não abruptos encontros, a exemplo do escritor hondurenho Augusto Monterroso Bonilla (1921-2003) que de longe traz suas dores: Você sofre de uma das doenças mais normais da raça humana: a necessidade de se comunicar com seus pares... Sim? E prossegue: Acredite em si mesmo, mas não tanto; duvide de você, mas nem tanto. Quando você sentir dúvida, acredite; quando você crê, duvide. Nisto reside a única sabedoria verdadeira que pode acompanhar um escritor. Sim, eu sei, e como apareceu, sumiu. Às vezes um ou outro aparece sem novidades, a exemplo de Amos Oz que me dizia baixinho coisas que gritava dentro dele a me surpreender: Às vezes é exatamente a fala tranquila que desperta a ira e a agressão dos opositores... Nossos ancestrais inventaram o sentimento de culpa. Depois vieram os cristãos e fizeram o marketing com um sucesso colossal por todo o mundo. Mas a patente é nossa. Eu, como judeu, tenho sentimentos de culpa terríveis por termos inventado o sentimento de culpa. E mais adiante apenas o canavial de nenhuma esperança. Ele deu-me as costas para que a pesquisadora Izaura Rufino Fischer alertasse: O problema tem raízes na concentração da terra e se expressa de forma diferenciada nos vários recantos do país. Na Zona da Mata de Pernambuco, a cultura própria do latifúndio dá nitidez às desigualdades sociais e ao antagonismo de classes... O que resta de dor, pés no chão, olhar no horizonte, voo sem rota prevista porque a tarde é quase a mesma no calendário.

 


De pés e caminhos... - Imagem: Arte de João Câmara. - O tempo sangra e mais adiante o que poderia ser e não é. Se não tenho onde cair morto, resta penar vida afora, tropeços e falência. A mãe que se foi ainda vive em mim órfão da vida. De um lado pra outro a soberba deselegante, vozes do umbigo e desfile da indiferença. Quase não reconheço ninguém porque tudo é muito estranho e hostil, exceto sorrisos amigáveis e passageiros que logo se vão sem deixar rastro. E se uma ou outra vistosa me chama a atenção, logo fenece pro meu desinteresse. Outra é a Mamie Van Doren: Eu nunca quis ser uma esposa troféu. Eu queria fazer sozinha. Eu não queria depender de um homem... O meu melhor trunfo é o meu cérebro. Sem meu cérebro, não acho que o resto de mim estaria muito quente. Sou solidário e compreendo a milenar imposição patriarcal. Surpresa agradável é dar de cara com a professora e atriz Rita Von Hunty: Precisamos visibilizar os corpos e vozes ainda tão invisíveis... Ao mesmo tempo eu tento quebrar o estereótipo também de que todo professor é homem, branco e pedante. Não existe só um jeito de ser intelectual... Com a possibilidade da morte, podemos criar mecanismos para realizar os próprios desejos, antes que seja tarde demais. E isto pode ser positivo. Ouço dela o eco que povoa minhas ideias insistindo que não temos nada a perder, a não ser quebrar de vez e definitivamente todos os nossos grilhões: não ceder à paralisia do medo nem à tristeza da maldade é o primeiro passo... O que sei é que certeza alguma ditará o que fazer, as dúvidas me fazem respirar e sinto que posso renascer a cada momento. Até mais ver.

 

E mais:

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terça-feira, outubro 27, 2020

SYLVIA PLATH, DYLAN THOMAS, JEAN ACKER, GRACILIANO, ROSE NOGUEIRA, JOSÉ BARBOSA & A SEREIA DO ROBIMAGAIVER


  

TRÍPTICO DQC: PALÁVORA METAFÁBULA - Estradafora passadopasso futuronde errânbulos vidoutráfego. Realizarpar precisora, adivinhanando portabertas & realsonhalizar velacesa desertormentas. Volvouver, voltainda, vamboramanhã, desdontem jagora! Feridoída, saravento. Dylan Thomas: A bola que lancei quando brincava no parque ainda não tocou o chão. A lição de Graciliano Ramos: É o processo que adoto: extraio dos acontecimentos algumas parcelas; o resto é bagaço. E faço e refaço, torno a refazer, sempre. O que foi e o que irá: todos. O que não me mata me faz viver. O que não me atiça não me falta nem existe. Quem não tem audácia não vive. Quem não se arrepende não faz.

 


A SEREIA DA LOROTA - Imagem: Art Deco handmade Sculpture nude beauty Mermaid Bronze copper Statue. - Depois do Pipoco da porra, da paixonite do besouro doido, da presepada com a culpa no cartório e das emboanças malsucedidas no Big Shit Bôbras, Robimagaiver havia desaparecido fazia tempo e, de repente, deu as caras para lá de lívido e às carreiras. Que foi que houve? Escapei fedendo! Como assim? Arfante, não dizia coisa com nexo. Aí Zé Corninho sapecou: Esse cabra mente que o cu apita! Todos concordaram e juntando curioso ao redor dele, só de mutuca para apurar a pinoia. Foi de mesmo, cara! A gente já saca tua pacutia, fidapeste! Foi mesmo! Vai-te! Vou contar. Então, conta. Seguinte: uma reboculosa daquelas que não é pro meu bico, sei o trampo que carrego, meu carrinho de mão e coisa e tal, e pelo jeito ela deu mole! Espia só: o sujeito juízo curto, mulher bonita, só dá merda! E deu. Passo o rodo, caiu na rede é peixe. E era. Foi só me abestalhar nuns xambregos bons e ineivados e lá pras tantas findar na beira do rio. Pega aqui, pega acolá. Nem aí, depois do sarro era a hora do vamos ver e ela timbungou, tirou a roupa e ficou só me atiçando. Sou lá de refugar na horagá, desvesti tudo num mergulho só. Dali a pouco no meio dos agarrados e umbigadas, um peixão passou pela batata da perna: Tem peixe grande na área! E ela se ria toda não me toques e vem e vai. Passou de novo, pelo volume, vôte, é dos grandões. Tá doido, quero lá ser devorado por jacaré ou sei lá o quê, pulei fora. Oxe, ela danou-se a cantar e a vista escureceu, tonteei e apaguei. Quando dei fé depois de num sei quanto tempo, ela era a peixa. Pode? Aí, foi pior, tive um troço com o pega-pega e só me acordei num lugar desconhecido em que ela não era mais uma peixa, era uma ave com cara de mulher! E queria me pegar. Onde já se viu? Dei uma carreira, nadei num sei quantos dias, ela atrás, grasnando, eu tome braçada, pelo jeito acho que rodei o mundo até despistá-la e chegar em casa. Ufa! Escapei fedendo, meu! Como é? A tropa toda deu sinal de lorota: E quando foi que aprendesse a nadar, desgraçado? A necessidade ensina! Ah, não! Nessa hora ia passando o doutor Zé Gulu que foi atrapalhado pela mangação e teve de ouvir todo relato do dito cujo. Ah, sim, se é verdade ou não, pela descrição do lugar que você deu, não resta dúvida que é a Ilha das Sereias. Como? Sim, é uma ilha incerta do Mediterrâneo e que muitos autores falaram deste lugar: a Odisseia de Homero, a Argonáutica de Apolônio de Rodes, a Die Lorerei de Henrich Heine e o Ulisses do James Joyce, reza a lenda: com seu canto melodioso, as Sereias atraem os marinheiros que, inconscientes do perigo, naufragam nos rochedos da ilha. Êpa! A turma com o mestre pelo canto do olho: Ô doutor, diga cá uma coisa: como é que um frebento desse passa por uma dessa e sai ileso, me diga? A turma do qual é: Nem nadar o bexiguento sabe! Onde já se viu um embola-bosta desse todo topetudo pra bancar o bonzão pra cima da gente, ora! Com todo respeito, doutor, mas não dá para acreditar numa lorota dessa!

 


ELA ENCENA & O AMOR É REAL - Imagem: arte da atriz estadunidense Jean Acker (1893-1978) – Adentrou seminua na noite e disse: Sou Rose. A jornalista e defensora dos direitos humanos, Rose Nogueira. E passou o texto: “Sobe depressa, Miss Brasil’, dizia o torturador enquanto me empurrava e beliscava minhas nádegas escada acima no Dops. Eu sangrava e não tinha absorvente. Eram os ‘40 dias’ do parto. Na sala do delegado Fleury, num papelão, uma caveira desenhada e, embaixo, as letras EM, de Esquadrão da Morte. Todos deram risada quando entrei. ‘Olha aí a Miss Brasil. Pariu noutro dia e já está magra, mas tem um quadril de vaca’, disse ele. Um outro: ‘Só pode ser uma vaca terrorista’. Mostrou uma página de jornal com a matéria sobre o prêmio da vaca leiteira Miss Brasil numa exposição de gado. Riram mais ainda quando ele veio para cima de mim e abriu meu vestido. Picou a página do jornal e atirou em mim. Segurei os seios, o leite escorreu. Ele ficou olhando um momento e fechou o vestido. Me virou de costas, me pegando pela cintura e começaram os beliscões nas nádegas, nas costas, com o vestido levantado. Um outro segurava meus braços, minha cabeça, me dobrando sobre a mesa. Eu chorava, gritava, e eles riam muito, gritavam palavrões. Só pararam quando viram o sangue escorrer nas minhas pernas. Aí me deram muitas palmadas e um empurrão. Passaram-se alguns dias e ‘subi’ de novo. Lá estava ele, esfregando as mãos como se me esperasse. Tirou meu vestido e novamente escondi os seios. Eu sabia que estava com um cheiro de suor, de sangue, de leite azedo. Ele ria, zombava do cheiro horrível e mexia em seu sexo por cima da calça com um olhar de louco. No meio desse terror, levaram-me para a carceragem, onde um enfermeiro preparava uma injeção. Lutei como podia, joguei a latinha da seringa no chão, mas um outro segurou-me e o enfermeiro aplicou a injeção na minha coxa. O torturador zombava: ‘Esse leitinho o nenê não vai ter mais’. ‘E se não melhorar, vai para o barranco, porque aqui ninguém fica doente.’ Esse foi o começo da pior parte. Passaram a ameaçar buscar meu filho. ‘Vamos quebrar a perna’, dizia um. ‘Queimar com cigarro’, dizia outro”. E chorava com todos os poros, vísceras & sangue, estirada no chão e a mencionar nomes perdidos, Heleny, Marilena, Helena, Labibe, Alceri: sou todas elas e elas são em mim o último suspiro de vida. Levantei-me até ela e, num abraço, soluçava. Disse-me Sylvia Plath: Acho que criei você no interior da minha mente. Quando você entrega todo o coração a uma pessoa e ela não aceita, não dá para pegar de volta. Você o perde para sempre. Disse-lhe apenas: vivocê! E nos beijamos para a eternidade. Até mais ver.

 

O MUNDO DE JOSÉ BARBOSA

A arte do escultor, entalhador, pintor, desenhista, ilustrador e gravador José Barbosa da Silva, que organizou o Movimento Arte Ribeira, em 1963, e participou do início da Tropicália, do Cinema Novo e da Nova Figuração de artes plásticas, tendo participado de individuais e coletivas em países como Alemanha, França, Espanha, Chile, Inglaterra, USA, Suíça, entre outros. Veja mais aqui e aqui.

 


quinta-feira, março 15, 2018

DERRIDA, SARTRE, PONTOPPIDAN, HEINE, OSWALDO MONTENEGRO & FERNANDA CANAUD, MARCUS ACCIOLY, CYANE PACHECO & BANDO DE MÔNADAS



BANDO DE MÔNADAS - Imagem: arte da artista plástica & visual Cyane Pacheco. - O poema e sete verdades, o lance do destino. Sou apenas palavras em ordem secreta, ao sopro do barro, aos olhos ávidos dos vivos. O reconhecimento da cumplicidade é o começo da inocência. O reconhecimento da necessidade é o começo da liberdade. O poema é um mundo enterrado num homem. Em mim lavra safra de murmúrios. A palavra por nossas veias trânsito da alma. Quanto mais estrelas, mais céu noturno. Quanto mais tempo, mais eternidade. O terceiro poema, caligrafia de sombras, parvo e torpe itinerário, sombra que enardece até a incandescência. O intérprete dentro do poema não é pranto de coração, nem turbilhão incontido de emoção rimada: o belvedere do significante mira o significado. Eis a moça que passa na manhã revelada, rompem-se os véus da volúpia. Eis a moça que passa ao largo do sonho. Quando ela passa me habita de silêncio, grassam ternuras espessas. Eis a moça e estridente desejo com seios estrelados, rosa dos mamilos para o pomar das mãos, último refugio da lascívia pura. Vivo amor sem treva ou tortura, à sublime leveza da nudez feminina, à folha ou falha da erva atapeta o púbis da menina, deixe apenas o poema debruçar-te sobre ti, deixando rastros de aromas, pira de perfumes, rendas de narinas. Eis a moça que cessa seu encanto noturno, refugio-me nos punhais acesos da solidão, dores de ouro e prata nos ermos intrincados da alma nas furiosas veredas das horas. Eu não sei onde quando aos erros te levaram, moendas do tempo leva à completa embriaguez verbal. À longa e grata satisfação do abismo e do adjetivo, ao eterno trabalho do pó, ao inútil trabalho dos lírios, estranho tornado de aromas. Eis cortejo doloroso de cinzas rosas no páramo, eis cinzas dos sonhos, que a vida ferina em coivaras tornou correndo a última rua do mundo, que buscas peregrino da aurora cavalgando ginetes de estrelas por estradas que a luz avassala. Busco o rosto que Narciso toldou com seu orgulho e espelhos para mirar-te jóias suspensas dum escrínio azul. Há lágrimas magnólias caindo do ramalhete dos olhos, do jardim do rosto despencado. O poema surge e ressurge. O poema acontece. Acontece, súbito relâmpago, voragem que escurece o jugo das palavras, incorpora-se à paisagem do tempo como a lava do vulcão à geografia do olho, encarna-se na passagem do fruto como a boca no mundo, emerge dado, acontecido, fato de palavras construído, o trama do inverso vertido para temperar metáforas, alicates metonímicos. O poema ergue-se de um reservatório de escombros, a essencia nua do trovar escuro não é a recolha de uma messe de letras de uma legião de dores. Poetas sucumbem ou se salvam. Vem a poesia ao poema em fragmentos de mundos, sob tempestades ou calmaria de palavras, da água para naufrágios, da ira para deserdados, de dor para os desamados, tudo para nada, sêmen e fuga, sete poemas sem causa, as mônadas dos sábados. Exortação ao leitor: faça alguma coisa, não deixe cair da mão esquerda a bandeira esfarrapada do poema, a vida não é digna dos incautos. Troque ócio pelo verso, rima por vício, cure com poesia enfermidade do tédio, sal da luz, a tona da verdade. (Letra-colagem para música sobre o poema Bando de mônadas, de Vital Corrêa de Araújo). © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

A ARTE DE CYANE PACHECO
A arte da artista plástica & visual Cyane Pacheco. Veja mais aqui e aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do cantor e compositor Oswaldo Montenegro: Ao vivo 25 anos, 3x4 & Escondido no tempo; a pianista e compositora Fernanda Chaves Canaud: Radamés Gnatali, Lua Branca de Chiquinha Gonzaga & Coração que sente de Ernesto Nazareth; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA – [...] Ser poeta é saber abandonar a palavra. Deixá-la falar sozinha, o que só pode fazer escrevendo. [...]. Pensamento extraído da obra A escritura e a diferença (Perspectiva, 1971), do filósofo francês Jacques Derrida (1930-2004). Veja mais aqui.

A LITERATURA - [...] Um grito de dor é sinal da dor que o provoca. Mas um canto de dor é ao mesmo tempo a própria dor e uma outra coisa que não a dor. Ou, se se quiser adotar o vocabulário existencialista, é uma dor que não existe mais, é uma dor que é [...]. Não porque o artista tenha paixões mais ricas ou mais variadas, mas porque suas paixões, que talvez estejam na origem do tema inventado, ao se incorporarem às notas, sofreram uma transubstanciação [...]. Trechos extraídos da obra Que é literatura? (Ática, 1989), do filósofo, dramaturgo e escritor francês Jean-Paul Sartre (1905-1986). Veja mais aqui.

AMOR DE MOCIDADE – [...] Se procurava tornar-ser bonita, não era para Jesper. Cada vez que eu pronunciava o nome do noivo, uma sombra passava pelo seu rosto. Era outro, um adventício, que conquistara seu coração e dava ao seu olhar um curioso brilho vacilante. Desde algum, ela adquirira uma atitude um pouco misteriosa, e sucedia-lje, se a contrariavam, ter verdadeiras crises de cólera. Era má, principalmente com Jesper. Uma noite em que ele quisera colocá-la à forçã sobre os seus joelhos, ela mordera-lhe fortemente o rosto. Eu tentava como sempre interrogá-la para desvendar seu segredo; mas desta vez nada me foi possível obter. Ela bancava a ingênua e respondia com gestos evasivos às minhas perguntas. Sondei a mãe, pensando que talvez soubesse alguma coisa: falou-me de um moço que “ficou por aqui toda uma tarde, para tomar uma xícara de café”; mas não pude obter nenhuma informação precisa, nenhuma explicação concreta. Eu pensava com ionquietude o que sucederia a Jesper surpreendesse um dia Martha com um estranho. Sabia que ele continuava a montar guarda nas vizinhanças do albergue, munido de um grosso bordão. Martha, de uma gaveta da cômoda, tirou roupa limpa, meias, um lenço, ao mesmo tempo que um laço de veludo negro com um medalhão âmbar, e pôs tudo sobre uma cadeira, junto ao espelho. Sem perceber, cantarolava uma canção, enquanto prendia os cabelos, punha as ligas e dava o laço nos sapatos. Um belo jovem caminhava nos bosques, sorriso nos lábios, alegria no olhar. De subido, lembrou-se que também havia na gaveta os antigos brincos de prata de sua mãe. Havendo calçado apenas uma das meias, aproximou-se saltitando da cômoda, e experimentou-os. Voltava a cabeça para um lado e outro, diante do espelho, após o que teve um gesto de satisfação. Uma donzela se aproximou timidamente, os olhos baixos. Havia nesses pedaços de canção alguma coisa que despertou minha curiosidade. Não pertenciam às nossas habituais canções. Entretanto, eu tinha a impressão de conhecer as palavras. [...]. Trecho extraído de O urso polar e outras novelas (Delta, 1963), do escritor dinamarquês Henrik Pontoppidan (1857-1943), Prêmio Nobel de Literatura de 1917.

POEMAVem, linda peixeirinha, / Trégua aos anzóis e aos remos. /Senta-te aqui comigo, / Mãos dadas conversemos. / Inclina a cabecinha / E não temas assim: / Não te fias do oceano? / Pois fia-te de mim. / Minh’alma, como o oceano, / Tem tufões, correntezas, / E muitas lindas pérolas / Jazem nas profundezas. Poema do poeta romântico alemão Heinrich Heine (1797 – 1856). Veja mais aqui e aqui.

A poesia de Rogério Generoso,
Viva Marcus Accioly (1943-2017) na APLE & muito mais na Agenda aqui.
&
Pelos caminhos da vida, a Lenda dos Índios Tembé, a música de Benedicto Lacerda - Benê, a arte de Alessandro Biffignandi, a fotografia de Diane Arbus, Ligia Scholze Borges Tomarchio, a pintura de Clodomiro Amazonas & Ferdinand Hodler aqui.

terça-feira, fevereiro 27, 2018

NÉLIDA PIÑON, HEINE, WITTGENSTEIN, CAMBADA MINEIRA, MAGDA SOARES, JULIA CRYSTAL, ONIANS, DOMINGOS SILVA & PAISÀ

UMA & OUTRA DE COISAS & COISAS – Imagem: Sensibilidade da natureza (2016), arte do pintor português Domingos Silva. UMA: EU TE AMAREI ETERNAMENTE E AINDA DEPOIS – Desde os desencontros com a Princesa de Bambuluá, insistentemente eu recitava de forma inconsciente o verso de Heine: “Eu te amarei eternamente e ainda depois”. Havia em mim uma esperança animadora que me dizia que um dia ela voltaria esclarecendo o sucedido. Sei que ano após ano, sempre no aniversário da data por ela marcada, eu caía no sono por dias e ao acordar perguntava por ela, a velha professora sempre me respondia: Você ainda espera que ela venha pra você? Desista, ele não lhe quer, nunca quis. Quanto mais ela repetia isso, ano após ano, meu coração tinha certeza que essa não era a verdade, coração bobo de enamorado. Até o Soneto de Vinicius era o meu consolo: “Que não seja imortal, posto que é chama. Mas que seja infinito enquanto dure”. Mergulhado nos meus pensamentos só pra ela, a professora idosa me fez uma surpresa, apresentando as suas lindas filhas e que eu escolhesse qual delas queria para casar. Elas eram lindíssimas, mas havia entregado meu coração à Princesa, era dela e mais ninguém. Resolvi arrumar minhas coisas e sair dalí, andando sem rumo e só muito depois é que soube que a princesa me visitava todo ano e sem poder falar comigo porque dormia a sono solto, retornava tristonha desconfiando que eu não estudei como ela desejava e que eu vivia apenas para as festas. Assim caminhei até deparar uma casa solitária, na qual um velhinho de voz macia mandou-me entrar. Fui até a cozinha e lá conversamos e contei minha história. Ele me disse ser o Príncipe dos Pássaros e convocou seus soldados para saber qual deles sabia do reinado de Bambuluá. Assim que me viram, julgaram-me inimigo e resolveram me atacar. Ele aplacou a fúria de todos e indagou acerca do reinado, nenhum deles sabia. Pediu-me então que dormisse aquela noite e no dia seguinte me mandou para procurar o pai dele, o Rei dos Pássaros. Assim fui por três dias e três noites até chegar a uma casa na enconsta de um morro distante. Lá um ancião ainda mais velho me recepcionou ouvindo atentamente a minha história. Então ele chamou todos os seus soldados e perguntou quem sabia onde ficava o reino de Bambuluá, nenhum entre eles sabia. Com isso, me aconselhou a dormir no seu regaço e na manhã seguinte eu fosse até o seu pai, o Imperador dos Pássaros, e assim se fez. Andei, andei, andei, quatro dias depois, uma casinha lá no alto da serra abrigava quem eu procurava. Lá chegando, estava ele escondido dentro de uma cabaça, suspenso em cima do fogo. Pra ele contei minha história e ao ouvi-la pegou uma gaita de pena de ema e soprou demoradamente no instrumento. Os seus soldados apareceram aos milhares e ao serem indagado onde o reino de Bambuluá, ninguém sabia. Então ele virou-se e se dirigiu para um velho urubu que estava dormindo num canto. Cochichou ao ouvido da ave que logo estirou asas enormes dizendo: O reino de Bambuluá era o meu pasto. Fica depois do Inferno. É um lugar que nenhum olho mal consegue ver, pois lá tudo é muito bonito, também povoada por uma gente simpática e agradável. O velho então mandou que eu comprasse um boi bem grande para que fosse cortado em pequenos pedaços e todos os ossos quebrados para ser dado pro urubu velho comer. Assim fiz e três dias depois o urubu estava pronto para a viagem. Fui orientado a montar no urubu segurando nos cotos de penas e com os pés cruzados embaixo das asas, olhos fechados, só os devendo abrir quando ele parasse o voo. Assim feito, entre ventos quentes, muitas voltas, o calor imenso, voando muito alto, bruscamente uma descida rápida até a terra. Abri os olhos: uma campina verde, água corrente e no cimo do morro o palácio. O urubu despediu-se e voou. Aí segui pro palácio, encontrando uma casa em que uma senhora simpática indagou o meu destino, aí contei uma parte do plano, escondi outras, ela mandou-me entrar, dizendo-me ser uma antiga criada do palácio e que eu aguardasse até ao meio dia, quando chegaria a comida vinda da cozinha real. Enquanto isso, saquei a minha rabeca e troquei as cordas pelas que a princesa me dera e comecei a tocar, todos dançavam, a velha da casa, os passantes e até os que chegaram com a comida. E mais vinham e mais dançavam, até o Rei e a Rainha, os fidalgos e suas comitivas. Aí parei de tocar e o Rei me saudou: Amanhã você fará uma festa no meu palácio! Se você não for, corto-lhe a cabeça! Todos se foram e fui descansar. Ao cochilar, dei pela presença de uma criada que me fez muitas perguntas e foi embora sem se despedir. Daí depois ela voltou e me disse que a princesa estava feliz com a minha chegada e que anunciaria amanhã na festa o seu casamento comigo. Fiquei feliz. No dia seguinte, fui para o palácio conforme o combinado e ao chegar lá muita gente me esperava para a festa. Assim que cheguei a princesa surgiu descendo a escada real do palácio mais linda que nunca e foi logo anunciando: Rei meu pai, Rainha minha mãe, todos os presentes. Se eu perdesse um presente que muito gostava e quisesse outro, e antes desse outro chegar eu encontrasse o velho presente, que deveria fazer? Todos responderam: Nenhum presente novo substituiria o velho que tanto gostava. Pois bem, aqui está meu noivo antigo que sofreu bastante por mim, me desencantou e estudou para ocupar o digno posto, vindo aqui só para me ver. Disse isso e veio em minha direção: Este é o meu noivo, o meu presente de sempre. O Rei e a Rainha felicitaram e marcaram o casamento para o dia seguinte. A partir de então dei de sonhar e nesse sonho eu e a princesa fomos felizes para sempre. (Historieta apresentadas nas minhas atividades de contação de história, releitura das lendas do folclore, baseadas em material recolhido por folcloristas brasileiros) OUTRA DE PROFESSOR & ALUNO: Na sala de aula o professor notara a presença de um aluno estranhíssimo e tão esquisito que um dia levantou-se da banca e dirigiu-se à mesa dizendo: Professor! Diga! O senhor poderia fazer a fineza de me dizer se sou ou não um completo idiota? Não, não posso. Mas qual a razão da pergunta? Bem, caso eu seja um completo idiota, me dedicarei à aeronáutica; caso contrário, quero ser um filósofo. Pois bem, para que eu possa avaliar, escreva uns artigos filosóficos sobre qualquer assunto. Dias ou meses depois, não sei, o aluno entregou um calhamaço ao professor. Ele leu a primeira página, releu e retornou ao aluno e disse: Não, você não deve se tornar um aeronauta! Pois, tinha certeza que estava diante um gênio que, segundo o próprio professor, o mais autêntico que já conhecera. O professor era o filósofo e matemático inglês Bertrand Russell (1872-1970), o aluno, o filósofo austríaco naturalizado britânico Ludwig Wittgenstein (1889-1951). O aluno na época desse encontro era judeu, muito bem dotado e rico. Era desde então atormentado por dúvidas existenciais, porém, a relação entre ambos não demoraria muito: o professor era ateu convicto, o aluno carregado de arroubos místicos. Desfeita a possível amizade entre ambos, o jovem se desfez da sua fortuna criando um fundo de ajuda aos poetas e, o restante, doou tudo para suas duas irmãs. Empregou-se como professor primário, lecionando para crianças de 9 a 10 anos de idade, o que o levou a elaborar um dicionário para ser usado pelas escolas das aldeias austríacas. Abandonando o magistério, trabalhou como ajudante de jardineiro e, depois, elaborou um projeto de uma casa para uma de suas irmãs, dedicando-se à escultura. Muito depois é que retornou à Filosofia para fazer seu doutoramento com o Tractatus Logico-Philosophicus e, depois, publicar um breve ensaio Algumas observações sobre forma lógica e, em seguida, as suas Investigações filosóficas. Depois da guerra de 1943, desempenhou a função de porteiro em um hospital, sendo posteriormente transferido para ajudante de laboratório de análises clínicas. Renunciou sua cátedra de filosofia, buscou o isolamento e quando descobriu que estava doente gravemente, não se abalou, pois não queria continuar vivendo. Quando o médico anunciou que chegara o seu fim, ele disse: Ótimo! Diga-lhes que eu tive uma vida maravilhosa. E morreu dois dias depois. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá é dia de especial com a música do grupo Cambada Mineira, formado pelos músicos João Francisco, Amarildo Silva & Flávia Ventura: Saudades de Minas, Fragmentos de uma noite de chuva & Tempo Certo; da cantora e compositora Julia Crystal: A journey to Shamballa, Time to care & Stalit mermaids call; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIAMinha vida está cheia dos mais odiosos e mesquinhos pensamentos (isso não é exagero). Talvez você pense que seja uma perda de tempo, para mim, pensar acerca de mim mesmo; mas como posso tornar-me um lógico se não sou sequer um homem? Pensamento do filósofo austríaco naturalizado britânico Ludwig Wittgenstein (1889-1951), autor de frases célebres como: Não posso subjugar os acontecimentos do mundo à minha vontade: sou completamente impotente. Também expressou: No mundo, tudo é como é e acontece como acontece: nele não há valor. Veja mais aqui.

LINGUAGEM & EDUCAÇÃO – [...] em diferentes campos – Linguistica e Sociolinguistica, Sociologia e Sociologia da Linguagem, Psicologia e Psicolinguistica -, que se deve fundamentar um ensino da língua materna que se incorpore ao processo de transformações sociais, em direção a uma sociedade mais justa. Entretanto, para que esses conhecimentos venham a transformar, realmente, o ensino da língua, é fundamental que a escola e os professores compreendam que ensinar por meio da língua e, principalmente, ensinar a língua são tarefas não só técnicas, mas também políticas. Quando teorias sobre as relações entre linguagem e classe social são escolhidas para fundamentar e orientar a prática pedagógica, a opção que se está fazendo não é, apenas, uma opção técnica, em busca de uma competência que lute contra o fracasso na escola, que, na verdade, é o fracasso da escola, mas é, sobretudo, uma opção política, que expressa um compromisso com a luta contra as discriminações e as desigualdades sociais. Trecho extraído da obra Linguagem e escola: uma perspectiva social (Ática, 1992), de Magda Soares, abordando o facrasso da/na escola, deficiência lingüística, diferença não é deficiência, o que pode fazer a escola e vocabulário crítico.

AS MULHERES - [...] As mulheres eram motivo de guerra explícito e um prêmio aprovado da guerra. Os homens lutavam para salvar suas esposas. Quando uma cidade era tomada, os homens eram mortos, as crianças eram golpeadas até a morte ou escravizadas, as mulheres, arrastadas violentamente para servir aos conquistadores, casados ou não, como escravas e concubinas [...]. Trecho extraído de The Origins of European Thinkought: Sobre o corpo, a mente, a alma, o mundo, o tempo e o destino (Cambridge UP, 1951), do professor estadunidense Richard Onians (1899-1986).

O REVOLVER DA PAIXÃOEu sei que errei, mas não me deixe agora. Eu protestei contra o que me parecia sua culpa. Você me olhou afiando os olhos no meu rosto. Me senti retalhada, diferente das vezes em que me cortou e não sofri. Bem ao contrário, a carne me sorria, eu deixava que você me tivesse, porque a carne era a minha alma [...] Como podes pensar que aguento vê-lo tragando vida com chope, sem que eu passe pela tua boca, te beije, te lamba, e você sorrialigado à terra, porque sou o teu húmus, o teu esperma, eu sou o teu membro, eu sou você. Não, não reclame, você me quer assim mesmo, ainda que selvagem eu te cause medo, ameace a tua liberdade. Ou me querias selvagem só na cama? [...] Não te autorizo a deixar-me. Ouviu o que eu disse? Não te dou licença de passear pela terra, de ter um futuro em que eu não esteja inteira. Ah, meu corpo amado, eu te desejo. E te desejo mais do que perdermo-nos no leito que vem sendo osso há dois anos. Uma agonia que recolho com a minha boca e mastigo com os meus dentes. Eu te mastigo, eu tecomo, eu te rasgo como você me rasga, me grita, me ama. [...] Não, erga-te, amor, e me cubra toda, quero você me soçobrando, eu sou uma mina africana, há que ir ao fundo, apalpar no escuro a sua riqueza, coçar a sua aflição, sentir medo. Medo das minhas trevas, pavor dos meus pelos, temor do meu suor e da minha fragrância. Vamos, seu covarde, volte depressa. Não quero mais perder o espetáculo desse amor que diariamente me derruba, porque é desse jeito que mastigo da sua comida. [...] Meu corpo identifica o teu cheiro, acre-doce pela manhã. Quantas vezes te lavei o sexo e você se deixou acariciar como se fosse meu dever rejuvenescer=te a cada dia, quem melhor que as minhas sagradas mãos conhecem o teu segredo, as palpitações da tua carne, o modo firme e cego com que se ergue e vem a mim. Não te creias livre, a vida não é tua. A tua vida é minha porque me perdi em ti, em cada palavra que disseste e me conquistou. [...] E te jogarás sobre o leito, e nu, esplendido, me atrairás dizendo, não queres novamente ser minha, acaso sobreviverás sem o gozo que é a única viagem atrlatica que se vive e nos naufraga? Esquecendo, porém, de que você sim é o barco carecendo das águas, e que sou a água em que mergulharás sem rota, sem mapa, pois não há mapa para o amor, amor. [...] Por favor, ceda-me o teu tempo. Ceda-me o teu corpo novamente. No leito, ou na natureza crua. Ou no bar em que estiveres agora. Onde eu chegando logo faríamos amor com o meu olhar de espinho. Amor se faz na esquina, a multidão dispersa em torno. Eu não te amo só com o ímpeto da carne. Também te quero com a minha boca distante, falando, te enunciando, pronunciando o teu nome. Teu nome é meu ato de amor. Teu nome é o orgasmo de que padece o meu sexo. [...]. Se me negas o pedido eu me vingo, abro minhas pernas para o teu inimigo, convidarei o desafeto a comer minhas carnes com garfo e faca e que divulgue entre amigos, e perto da tua consciência, o sabor de sal da minha pele e como o meu suor arrasta ainda o teu cheiro. Não me julgueis louca, julgues-me apenas capaz de lutar pela tua volta. [...] Se é assim, tome-me como sou. Transija com a minha volúpia. Aceite viver com uma mulher perdida no pecado de amar. Ah, hás de dizer, até você fala em pecado? Sim, falo, cometo, vivo, devoro, e quero. O que tem você com isso? Pecado é a tua boca, o teu sexo, o teu peito, os teus pelos, a testa franzida quando vais gritar de gozo. O que queria, que jamais tivesse enxergado o teu rosto quando me amas, só porque, perdida de amor, devia estar ocupada com o próprio prazer? [...] pois ainda assim sigo ao teu lado te amando, te fazendo recordar com minúcias o arrebato que ambos provamos, o sal jogado sobre nossos corpos para exalarem aquela essência que nos volatizava mas também nos prendia à terra, para vivermos com a carne um ritual iluminado, nossas peles cobertas de folhas, musgos e aranhas. Ah, amado, volte depressa, antes que outras cartes te persiga, e fique a vida difícil para nós. [...]. Extraído da obra O calor das coisas – contos (Record, 2009), da premiadíssima escritora e imortal da Academia Brasileira de Letras, Nélida Piñon. Veja mais aqui.

TRÊS POEMAS - LEGADO - A minha vida chega ao fim, / Escrevo pois meu testamento; / Cristão, eu lego aos inimigos / Dádivas de agradecimento. / Aos meus fiéis opositores / Eu deixo as pragas e doenças, / A minha coleção de dores, / Moléstias e deficiências. / Recebam ainda aquela cólica, / Mordendo feito uma torquês, / Pedras no rim e as hemorroidas, / Que inflamam no final do mês. / As minhas cãimbras e gastrite, / Hérnias de disco e convulsões – / Darei de herança tudo aquilo / Que usufruí em diversões. / Adendo à última vontade: / Que Deus caído em esquecimento / Lembre de vós e vos apague / Toda a memória e sentimento. ESPEREM SÓ: Só porque arraso quando arrojo / Raios, acham que não sei troar. / Ora, meus senhores, ao contrário: / Na arte do trovão não sou pior! / No devido dia, eu ponho à prova, / Quem duvida agora é só esperar; / O meu peito então vai trovejar, / E trincar os céus, a minha voz! / No fragor daquele furacão, / Os carvalhos secos vão rachar, / Os castelos vão desmoronar, / Velhas catedrais, ruir ao chão! MORFINA: É grande a semelhança desses dois / jovens e belos vultos, muito embora / um pareça mais pálido e severo / ou, posso até dizer, bem mais distinto / do que o outro, o que, terno, me abraçava. / Havia em seu sorriso tanto afeto, / carinho e, nos seus olhos,tanta paz! / Ornada de papoulas, sua fronte / tocava a minha, às vezes – e seu raro / odor me dissipava a dor do espírito. / Tal alívio, porém , não dura. Eu só / hei de curar-me inteiramente quando / o irmão severo e pálido abaixar / a sua tocha. – O sono é bom; o sono / eterno, ainda melhor; mas certamente / o ideal seria nunca ter nascido. Poemas extraídos de Heine, hein? – Poeta dos contrários (Perspectiva, 2011), do poeta romântico alemão Heinrich Heine (1797 – 1856). Veja mais aqui.

PAISÀ
O premiado drama Paisà (1946), do cineasta italiano Roberto Rossellini (1906-1977), é integrante da trilogia de guerra do diretor, iniciada com Roma, Città Aperta e segudia de Germania Anno Zero, dividido em seis episódios que tratam das relações entre os italianos recém-libertados e os libertadores estadunidenses. Os episódios são nomeados como Sicília, Nápoles, Roma, Florença, Apeninos Emilianos e Porto Tolle.

Veja mais:
A folia do Biritoaldo desandou no carnaval, Ela baila no meu coração, Frevo do Mundo & a poesia de Mário Hélio aqui.
Proezas do Bitiroaldo aqui, aqui, aqui e aqui.
Psicologia Social & Educação, Pablo Neruda, Amedeo Modigliani, Yasushi Akutagawa, Regina Espósito & Jú Mota aqui.
Paul Ricoeur, Li Tai Po, Millôr Fernandes, Carlos Saura, Mônica Salmaso, Aída Gomez Ralph Gibson & Ronaldo Urgel Nogueira aqui.
Tolinho & Bestinha: quando Bestinha se vê enrolado num namorico de virar idílio estopolongado aqui.
Arthur Rimbaud, Anti-Édipo de Deleuze & Guattari, Infância & Literatura & Balanço da Copa aqui.
Descartes, Gustav Klimt, Ingmar Bergman, Denise Stoklos, João Bosco, Danny Calixto, Bernadethe Ribeiro & Sandra Regina Alves Moura aqui.
Apollinaire, Rembrandt, Walter Benjamim, Paulo Moura, Efigência Coutinho & Programa Tataritaritatá aqui.
Jacques Lacan, Alexander Luria, Elizeth Cardoso, Aníbal Bragança & Clevane Lopes aqui.
Paul Verlaine, Denise Levertov, Delaroche, Wojcieck Kilar, Lourdes Limeira & Marcoliva aqui.
Yevgeny Yevtushenko, Leila Assumpção, Segueira Costa, Sigmund Freud, Hyacinthe Rigaud & Ailson Campos aqui.
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Cultura afrodescendente, carnaval & Célia Labanca aqui.
Oração da cabra preta & Turismo religioso aqui.
Biritoaldo: a vingança no formigueiro aqui.
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Caboclinhos aqui.
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Baile de Carnaval aqui.
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Aijuna, o mural dos desejos florescidos aqui.
Todo dia é dia da mulher aqui.

ARTE DE DOMINGOS SILVA
A arte do pintor português Domingos Silva.

 

ROSA MECHIÇO, ČHIRANAN PITPREECHA, ALYSON NOEL, INDÍGENAS & DITADURA MILITAR

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som de Uma Antologia do Violão Feminino Brasileiro (Sesc Consolação, 2025), da violonista, cantora, compos...