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terça-feira, setembro 15, 2020

BOCAGE, RUBEM ALVES, BETH FORMAGINI, NICOLINA VAZ & DEYSON GILBERT



DIÁRIO DO GENOCÍDIO NO FECAMEPA – UMA: SABE AQUELA... DOS UMBRAIS DE MIM... - O meu país arde como se o meu povo fosse o desespero dos acrófobos à beira do abismo, no cortejo de Paddy Digman do Joyce e eu pseudOdisseu errasse à procura de uma das sete vidas de Tirésias para reencontrar a Ítaca perdida, o meu Paraíso de Milton. Essa a coragem do passo adiante quando tudo é precipício na fumaça sem maçaneta, arrimo, apoio ou paredes: o rio de sudorese excessiva e a tremedeira no sorvedouro nas pontes dissolvidas para tudo despencar no frio da barriga perambeira. Desnudo no sonho o rei entre meras catábases por aclives íngremes, não olho para baixo nem posso voltar porque tudo ficou para trás com o pânico larófobo, porque caio para o báratro com o inútil instinto de sobrevivência de Ícaro sem paraquedas, alpinista nas cataratas do inevitável tropeço pelas escadas de nuvens. E ouço os versos do Soneto infernal de Bocage: Dizem que o rei cruel do Averno imundo e seja isto já; que é curta a idade, e as horas de prazer voam ligeiras... são os fios que se soltam na minha eterna corda bamba pelo meio-fio entre a vida e a morte. Ainda vivo, voo.

DUAS CENAS DE FILMESDepois de ter assistido o documentário Memória para uso diário (2007), da premiada cineasta Beth Formagini, tive a oportunidade de ainda ver o documentário Angeli 24 horas (2011), que trata sobre a obsessão pelo trabalho do cartunista Angeli e o seu dilema de artista, como também o premiado Xingu Cariri Caruaru Carioca (2016), que trata a respeito das origens e evolução do pífano na história do Brasil. Ela é formada em História, especializou-se em documentário na Universidade de Roma, foi presidente da Associação Brasileira de Documentaristas no Rio de Janeiro e trabalhou na produção e pesquisa de alguns filmes de Eduardo Coutinho. Foi dela que captei: Estamos infelizmente dominados. Se não discutirmos isso, entraremos de novo nesse período vivido no passado. Espero que a juventude de agora não volte a experimentar aquilo tudo. Tenho esperança de que as pessoas resistam, que se imponham. Esse é o alerta de que precisamos fazer alguma coisa aqui e agora, vambora.


TRÊS CONTAS NOS DEDOS SEGUINDO - (Imagem: escultura de Nicolina Vaz) – Ah, os meus dias, eram ventanias de tempestades terríveis com o esquecimento e nenhuma vontade de errar pela vida dentro de um odre de poderosos ventos e aberto para festa das sereias enlouquecedoras que me deixaram boiando num pedaço de madeira mar afora, para que findasse mendigo no meu próprio reinado em ruínas. Assim as funduras insondáveis da solidão e ao me deparar com as inscrições da tabuleta chinesa no meio dos antros do cabo Averno: Ande com calma na estrada escorregadia, pois nela se embosca o demônio do desastre. Eu sabia, um pé na frente e outro atrás, todos os caminhos levavam ao inferno. É como se do fundo do Érebo surgissem todos os pálidos espectros da minha convivência de ontens, com os seus castigos do julgamento e a minha veneranda mãe a testemunhar minha tribulação pela escuridão de charcos umbrosos. Presenciava tudo e quedava de terror como quem havia sido expulso do éden para invocar a musa, porque só havia em mim a imagem de Penélope a me esperar distante quase sem esperança, a tecer sua manta com as palavras de Rubem Alves: Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses. A vida não pode ser economizada para amanhã. Acontece sempre no presente. Vivo agora e voo pra ela. Até mais ver.

A ARTE DE DEYSON GILBERT
A arte do artista Deyson Gilbert, que é graduado em Artes Visuais pela Universidade de São (USP), fundador e editor da revista Dazibao e que já participou de mostras e exposições no Brasil e exterior. Veja mais aqui.


sexta-feira, julho 27, 2018

JAMES JOYCE, PINA BAUSCH, ELIOT, BAUDRILLARD, JOAN BAEZ, CASSIRER & GENÉSIO CAVALCANTI


A SOLIDÃO DO PORTO E DAS VIDAS DE NINGUÉM – Já diz o ditado: o que é do homem, o bicho não come! Como o acaso não existe, por isso mesmo, outro: o que tiver de ser, será. E foi. Pois bem, este livro possui duas histórias! A primeira, a da feitura do próprio livro: seus escritos desceram nas águas da enchente para nunca mais, pelo menos era o que se pensava. Não fosse a presteza vigilante da guardiã-prima Fátima, às vassouradas quando as águas baixaram, ao se deparar com um calhamaço emporcalhado, tomando pra si de colocá-lo para secar ao sol, guardando-o depois como quem se esquece por dias, meses e anos. Fosse outra, restaria apenas lata de lixo, com certeza. Aí, um dia lá, de supetão, ela se lembra e recolhe o volume para entregá-lo ao autor: era o livro perdido, agora devidamente recuperado. Graças! A segunda, a comovente história de Florisberto, Domitila e seus três filhos: Rubiana, Juninho e Aninha – a Cabelo de Fogo -, moradores do Porto Solidão, suas vidas, degredo e derrocada: o retrato pungente daqueles que enfrentam a tragédia com ternura no coração, mesmo que deserdados do mundo pelo colapso da monocultura canavieira, com as transformações nefastas que arruinaram reputações e a vida brasileira: um país agrícola que só serve ao latifúndio e aos interesses escusos. Tolhidos pelo desânimo e angústia da decadência, eles viveram como quem tem onde cair morto e não podem nem isso, pois, estão insepultos, e teimam em plantar cana para vender à usina que faliu e não têm mais o que fazer: a terra, como sempre, maravilhosa e inútil; a vida, uma carestia. Valiam-se apenas dos amigos vizinhos e solidários, o Alcides e Maricota, Jamelão e Arlinda, enquanto heróis da miséria no desafio da sociedade, só a paz da alma, nenhuma razão de gente esquecida que não levam pedras às mãos e, apesar de juntos, uns aos outros, família reunida, sempre estavam todos sós, à deriva, pelo torvelinho das ilusões com revoltas por minguados resultados, por dúvidas existenciais marcantes e a austera solidão - o que se tinha em comum: a solidão apenas, nada mais. Trata-se de uma história de amor e ternura de uma família resignada na nobreza do sofrimento, das virtudes realçadas no emudecido grito de socorro desesperado diante da pungente realidade: a vida em plenitude no meio de uma dramática situação que envolveu seres perdidos em algum rincão da região canavieira. O autor com estilo simples, enxuto e despido de ornamentos, não menos expressivo, ativo e vibrante, faz uma síntese do seu tempo na argamassa ficcional, penetrando a moldura dos personagens e a complexidade social com o calor da sensibilidade, o sangue da invenção na articulação de episódios e fatos, a urdidura da história contada: a condição humana na trama da vida. Esta é uma narrativa que eu gostaria de ter escrito, confesso. O resto é o que está por vir nas páginas, saibam e verão, de antemão: uma história e tanto. E o melhor de tudo: chega dá vontade de ler e reler. Em verdade, posso asseverar categoricamente: nada melhor que lê-lo e tirem a prova dos nove. Boa viagem. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música da cantora e compositora estadunidense Joan Baez: Live in New York, Live in Paris, Live Woodstock & Festival des Vieilles Charrues & muito mais nos mais de 2 milhões & 500 mil acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui, aqui e aqui.

PENSAMENTO DO DIA – [...] Podem desempenhar as tarefas da vida quotidiana; alguns deles até desenvolvem uma considerável habilidade em todos os testes desse tipo. Mas ficam completamente perdidos quando a solução do problema exige alguma atividade teórica ou reflexiva específica. Não são capazes de pensar em conceitos ou categorias gerais. Tendo perdido o domínio dos universais, apegam-se aos fatos imediatos, às situações concretas. Tais pacientes são capazes de desempenhar qualquer tarefa que só possa ser executada por meio de uma compreensão do abstrato. Tudo isso é altamente significativo, pois mostra a que ponto o tipo de pensamento que Herder chamou de reflexivo é dependente do pensamento simbólico. Sem o simbolismo, a vida do homem seria como a dos prisioneiros na caverna do famoso símile de Platão. A vida do homem ficaria confinada aos limites de suas necessidades biológicas e seus interesses práticos; não teria acesso ao “mundo ideal” que lhe é aberto em diferentes aspectos pela religião, pela arte, pela filosofia e pela ciência. Trecho de Das reações animais às respostas humanas, extraído da obra Ensaio sobre o homem: uma introdução a uma filosofia da cultura humana (Martins Fontes, 1994), do filósofo alemão Ernst Cassirer (1874-1945). Veja mais aqui e aqui.

SEGREDO POLÍTICO - [...] o segredo do político: esta duplicidade estrutural no funcionamento das sociedades, que é bem diferente da duplicidade, psicológica, dos homens do poder. Duplicidade que, profundamente, faz do processo social um jogo em que a sociedade em boa parte frustra sua própria socialidade, e sobrevive graças a essa flexibilidade das aparências, graças a esse desinteresse e a essa estratégia imoral (coletiva sem, dúvida alguma, mas não-visível, não-concertada, e desconcertante por si mesma) com relação a seus próprios valores. [...] O problema é então reconciliar a sociedade com seu próprio projeto e “socializar” o que só pede para sê-lo. Aniquilar toda duplicidade, toda estratégia das aparências no nível dos valores - maximalização da relação social, densidade da responsabilidade coletiva (e certamente também do controle), visibilidade das estruturas e do funcionamento, apoteose da moral pública e da cultura. [...] Porque nenhum grupo jamais funcionou assim - mas sobretudo: que grupo não sonhou com isso? Felizmente é verossímil que algum projeto social digno desse nome jamais existiu, que nenhum grupo na verdade jamais se concebeu idealmente como social, em suma, jamais houve “a sombra” (salvo nas cabeças intelectuais) nem o embrião de um sujeito coletivo com responsabilidade limitada, nem a possibilidade mesma de um objetivo dessa ordem. As sociedades que devotam suas energias para isso, que se lançam nesse sonho moral de socialização, estão perdidas de antemão. Este é o contrassenso fundamental. Felizmente elas sempre fracassarão, escaparão a si mesmas, o social não se estabelecerá. Trecho da obra À sombra das maiorias silenciosas: o fim do social e o surgimento das massas (Brasiliense, 1985), do sociólogo e filósofo francês Jean Baudrillard (1929-2007). Veja mais aqui.

MONÓLOGO DE MOLLY BLOOM - [...] eu adoro flor eu ia adorar entupir a casa de rosa Deus do céu não tem nada igual à natureza as montanhas virgens e aí o mar e as ondas quebrando e aí o interior lindo com os campos de aveia e de trigo e tudo quanto é coisa e aquele gado bonito tudo andando de um lado pro outro isso faz um bem pra alma ver rio lago e flor tudo quanto é tipo de forma cheiro e cor saltando até das valas prímula e violeta é a natureza e por mais que eles digam que Deus não existe eu não dou dez merréis de mel coado por toda essa sabedoria deles por que que eles não me vão lá e criam alguma coisa eu sempre perguntava pra ele os ateus ou sei lá que nome que eles se dão vão lá tirar as cracas primeiro depois saem berrando atrás do padre e eles lé morrendo e por quê ora porque eles ficam com medo do inferno por causa da má consciência deles pois sim eu conheço bem os tipos quem foi a primeira pessoa no universo antes de existir alguém que fez isso tudo que ah isso eles não sabem e nem eu está vendo é que nem eles tentarem fazer o sol não nascer amanhã o sol brilha por você ele disse no dia que a gente estava deitado no meio dos rododendros no morro Howth com o terno cinza de tuíde e o chapéu de palha no dia que eu fiz ele me pedir em casamento sim primeiro eu dei pra ele um pouquinho do pão de gergelim que estava na minha boca e era ano bissexto que nem agora dezesseis anos atrás meu Deus depois daquele beijo comprido eu quase perdi o fôlego sim ele disse que eu era uma flor da montanha sim e a gente é flor mesmo nós todas o corpo de uma mulher sim taí uma verdade que ele disse na vida e o sol brilha por você hoje sim foi por isso que eu gostei dele porque eu vi que ele entendia ou sentia o que uma mulher é eu sabia que sempre ia poder passar a perna nele e eu dei todo o prazer que eu pude dando corda até ele pedir pra eu dizer sim e primeiro eu não respondia e fiquei olhando pra longe pro mar e o céu eu estava pensando em tanta coisa que ele não sabia o Mulvey e o senhor Stanhope e a Hester e o papai e o velho capitão Groves e os marinheiros brincando de lenço atrás e simão mandou e tirando água do joelho que nem eles diziam lá no píer e o sentinela na frente da casa do governador com aquele treco em volta do capacete branco pobre diabo quase torrado e as espanholas rindo com aqueles xales e os pentes altos e os leilões de manhã os gregos e os judeus e os árabes e sabe Deus mais quem de tudo quanto é canto da Europa e a rua Duke e a feira de aves tudo cacarejando na frente da Larby Sharon e os burrinhos coitados escorregando meio dormindo e aqueles vultos de capa dormindo na sombra na escada e as rodas grandes dos carros de boi e o castelo de milhares de anos sim e aqueles mouros bonitos tudo de branco e com uns turbantes que nem reis pedindo pra gente sentar na lojinha minúscula deles e Ronda com as janelas velhas das posadas uns olhos de relance uma gelosia escondida pro amante dela beijar o ferro e as lojas de vinho metade abertas de noite e as castanholas e a noite que a gente perdeu o barco em Algeciras o vigia de um lado pro outro tranquilo com o lampião e ah terrível torrente profunda ah e o mar o mar carmim às vezes que nem fogo e aqueles poentes deslumbrantes e as figueiras nos jardins de Alameda sim e aquelas ruelas esquisitinhas todas e as casas rosas e azuis e amarelas e os roseirais e os jasmins e gerânios e cactos e Gibraltar eu menina onde eu fui uma Flor da montanha sim quando eu pus a rosa no cabelo que nem as andaluzas faziam ou será que hei de usar uma vermelha sim e como ele me beijou no pé do muro mourisco e eu pensei ora tanto faz ele quanto outro e aí pedi com os olhos pra ele pedir de novo sim e aí ele me perguntou se eu sim diria sim minha flor da montanha e primeiro eu passei os braços em volta dele sim e puxei ele pra baixo pra perto de mim pra ele poder sentir os meus peitos só perfume sim e o coração dele batia que nem louco e sim eu disse sim eu quero Sim. Trecho do Monólogo de Molly Bloom, extraído da obra Ulisses (Civilização Brasileira, 1966), escritor irlandês James Joyce (1882-1941). Veja mais aqui e aqui.

RAPSÓDIA SOBRE UMA NOITE DE VENTO - Meia-noite. / Uma síntese lunar captura / Todas as fases da rua, / Sussurrantes sortilégios lunares / Dissolvem os planos da memória / E todas as suas límpidas tramas, / Divisões e precisos mecanismos. / Cada lampião que ultrapasso / Pulsa como um tambor fatídico, / E através das lacunas do escuro / A meia-noite golpeia a memória / Como um louco brande um gerânio morto. / Uma e meia, / O lampião cuspia, / O lampião resmungava, / O lampião dizia: “Olha aquela mulher / Ao teu encontro hesitante à luz da porta / Que a recorta como um riso escarninho. / Repara-lhe a barra do vestido / Rasgada e suja de areia, / E o canto de seu olho que se arqueia / Como um grampo retorcido.” / A memória expele e disseca / Um turbilhão de coisas tortas; / Um ramo tortuoso sobre a praia / Polidamente carcomido e cinzelado / Como se o mundo erguesse à superfície / O segredo de seu esqueleto, / Rígido e alvadio. / A mola espatifada no pátio de uma fábrica, / A ferrugem que se aferra à forma / Que a força deixou tensa e enrodilhada / E pronta a abocanhar com uma dentada. / Duas e meia, / O lampião dizia: / “Observa o gato que na calha se adelgaça, / Espicha a sua língua e saboreia / Um naco rançoso de manteiga.” / Tal a mão do menino, automática, / Surripiou e embolsou um brinquedo / Que ao longo do cais deslizava. / Eu nada podia ver atrás dos olhos do menino. / Tenho visto pela rua olhos que tentam / Emergir por entre iluminadas persianas, / E certa tarde um caranguejo vi na lama, / Um velho caranguejo em sua carcaça calcária / A agarrar-se à ponta do graveto que eu sustinha. / Três e meia, / O lampião cuspia, / O lampião no escuro resmungava, / O lampião zumbia: / “Olha a lua, / La lune ne garde aucune rancune. / Pisca um olho tímido, / Sorri pelas esquinas. / Alisa os cabelos de gramínea. / A lua perdeu a memória. / Bexigas descoradas ulceram-lhe a face. / Suas mãos retorcem uma rosa de papel / Que recende a pó e água-de-colônia. / Ela está só, em companhia / De todos os antigos eflúvios noturnos / Que lhe cruzam e entrecruzam o cérebro.” / Aflora a reminiscência / De secos gerânios pálidos / E de poeira nas frinchas, / Aroma de castanhas pela rua, / E odor de fêmea nas alcovas clandestinas, / E de cigarros pelos corredores / E de coquetéis nos bares. / O lampião disse: / “Quatro horas, / Eis o número sobre a porta. / Memória! / Tens a chave, / A luminária alastra um círculo na escada. / Sobe. / A cama é franca; a escova de dentes na parede pende, / Põe teus sapatos junto à porta, dorme, para a vida te talha. / O último talho da navalha. Poema extraído da obra Poesia (Nova Fronteira, 1981), do poeta, dramaturgo, crítico literário inglês e Prêmio Nobel de 1948, Thomas Stearns Eliot (1888-1965). Veja mais aqui e aqui.

A ARTE DE PINA BAUSCH
A arte da memorável coreografa, dançarina, pedagoga e diretora de balé alemã Pina Bausch (1940-2009). Veja mais aqui.

Filarmônica de Alagoas & muito mais na Agenda aqui.
&
A arte de Genésio Cavalcanti aqui, aqui, aqui e aqui.
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Nitolino no reino encantado de todas as coisas, a poesia de Ingeborg Bachmann, O sistema dos objetivos de Jean Baudrillard, a arte de Dorothy Iannone, a música de Carl Orff, Chloë Hanslip, Nelson Freire e Mitsuko Uchida aqui.

APOIO CULTURAL: SEMAFIL
Semafil Livros nas faculdades Estácio de Carapicuíba e Anhanguera de São Paulo. Organização do Silvinha Historiador, em São Paulo. Fone: 11 98499-2985.


segunda-feira, maio 28, 2018

JAMES JOYCE, OCTAVIO PAZ, LUÍZA BARRETO LEITE, OSMÁRIO MARQUES, JUSSARA SALAZAR DEMOCRACIA, GIAN CORREA & CLÉLIA IRUZUN


CARTA DE PEITO ABERTO - Imagem: a arte do fotógrafo Osmário Marques. - Não nasci para sempre e a cada espanto a sequência da memória que me falha, se entrega ao meu exílio. Pouco sou do que me resta, nada tenho por primazia: sou mato de chão, areia de deserto, estrangeiro para todos, e por todos, cada um, sou comunhão. As palavras antigas agora quase são outras e o Brasil é sempre o mesmo, confunde-se com séculos de ontens, e nem se espera que amanhã seja um outro de tão pretérito, um futuro só passado no agora nem lembrado e sequer vivido diante das desventuras e sem pausas nas recordações. Daqui a gente não sai, apesar do riso de esgar dos que pensam donos dos confins. Ainda é cedo, mesmo que pareça tarde demais e tudo por um fio. Nenhum recado e me adivinho inteiriço nas minhas espessuras, porque perdi o calendário, os dias e os meses – não sei se hoje é quarenta e cinco de outubro, ou trinta e um de fevereiro -, cheguei antes do nome e dissolvo as sombras, fatigado de errar. Sirvo-me da derradeira esperança, escrevo estrelas e reclamam as palavras extraviadas no reino do silêncio. O sortilégio da poesia segue o exemplo luminoso do coração na serena voz, se faz frio ou calor, o corpo é só verdade ao sentimento. Sou o que canto, qualquer maneira, espesso ou insosso, levo o gesto sem demora pra quem punge a lágrima escondida. Canto a pele do rio, o céu azul da cidade, a doce terra, pode ser nada, só o que tenho, e o meu dedo alisa o espaço e toca o tempo – essas ilusões que não resistem aos meus olhos fechados. Cantar sempre foi o meu fraco e se me perguntam se vou, digo chego já, e reparto a colheita do peito sem certeza por mais distante que sejam os caminhos. A morte que me pertence depende de mim e sou nela o vale da eternidade. À minha espera, a paixão em tudo que faço: vivo o instante que me cabe e convivo com o milagre de viver vendaval. A vida é o que me vale, cair na vida pro exercício do amor. Deus abençoe a todos. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do compositor, arranjador e violonista 7 cordas Gian Correa: Jazzman no Morro, Gênese & Homenagem a Dominguinhos; da pianista Clélia Iruzun: Grand Fantasie Triomphali sur l’Hymne National Bresilien, Choro nº 5 – Alma brasileira & Bachianas Brasileiras nº 4 de Heitor Villa-Lobos; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA – [...] Nossa constituição é chamada de democracia porque o poder está nas mãos do povo e não de uma minoria. Quando se trata de solucionar rixas particulares, todos são iguais perante a lei; quando se trata de colocar um indivíduo à frente de outro em cargos de responsabilidade pública, o importante não é pertencer a determinada classe, mas sim a capacidade real de que o homem é possuidor. Ninguém, desde que nutra o desejo de servir ao estado, é mantido na obscuridade política por ser pobre... esta é uma peculiaridade nossa; não dizemos que um homem que não tem interesse pela política é um homem que trata de sua própria vida; dizemos que ele não tem absolutamente nada a fazer aqui. [...]. Palavras do estadista, orador e estrategista da Grécia Antiga, Péricles (495/492aC-429aC), durante a Era de Ouro de Atenas, recolhida da obra História das cavernas ao terceiro milênio (Moderna, 2000), de Myriam Becho Mota & Patrícia Ramos Braick. Veja mais aqui e aqui.

A DESCOBERTA & A REVELAÇÃO – [...] A revelação não descobre algo exterior, que estava aí, alheio; o ato de descobrir entranha a criação do que vai ser descoberto: nosso próprio ser. Nesse sentido, pode-se dizer, sem temor de incorrer em contradição, que o poeta cria o ser. Porque o ser não é algo dado, sobre o qual se apoia nosso existir, mas algo que é feito. O ser não pode se apoiar em nada porque o nada é seu fundamento. Assim, não lhe resta outro recurso senão segurar-se em si, criar-se a cada instante. Nosso ser consiste numa possibilidade de ser. Ao ser não lhe resta nada senão ser-se. Sua falta original — ser fundamento de uma negatividade — obriga-o a criar sua abundância ou plenitude. O homem é carência de ser mas também é conquista do ser. O homem é lançado para nomear e criar o ser [...]. Trecho extraído da obra O arco e a lira (Nova Fronteira, 1982), do escritor e diplomata mexicano Octavio Paz (1914-1998) que, em outra obra, Signos em rotação (Perspectiva, 2003), observa que: [...] Com efeito, a linguagem é sentido disto ou daquilo. O sentido é o nexo entre o nome e aquilo que nomeamos. Assim, implica distância entre um e outro. Ao anunciarmos certa classe de proposição (“o telefone é comer”, “Maria é um triângulo”, etc) produz-se um sem-sentido porque o objeto torna-se insalvável: a ponte, o sentido rompeu-se. O homem fica só, encerrado em sua linguagem. Com a imagem sucede o contrário. Longe de aumentar, a distância entre palavra e coisa se reduz ou desaparece por completo: o nome e o nomeado são a mesma coisa. O sentido — na medida em que é nexo ou ponte — também desaparece; já não há nada que aprender, nada que assinalar. Mas não se produz o sem-sentido ou o contra-sentido e sim algo que é indizível e inexplicável, exceto por si mesmo [...]. Veja mais aqui e aqui.

EXILADOS[...] Richard: [Recosta-se, prende as mãos atrás da cabeça.] Ah, se soubesse como estou sofrendo agora! Por sua causa também, mas principalmente por mim mesmo. [Com intensa amargura.] E como eu rezo para que pudesse receber novamente a dureza do coração da minha falecida mãe! Preciso encontrar algum tipo de ajuda, dentro ou fora de mim. E vou encontrar. [BEATRICE levanta-se, olha fixamente para ele e afasta-se até a porta do jardim. Vira-se hesitante, olha novamente para ele, volta até a poltrona e apóia-se nela.] Beatrice: [Calmamente.] Ela o chamou antes de morrer, senhor Rowan? Richard: [Perdido em pensamentos.] Quem? Beatrice: Sua mãe. Richard: [Voltando a si, olha-a pungentemente por um momento.] Então meus amigos também comentaram a respeito disso, que ela mandou me chamar antes de morrer e que eu não fui vê-la. Beatrice: Sim. Richard: [Friamente.] Não, ela não mandou me chamar. Morreu só, sem me perdoar e fortalecida pelos rituais da sagrada igreja. Beatrice: Por que está falando comigo desse jeito, senhor Rowan? Richard: [Levanta-se e anda de um lado para o outro.] E você vai dizer que esse meu sofrimento é minha punição. Beatrice: Ela lhe escreveu? Quer dizer, antes de... Richard: [Parando.] Escreveu. Uma carta com conselhos, mandando que esquecesse o passado e lembrasse das últimas palavras que havia me dito. Beatrice: [Suavemente.] E a morte não o afeta, senhor Rowan? É um fim. Nada mais é tão certo. Richard: Enquanto estava viva, ela virou as costas para mim e para minha família. Isso, sim, é certo. Beatrice: Ao senhor e à sua família... ? Richard: Eu, Bertha, nosso filho. Então, esperei pelo fim, como você diz. E ele veio. Beatrice: [Cobre o rosto com as mãos.] Não, não posso acreditar no que estou ouvindo. Richard: [Furiosamente.] Como minhas palavras poderiam ferir aquele pobre corpo apodrecendo na cova? Você acha que eu não lamento pelo amor frio e virulento que ela tinha por mim? Eu lutei contra o seu espírito enquanto ela viveu, até o amargo fim. [Pressiona a mão contra a testa.] Ele ainda luta contra mim, aqui. Beatrice: [Como antes.] Por favor, não fale assim! Richard: Ela me afastou. Por causa dela vivi anos exilado e na miséria, ou quase. Nunca aceitei as esmolas que ela me mandava pelo banco. E esperei também. Não pela sua morte, mas que me compreendesse de algum modo, o próprio filho, sua carne, seu sangue. Mas isso nunca aconteceu. Beatrice: Nem mesmo depois de Archie? Richard: [Asperamente.] Meu filho, você acha? Uma criança fruto do pecado e da vergonha! Você está falando sério? [Ela levanta a cabeça e olha para ele.] As más-línguas daqui já estavam prontas para contar tudo a ela, para amargurar ainda mais sua mente doentia e instigá-la contra mim, Bertha e nosso filho bastardo e ateu. [Estendendo suas mãos para ela.] Você não consegue ouvi-la desdenhando de mim enquanto falo? Você deve conhecer aquela voz, com certeza, a voz que lhe chama de protestante demoníaca, de filha do pervertido. [Recompondo-se subitamente.] De qualquer forma, uma mulher notável. [...]. Trecho da peça teatral Exilados (Iluminuras, 2003), do escritor irlandês expatriado James Joyce (1882-1941), contando a história de um casal que volta a Dublin depois do exílio e retoma contato com um jornalista que é apaixonado pela esposa do amigo e entra em conflito interno, desenvolvendo uma trama de um triângulo amoroso entre um artista que luta contra as convenções burguesas, sua mulher de caráter forte e insubmisso e um jornalista de temperamento sensual, mostrando a frágil divisão de possessão existente quando amor e amizade realizam-se livremente sem restrições. Veja mais aqui.

CINCO POEMAS - OH MEU SENHOR! I - o modo como ela ouvia a chuva / um último momento e o rapaz lhe salva / quase sempre ele / vai requebra pela calçada / calça justa cabelos negros / sobre a pista de dança daquele modo / como ele / o rapaz / dançava / o corpo nos 70 aquele rapaz / o modo como agora ela reza senhor / saída de um retábulo hieronymus / sobre a mesa da sala/ os pássaros monstros voando como balas / estilhaçando as janelas de um céu azul / os pássaros sem modos do amanhecer / os estridentes “eles" / cristais presos ao vidro / as balas azuis as balas / os cavaleiros com suas caras / a cruz no peito estilhaçado pelos mesmos pássaros / a sala a vala rasa a vara dos / treze anjos no teto a casa / são anjos com olhar afiado / de oh piedade senhor tende de nós / o modo como ela sabia das flores dias / e dias lilases branco pálidos como seu rosto / e as flores até enegrecerem secarem / vivas como velas / tremulando sobre as paredes / bebendo as noites de celan / o modo como ela atravessava e bebia o corredor / e a noite varava / oh senhor! II - oh tereza de ávila entre os muros / de pedra / a minha casa / como a tua lavoura a minha casa / sob os teus pés / mater dolorosa / doce aragem perfumada / sobre o meu retrato paira / ondula esfumaça / cor-de-rosa venenosa / a rosa oh tereza santa / desvairada / a neblina grita guerra / a minha casa arde / e a minha tarde espera / entre as velas / que iluminam as pedras / da muralha sem pássaro / da cidade sem máscara / da outra pedra sem laço / onde o espaço onde / arde o ocaso arde / e queima a casa dela / areia areia areia / minha estrela sobe o sepulcro / areia aleph areia / beijo o muro / e pedra / atravesso a casa / meu livro de letras / movimenta-se / areia / sob o chão de minha casa / movimenta-se / a tua casa escassa / mina e cada passo / acaba / acaba e cada brisa / inicia outra casa / areia areia areia A FIANDEIRA ABRIU: A fiandeira abriu o baú de prata teceu um vestido cor de terra. Vestiu-o e adormeceu em meio ao mato que cobriu a casa branca do cal da escuridão. Nunca mais despertou. O diabo sentado para o jantar ouviu tudo. A noite misteriosa nada escutou: a cruz no peito e o diabo nos feitos As saias de Juana, a alma, são brancas Todos os vestidos das mulheres da casa são negros guardados em baús dobrados no desalinho do tempo No verão enquanto os tamanduás passeiam os focinhos compridos as mulheres de negro cerram as janelas e fingem o luto choram como bezerras Rezam ao pé da cruz se descabelam para depois pecar ao sol com suas vestes pássaras cantam seus rondós silvestres pintam os olhos que exibem esquecem São criaturas de um outro mundo Juana, a alma de porcelana, nunca chorou 1300 Mis saetas ligeras les tiraré, y la hambre corte el vital estambre; y de aves carniceras TYRANA CANTADA À SACRA PRECLARÍSSIMA SANTA JOANA PRINCESA EM SEU LEITO DE MORTE – 1 Ela disse ao coração do cantor / não cante/aos corvos / ela disse ao mar profundo / jazem/as brumas da ira / ela disse não cante /apenas diga / ao silêncio/que plante / aquela flor/ e rasgando a sombra/cuja mão / ela /esguia como um longo cravo/ segurava/disse ao tempo/ não espantes/o sol com a tua dor BESTIÁRIO - a minha guerra será a tua guerra / não a guerra dos homens /mas a dos pássaros desgarrados / o nosso bestiário será esse / o do contrário nunca jamais / e a minha casa será a tua guerra / o nosso bestiário será esse / o do contrário o dos urubus diários / e a minha carne será a tua guerra / o nosso bestiário será esse / o dos monstros submersos que eunoé lembrará / quando a minha cruz for a tua guerra / então o nosso bestiário será esse / canto perdido sem prumo retalhado / sem dor sem beleza nem terra / e a minha guerra será a tua guerra. Poemas da poeta e artista plástica Jussara Salazar, autora dos livros Carpideiras (2011), Natália (2004) e Coloraurisonoros (2008), entre outros.

A ARTE LUIZA BARRETO LEITE
A atriz, crítica e diretora teatral Luíza Barreto Leite (1909-1996), estreou no cinema com o filme Sob a luz de meu bairro, em 1946, tornando-se uma das fundadoras do grupo teatral Os comediantes e foi diretora de radioteatro da Rádio Mec. Ela também foi ensaísta, professora e é autora dos livros A mulher no teatro brasileiro (Espetáculos, 1965), Teatro na educação (INP, 1954), Teatro e criatividade (MEC/SNT, 1975) e O teatro na educação artística (Achiamé, 1980), entre outros.


O livro Palpo a quimera e o tremor, de Vital Corrêa de Araújo & muito mais na Agenda aqui.
&
A arte de Osmário Marques
&
Coisas da vida de rir & chorar, a literatura de Ferreira Gullar & Patrick McGrath, a fotografia de Max Dupain & JR aqui.
 

terça-feira, abril 17, 2018

JAMES JOYCE, HUXLEY, RAJNEESH, RICHARD EBERHART, OLGA ROSANOVA, CANTON BALLET, HYLDON & CÉU

ALGUMA COISA DITA QUE SIRVA OU NÃO – Imagem: Fire in town, da artista vanguardista do suprematismo russo, Olga Rosanova (1886-1918). - Acorda a manhã com os chuviscos de abril, inverno antecipado que se prolonga na rouca voz do locutor desalmado berrando com estardalhaço a extravagância da nossa barbárie. Um prazer oculto da locução pro ouvinte, nessa interação entre manchetes e emoções, escândalos e frisson, equívocos e condenações – o olhar canhestra de quem fracassou na sua humanidade. Mortes, escândalos, rol de desumanidade como cantiga matinal, saudando um dia fúnebre que desconhece o Sol por trás das nuvens, as sementes que brotam alhures, as águas das correntes, os ventos que carregam todas as loucuras. Quem ouve atento, ou assiste o rol de atrocidades, pelo menos, terá o que conversar, ávido por novidades da tragédia, satisfação de punir com as razões das desrazões, o culto do desvario, da estupidez, do inclemente. Pra eles quanto mais sensacionalista, mais prazeroso e tudo é pra lá de deprimente, desde que o leão devore o desafiador, desde que o circo pegue fogo pra festança geral, desde que o Tribunal Júri condene a pele de quem estiver no banco dos réus, seja quem for. Não importa quem, a Lei de Talião. A indignação perdida pelo agora banal, antes revolta, é só a torpeza do trivial, que a olhos ingênuos não acontecerá consigo protegido pelas orações de fé carregadas no bolso, só com outrem, apenas, os ímpios e descrentes, os que estão do outro lado. O lado definido, infeliz de quem estiver na outra banda das convenções. É como se tudo fosse dividido entre os a favor e os do contra, tão somente, pros da roda da amizade e compadrio tudo; pros que não são da laia, infelizes desconhecidos ou desafetos, a lei mais desumana. A pena de não saber que a gente existe não só no físico, o invisível nos completa, mas quem quer saber do que não vê, importa só o perceptível que diz tudo e é só o que vale. É como se uma cegueira doentia afastasse os problemas e suas consequências, pra lá os presságios dos anátemas ou a vingança dos mortos; só bem-vindas e graças a Deus, os ganhos e os milagres do favorecimento. E isso é viver, o quase impossível sentir perto, por mais longe que esteja, o que não se alcança facilmente é deixado de lado, nada de faina, nem azares, voltar-se sempre pro lucrado, prejuízo é coisa pra desviados pecadores, até vale a fraternidade dos celerados em troca de simpatias para a rede de prosélitos, toma lá, dá cá, insânia que cresce ao meio dia e se agiganta pela tarde e noite, até o adormecimento dos ardis que serão retomados e sobrepostos na manhã seguinte em nome do saber viver entre acordos celebrados e nas relações de amizade, como se uma guerra eterna construísse amigos e inimigos ao longo dos dias. E se a manhã é outra, os atos são os mesmos desde não sei quando e se repetem por semanas, meses e anos, décadas, milênios, o código dos acertos, a manutenção do acertado. Quem olha por trás, acima ou além disso, sente o travo que corta a língua e fere a garganta pro grito da insubordinação, um grito sufocado pelo alarido da loucura instalada desde antes de sempre. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do cantor e compositor Hyldon: A origem, Nossa história de amor e Sabor de amor; da cantora e compositora Céu: Vagarosa, Catch a fire The Wailers e Bob Marley e solo; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA – [...] Não há objetivo para a vida, a existência é desproposital [...] A existência, por outro lado, não tem objetivos. E a menos que você saiba o que há além do ego, além dos objetos, não terá sabido nada. [...]. Texto extraído de Eu sou a porta: o sentido da iniciação e do aprendizado (Pensamento, 1975), do filósofo místico Bhagwan Shree Rajneesh (1931-1990). Veja mais aqui.

A ARTE & HOJE - [...] O progresso técnico [...] conduziu à vulgaridade [...] a reprodutibilidade técnica e as rotativas possibilitaram a multiplicação infinita de escritos e imagens. A instrução obrigatória e a elevação dos salários gerou um grande público que é capaz de ler e tem condição de adquirir publicações. Para dar conta dessa demanda, surgiu uma indústria considerável. O talento artístico, no entanto, é algo raro; a consequência disso foi que a maioria da produção artística, em qualquer tempo ou lugar, tornou-se medíocre. Hoje, a quantidade de vulgaridade no conjunto da produção artística supera qualquer outra época [...] Estamos diante de um simples fenômeno matemático. [...] Resulta que em todos os gêneros artísticos a produção de vulgaridades seja maior do que foi no passado; e assim permanecerá, enquanto as pessoas continuarem a consumir quantidades desproporcionais de material escrito, imagens e música. [...]. Extraído da obra Croisière d’hiver (Paris, 1935), do escritor inglês Aldous Huxley (1894-1963). Veja mais aqui.

NÃO CONFIE NAS APARÊNCIASNão há nada mais enganador e de modo geral tão fascinante quanto uma boa superfície. O mar, quando contemplado na cálida luz do sol de um dia de verão; o céu, azul na cintilação débil e âmbar de um sol outonal, agradam a vista: mas, como é diferente a cena, quando a louca fúria dos elementos desperta novamente a desarmonia da confusão, como é diferente o oceano, arrojando-se com espuma e escuma, do calmo, plácido mar, que cintila e ondula alegremente ao sol. Mas os melhores exemplos da instabilidade das aparências são: o Homem e a Fortuna. A aparência bajuladora e servil; e igualmente a expressão arrogante e altiva, escondem a falta de caráter. A Fortuna, essa quinquilharia cintilante cujo brilho lustroso fascinou e tentou tanto orgulhosos como pobres, é tão instável quanto o vento. Mas existe um “algo” que nos diz qual o caráter de um homem. É o olho. O único traidor que nem a mais rígida vontade de um vilão viciado não consegue disfarçar. É o olho que revela ao homem a culpa ou a inocência, os vícios ou as virtudes da alma. Essa é a única exceção ao proverbio “Não confie nas aparências”. Em todos os outros casos é preciso procurar o verdadeiro valor. O garbo da realeza ou da democracia não são senão a sombra de um “homem” deixa atrás de si. “Oh! Como é infeliz o homem que depende dos favores dos príncipes”. A instável maré da fortuna sempre mutante traz consigo – bem e mal. Como parece belo quando arauto do bem e como parece cruel quando mensageiro do mal! O homem que depende do temperamento de um rei não é senão um barquinho no grande oceano. Assim vemos como são ocas as aparências. O hipócrita é o pior tipo de vilão, mas sob a aparecia de virtude esconde o pior dos vícios. O amigo, que não tem ambição, nem fortuna nem luxo exceto contentamento não consegue ocultar a alegria da felicidade que flui de uma consciência clara e de uma mente leve. Trecho extraído da obra James Joyce (Globo, 1989), de Richard Ellmann, com tradução de Lya Luft, sobre a biografia do escritor irlandês expatriado James Joyce (1882-1941). Veja mais aqui.

SABEDORIA DA INSEGURANÇADa desintegração a parte interminável / é que se construirá novamente; / de um rouxinol, / é que se tornará uma memória; / de uma grande mariposa de agosto, / com os olhos nas asas, tão bela, / capaz de representar-se tal uma fábula, / é que será tentada de novo em um poema; / de uma rosa despetalada, / é que são seus amáveis avós; / do mal do homem para com o homem, / é que é a tenacidade da humanidade: / tirar da mente a longo tempo / e atribuir ao coração novas fidelidades; / da música do silêncio rompida, / é que será reunida novamente; / renomeando a poesia da cor dos dias, / é que fazem o paradigma do pintor. / Da falibilidade imensurável, / é que se transforma em arte por autoridade; / que a desintegração do tempo / torna-se um enriquecimento do intemporal; assim nada se destrói, antes encontra tudo / a sua verdade na mente eterna; / que a morte não oferece escapatória, / o homem torna-se a forma de outro homem. / Eu devo descender do velho Adão / e sou seu, dele, metropolitano. / Caem a chuva e as folhas. É o mistério / palpável. E a mesmice é sempre a mesma. / Embora diferente, donde espio, / é através do peixe o seu anzol. / O estranho no sonho do poeta, / é o que é e não o que parece. / Quando se vê a própria destruição / vê-se a forma surgindo do inferno / como lembro no Campo Santo em Pisa / a obra do Giovanni medieval / que um velho pintor morto, inclinado. / De um infante, a alma saindo da cabeça. Poema do premiado poeta estadunidense Richard Eberhart (1904- 2005).

A ARTE DO CANTON BALLEY CELEBRATE DANCE
Cena do Canton Ballet Celebrate Dance!, no Palace Theatre, sob a direção de Cassandra Crowley.


O 11º Festival de Cinema de Triunfo & muito mais na Agenda aqui.
&
Pelos caminhos que andares, o pensamento de Simone de Beauvoir, o cinema de Paulo Cesar Saraceni, a pintura de Alfredo Volpi & a A arte de Luciah Lopez aqui.
 

segunda-feira, dezembro 11, 2017

JAMES JOYCE, DELEUZE, JOAQUIM CARDOZO, AGAMBEN, RODOLFO AMOEDO, ARRIGO BARNABÉ & VÂNIA BASTOS, LUCIAH LOPEZ, NA ERA DO RADIO & BEZERROS

COMEÇAR, RECOMEÇAR & DOIS MILHÕES DE BEIJABRAÇÕES - Imagem: foto de Alexandre Buisse – A vida pra ser vivida é feita de ação, movimento. Bola pra frente! E seguir cada qual sua estrada. Reconheço que todo aclive seja obstáculo, nada que uma motivação não vença! É só querer, mesmo que seja embaixo da maior chuva de canivete, ou queda de meteoros, ou desaforos, ou no meio de uma saraivada de pedras, apupos, remoques. Ninguém chega ao topo sozinho ou somente por seus próprios esforços, mesmo que se veja solitário na subida pro topo do mundo ou pra baixo da ponte, entre torcidas do contra, escárnios, xingamentos. Só isto já vale a pena, sou um sortudo: entre zilhões de espermatozóides, fui aquele que persistiu e sobreviveu, fertilizando o óvulo. Não fui abatido, nem estou liquidado, sigo adiante. Minha mãe foi a escolhida e a ela sou eternamente grato. A meu pai, minha reveência. Posso não ter sido o que sonharam ou desejaram. Fazer o quê? Sou o que sou, o melhor que posso a cada dia. E saúdo os que chegam junto ou os que se evadiram, ou se acovardaram ou estranharam, ou que tiveram a maior má vontade ou fizeram que não sabiam de nada, perguntando o que é que é isso, e coisa e tal, enfim, saúdo, vivas! Agradeço sem rancores ou cobranças, e agradeço porque, de uma forma ou de outra, contribuíram assim mesmo para que eu buscasse uma saída quando não havia mais nada em que amparar, sem essa contribuição, com certeza, eu jamais tomaria a iniciativa e jamais chegaria aonde cheguei. Cheguei mesmo onde? Sei lá, pouco importa. No caminho do Sol, agradeço todos os dias a graça de viver. Se não tenho nada pra comemorar, junto os trapos, pedaços e troços, saio feliz de bolsos vazios e braços abertos, mesmo que me tenham por falido ou derrotado, vou adiante, topadas, derrapadas, espalhando afeitos e solidariedade. Minha gratidão aos que se fizeram presente, zilhões de abraços! Aos que se foram sem terem chegado às vias de fato, meu desejo de boa viagem e saravá! Aos que se acham incólumes pra condenarem a mim e a quem quer que seja, e aos esculachos se acharam donos da razão e mandaram ver sem ter nem pra quê, com areia e cimento, atirando pedras, gestos hostis e a última pá de cal, minha gratidão. Este é só o começo, eterno recomeço. Dois milhões de beijabrações procês! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com o músico, compositor, radialista e ator Arrigo Barnabé, apresentando músicas dos álbuns Clara Crocodilo (1980), e apresentações em show ao vivo; e a cantora da Vanguarda Paulista, Vânia Bastos: Canta Mais & Tocar na Banda. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui & aqui.

PENSAMENTO DO DIA – [...] o estado de exceção tende cada vez mais a se apresentar como o paradigma de governo dominante na política contemporânea. Esse deslocamento de uma medida provisória e excepcional para uma técnica de governo [...] apresenta-sem nessa perspectiva, como um patamar de indeterminação entre democracia e absolutismo. [...]. Trecho extraído da obra Estado de exceção (Boitempo, 2004), do filósofo italiano Giorgio Agamben, criador da teoria do homo sacer e tratando sobre o estado de exceção como paradigma de governo, força-de-lei, luta de gigantes acerca de um vazio, festa, luto, anomia, auctoritas e potestas,

DO LEGAL & ILEGAL - [...] as leis não se opõem à ilegalidade [...] Umas organizam explicitamente o meio de não cumprir as outras. A lei é uma gestão dos ilegalismos, permitindo uns, tornando-os possíveis ou inventando-os como privilégios da classe dominante, tolerando outros como compensação às classes dominadas, ou, mesmo, fazendo-os servir à classe dominante, finalmente, proibindo, isolando e tomando outros como objeto, mas também como meio de dominação. [...]. Trechos da obra Foucault (Brasiliense, 2005), do filósofo francês Gilles Deleuze (1925-1995). Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

BEZERROS – O município de Bezerros é formado pelos distritos sede, Encruzilha, Sapucarana e Boas Novas e pelos povoados de Serra Negra, Sítio dos Remédios, Cajazeiras e Areias. A sua origem data de 20 de maio 1870, quando foi implantado um grande comércio de gado, iniciando o povoamento do local. Algumas versões da história de Bezerros tentam explicar o nome da cidade. A primeira diz respeito ao sobrenome da família Bezerra, que foi a primeira proprietária das terras. A segunda diz que o local foi, primitivamente, uma queimada de bezerros. A terceira conta que um dos filhos da família Bezerra se perdeu na reserva florestal no dia 18 de Maio, tendo sido feita uma promessa a São José, sendo a criança encontrada com vida dois dias após seu sumiço, ou seja, dia 20 de Maio, ao pé de frondosa árvore onde foi erguida uma Capela sob a invocação de São José dos Bezerros. Anualmente, no dia 18 de maio se comemora a sua emancipação política. O município está inserido nas bacias do Rio Ipojuca e o seu carnaval é um dos mais prestigiados, sendo também conhecida como a terra do Papangu, tradição festiva na qual as pessoas se vestem com máscaras de todos os tipos durante as festas carnavalescas. Veja mais aqui.

FINNEGANS WAKES – [...] Então Esta é Dubilingue? Halto! Cautela! Ecolândia! Heis um caminho esquisito! Lembra, de rasto, a deslavada negravura que bostumávamos manchar no borramuro de sua pensão intistinta. Crostumavam? (Estou certo de que aquele chatigante matracavo com sua caixa de chocolates mujicais, Muco Michel, está escutando) Digo, restos da desusada gravultura onde postumavam murchar os Ptolomens dos Incabus. Gostumávamos? (Ele está apenas pretrendentro estar peliscando a harpa jubalar de um segundo existinto ouvivente, Fero Farelo). Isto é bem conhecido. Ferrolha-te a ele mesmo e vê o velho novo em folha. Dbin. W. K. O. O. Ouve? Junto ao muro do mausolimo. Finfim finfim. Um cortejo funébrio. Fumfumfumfum. É optopfone que ontofana. Ouve! A mágica mentira de Wheatstone. Eles lutharão por mil lírios. Eles escutarão por mil heras. Eles retumbarão por mil luras. Seus daedos tangerão a harpscordia por mil liras. [...] Trecho do Panorama do Finnegans Wake (Perspectiva, 1971), de Augusto e Haroldo de Campos, com fragmentos, sinopse e síntese biobliográfica acerca do último romance publicado em 1939, do escritor irlandês expatriado James Joyce (1882-1941), que se tornou um dos grandes marcos da literatura experimental e sua multiplicidade de significados. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

O CORONEL DE MACAMBIRA – [...] Doutor: Também previno e advirto / para o bem-estar geral: / cuidado tenham, cuidado / com aqueles eu praticam / a medicina ilegal. / No meio justo objetivo / de evitar o grande mal / de tantas charlatanices / empreguei na ciência médica / organização vertical. / Vou dizer sumariamente / em que consta este ideal: / servindo à comunidade / dentro dos mais sãos princípios, / dispomho de consultório / e de hospital bem montados / nos quais dirijo e executo / serviço especializado / no domínio operatório. / Para não ser explorado / pela ganância, e o abuso / evitar de desonestos / fabricantes de remédios, / com perfeição realizo / num grande laboratóiro / as drogas de que preciso. (O doutor vai-se aproximando do boi para examiná-lo, mas continua a explicar a sua organização): / Tenho ali bem instalados / banco de sangue e de córneas, / tão úteis à medicina / sem dúvida. Mesmo agora / criri um banco a que dei / o nome de Celestina [...]. Trecho da peça teatral O coronel de macambira: bumba-meu-boi em dois quadros (Fundação de Cultura Cidade do Recife, 2005), do poeta, dramaturgo, engenheiro civil, desenhista, professor e editor Joaquim Cardozo (1897-1978). Veja mais aqui e aqui.

CUMPLICIDADE
... e a pele se junta à pele na eternidade da carne e o Verbo se conjuga no abração e na boca que faz juras de amor eterno a palavra perpetua o eco do amor de outras eras.
Poema/imagem da poeta, artista visual e blogueira Luciah Lopez, em comemoração aos dois milhões de acessos ao blog Tataritaritatá. Veja mais aqui.

Veja mais:
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DOCUMENTÁRIO: NA ERA DO RÁDIO – SHOW DE CALOUROS
Documentário Na era do rádio: Show de Calouros. Participção dos artistas palmarenses: Rosa Maria, Val dos Anjos, Batista Silva, Rudimar Tempero Gostoso, Fernando Santos, Linaldo Martins (Zé Linaldo) & apresentação de Marquinhos Cabral. Direção Genésio Cavalcanti. Cinegrafista: Luiz Heitor Cavalcanti. Lançamento em breve.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
A arte do pintor Rodolfo Amoedo (1857-1941)
Veja mais aqui.
 

ROSA MECHIÇO, ČHIRANAN PITPREECHA, ALYSON NOEL, INDÍGENAS & DITADURA MILITAR

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som de Uma Antologia do Violão Feminino Brasileiro (Sesc Consolação, 2025), da violonista, cantora, compos...