O Mundo inteiro está cheio de abraços proibidos que
podem com o tempo deixar de o ser ou tornarem-se pela morte para sempre
impossíveis.
No tempo dos nossos avós pela tuberculose e outras
doenças infecto-contagiosas, actualmente pelo Covid.
Pensava nisso enquanto sentia a falta de um abraço.
Estivera com um colega que acusara positivo. Não tinha
sintomas, mas devia manter-se em isolamento. O irmão cedeu-lhe um apartamento
que tinha para arrendar.
Tudo certo e previsto, se o tivesse cumprido, mas quis
ir ver a namorada.
Dez quilómetros a conduzir por estradas secundárias,
mal iluminadas e com buracos. Não lhe disse nada, queria só vê-la. Talvez a
apanhasse ainda acordada.
Chegou já de noite. Havia luz na casa e um carro que
não reconheceu parado à beira. Estacionou o seu mais longe. Foi-se aproximando
devagar. A porta abriu-se. Um homem saía, ela na soleira da porta, só de
camisa.
Abraçaram-se.
A infiel traía-o. Um abraço proibido que também
poderia trazer morte, mais do que o Covid que afinal não tinha.
Se tivesse uma arma teria disparado. Se realmente
estivesse doente e com a pior das pestes cuspiria para cima dos dois.
Beijaram-se e despediram-se.
Dera a outro o abraço que era seu, que tanto queria e
agora o enojava.
Escondido, não disse nada. O outro meteu-se no carro,
um Opel e arrancou. Ela fechou a porta e foi para dentro.
Rastejou até ao seu Fiat. Vomitou antes de se enfiar
lá dentro. Tremia pelo que acabara de ver. Só lhe faltava agora estampar-me ou
ser detido pela polícia.
Regressou a onde partira, pelos mesmos caminhos, mas
mudado.
Mil e uma coisas lhe passaram pela cabeça. Vingar-se,
fazendo-lhe o mesmo. Não tinha com quem, nem queria ter. E em isolamento,
também não o poderia fazer.
Queria que o tempo recuasse, queria não ter lá ido.
Queria confrontá-la ou esquecer.
Entretanto passou tempo. Não lhe atendeu os
telefonemas, mas completados os dez dias foi vê-la.
Julgou que passara a raiva e ficara apenas mágoa.
Foi ter com ela para o ponto final. Contou-lhe aquilo
a que assistira e a infeliz negou-o.
Não viu mais nada. Apertou-a contra si, pensou matá-la
com um abraço. Largou-a, e ela desfaleceu. Por pouco não desgraçava aos dois.
Nessa altura chegou a irmã dela com o novo namorado,
num Opel, o Opel da noite fatídica.