Maria Helena Linhares
Não
sou moldável, mas ocupo um espaço razoável. Sou feliz porque me considero
imprescindível para o meu dono, até ando muito próxima ao seu coração. Aliás
muitas vezes até penso que o coração que bate tão perto de mim, faz parte de
mim, porque o meu dono, ou está afanosamente a trabalhar, num stress horrível,
ou em horríveis correrias, dum lado para o outro, ou pára, esgotado, e aí
perde-se a afagar-me, vezes sem conta, a cabeça sempre a pensar...
Limpa-me
inúmeras vezes, amorosamente, como se outra coisa não soubesse fazer na vida. Sim,
ignorada nunca sou.
Ele
fala comigo, até a dormir, porque eu também necessito de descansar, e faço-o a
uma distância de um braço dele.
| ...somos um só! |
Como
se o descansar só fosse possível comigo tão perto.
O
restante tempo é gasto sempre a girarmos, em correrias loucas, no meio das
maiores barafundas possíveis.
Este
homem, mesmo quando foi premiado – ouvi dizer - e subiu a um palco e falou no
meio do maior silêncio e depois se ouviram muitas palmas, mesmo ali, teve que
me exibir, a mim, como um troféu! Tive um medo horrível, será que me iria
leiloar?
Mas
não! Todos me olharam com muita admiração, o meu dono recebeu uma taça e eu
voltei para o meu lugar habitual, perto do seu coração…
Perguntaram-nos
(a mim e a ele, pois somos um só) – para onde corremos mais frequentemente: