A busca pelo impacto positivo no mundo dos negócios se ramifica em vertentes cada vez mais disruptivas. Na gama de protagonistas desse movimento, as mulheres lideram a abertura de novos caminhos tanto nas grandes empresas como em startups inovadoras, que já nascem com potencial de mudar completamente a maneira como processos tradicionais acontecem em indústrias consolidadas.
Esta reportagem, um complemento à edição de março de Época NEGÓCIOS com 100 mulheres inovadoras, apresenta os perfis de 10 dessas protagonistas. A curadoria privilegiou a diversidade de atuação entre elas, de modo a apresentar uma amostra da amplitude da liderança feminina na pauta ESG no país atualmente.
Com a certeza de que a lista é muito mais extensa, convidamos você a sugerir outras inovadoras pelo email negocios_web@edglobo.com.br.
Lucro em benefício da floresta
Denise Hills, diretora global de sustentabilidade para a Natura & Co para a América Latina
Por ter como meta de negócios ampliar a proteção à Amazônia
Ao longo de duas décadas, Denise Hills trabalhou no mercado financeiro em instituições como Citibank e Itaú. Em 2010, assumiu o papel de cuidar da estratégia de sustentabilidade do Itaú Unibanco. Quase uma década mais tarde, chegou à Natura com o mesmo objetivo e responsabilidade pela América Latina. A empresa, reconhecida pela ampla cadeia de suprimentos de matérias-primas da floresta amazônica, com manejo sustentável, tem metas ambiciosas para ampliar a proteção à floresta até 2030. Entre elas, estão expandir sua influência de conservação de 1,8 milhão de hectares para 3 milhões. Além disso, também pretende aumentar os fluxos de receita com 55 bioingredientes adicionais – partindo de 38 – e compartilhar R$ 60 milhões em valor com as comunidades até lá. “Os negócios têm o poder de regenerar a Amazônia”, disse recentemente em entrevista a Época Negócios.
Sem combustíveis fósseis
Silvia Nascimento, CEO da Aço Verde
Por ser pioneira numa corrida global na indústria que mais gera CO2 no mundo
Mineira de Belo Horizonte, a empresária e executiva está há mais de 20 anos na empresa da família – a Aço Verde do Brasil (AVB), maior siderúrgica de aços longos do Nordeste. Mais recentemente ela assumiu a liderança numa corrida mundial pela descarbonização no setor, considerado o maior emissor de gases de efeito estufa. No início de 2021, a empresa conseguiu comprovar que produz aço sem utilizar combustíveis fósseis e, assim, obteve a certificação da auditoria internacional SGS como primeira fabricante integrada desse tipo de aço com carbono neutro. Agora, a meta da executiva, desde abril de 2022 como presidente da empresa, é tornar a AVB também uma companhia com geração zero de resíduos. Para isso, investe em projetos para torná-los utilizáveis nas próprias instalações da empresa até 2025.
Inclusão produtiva
Karen Kannan, sócia da École 42 de São Paulo
Por trazer para o Brasil um modelo inclusivo de formação de mão-de-obra para tecnologia
Karen Kannan trouxe para o país um modelo de escola de programação criado na França em 2013 e hoje presente em 26 países – a École 42. Nela, não existe professor, horários fixos ou tempo certo para se “formar”. Ninguém paga mensalidade e a maioria sai dali empregado. Para concorrer a uma vaga basta ter mais de 18 anos e alguns requisitos comportamentais. Mesmo quem não terminou o ensino médio e nunca programou passa nos testes de admissão se demonstrar resiliência, garra, vontade de aprender. É assim, na prática, por meio de projetos compartilhados, que os alunos aprendem uns com os outros, interagindo em grupos. Estudantes de baixa renda recebem uma bolsa permanência – e representam cerca de 40% dos alunos. O modelo se sustenta com empresas financiadoras como Itaú, Vivo e Localiza.
Dados a serviço das florestas
Natalie Unterstell, Presidente do Instituto Talanoa
Por usar tecnologia para turbinar o monitoramento de políticas ambientais
Ao analisar cenários de forma mais veloz, abrangente e sistemática, a inteligência de dados acelera também a tomada de decisões e intervenções na agenda ambiental. É com essa premissa que Natalie Unterstell usou as duas décadas de experiência na articulação climática para criar o Instituto Talanoa. O Talanoa desenvolveu duas plataformas que monitoram e mapeiam todas as medidas tomadas por governos federal e estaduais que têm impacto na Amazônia. "Somos uma equipe de robôs e humanos que trabalha junto para fazer um monitoramento sistemático dos sinais políticos que afetam a agenda ambiental", explica Unterstell. Neste tempo, o Talanoa também liderou a criação da iniciativa Clima e Desenvolvimento, uma articulação, com foco em iniciativas para a descarbonização, que reúne 300 atores, entre pesquisadores e líderes da sociedade civil, de empresas e de governos.
Venture builder só para elas
Lícia Souza, fundadora e CEO da WE Impact
Por ajudar a impulsionar startups criadas por mulheres
Em novembro de 2019, deu apoio legal à estruturação do WE Ventures, fundo da Microsoft voltado para mulheres na área de tecnologia e inovação. A partir da iniciativa, e com investimento inicial vindo de lá, criou a WE Impact, a primeira Venture Builder da América Latina 100% dedicada a mulheres. Diferente de um fundo convencional, que injeta capital em troca de participação, o modelo prevê uma consultoria em toda a jornada das empreendedoras, do desenvolvimento do modelo de negócio até o apoio para busca do primeiro round de investimento e a conexão com grandes empresas. Em pouco mais de três anos, o negócio apoiou 70 startups, impactou 200 mulheres e investiu R$ 3 milhões em negócios de tecnologia.
Digitalização no agronegócio
Mariana Vasconcelos, cofundadora e CEO da Agrosmart
Por desenvolver algoritmos e sensores para tornar o uso da água mais produtivo no campo
Aos 23 anos, a mineira Mariana Vasconcelos era recém-formada quando fundou com dois amigos a Agrosmart, startup que começou a trajetória com um sensor climático que ajuda a economizar água nas lavouras. Hoje, sete anos depois, a empresa está presente em nove países e leva inteligência por meio de algoritmos, sensores e imagens para mais de 100 mil produtores. Além de economizar água, o monitoramento permite safras mais produtivas, o que já atraiu clientes como ABInBev, Cargill e Nestlé – que apoiam seus fornecedores no campo. A empresa cresceu 200% no ano passado, segundo ela. Com passagens por universidades como Harvard e Stanford, Mariana acredita que conectar finanças com ESG é o segredo para a empresa continuar crescendo. “A transição para a sustentabilidade precisa ser financiada”, diz.
Blockchain para remunerar a preservação
Maria Tereza Umbelino, CEO da greentech Brasil Mata Verde
Por criar um incentivo financeiro para manter a floresta em pé
Umbelino criou uma metodologia proprietária, com a Universidade Estadual Paulista (Unesp), capaz de calcular o valor de 27 serviços ambientais da mata, como o carbono estocado. Num processo auditado pela EY, a empresa reúne 228 produtores e já gerou 300 milhões de unidades de crédito de carbono, hoje rastreáveis via uma plataforma com tecnologia blockchain, e oferecidas a empresas ou pessoas físicas na forma de tokens. Em 2022, o Starbucks comprou o equivalente a US$ 20 milhões desses créditos.
Do Vale do Silício para o mundo
Maria Carolina Fujihara, CEO e fundadora da Sinai Technologies
Por desenvolver uma tecnologia capaz de medir o impacto de geração de carbono em cadeias produtivas complexas
A empresa de tecnologia e software fornece às empresas uma análise financeira e ambiental com foco na pegada de carbono e sugere ações para redução de emissões. Com sede no Vale do Silício e criada 2017, tem clientes importantes como Siemens, Bayer, Natura, Gerdau e ArcelorMittal. Em setembro de 2022, a Sinai levantou US$ 22 milhões em uma rodada da série A. A inovação vem de uma tecnologia de inteligência de dados capaz de medir a pegada de carbono de vários pontos da cadeia produtiva e não apenas a geração direta das operações da companhia.
Empreendedorismo social
Anna de Souza Aranha, sócia e diretora da Quintessa
Por aproximar startups que seguem princípios ESG e grandes instituições
Sócia e diretora da aceleradora de startups de impacto Quintessa, desde 2012 trabalha para desenvolver o empreendedorismo voltado para desafios socioambientais e ao mesmo tempo promover as agendas de inovação, impacto positivo e ESG entre grandes empresas, investidores, institutos e fundações. Mais recentemente, ela se uniu à plataforma Pipe.Social para criar um banco com mais de 5.000 startups de impacto que poderá ser acessado por grandes companhias e outras instituições interessadas em se aproximar de negócios que seguem os princípios ESG.
Aceleração para empreendedoras
Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora
Por ter impactado a vida de milhões de mulheres empreendedoras
Pioneira no apoio ao empreendedorismo feminino no país, Ana Fontes fundou em 2010 a Rede Mulher Empreendedora (RME), um negócio social que fornece suporte, mentoria e networking para mulheres empreendedoras em qualquer estágio do negócio. Hoje, são 300 mil mulheres envolvidas com as atividades da rede. Pesquisadora de questões de gênero e ativista social, Ana fundou ainda o Instituto RME, para lutar por políticas públicas de diversidade e fomentar a independência financeira da mulher. A publicitária é ainda conselheira do Instituto Avon e da Unimed Seguros, e professora do programa Empreendedorismo em Ação do Insper. A partir de suas atividades na Rede e no Instituto, Ana acredita já ter impactado mais de 10,5 milhões de mulheres e suas famílias.