Banda: The Velvet Underground & Nico
Disco: The Velvet Underground & Nico [45th Anniversary Deluxe Edition]
Ano: 2012(*)
Gênero: Art Rock, Experimental Rock, Avant-Garde, Proto-Punk, Garage Rock
Faixas:
Disc One: The Velvet Underground & Nico (Stereo Version)
1. Sunday Morning (Reed, Cale) 2:55
2. I'm Waiting For The Man (Reed) 4:39
3. Femme Fatale (Reed) 2:39
4. Venus In Furs (Reed) 5:12
5. Run Run Run (Reed) 4:22
6. All Tomorrow's Parties (Reed) 5:59
7. Heroin (Reed) 7:13
8. There She Goes Again (Reed) 2:41
9. I'll Be Your Mirror (Reed) 2:14
10. The Black Angel's Death Song (Reed, Cale) 3:12
11. European Son (Reed, Cale, Morrison, Tucker) 7:52
Alternate Versions
12. All Tomorrow's Parties [Alternate Single Voice Version] (Reed) 5:57
13. European Son [Alternate Version] (Reed, Cale, Morrison, Tucker) 9:06
14. Heroin [Alternate Version] (Reed) 6:17
15. All Tomorrow's Parties [Alternate Instrumental Mix] (Reed) 5:52
16. I'll Be Your Mirror [Alternate Mix] (Reed) 2:20
Disc Two: Scepter Studios Sessions (Acetate Cut On April 25, 1966)
1. European Son [Alternate Version] (Reed, Cale, Morrison, Tucker) 9:02
2. The Black Angel's Death Song [Alternate Mix] (Reed, Cale) 3:16
3. All Tomorrow's Parties [Alternate Version] (Reed) 5:53
4. I'll Be Your Mirror [Alternate Version] (Reed) 2:11
5. Heroin [Alternate Version] (Reed) 6:16
6. Femme Fatale [Alternate Mix] (Reed) 2:35
7. Venus In Furs [Alternate Version] (Reed) 4:29
8. Waiting For The Man [Alternate Version] (Reed) 4:10
9. Run Run Run [Alternate Mix] (Reed) 4:23
The Factory Rehearsals (January 3, 1966 Rehearsal, Previously Unreleased)
10. Walk Alone (Reed, Pellegrino Jr., Philips, Smith) 3:27
11. Crackin' Up (Diddley)/Venus In Furs (Reed) 3:53
12. Miss Joanie Lee (Reed) 11:49
13. Heroin (Reed) 6:15
14. There She Goes Again [With Nico] (Reed) 2:09
15. There She Goes Again (Reed) 2:55
Créditos:
Lou Reed: Lead Guitar, Ostrich Guitar, Vocals
John Cale: Electric Viola, Piano, Bass Guitar, Backing Vocals
Sterling Morrison: Rhythm Guitar, Bass Guitar, Backing Vocals
Maureen Tucker: Percussion
Nico: Chanteuse ("Femme Fatale", "All Tomorrow's Parties", "I'll Be Your Mirror")
(*) LP lançado originalmente em 1967.
Biografia:
Antítese do lema "paz e amor", adotado pelos
hippies da costa oeste americana do final dos anos 60, a nova-iorquina Velvet Underground retratou um lado mais sombrio do hedonismo daquela época. Conjugando energia pulsante com rigor intelectual, a banda construiu um dos repertórios mais inovadores e duradouros do rock. Lou Reed (nome verdadeiro: Lewis Allen Rabinowitz, nascido no dia 2 de março de 1942, no Brooklyn, Nova Iorque, NY, EUA [nota minha: e morto no dia 27 de outubro de 2013, em Long Island, NY, EUA]; guitarra e vocais) e John Cale (nascido no dia 9 de março de 1942, em Garnant, Carmarthenshire, País de Gales; viola, baixo e órgão), com suas contrastantes personalidades e estilos musicais, garantiram a notoriedade inicial do grupo.

Reed era um compositor e intérprete contratado pela Pickwick Records, responsável por uma série de discos de baixo custo, lançados por vários artistas – a banda Primitives era a mais conhecida. Cale, um menino prodígio, com aprendizado em música clássica, ganhara uma bolsa para estudar nos Estados Unidos, mas acabou atraído pelo núcleo incipiente da Velvet Underground ao contribuir com uma passagem de viola para a "aparentemente dançante" canção "The Ostrich", de Reed (nota minha: gravada pela banda Primitives). Walter De Maria, membro da Primitives, foi rapidamente substituído por Sterling Morrison (nascido no dia 29 de agosto de 1942, em East Meadow, Long Island, NY, EUA, e morto no dia 30 de agosto de 1995, em Poughkeepsie, NY, EUA; guitarra), colega de Reed no curso de escrita criativa na Universidade de Syracuse. O baterista Angus MacLise (morto no Nepal em 1979), além de completar o
lineup, ainda propôs o nome "Velvet Underground", título de um livro de literatura
pulp contemporânea. MacLise também se mostrou fundamental para garantir os primeiros shows da banda em eventos e acontecimentos multimídia, mas deixou-a quando o grupo passou a aceitar pagamento pelas apresentações. No seu lugar entrou Maureen Tucker (nascida no ano de 1945, em Nova Jersey, EUA), irmã de um amigo de Sterling Morrison.

A banda conheceu Andy Warhol, célebre artista da
pop art, em 1965, após uma apresentação no Cafe Bizarre (nota minha: situado no Brooklyn, Nova Iorque). Warhol então a convidou para fazer parte do Exploding Plastic Inevitable, espetáculo que misturava músicas, filmes, efeitos de iluminação e danças, sugerindo ainda que o grupo acolhesse a atriz e cantora Nico (nome verdadeiro: Christa Paffgen, nascida no dia 16 de outubro de 1938, em Colônia, Alemanha, e morta no dia 18 de julho de 1988 [nota minha: em Ibiza, Espanha]). A Velvet gravou seu primeiro disco na primavera de 1966, mas o material terminou rejeitado por diversas e renomadas gravadoras, receosas da longa duração e do conteúdo controverso das músicas. "The Velvet Underground & Nico" finalmente saiu pela Verve Records em 1967. Notabilizado pelo escancarado envolvimento de Warhol – ele produziu o álbum e desenhou a célebre banana estampada na capa –, o disco introduziu as indefectíveis obsessões urbanas de Reed, o fascínio pela cultura das ruas e a amoralidade fronteiriça do voyeurismo.

O talento de Reed, contudo, superava o mero oportunismo. Sua aguçada e requintada percepção do
rhythm and blues realçou as descritivas letras das músicas sobre drogas ("I'm Waiting For The Man", "Heroin"), sadomasoquismo ("Venus In Furs") e sublimação ("I'll Be Your Mirror"); canções que não apenas se mostravam memoráveis em relação aos temas abordados, mas também funcionavam como vibrantes composições pop. À engenhosidade de Reed somou-se a convincente e expressiva viola de Cale, a entonação gótica de Nico e o harmônico senso de dinamismo da banda, capaz de conjugar o pulso implacável de Tucker com algumas das experimentações sonoras mais inspiradas do rock. Agora corretamente considerado como um marco na história do rock, "The Velvet Underground & Nico" foi largamente desprezado por ocasião do seu lançamento. As rádios daquele tempo evitaram tocar o disco, por conta dos assuntos abordados, que consideravam ofensivos, ao passo que os destoantes movimentos de contracultura de Los Angeles e São Francisco abominaram as desagradáveis chagas sociais que a intransigente banda relevara, pondo em cheque seus sonhos utópicos.

Nico deixou o grupo em 1967, para seguir carreira solo, e o quarteto restante se afastou do apadrinhamento de Warhol. As gravações do segundo álbum, "White Light/White Heat", avivaram outros conflitos internos, e as seis canções do disco se caracterizaram por um sentimento de absoluta animosidade. Enquanto a faixa-título e a inclemente "I Heard Her Call My Name" sugeriam afinidade com "I'm Waiting For The Man", do primeiro álbum, duas músicas longas, "The Gift" e "Sister Ray", exibiam uma postura radical exacerbada. "Sister Ray", cacofônica, sensual, opressiva e desapiedada, foi gravada ao vivo no estúdio, com volume máximo, e, mesmo que Reed tenha insinuado mais tarde que estava tentando se aproximar do free jazz de Ornette Coleman, o fato é que esse tour de force de 17 minutos apresenta um dos mais inspirados e atonais trabalhos instrumentais de Cale. E aí, Cale, peça fundamental da banda, acaba dispensado (nota minha: devido a atritos com Reed), ingressando Doug Yule, um baixista ortodoxo, antigo membro da Grass Menagerie. O terceiro álbum, homônimo, expôs uma atmosfera pastoral, moderada e mais sutil, porém mantendo a aura deprimente e inquietante dos discos anteriores. Já firmemente sob controle de Reed, o quarteto se afigurava contido e menos direto, se bem que momentos de sua agitação precedente se tornassem visíveis em diversos interlúdios.

"Loaded", um álbum bastante promissor, comercialmente, enfatizou a perspectiva nova do grupo. Emitido em 1970, o disco incluía "Sweet Jane", uma das canções mais populares de Reed. E, celebrando o rico legado do pop rock, "Loaded" externou um otimismo raramente ouvido em trabalhos anteriores. Todavia, paradoxalmente, quando o álbum surgiu, Lou Reed abandonou o grupo, que passou a ser liderado por Doug Yule (incentivador do feitio comercial do disco), circunstância que acarretou variações na denominação Velvet Underground. Na sequência, "Squeeze", um disco mal recebido, apenas confirmou que o grupo, na sua concepção original, terminara com a partida de Reed, tanto que o álbum normalmente não é identificado como integrante da discografia da banda.
Apesar das atribulações sofridas durante sua breve existência, a Velvet Underground é considerada como uma das bandas mais influentes da história do rock, particularmente no decorrer dos anos 80, quando uma nova geração de artistas, desde Joy Division até Jesus And Mary Chain, declarou ter recebido o incentivo da sua sonoridade.

Uma série de discos, contendo sobras de estúdio – "'1969: Velvet Underground Live", "VU" e "Another View", entre outros –, ajudaram a consolidar o talento e a lucidez da Velvet Underground, intensificando seu lendário status. Rumores, seguidos por um anúncio, em 1993, de que a banda, sem Doug Yule, se reagrupara para uma importante turnê, foram recebidos com ansiosa emoção. E os concertos que se seguiram ao pronunciamento contaram com um público em grande parte ainda não nascido quando a banda se apresentara pela última vez. Todavia, feridas antigas entre Cale e Reed reabriram-se, e somente mais uma apresentação ocorreu depois da introdução da banda no Rock And Roll Hall Of Fame, em 1996. Lamentavelmente, Sterling Morrison morreu apenas alguns meses antes do evento de 1996 (The Encyclopedia Of Popular Music. Compiled and edited by Colin Larkin. New York: Omnibus Press, 2007, pp. 1447-8; tradução livre do inglês).