terça-feira, dezembro 02, 2025

Os filhos não nos tornam melhores pessoas. Tornam-nos sim, pessoas diferentes...


Sei que os filhos não nos tornam melhores pessoas. Tornam-nos, sim, pessoas diferentes...

Pensei nisto depois de conversar com a minha filha sobre a vida, sobre quem nós somos, sobre tudo aquilo que nos une e nos separa. 

Não foi difícil concluir que ter filhos dá-nos uma outra perspectiva, um outro olhar sobre esta coisa que é viver em sociedade. 

Provavelmente também nos tornamos mais frágeis e inseguros. Isso deve acontecer porque temos consciência, de que erramos mais vezes. 

Õ mais curioso, é nunca nos conseguimos livrar dessa sensação. É como se estivéssemos num processo de aprendizagem permanente. 

Talvez seja por isso que há muita gente que não quer ter filhos. Não quer passar a "vida na escola"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, dezembro 01, 2025

«Somos tantos...»


Ela não estava na fila para as escolhas de mais um desses concursos televisivos, em que se percebe que  existe tanta gente que sabe cantar e devia fazer corar de vergonha esses fulanos (as) que em sociedade com as televisões e com os programadores, enchem os fins de semana de música parola. Mas podia estar...

Deu-me vontade rir, ouvi-la dizer, "somos tantos...»

Até porque não estava ninguém à nossa volta.

Embora eu estivesse farto de saber que o mundo não começava e acabava ali, que as multidões estão sempre ao virar da esquina...

Só não percebi se ela estava a querer desistir, antes de conseguir ser qualquer coisa, ou se queria ir à luta e estava ali, a querer ganhar balanço.

Depois disse-me que estava com receio. Questionei-a sem palavras, apenas com o olhar.

E ela levantou-se do chão, mostrou-me um sorriso enigmático, para me contar o seu dilema: «Às tantas começamos a querer muito ser isto e aquilo, perdemos o medo e começamos a andar em frente, sem receio de pisar os outros que já estão à espera de vez, sentados ou deitados...»

Podia dizer-lhe, "bem vinda à selva urbana", mas não ia adiantar muito. Até porque ela já encontrara pelo caminho várias espécies de "animais", capazes de se "transvestir" de leões, zebras, ursos, gazelas, macacos ou serpentes...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


domingo, novembro 30, 2025

Nós não nascemos para viver sozinhos...


Mesmo com as mudanças que se têm dado na sociedade, especialmente nos centros urbanos, não é muito difícil, sentir, que nós não nascemos para viver sozinhos.

É por isso que mesmo sem se ter  um marido, uma esposa ou filhos, é normal arranjarmos um animal doméstico para nos fazer companhia, com quem travamos grandes "monólogos", que fingimos ser "diálogos", para nosso conforto pessoal.

Não deixa de ser curioso, que em tantos milhares de anos de existência de humanos, ainda não tenhamos conseguido encontrar a melhor maneira de se viver em comunidade, de conseguirmos respeitar e aceitar as diferenças.

A força continua a ser quem mais ordena, em quase todos os poderes, inclusive no familiar. 

É também por isso que se foge tanto e se procura refúgio na solidão...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


sexta-feira, novembro 28, 2025

«Tiraram o lugar a quem? Você vai fazer o que eles fazem, por esses campos fora?»


Sei que estou melhor, mas estou longe de estar curado.

Ainda falo muitas vezes em situações, em que o o bom senso aconselhava o silêncio.

Tudo isto que aconteceu no Alentejo e que reflecte uma realidade que não é apenas do Sul, mas que nos devia envergonhar, a todos, fez-me recordar um episódio. 

Realidade que é quase sempre conhecida e aceite pelos habitantes locais, por razões que continuo sem entender. A única coisa que sei, é que são estas mesmas razões que levaram as pessoas a fazer uma viragem de quase 360 graus, passando a votantes do Chega, depois de andarem  décadas a votar na CDU, por essas planícies fora.

Sei que os seus níveis de instrução são baixos, mas daí a não conseguirem perceber a realidade que lhe entra pelos olhos dentro, é outra coisa... 

Compreendo que não olhem para os sujeitos que trespassaram o café e o mini-mercado, como as melhores pessoas do mundo, até por estarem ali para ganhar dinheiro à custa deles. 

Mas o problema nem é esse, nunca foi. 

É aquela cor de pele, aquele olhar escuro e em desconfiança permanente, que não lhe garante nada de bom. E depois vêm as palavras de ordem que lhes entram pela cabeça dentro, sempre que o "rei dos aldrabões" aparece na televisão. Palavras que ainda os fazem acreditar mais, que aqueles estranhos só vieram para cá para lhes "roubar trabalho".

Foi num destes cafés, perdidos por esse interior fora, quase sem gente, que escutei esta frase sacramental enquanto bebia uma mini na companhia de dois familiares afastados, à passagem pela rua de três "indianos".

Não consegui falar calado e perguntei-lhes, sem qualquer rodeio: «Tiraram o lugar a quem? Você vai fazer o que eles fazem, por esses campos fora?» Olharam um para o outro e não me responderam. 

Só uns dois minutos depois e que um deles disse qualquer coisa como: «Também não é bem assim...»

Nada era bem assim, mesmo que eles fingissem não perceber.

Não disse mais nada mas fiquei a pensar, que a trabalharem desta forma e ser recebidos desta maneira, de Norte a Sul, talvez a melhor coisa que esta gente fizesse, fosse mesmo "ir para a (tal) terra deles"...

(Fotografia de Luís Eme - Beira  Baixa)


quinta-feira, novembro 27, 2025

Um PSD apostado em desregular, desiquilibrar e destruir o País...


A escolha das ministras da Saúde e do Trabalho, foram feitas com um propósito cada vez mais claro, ao ponto de parecerem desenhadas a régua e esquadro.

E pode-se dizer que têm tido sucesso nos seus propósitos.

O SNS é o que se vê, por mais "areia que nos tentem atirar para os olhos", está tudo pior nos hospitais e centros de saúde públicos. Algo que deve agradar - e de que maneira - a todos os grupos privados, que têm construído hospitais e clinicas nas principais cidades do país, com um sentido de oportunidade único. 

O trabalho começa a ser cada vez mais sinónimo de precariedade e salários baixos. E com a nova proposta de lei deste Governo, que segundo a ministra apenas tenta "equilibrar a balança" (segundo ela a lei actual favorece os trabalhadores...), as coisas só podem piorar. 

Só alguém que está ao lado do patronato, é que é capaz de dizer uma coisa dessas.

É uma vergonha para todos nós termos um governo que se diz democrático, mas que se percebe à légua, que está cada vez mais apostado em desregular, desiquilibrar e destruir o país, tanto no campo económico como social.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, novembro 26, 2025

"Olhar Portugal a partir das colecções do MNAA"


Gostei de saber que o Museu Abade de Baçal, em Bragança, reabriu - após obras de requalificação - com a exposição "Olhar Portugal a partir das colecções do MNAA", com obras do Museu Nacional de Arte Antiga e também do museu bragantino.

Acho muito boa ideia a descentralização de obras de arte, que muitas vezes estão em depósito e que agora vão viajar pelo país fora, para que Portugal, com o projecto "O MNAA está aqui", se habitue à arte.

É bom para as localidades que vão beneficiar desta iniciativa e também para o MNAA, que embora feche as suas instalações para obras, promete continuar activo, de Norte a Sul.

Estive na Primavera em Bragança e agora ao saber da exposição "Olhar Portugal a partir das colecções do MNAA", apeteceu-me voltar, só para visitar o museu...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, novembro 25, 2025

«O problema não é a festa, é quererem fazer do 25 de Novembro, o que ele nunca foi.»


Sei que "ainda não chegámos à américa", basta falarmos claro e conhecer a história recente, para desmontar as duas ou três mentiras, que tentam passar por cima dos factos.
 
Mais uma vez, socorro-me de uma frase do meu amigo Carlos, que diz tudo sobre o dia de hoje: «O problema não é a festa, é quererem fazer do 25 de Novembro o que ele nunca foi.»

O único partido que poderia acenar a "bandeira da vitória" nos vários episódios que antecederam o 25 de Novembro de 1975, é o PS liderado por Mário Soares. Nem mesmo o PSD, teve voz activa, em todo este processo, provavelmente por o seu líder ter passado quase todo o Verão Quente", em Londres, onde foi operado e fez a sua recuperação.

Mas os socialistas têm consciência que se trata de uma data importante, mas fracturante, especialmente no seio do MFA, onde camaradas tiveram de prender outros camaradas, apenas por pensarem de forma diferente. Foi por isso que os socialistas, tal como o "grupo dos nove", nunca quiseram que o 25 de Novembro fosse o que nunca foi.
 
De uma forma simplista, pode-se dizer que o 25 de Novembro foi uma tentativa, bem sucedida, de voltar a colocar o país no rumo certo, com o regresso daquela democracia, onde se procura que exista espaço para todos.

É por isso que não há um único "militar de Abril", ou de "Novembro", com vontade de participar nesta festa, com ar de farsa, onde a direita mais reacionária, quer sobretudo diminuir o simbolísmo e a verdade histórica do dia 25 de Abril de 1974.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

segunda-feira, novembro 24, 2025

Recuar até 24 de Novembro de 1975...


O 24 de Novembro de 1975 foi um dia crucial. Foi o dia onde quase tudo ficou decidido, graças à inteligência do "grupo dos nove" (felizmente eram mais que nove...), que com a ajuda de Costa Gomes, um Presidente da República, com um sentido de Estado raro, conseguiu reduzir de uma forma notória o número de "forças inimigas", ao fazer com que Otelo Saraiva de Carvalho (Copcon), Álvaro Cunhal (PCP) e Rosa Coutinho (Fuzileiros), dessem ordens às forças que dominavam, para que não participassem de uma forma activa na tentativa de golpe militar do dia seguinte.

Penso que só neste dia, quando se "contaram as armas", é que a possibilidade de uma "Guerra Civil" deixou de ser uma ameaça séria. É preciso recordar que tinham sido distribuídas milhares de armas aos partidos políticos, tanto do lado mais esquerdo como do lado mais direito do MFA e que o país estava "partido" ao meio (o Tejo era a fronteira)...

Carlos Guilherme foi dos meus melhores amigos nos últimos vinte anos. Era "Capitão de Abril" e fez parte das operações do 25 de Novembro de 1975. Tivemos muitas conversas sobre algumas datas importantes, como foram o 16 de Março de 1974 (eu tinha um interesse particular por ser de Caldas da Rainha...), o 11 de Março de 1975, e claro, o 25 de Novembro.

Tão boas como as nossas conversas foram os almoços para os quais ele me convidou, na Associação 25 de Abril, onde depois do repasto havia sempre uma palestra com um dos vários intervenientes deste período decisivo para Portugal. Eram sempre contados vários episódios importantes, bastante esclarecedores sobre alguns erros históricos e uma ou outra "mitologia", distante da realidade. Recordo as intervenções de Torcato da Luz e de Almada Contreiras sobre estes acontecimentos (na época estavam no lado esquerdo do MFA...), tal como os contributos de outras camaradas presentes, como realce para Otelo ou Vasco Lourenço.

Todas as movimentações que se deram nestes dias de Novembro, foram sobretudo militares. Mesmo o PS, teve uma importância relativa. A "contagem de espingardas" deu-se entre os militares moderados e os revolucionários, com a vitória dos primeiros, que estavam em maioria e defendiam um regime democrático, com eleições livres, assim como a aprovação de uma nova Constituição, pela Assembleia Constituinte, eleita a 25 de Abril de 1975.

O curioso, é que quem quer fazer, hoje, deste dia uma festa, em 1975 caminhava em sentido contrário. É preciso dizer que as famílias políticas mais conservadoras, que agora agarram o 25 de Novembro com as duas mãos  (como é o caso do CDS e da IL) tinham fugido para Espanha e para o Brasil. Ou então andavam entretidas a incendiar sedes comunistas no Norte do País e a realizar atentados bombistas, que fizeram várias vítimas mortais (o Padre Max é a mais conhecida...). 

Estavam longe de lutar pela democracia, queriam sim, o regresso da ditadura e do sistema social desigual, que lhes tinham roubado e de que tanto gostavam, pois fazia-os sentirem-se "reis" e "rainhas" num país, que ainda era "para menos pessoas" que na actualidade...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, novembro 23, 2025

Só conhecemos os livros depois de os abrirmos e lermos...


Sei que este meu título parece mais uma "lapalissada", que outra coisa, mas é a única forma de chegar ao lugar que quero.

E esse lugar é uma livraria, onde fui à procura de um livro, que não encontrei.

Depois desloquei-me para a estante da poesia - faço quase sempre isso... - e peguei no primeiro livro que estava à minha frente. Abri-o quase a meio e comecei a ler um dos poemas. Agradado, li mais dois. Convencido, trouxe o livro para casa.

O mais curioso, é que apesar de gostar das palavras da poeta (Maria do Rosário Pedreira...), o título dizia-me pouco, levava-me mais para um tratado de anatomia ("O Meu Corpo Humano") que para uma viagem poética.

Ainda bem que estava enganado.

Soube-me muito bem ler todos aqueles poemas, que usavam o corpo humano, quase como um disfarce, para falar de todos nós (sim, andamos todos por ali, no "braço", nos "olhos", no "nariz" ou nos "lábios"...).

Tanta mensagem escondida por debaixo das "unhas" ou do "cabelo"... É preciso ter "cabeça" e "estômago", para escrever coisas tão profundas, bonitas e sérias, num livro de poemas que só é pequeno no tamanho...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


sábado, novembro 22, 2025

Quando a fotografia quer ser outra coisa...


A meio da tarde visitei a exposição de fotografia de um amigo e à medida que olhava as suas imagens, ia percebendo, com mais nitidez, que ele já está numa outra "galáxia".

A sua fotografia deixou de ser o mero retrato, caminha cada vez mais para um campo que se alimenta da diferença, da procura do que "ainda não existe", e onde a marca pessoal começa a ser o principal motivo de inspiração.

Quando vinha para casa, pensei que esta "mutação" acontece quando nos dedicamos em demasia a uma arte, quando ela começa a tomar conta de nós. Ou seja, quando o que fazemos não deixa dúvidas a quem vê, de que é aquilo o que faz correr os artistas. 

Sim, não é preciso ser-se crítico de arte para perceber que as fotografias do Modesto Viegas já são outra coisa, ao nosso olhar. Não são pinturas, mas parece que existe aqui e ali, uma "pincelada", que além de alterar as formas, lhes dá uma tonalidade especial.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sexta-feira, novembro 21, 2025

Os velhos "laranjinhas" estão quase a desaparecer no "mapa" do rio...


Como acontece muitas vezes, perdi o cacilheiro por um minuto. Em vez de ficar parado à espera, cirandei pelo cais de Cacilhas, a fazer tempo.

Depois de ter ido até ao Farol e voltado, vi que era uma das velhas barcas laranjas, o "Sintrense", que estava atracada ao cais.

Os "caixotes eléctricos" já andavam por aqui. Já viajara num deles e sabia que daqui a nada os "laranjinhas" desapareciam do mapa...

O que me fazia confusão não era as novas barcas não terem proa, era terem perdido a sua cor característica, que passava a ser apenas um risco na nova imagem de marca. Era aquele laranja que sobressaía tanto nas fotografias e aguarelas que retratavam a travessia, estar prestes a desaparecer.

Mais uma vez fiquei a pensar que era muito conservador, em algumas coisas, mais ou menos tradicionais. Lembrei-me dos eléctricos de Lisboa, que houve um tempo em que estavam a perder a cor para a publicidade excessiva e também dos táxis, que felizmente voltaram à velha cor, ao preto e verde...

Ninguém é perfeito.

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


quinta-feira, novembro 20, 2025

Quando estranhamos a civilidade, está tudo ao contrário...


Os debates entre candidatos para a presidência da República (como o que agora terminou entre Cotrim de Figueiredo e Gouveia e Melo), demonstram que é possível debater com civilidade, sem se estar constantemente a interromper o adversário, ou a falar mais alto que ele (como se essa fosse uma das permissas de se ganhar ou perder debates...).

Muitas pessoas estranham este comportamento, inclusive uma boa parte dos comentadores, que até dizem "isto não foi um debate, foi uma conversa". Percebe-se que eles querem mais "sangue" que esclarecimentos.

Provavelmente, só os debates onde está o candidato que não quer discutir coisa nenhuma, que só quer falar de corrupção e dos "bandidos" dos imigrantes e dos ciganos - as principais bandeiras erguidas pela sua "seita" -, é que irão ter palavras mais gritadas e as interrupções ao interlocutor do costume...

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)