Mostrar mensagens com a etiqueta Papeis. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Papeis. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, fevereiro 04, 2019

«Pagas-me um café?»


Estava distraído, longe do interior do café, como estou tantas vezes...

De repente ouvi uma voz feminina a perguntar-me, «pagas-me um café?»

Abanei a cabeça, com um sim, quase ao mesmo tempo que olhava a mulher jovem, sem conseguir esconder a estranheza do pedido.

Não a olhei com qualquer malícia. Pensei sim, que podia muito bem ser minha filha, se tivesse começado a procriar mais cedo. 

Tinha o meu pequeno caderno, que está quase cheio, aberto... Enquanto ela pediu , bebeu o café e se começou a levantar, escrevi duas folhas com palavras.

Depois ela despediu-se com um obrigado e um sorriso. Retribui a cara alegre, mas sem palavras...

Ela saiu e eu fiquei a pensar que ainda não me tinha acontecido nada assim. 

Já me tinham cravado um ou dois cafés, algumas cervejas, mas coisas de homens, quase sempre usados pela vida, que nem me deram tempo para os olhar, e muito menos agradeceram com um sorriso doce.

Só não percebi porque razão não lhe ofereci uma única palavra dita (só escritas...).

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)

sábado, dezembro 29, 2018

Olhares & Pensamentos


Olho para a minha secretária e para tudo o que a rodeia, com a sensação que ainda não vai ser este ano que ela fica, completamente preparada para um novo ano, embora merecesse uma arrumação...

Sei que, se pensar bem, é melhor não mudar muito as coisas, porque há projectos de 2018 que vão ser transportados para 2019... Ainda há minutos comecei um ensaio biográfico que será desenvolvido no ano que nos espreita, e que hoje até me pareceu melhor, que na sua antevisão. 

Acho que fiz isso para que ficasse com o selo deste ano, que já se finge cansado. Não lhe queria sentir o cheiro a "novo"...

(Fotografia de Luís Eme)

sábado, setembro 17, 2016

O Meu Olhar Sobre as "Minorias"...


Hoje quando ia para o café comecei a pensar (e a tentar desvendar...) como seria a minha vida, se pertencesse aos chamados grupos "minoritários", mesmo que muitas vezes até possam estar em posição de superioridade numérica - como acontece com as mulheres -, mas nunca em termos representativos ou de poder. 

Percebi que se fosse homossexual (assumido) era olhado de lado na minha rua, no meu bairro e na minha cidade; só teria a vida facilitada se entrasse no chamado mercado do trabalho alternativo; não tinha os mesmos amigos, teria outros (menos...), diferentes. Ou seja, era mais facilmente "notícia" por uma questão que só a mim devia dizer respeito.

Entendi que se fosse "preto" era olhado por muita gente quase como se fosse um "fenómeno do entroncamento"; senti que sempre que existisse qualquer roubo e estivesse nas proximidades, era logo apontado pelo olhar dos outros como "culpado";  se tivesse o bom gosto de namorar uma branca gira, olhavam-nos como se estivesse qualquer coisa fora do sitio; e à partida não tinha todas as portas abertas no campo profissional. Infelizmente ainda há profissões que não são para "pretos"...

Deixei para o fim a questão mais complexa, ser mulher. O meu primeiro pensamento foi de que tinha a vida mais facilitada, era seduzida e bajulada naturalmente pelos homens, podeno "jogar" com isso, ao mesmo tempo que teria mais portas abertas em quase todas as áreas da nossa sociedade (esquecido do que estava por trás de todo este falso cavalheirismo...) . Provavelmente também tinha mais gente amiga. Mas depois lembrei-me que há poucas mulheres em lugares importantes no nosso país, as que exercem esses cargos são a excepção que confirma a regra. Que as mulheres que fazem o mesmo que os homens, recebem menos dinheiro. E nem entrei dentro das casas, nem quis pensar mais no assunto...

Pois é, o grupo "minoritário" que parecia ter a tarefa mais fácil, é, provavelmente,  o mais complicado de todos...

(Óleo de Augusta Herbin)

sexta-feira, abril 22, 2016

A Curiosa e Feliz Sobrevivência dos Livros


A proximidade do Dia Mundial do Livro fez com que fosse convidado hoje de manhã para falar sobre a importância do Livro e dos Autores na aquisição de conhecimentos e criação de mundos, nesta era dominada pela tecnologia, numa escola do Concelho de Almada (EPED)

Falei de muitas coisas, revivi os meus tempos de escola, sem me esquecer de falar das boas professoras de português que tive (pena terem sido poucas...). Falei da importância de ler para escrever, e depois fiz um paralelo entre o que está a acontecer aos jornais e aos livros nestes tempos de mudanças quase diárias.

Os jornais em papel têm os dias contados, por não serem viáveis economicamente. A falta de publicidade, o peso das redacções e a queda brutal nas vendas, faz com que eu pense que dentro de pouco tempo a maior parte dos jornais só serão publicados "on-line".

Curiosamente com os livros aconteceu o contrário, mostraram uma resistência fora do comum e conseguiram (até ao momento...) ganhar a "batalha" contra os "livros digitais".

Para justificar esta "vitória", falei da identidade própria de cada livro, que começa na beleza da capa, no cheiro do papel e da tinta, do prazer de folhear as suas páginas, anotar, marcar as suas folhas... embora continue a pensar que o melhor de cada livro são as suas palavras, capazes de nos levarem de viagem para lugares especiais e conhecer personagens extraordinárias.

O mais curioso foi a turma do 11 º ano que me recebeu  ser  composta apenas por rapazes (pensava que já não existia nada disto...), que se portaram muito bem. E foram bastante honestos, quando lhe perguntei se algum deles lia livros. A resposta foi não. As únicas mulheres presentes foram as três professoras que organizaram a sessão e foram um bom apoio.

Não sei até que ponto fui uma boa influência. Não sei se eles irão sentir alguma curiosidade pelo que está dentro dos livros. Era bom que sim. Só ficavam a ganhar...

(Fotografia de Zoltan Glass)

terça-feira, abril 19, 2016

O Acumular de Inutilidades que se Fingem Úteis...


Ao longo dos anos fui acumulando inutilidades, cadernos ou papeis soltos que acabaram por perder o prazo de validade. Falo de recortes de jornais mas também de muita coisa que escrevi. Encontro muitas coisas que quase me pedem para "viver", para ficarem dentro de qualquer história.

Alguns títulos ridículos, como o do caderno que passei a pente fino, datado 2003, "Tempos Novos". Provavelmente nessa altura fazia sentido. Mas doze anos depois são mesmo tempos velhos...

Mesmo assim encontrei coisas algumas interessantes, como as frases guardadas de uma entrevista do grande arquitecto brasileiro, Niiemeyer, ao "Expresso". Alguns projectos jornalísticos que não passaram disso mesmo. Uma história infantil, no mínimo curiosa. Memórias sobre o meu pai, que tinha falecido dois anos antes. Ou seja, coisas que fui sabendo da sua vida, quase sempre contadas pelo tio Valentim, que viveu com ele na Capital. Alguns começos de poemas que se transformaram em "gente", ou seja, no meu primeiro caderno de poesia publicado. E ainda várias personagens inventadas para livros que nunca chegaram a ser escritos.

Ou seja, há papeis que ficam. Apenas porque sim. Ou talvez porque gosto mesmo de acumular inutilidades...

(Óleo de Arshile Gorky)