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domingo, novembro 30, 2025

Nós não nascemos para viver sozinhos...


Mesmo com as mudanças que se têm dado na sociedade, especialmente nos centros urbanos, não é muito difícil, sentir, que nós não nascemos para viver sozinhos.

É por isso que mesmo sem se ter  um marido, uma esposa ou filhos, é normal arranjarmos um animal doméstico para nos fazer companhia, com quem travamos grandes "monólogos", que fingimos ser "diálogos", para nosso conforto pessoal.

Não deixa de ser curioso, que em tantos milhares de anos de existência de humanos, ainda não tenhamos conseguido encontrar a melhor maneira de se viver em comunidade, de conseguirmos respeitar e aceitar as diferenças.

A força continua a ser quem mais ordena, em quase todos os poderes, inclusive no familiar. 

É também por isso que se foge tanto e se procura refúgio na solidão...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


terça-feira, setembro 02, 2025

As sociedades que se habituam a enganar-se a elas próprias...


Ainda não chegámos ao ponto de viver todos os dias como se estes fossem o primeiro dia de Abril, mas para lá caminhamos. É um facto. Nunca se conviveu tanto com a mentira como nos nossos dias.

E quando os exemplos "vêem de cima", das grandes lideranças mundiais, tudo se torna mais complicado...

Falámos nisso na nossa mesa onde a anarquia continua a gostar de reinar. O Carlos até foi capaz de dizer que «já ninguém organiza concursos de mentiras, porque é cada vez mais difícil ganhar a um Trump ou a um Ventura.» Sorrimos, porque continua a ser bom sorrir, principalmente quando se fala de assuntos sérios.

A Rita, acabadinha de chegar da Babilónia, disse que a mentira torna a vida mais fácil para toda a gente, desde o nosso primeiro-ministro, capaz de dizer com um ar sério, que a saúde está melhor no nosso país, ao drogado da esquina que pede sempre uma moedinha a quem passa, "para comer uma sandes e beber um copo de leite". 

Raramente chegamos a conclusões, do que quer que seja. Estávamos fartos de saber que uma vida demasiado certinha não é a coisa mais saudável do mundo, da mesma forma que viver todos os dias "uma vida que não é a nossa", se pode tornar algo cada vez mais problemático e perigoso (a chamada "bola de neve"...). 

E lá voltou o Carlos à carga: «É tudo uma questão de hábito. Somos todos freiras e frades, somos todos animais agarrados e vestidos de hábitos.» E lá veio mais uma risota colectiva. Muito gosta o nosso publicitário de nos fazer rir.

Vinha a caminhar pela Baixa no meio dos estrangeiros de pele branca e calções e vestidos às cores, quando pensei no quanto as pernocas da mentira tinham crescido e esta tinha deixado de ter a perna curta, nos últimos anos. E depois lá me agarrei à vidinha, que se tem tornado mais difícil para quase todos nós. 

Sim, é ela que dá resistência às sociedades que fingem que tudo vai bem, que se vão habituando a enganar-se a elas próprias, dia após dia...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, abril 08, 2025

«É mais fácil ser rapaz» (sempre foi...)


Ela não pensa mudar de sexo, mas basta-lhe olhar à sua volta para perceber e dizer-me: «é mais fácil ser rapaz.»

Sorri-lhe. Não lhe disse mas pensei que se tivesse nascido há cinquenta anos, as coisas ainda eram mais complicadas para quem nasceu mulher. E há cem, nem vale a pena falar... e por ai fora...

É verdade. Sempre foi necessária mais inteligência e um grande jogo de cintura às mulheres, para "sobreviverem" num mundo que quase esquece a sua existência, se ignorarmos as suas curvas.

Achei curiosa a afirmação da miúda de dezassete anos. A minha filhota de vinte anos, nunca me disse algo do género. Provavelmente, gosta de ser mulher, apesar do mundo continuar a "ser dos homens",,,

Claro que há compensações. A maternidade talvez seja a maior de todas elas.

Pois, mas quem é que quer filhos nestes tempos modernos?

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


segunda-feira, janeiro 27, 2025

Quando o que é normal parece ser entendido como "aberrante"...


Não é de agora, que o para nós parece normal e razoável, para os outros é uma coisa estranha e diferente.

O curioso, é ainda estranharmos estes comportamentos.

Estou a falar das palavras de Pedro Nuno Santos ao "Expresso", que fez com alguns dos seus opositores internos saíssem da "toca" para criticarem a sua opinião sobre a imigração.

O que ele disse é o que quase todos pensamos (se excluirmos os extremistas dos dos lados da política...). De uma forma simplista, ele disse que quem chega a um país, tem de respeitar as suas leis e a forma como se vive em sociedade. Ou seja, devem integrar-se e não viver em "guetos". E devemos ser rigorosos nestes aspectos. Quem não gostar ou não quiser cumprir as nossas normas, só tem de fazer as malinhas e ir para outras bandas.

O exemplo dos portugueses é exemplar, pois foi isto que sempre fizemos, em séculos de emigração pelos vários cantos do mundo. Sempre nos tentámos integrar nos países para onde fomos viver. E esse é que deve ser o comportamento normal de quem chega, vindo da China ou da Dinamarca.

Sei que o PS parece muitas vezes um "saco de gatos". E embora muito boa gente entenda isso como democracia, haver sempre várias vias de "socialismo", e claro, oposições internas, acho que não é lá muito democrático, alguém estar à espera de um qualquer "deslize", para sair da sombra e mostrar as "garras". Faz lembrar um pouco aqueles cães que estão escondidos e aparecem do nada a ladrarem atrás de nós, a fingirem que têm vontade de nos morder os calcanhares.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, janeiro 12, 2025

A liberdade nunca foi fazermos e dizermos o que nos dá na "real gana" (um)


Acho que os grandes problemas da sociedade actual são a forma como se entende a liberdade, seja em casa, na escola ou na rua.

E devo dizer, desde já, que nesse aspecto as redes sociais não têm grande coisa a ver com o assunto.

Houve mudanças enormes nos últimos cinquenta anos no nosso país, mas nem todas foram bem definidas, reguladas e aceites pelo comum dos mortais. 

A necessidade de mudança foi tal, que levantou logo outras questões (ainda durante o PREC...), que foram agravadas pela falta de cultura democrática, normal, para quem tinha vivido quase meio século em ditadura. Além do poder repressivo, abusava-se do "respeitinho", imposto pela generalidade das autoridades e das instituições.

Infelizmente, tanto no seio da família, como na escola ou na vida em comunidade, nunca se conseguiu encontrar o caminho certo para a tal liberdade, que se alimenta tanto de direitos como de deveres. Foi bom abolirmos o "respeitinho", mas foi muito mau deixarmos de respeitar o outro, como alguém igual a nós, nos tais direitos e deveres, que quando cumpridos, são a grande marca das sociedades mais bem sucedidas, social e economicamente.

Facilitou-se demasiado o caminho e chegámos a um tempo em que tudo parece "estar em crise". Mas é uma crise que parece interminável e dura há praticamente duas décadas e se tem agudizado (aí sim, com o apoio das redes sociais, onde tudo parece ser permitido...)...

Mas eu continuo a pensar que tudo começa e acaba no uso que damos à boa da Liberdade.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)



domingo, dezembro 01, 2024

«Toda a gente quer receber e ninguém quer dar»


«Toda a gente quer receber e ninguém quer dar.»

Esta é uma das frase que não devem ser ditas, pelo menos nesta época do Natal.

Ligas a televisão, vês as notícias sobre toda a gente que doou toneladas alimentos ao Banco Alimentar, e pensas de imediato que quem diz uma frase destas, anda "a brincar com a malta".

Talvez seja necessário colocar os "pobrezinhos" de lado, e olhar para a sociedade com alguma frieza. E até para a nossa casa...

Perceber a indiferença crescente em relação ao outro. Pior que este esquecimento do outro, é o egoísmo, também crescente. Talvez ele até se note mais nas famílias, como me disse a Rita, com quem não me encontrava à meses.

Falou-me das dificuldades que tem em compreender a filha, de dezoito anos. Sabe que o problema é da miúda sempre ter tido tudo, não sonha sequer o que é viver com dificuldades. Se soubesse o que é querer comprar uma peça de roupa, um creme ou um perfume (só para falar dos "pequenos luxos"), e não ter dinheiro para isso... Talvez pensasse duas vezes em vez de dizer coisas parvas.

Por muito que se ande por aí a tentar fugir da realidade (os governos de propaganda, tanto do Costa como de Montenegro, ajudam mais do que parece...), não consigo deixar de dar razão à Rita...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, novembro 29, 2024

«Deixamos de ser umas coisas e passamos a ser outras, quase sempre piores. É isto, a velhice.»


Eu sabia que esta coisa de irmos para velhos, não se resumia a uma frase, tal como aquele homem, que apenas conhecia de vista, queria dar a entender.

Mas, talvez até fosse um bom resumo. Sim, «deixamos de ser umas coisas e passamos a ser outras quase sempre piores. É isso, a velhice.»

Não é preciso chegarmos aos oitenta anos, para sabermos que se perde mais do que se ganha, pelo menos em termos físicos. Mas nem tudo é mau. 

Talvez o que seja mau, seja o facto da sociedade ocidental não achar grande piada, não ter a capacidade de aproveitar as coisas boas de quem viveu mais tempo. O olhar mais vivido e tranquilo, o ser capaz de se adiantar ao futuro próximo, são tudo coisas cada vez mais banalizadas, por quem está habituado a "comprar o novo e a deitar fora o velho"...

Não sou chinês nem indiano, mas uma boa parte da sua cultura social, baseia-se no conhecimento daqueles que já viveram mais tempo, já passaram por mais coisas. E, curiosamente, são as sociedades emergentes deste tempo, que parece não ter tempo...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, novembro 02, 2024

Autoridade é tão diferente de autoritarismo...


Há gente que vive duas ou três vidas sem conseguir distinguir a autoridade de autoritarismo, normalmente por duas razões: preguiça ou interesse.

E nem estou a pensar naquele senhor com pele cor de laranja, que quer ser o "deus todo poderoso" das américas. Muito menos nas polícias. Estes são daqueles, que não têm grande interesse em fazer esta distinção, quanto mais confusão melhor...

Se nós em casa, e depois os professores na escola, fizessemos sentir a diferença prática que existe entre estas palavras, talvez todos gostássemos mais das democracias e menos nos autoritarismos...

De uma forma simplista, entendo a autoridade, como algo que é aceite e necessário, para que se possa viver com regras. Já o autoritarismo, olho para ele como algo que nos é imposto, e por isso mesmo "obrigatório" e muitas vezes também "injusto".

Mas nem precisamos de sair da família, onde se confunde e mistura, tanto estes dois termos, pais que querem ser os "melhores amigos dos filhos" e "polícias", quase em simultâneo. Claro que nunca dá bom resultado. Ser pai não é ser uma coisa nem outra...

Não é por acaso que se utiliza a autoridade moral e  ética, como exemplos da prática humana. Já em relação aos autoritarismos, eles o que querem menos saber, de morais ou éticas...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, agosto 27, 2024

A liberdade, a identidade sexual e a "feira de rótulos" que floresce à nossa volta...


Enquanto passava junto de um grupo de jovens, percebi que duas adolescentes que estavam de mão dada, estavam a ser gozadas por esta sua atitude de carinho, que poderia, ou não, ter qualquer carga sexual.

Fiquei a pensar naquele episódio, enquanto continuava a minha marcha e eles iam ficando para trás. Nos meus tempos de adolescente era normal ver amigas a passearem de mão dada, sem que lhe fossem colocados quaisquer "rótulos".

Sei que nesses tempos a sociedade era bastante mais fechada e quase que obrigava as pessoas com opções sexuais diferentes a serem discretas, escondendo o que sentiam dos olhares públicos. 

Hoje passa-se outro fenómeno. Quando as pessoas são discretas em relação à sua sexualidade, se andarem sempre com a mesma pessoa (rapaz ou rapariga...), os outros começam a ver coisas, que até podem até ter alguma razão de ser, mas que ninguém tem nada a ver com isso.

Por vivermos em cidades diferentes e termos vidas também diferentes, eu e o meu irmão, estamos tempos e tempos sem nos vermos. Há dois anos, passámos três dias juntos, numa viagem pela Beira Baixa, com paragem na aldeia onde o meu pai nasceu. 

Num dos restaurantes onde fomos jantar, senti que havia uma simpatia exagerada por parte da senhora que nos servia. Reparei também que falava uma colega mais nova, quase ao ouvido, entre a cozinha e a sala de refeições, enquanto nos olhavam. 

Sei que não são só os homens que são atrevidos. Mas não era o caso, pois ela não nos oferecia qualquer "olhar guloso". Depois de nos retirarmos, fiquei a pensar que talvez tenhamos passado por um casal de namorados, nas suas cabecinhas tontas, pela forma alegre como conversávamos um com o outro (mesmo que seja o que os irmãos fazem quando gostam uns dos outros...)...

Embora a nossa opção sexual possa ser assumida hoje com mais liberdade, uma boa relação entre pessoas do mesmo sexo, também pode ser mal entendida com mais facilidade, por a nossa sociedade se ter transformado numa "feira de rótulos"... 

(Fotografia de Luís Eme - Fonte da Pipa)


sexta-feira, maio 17, 2024

Se existem culpados, porquê banalizar (ou esquecer) as suas acções na sociedade?


No meu último texto publicado falei de um nome (o senhor Cavaco Silva, aliás doutor, porque no nosso país há muito boa gente que faz questão de ser tratado desta forma antes do primeiro nome próprio...) e o José, visita regular do "Largo", comentou o facto.

Falei nele (e na sua "camarilha", para ele se sentir acompanhado), porque no meu olhar ele simboliza a grande mudança da nossa sociedade pós-Abril. Foi o primeiro-ministro que beneficiou pela primeira vez dos fundos de coesão europeia e quem fez mais concessões económicas e sociais a esta Europa, sobretudo francesa e alemã ("destruindo", entre outras coisas, a agricultura, as pescas, a pouca indústria que nos restava, os transportes ferroviários, e é melhor ficar por aqui...), tornando a nossa sociedade mais consumista e materialista, ignorando (e até tentando "apagar") alguns valores essenciais de qualquer sociedade verdadeiramente democrática e humanista.

Claro que isto é o que eu penso do papel político deste senhor. E nem vou falar de coisas mais polémicas como as condecorações que deu aos pides e a que não deu a Salgueiro Maia, ou da forma que destratou José Saramago (várias vezes, que culminou com a sua ausência do funeral do nosso único Nobel da Literatura, não percebendo a diferença entre o papel do Presidente da República e do cidadão Cavaco Silva...).

Lá estou eu a "estender o lençol", quando o que pretendia era referir que o nosso País é pródigo em acontecimentos graves, em que  a "culpa costuma morrer solteira". E é por isso que gosto de "falar de nomes" (desde que saiba o que estou a dizer e não esteja a "falar para o ar", como fez há dias a actual ministra que tutela a misericórdia fez com a provedora...). 

Prefiro que existam culpados a que se crie a "nuvem populista" que circula normalmente à volta de diversos sectores, em que se culpa "toda a gente" de corrupção, de compadrio ou de incompetência.

Esta minha preferência pela existência de um culpado, não é apenas "para que tudo fique melhor", mas sim para que a democracia e a justiça funcionem, tratando todas as pessoas da mesma forma.

Mas isto sou eu, José. As palavras que escrevo apenas vinculam este Luís e mais ninguém...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa) 


sábado, maio 04, 2024

Nunca foi tão visível que o povo português "só serve para votar"


Nunca se viveu uma experiência governativa tão surrealista como esta, da AD de Montenegro, com o governo a fingir que tem maioria absoluta pode usar a premissa do "quero, mando e posso" em relação ao parlamento e afins. Quase em "sintonia" está a oposição, que finge que é governo, pois sabe que se há alguém que tem maioria, é ela.

Parece que não há mais mundo, para lá de São Bento. 

Noutros tempos ainda fingiam que tínhamos alguma importância. Agora, brincam de tal maneira com todos nós, que nunca foi tão visível que só servimos para votar.

Sim, não brincam apenas com as forças de segurança, os professores, médicos, enfermeiros ou os oficiais de justiça. Brincam com todos nós.


Passados 50 anos depois de Abril, apetece-me desabafar que, a democracia tem de ser muito mais que isto.

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


sábado, abril 27, 2024

Também é um problema da democracia...


Tal como sempre se falou da "crise no teatro", também é histórica a "crise no associativismo".

Infelizmente são crises reais, por motivos diferentes. E de alguma forma estão ambas ligadas à democracia, mais pelo que não se fez do que pelo que se fez...

A preocupação de se criarem públicos para as actividades culturais ficou-se pelo caminho, algures entre as escolas e as instituições que tutelavam a Educação e a Cultura.

É difícil gostar do que não se conhece (a não ser que sejam espectáculos cuja comunicação seja mais directa com as pessoas, como acontece com as comédias...), do que não se sabe que também serve para pensar e nos ajudar a viver...

Em relação à "crise do associativismo", ela é sobretudo humana. Se antes de Abril era fácil encontrar, pessoas com "vontade de servir", hoje aparecem pessoas é com "vontade de se servirem"... Isso explica a crise do associativismo (a excepção são as grandes instituições, onde aparecem sempre várias listas de dirigentes, porque os interesses que se escondem por detrás, económicos, políticos ou desportivos, são mais que muitos...).

Pelos dados conhecidos, hoje vai acontecer "Abril" no Porto, com o fim do reinado de 42 anos de Pinto da Costa (que nos últimos anos se escuda nos muitos títulos conquistados, mas que se revelam cada vez mais insuficientes...). Este é o nosso exemplo maior do que o poder faz as pessoas, não as deixando sair na hora certa, desbaratando, tantas vezes, tudo o que se fez de positivo. 

Em Almada existem pelo menos meia-dúzia de colectividades que são presididas pela mesma pessoa há mais de vinte anos, fazendo com que estas caiam no marasmo, quase por razões naturais. Isso acontece porque a motivação deixa de ser a mesma, ao mesmo tempo que se vai ficando cada vez mais colado "à cadeira do poder" (sei do que falo porque presidi uma colectividade durante oito anos, mas por sentir na pele os "malefícios do poder", consegui sair pelo próprio pé...). É esta colagem que faz com que não se criem condições para que exista, pelo menos, uma alternativa de mudança, para que tudo se torne mais respirável e para que exista espaço para a diferença...

Infelizmente as pessoas fingem não perceber o que se passa à sua volta. E pior ainda, fingem não ver os vários maus exemplos alheios, que poderiam muito bem servir de "espelho"...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


terça-feira, abril 02, 2024

A Gente Boa de Abril e de Almada


Cresci numa cidade conservadora, que nunca se livrou (por vontade da maioria das pessoas que votavam...) do domínio da chamada direita democrática (PSD). Mesmo hoje é governada por um movimento independente, cujo presidente é um "dissidente" dos sociais democratas. Embora tenha sido uma "lufada de ar fresco" não se podem esperar rasgos demasiado revolucionários na sua governação.

Falo de Caldas da Rainha. A minha ligação à prática desportiva desde cedo fez com que passasse ao lado de muitas coisas. Mas aquela mania de querer "mostrar aos outros", o que se tinha e não tinha, sempre me fez confusão à cabeça. Sim, ter vontade de fazer uma casa com mais um divisão ou comprar um carro mais caro, que o familiar, vizinho ou até amigo (é uma maneira estranha de se ser amigo, mas acontece...), só para mostrar que tinha subido mais um degrau da tal "escadaria social", como se isso fosse a coisa mais importante do mundo.

Felizmente foi possível partir aos dezoito anos para a Cidade Grande, viver os meus primeiros tempos com um casal solidário e amigo, cuja formação superior não os desviou das preocupações sociais, de olhar os outros, nem de sentir que o País se começava a desviar de uma forma significativa do sonho de Abril...

O Zé e a Elisete foram muito importantes para uma ainda maior consciencialização política, e para o bom uso que se devia fazer da liberdade individual. Embora os meus pais fossem de esquerda (tal como eu perdiam as eleições todas nas Caldas...), não tinham a cultura social e política dos primos.

Mas a grande mudança deu-se quando eu tinha 24 anos e escolhi Almada como o meu porto de abrigo. Em pouco tempo, senti logo que pertencia aquela gente, sem preconceitos e manias de grandeza. Por ser governada pela CDU, a cidade tentava resistir (e conseguiu por alguns anos...) ao cavaquismo e ao mundo dos "novos-ricos", que essa figura tão bem caricaturada como "múmia", trouxe para o poder.

Apesar das muitas transformações do País, a gente de Almada que tive o prazer de conhecer, era a minha gente. As pessoas que trato orgulhosamente pela "Gente Boa de Abril".

Não as vou enumerar, até porque são bastantes as pessoas que me ajudaram a ser um melhor ser humano e cidadão. Gentes que valorizavam sobretudo os valores colectivos e que continuavam (e continuam...) a sonhar com o "País de Abril"...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


terça-feira, janeiro 09, 2024

Talvez sim, talvez sejamos estúpidos (não vem mal nenhum ao mundo, mesmo que pareça que somos cada vez menos)


«Nós por natureza, somos egoístas, só em situações de guerra ou de revolta, é que nos unimos em volta do mesmo objectivo. Mas é quase sempre coisa de dias. É o mundo que nos diz que é assim. Só não vê quem é estúpido.»

Talvez sejamos estúpidos, sim, pelo menos aqueles que alguma vez acreditaram ou acreditam no socialismo (como eu...). Mas continuava com muitas dúvidas de que só em situações limites (talvez seja o que se passa hoje em Gaza e na Ucrânia, talvez...), é que as pessoas percebem que precisam umas das outras e lutam pelo colectivo. Se fosse assim, tanta gente por esse mundo fora que morria de fome e de frio, nestes tempos difíceis...

Ele continuava a querer vender a sua "bisnaga"...

«Não é por acaso, que inventamos coisas para vivermos isolados, para dependermos cada vez menos do outro, para pudermos fazer o que nos dá na real gana, para sermos cada vez mais egoístas e individualistas.»

Não satisfeito ainda foi capaz de dizer: «Nem mesmo o sem abrigo ali da esquina pensa numa sociedade mais justa e igualitária. Ele quer é sobreviver um dia de cada vez, borrifando-se para os outros.»

Não imaginava que estava a deitar por terra o discurso, que uma boa parte das pessoas vão para a rua, por serem incapazes de continuar a viver numa sociedade altamente competitiva e individualista, que os destrói por dentro e por fora...

Consegui não responder. Cada vez respondo menos a provocações que são de tal forma extremadas, que não merecem sequer que se perca tempo com elas.

Mas sabia, que se olhasse com crueza para o mundo, mesmo que soubesse que as coisas não eram bem assim, para lá caminhavam, com a nossa complacência e habitual abanar de ombros...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


segunda-feira, janeiro 08, 2024

48 horas sem ver notícias (voluntariamente)...


Resolvi estar dois dias sem ver qualquer serviço noticioso televisivo.

Aconteceu mais ou menos o que previra. Ao fim de algumas horas, tive alguma preocupação que tivesse acontecido qualquer coisa importante no país e me passasse completamente ao lado. Mas depois, foi um alívio, um desprendimento. Que bom não sentir qualquer saudade de políticos, comentadores, muito menos de hospitais ou comboios...

Amanhã sei que vou descobrir o mesmo país. Que mesmo que tenha existido um encontro partidário no fim de semana, os problemas deverão continuar os mesmos e as discussões políticas devem também manter-se bem "rasteiras", pelo menos do lado direito, que nem sequer parece ter jeito para "comprar sondagens"...

(Fotografia de Luís Eme - Porto Brandão)


sábado, janeiro 06, 2024

O prazer que se tem em "esconder" o que os "outros querem saber"...


São várias as coisas que me dizem que sou de outro tempo (até o Cartão de Cidadão...). Mas também acredito que existam traços de personalidade, que não têm de ver necessariamente com os tempos que se vivem.

Eu sabia que cada vez se preservava menos a intimidade, o negócio dos mexericos até nos mostrava que poderia ser partilhada e transformada em "novela", cada vez mais com o consentimento dos próprios.

Como sempre fui bom a guardar segredos, não era daquele mundo que estava ali às minha frente. Não valia a pena falar do prazer que se sente quando se "esconde" que se anda com alguém, porque o "normal" é contar (mesmo que seja mentira...).

E o mais curioso, é que muitas vezes são os outros com a sua curiosidade, que nos levam a manter os mistérios e a esconder relações, que podem ser ou não passageiras.

Mas talvez esteja tudo mesmo diferente, e quem tem o prazer em "esconder" o que os "outros querem saber", sejam a excepção...

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


terça-feira, janeiro 02, 2024

A nossa conduta como cidadãos no espaço público


As notícias da televisão, mesmo que sejam repetitivas, levantam sempre questões.

Faz-me confusão que se insista, ano após ano, com o mesmo tipo de comportamentos, completamente erráticos e ilegais. 

Nas festividades do Natal e do Ano Novo continuam a perder-se demasiadas vidas nas estradas (e nem vou falar nos mutilados...), em acidentes estúpidos, muitos deles provocados por condutores com excesso de álcool no sangue.

Mesmo que saiba que não sou exemplo para ninguém (nunca conduzi alcoolizado...), não consigo compreender este comportamento "assassino", repetido ano após ano. 

Infelizmente, é apenas mais um exemplo, que diz muito sobre a nossa conduta como cidadãos no espaço público.

(Fotografia de Luís Eme - Sobreda)


quarta-feira, dezembro 20, 2023

Quando ser bom não é suficiente...


É giro como a palavra "bom", pode ter significados, completamente diferentes. Sim, podes ser "bom" e não ser "boa pessoa" (é quase normal, porque quando és "bom" em qualquer coisa, não gostas muito de dar confiança ao "mundo", deve vir nos manuais de "ser vedeta"...).

Tudo isto porque fiz quase o papel de "psicanalista", com um pai que pensava que o filho ia ser o "novo ronaldo". Ficou muito desiludido por estar ligeiramente enganado. Não era daquelas pessoas que estava a pensar tornar-se milionário à custa do talento do filho, era apenas vítima da "cegueira de pai", que nos faz olhar para os nossos e ver os "melhores do mundo".  Quando desceu à terra, percebeu que estava a fazer mal ao filho e a ele próprio, por estar a obrigá-lo a ser uma coisa que não era...

Não falei muito, limitei-me quase a ouvir. Cada vez dou menos palpites em relação às vidas que nos rodeiam.

Acabámos por falar também da "sorte", da que cai do céu, mas também daquela que dá muito trabalho, que temos de correr atrás dela, porque às vezes só passa uma vez na nossa rua.

Também esta, nos diz que ser bom, não é suficiente...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, dezembro 03, 2023

Expressões felizes para tudo e para todos...


Embora não saiba a origem da expressão que usa um copo com algum liquido, para caracterizar quase todas as coisas da vida, acredito que tenha aparecido na cabeça de algum O'Neill, capaz de juntar as palavras com grande felicidade e até algum humor, tanto na poesia como na publicidade. 

Não há qualquer dúvida que se trata de uma expressão feliz, capaz de equilibrar ou desequilibrar quase tudo o que nos rodeia. Até se pode ter dado o caso de ter nascido no meio de uma discussão, daquelas em que se anda à procura do "sexo dos anjos" . Sim, só dois teimosos, é que eram capazes de se travar de razões, tendo pela frente um "copo meio vazio e um copo meio cheio".

Sei apenas que a moda pegou, como tantas outras, e que é com a quantidade de bebida e com um copo que se define de uma forma simplista, se somos optimistas ou pessimistas.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, novembro 12, 2023

Somos sobretudo os "nomes próprios"...


Sempre gostei de tratar os meus amigos pelos nomes próprios, independentemente das suas idades. Embora o faça normalmente com quase toda a gente que conheço, mesmo quase só de vista.

Há por vezes quem ache que eu abuse da "familiaridade". Nada que me incomode, porque sinto que o tratamento por nome próprio cria logo mais aproximação, quebra uma ou outra barreira que possam existir no relacionamento.

Nunca gostei que me chamassem "senhor", menos ainda "doutor" (os doutores Relvas e Sócrates simplificaram as coisas a este nível e ainda bem...). Até porque ninguém é registado desta forma. Este tratamento cria a distância que alguns tanto desejam e que os faz sentir, por breves (ou longos) momentos, alguém importante. 

Exactamente o que não quero, nem nunca quis... Quando quero distância de alguém, sou parco em palavras ou tento mudar de esquina.

Cada vez estou mais convencido que somos, sobretudo, os "nomes próprios"...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)