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Eu vou sentir falta de ir em festas ruins com você
E voltar pra casa a pé em seus braços, chapado
Falando mal da cidade inteira
Eu vou sentir falta de beijar você a cada sinal vermelho
Eu vou sentir falta do seu corpo encaixado dentro do meu
Eu vou sentir falta do seu vício tragicômico em cafeína
Nosso senso de humor impublicável, os poemas que você fez pra mim
Mas não deu tempo de ler, não deu tempo de ler
A maconha, o pão e o vinho compartilhados na mesa santa
Seu gosto, seu cheiro, seus pelos, seus olhos brilhando
Violentamente sob os meus, violentamente sob os meus
Eu vou sentir falta de te ouvir cantar
Aquela canção de amor que falava exatamente tudo que a gente foi
Parecia mágica, parecia mágica, parecia mágica
E agora acabou
A gente fez tudo que foi capaz
Eu sei que a gente fez tudo que foi capaz
Eu sei que a gente fez tudo que foi capaz
Eu sei
Eu tentei enxergar um dispositivo pra reproduzir
Pra me fazer lembrar do tempo
Em que eu sabia te fazer feliz
Infelizmente mais uma vez eu apostei
Que eu poderia ser melhor do que eu sei
Eu sei, eu sei, que eu jamais serei
Talvez eu seja mesmo irrecuperável
Uma máquina ambulante de erros e mentiras
Atrás de mentiras, atrás de mentiras
Um dia aleatório a gente vai acordar e perceber
Que já não lembra mais um do outro
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Eu agradeço a oportunidade
O privilégio de poder falar e ser ouvido
Nós somos feitos de um corte diferente
O contato do meu corpo lastimável
Com seu dorso inignorável
Me provocaram a memória de uma constelação
A memória de uma melodia
Ao ouvir nossa música eu chorei
Eu chorei porque te amei
Ou eu chorei porque te fiz mal
A dor a gente sente na carne, na carne, na carne
Fazer o que se o coração bombeia sangue
E o amor consome
A mudança nunca é bela
Como alguém tão linda assim
Foi se apaixonar por um homem feito eu?
Deve ser porque deus nos fez assim
Difícil de gostar, mas tão fácil de amar
Não sou de acreditar, mas eu pensei
Do porquê pra eu ter nascido assim, falando assim
Imagino que alguma parte de um erro é sempre um acerto
O contato do meu corpo duro com o seu molhado
O melhor sexo é o aguardado?
Ou é o que vem feito um trovão inesperado?
Mas devo abrir meu coração
Todo amor é feito pra acabar
Está escrito nos livros, nas estrelas e no mar
Mas lutar contra todo o fim é a nossa sina
Se o nosso nome fosse um verbo...
Seu amor é uma grande mesa
Onde eu encontro tudo
A carne, as roupas, os livros e as plantas
O homem quando ama trabalha melhor
Trata os outros melhor, não quer mal a ninguém
Pra quem já tentou varrer a areia da praia
O que é mais um dia se sentindo um merda
Toda vez que eu te via eu ficava com a barriga embrulhada
Como se tivesse algo não dito, algo não resolvido
O contato do meu corpo quente com o seu corpo frio
Me provocaram a memória de um arrependimento
A memória de uma casa
A harmonia nos objetos
Os cheiros tão reais
A passagem do tempo
Mas devo abrir meu coração
Todo amor é feito pra acabar
Está escrito nos livros, nas estrelas e no mar
Mas lutar contra todo o fim é a nossa sina
Se o nosso nome fosse um verbo...
Se isolar não é uma forma de se descobrir
É apenas uma forma conveniente de fuga
Nós somos feitos de um corte diferente
O contato da sua pele com a minha pele me lembrou
Das nossas lutas, de tudo que passamos até chegar aqui
Eles querem a nossa carne, mas a nossa carne só pertence a gente
Os sentimentos não são esquecidos, eles só se perdem por aí
Deixam seus rastros, suas memórias
Suas cicatrizes são sentidas eternamente
Até quando não lembramos exatamente
De onde veio esse sentimento que sinto agora?
Eu sinto tudo, tudo nessa melodia
Até que se faz completa a música
Até que se faz completa a extensão do tempo que vivemos
O tempo grita, a gente grita, a gente grita, a gente grita, a gente grita
Abri seu ventre, sua boca, suas pernas e seus seios
Abri seus olhos, seu pescoço, suas mãos e seus cabelos
Entrei naquilo que não é seu e que não é meu
Consumi seu corpo e o nosso amor
No momento que se sente exausto e forte
Sem nenhum medo, sem nenhum pudor
Vira cheiro o que antes era fedor
Vira amor o que antes era horror
Tudo é movimento
O ritmo carnal cuja proa irrompe a imagem de um barco
Em uma enseada de infinitas bocas
Recebendo com prazer o calor de um corpo nu que era um espelho
O gozo que se exprime num sorriso
No que podemos chamar de alegria
Era um sangue que jorrava nostalgia
Toquei onde é mais profundo, no fundo do interior
O princípio é o que move
O princípio da carne vai saber
Um exercício simultâneo de corpos
Que indica uma nova separação
A finalidade é o que move
A fim da carne vai saber...
A carne faz o homem suspirar
A carne faz o homem soluçar
A carne faz o homem explodir
A carne faz o homem tremer as pernas
A carne faz do homem um pedaço de fome
A carne faz do homem um menino
A carne faz o homem se humilhar
A carne faz o homem sorrir, a carne faz o homem chorar
A carne faz do homem um cachorro
A carne faz o homem tão forte quanto um lobo
A carne faz o homem latir
A carne faz o homem uivar
A carne, a carne, a carne, a carne, a carne
Se nosso nome fosse um verbo seria amar
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Eu gosto do teu jeito, eu gosto de você
Viciei no teu cheiro, teu beijo faz tremer
E bem no véu da noite, ontem
Às quatro horas da manhã senti
Minha pele delirante urrava brados lentos
Suava um elixir
E nessa portaria, eu não vou mais passar
Até um bendito dia, se Deus abençoar
Peguei meu telefone e a senha de desbloqueio quase esqueci
Ao ver ali no canto o seu nome na tela
"O que será que eu recebi?"
Talvez um "boa sorte", um "torço por você",
Ou "no futuro a gente vê"
Ou algo não clemente
"Não tinha como dar certo, só quero te esquecer"
E agora o tempo passa, voa
Navegando páginas que destaquei
Do nosso calendário que embora emoldurado
Foi onde me guiei
E nessa Romaria de contas, preces, sonhos
Aonde eu quis nascer e quis definhar
Eu só achei que a vida ia nos deixar
Lado a lado, sob ferro e fogo
Eu, você, três gatos e um cachorro
Dos poucos artifícios que ainda posso usar
Sobrou o sacrifício de não lhe procurar
As noites são insones, feias, intransponíveis
Só por não saber
Por onde é que tu andas
Choro, quase afogado
Só queria te ver
E ontem, ao meio-dia eu quis desesperar
Mas cedi à agonia de não me lamentar
Peguei meu telefone e as fotos do nosso templo vão aparecer
Como se fossem marcas, rasgos em minha carne
Pra eu nunca te esquecer
Sua sinceridade e gênio incomparáveis eu vou guarnecer
Bem fundo em um cofre, forte e inviolável
Dentro do meu ser
E nessa calmaria de bosques, prados, montes
Onde eu quis viver, onde eu quis morar
Eu só pensei que a vida ia nos deixar
Lado a lado, contra tudo e todos
Eu, você, três gatos e um cachorro
E eu vou continuando
Sigo, solenemente
Com pétalas sob os pés
E eu vou continuando
Sigo, solenemente
Com pétalas sob os pés
De rosas depenadas
Em um buquê incompleto
Gravado em minha tez
E nessa Romaria de contas, preces, sonhos
Aonde eu quis nascer e quis definhar
Eu só achei que a vida ia nos deixar
Lado a lado, sob ferro e fogo
Eu, você, três gatos e um cachorro
E eu prometeria, em verdade, que na doença, na vaidade
E todos erros que eu puder errar
Em vida e após, ainda irei te amar
Eu só pensei que a vida ia nos deixar
Lado a lado, contra tudo e todos
Eu, você, três gatos e um cachorro
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