Obrigado

Deixa eu contar uma história pra vocês.
Quando eu tinha 5 anos (o período que eu entendi que estava viva, porque até então eu não tinha me dado conta do tamanho do mundo em que eu vim parar), fiz uma viagem à São Paulo com a minha avó, Dona Nair (aham, aquela rabugenta <3), fomos só nós duas, fizemos inúmeros passeios, que roteiro bom. E eu me lembro que todos os nossos passeios eram de busão, minha vó nunca dirigiu, e por mais que eu quisesse, com 5 anos eu nem sentava no banco da frente.
Certa vez, em um desses passeios, voltando pra casa do Hugo, onde nós estávamos hospedadas, a minha avó se levantou e puxou a cordinha pra que o motorista parasse na próxima (aham, na minha época era cordinha, hoje eu to ligada que rola um botão – pra tudo hoje em dia rola um botão….to divagando, foco….volta aqui) o motorista parou e minha vó desceu na minha frente pra me pegar no colo no último degrau, pq eu sempre fui esse miudeza aqui. Acontece que assim que minha avó pisou na calçada o motorista arrancou com o ônibus, e eu fiquei lá dentro.
Bianca
5 anos de idade
Centro de São Paulo
1996
Sozinha dentro do ônibus
Eu gritei, minha avó gritou, o cobrador riu olhando pra mim, o motorista viu meu pânico pelo retrovisor, e eu só conseguia ver os olhos dele. Ele não parou o ônibus, mas a porta ainda estava aberta. Eu olhei pra frente, não havia nada além de muro e calçada. Eu pulei do ônibus.

Um rapaz, que eu não vi, e minha avó relata que também não viu, apareceu ali exatamente na minha frente, me pegou no colo daquele salto que eu dei e eu lembro de ficar de olhos fechados no ombro do rapaz com o choro entalado na garganta até ouvir a voz da Dona Nair: “minha filha” ofegante e desesperada, ela me pegou no colo, eu abri os olhos, ela passou a mão no meu rosto, a mão gelada e os olhos lacrimejados. Olhamos pra trás pra agradecer ao rapaz.
-Cadê o moço?
-Cadê o moço?

Eu só lembro que ele estava de casaco preto e que cheirava a amaciante bom.
Por um tempo eu apelidei ele de Bibo. Hoje eu chamo ele de Obrigado.
Um dos melhores sentimentos que eu já nutri foi o sentimento que tenho pelo Obrigado, não sei se ele é humano, não sei se ele é et, num sei se é meu anjo da guarda, mas ele apareceu, salvou minha vida e desde então eu tenho um carinho especial por ela.

biancamdlf


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