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domingo, abril 28, 2013

BOCAGE



Tendo o terrível Bonaparte à vista, 
Novo Aníbal, que esfalfa a voz da Fama,
 "Oh capados heróis!" (aos seus exclama 
Purpúreo fanfarrão, papal
sacrista):

 "O progresso estorvai da atroz conquista
 Que da filosofia o mal derrama?...
" Disse, e em férvido tom saúda, e chama, 
Santos surdos, varões por sacra lista: 

Deles em vão rogando um pio arrojo, 
Convulso o corpo, as faces amarelas, 
Cede triste vitória, que faz nojo! 

O rápido francês vai-lhe às canelas; 
Dá, fere, mata: ficam-lhe em despojo
 Relíquias, bulas, merdas, bagatelas. 


FOTOGRAFIA
By Palaciano

sábado, abril 20, 2013

PORQUE O POVO DIZ VERDADES



Porque o povo diz verdades,
Tremem de medo os tiranos,
Pressentindo a derrocada
Da grande prisão sem grades
Onde há já milhares de anos
A razão vive enjaulada.

Vem perto o fim do capricho
Dessa nobreza postiça,
Irmã gémea da preguiça,
Mais asquerosa que o lixo.

Já o escravo se convence
A lutar por sua prol
Já sabe que lhe pertence
No mundo um lugar ao sol.

Do céu não se quer lembrar,
Já não se deixa roubar,
Por medo ao tal satanás,
Já não adora bonecos
Que, se os fazem em canecos,
Nem dão estrume capaz.

Mostra-lhe o saber moderno
Que levou a vida inteira
Preso àquela ratoeira
Que há entre o céu e o inferno.

António Aleixo,



segunda-feira, julho 02, 2012

POEMA

O Encoberto



Cavaleiro do Sonho e do Desejo,
guarda no santo Graal,
com a nossa Saudade e o nosso Beijo,
- o sangue de Portugal.

Sonho de além e de glória,

há tanto, há tanto
o sonha um Povo inteiro!
Maravilha e encanto
da nossa história:
- oh Manhã de Nevoeiro...

Oh manhã misteriosa

que alvoreces em nós teu rompante claror,
teu messiânico alvor,
manhã de além, alva saudosa,
- tu és nossa força que não passa,
teu sonho em nós revive ao longe e ao perto,
manhã sem dia, oh manhã de Graça,
em que há de vir o Encoberto...

Místico Paladino iluminado,

que ao areal arrastou nossa alma em flor
e jogou a sorrir nosso destino e sorte,
ele era vivo antes de Desejado,
ele era vivo em nosso sonho e amor,
- e nunca o levou a morte!

Ele é vivo e é eterno! Horas ansiadas

em que o sinto, no meu sangue, em mim...
Ele vive nas Ilhas Encantadas
da nossa alma sem fim...

E, oh maravilha!

em toda a hora do perigo e do temor,
o Encoberto volta da sua Ilha,
e salva-nos, e salva-nos, Senhor!...

E a Esperança imortal,

surda palpita na manhã rompente!
Cerra-se a névoa alucinadamente,
Portugal boia no nevoeiro...

E o Cavaleiro

do Sonho e do Desejo
guarda no Santo Graal,
com a nossa Saudade e o nosso Beijo,
- o sangue de Portugal.




(In Ilhas de Bruma)



quarta-feira, novembro 30, 2011

FADO PORTUGUÊS

O Fado nasceu um dia,

quando o vento mal bulia

e o céu o mar prolongava,

na amurada dum veleiro,

no peito dum marinheiro

que, estando triste, cantava,

que, estando triste, cantava.



Ai, que lindeza tamanha,

meu chão , meu monte, meu vale,

de folhas, flores, frutas de oiro,

vê se vês terras de Espanha,

areias de Portugal,

olhar ceguinho de choro.



Na boca dum marinheiro

do frágil barco veleiro,

morrendo a canção magoada,

diz o pungir dos desejos

do lábio a queimar de beijos

que beija o ar, e mais nada,

que beija o ar, e mais nada.



Mãe, adeus. Adeus, Maria.

Guarda bem no teu sentido

que aqui te faço uma jura:

que ou te levo à sacristia,

ou foi Deus que foi servido

dar-me no mar sepultura.



Ora eis que embora outro dia,

quando o vento nem bulia

e o céu o mar prolongava,

à proa de outro velero

velava outro marinheiro

que, estando triste, cantava,

que, estando triste, cantava.


José Régio, in 'Poemas de Deus e do Diabo'

VARIAÇÕES EM AZUL

domingo, novembro 06, 2011

REVOLUÇÃO

Pena que as revoluções
não as façam os tiranos
se fariam bem em ordem
durariam menos anos

liberdade sairia
como verba de orçamento
e se houvesse qualquer saldo
se inventava suplemento

pagamento em dia certo
daria para isto aquilo
o que sobrasse guardado
de todo o assalto a silo

mas o que falta aos tiranos
é só imaginação
e o jeito na circunstância
é mesmo a revolução.

Agostinho da Silva, in 'Poemas'


sábado, agosto 27, 2011

POESIA

Casa de sol onde os animais pensam

erguida nos ares com raízes na terra
ampla e pequena como um pagode
com salas nuas e baixas camas
casa de andorinhas e gatos nos sótãos
grande nau navegando imóvel
num mar de ócio e de nuvens brancas
com antigos ditados e flores picantes
com frescura de passado e pó de rebanhos
ó casa de sonos e silêncios tão longos
e de alegrias ruidosas e pães cheirosos
ó casa onde se dorme para se renascer
ó casa onde a pobreza resplende de fartura
onde a liberdade ri segura


de Voz Inicial(1960)

António Ramos Rosa



FOTOGRAFIA
By Palaciano

CARTOON


sexta-feira, março 04, 2011

POESIA

Se eu fosse um padre


Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões,

não falaria em Deus nem no Pecado

muito menos no Anjo Rebelado

e os encantos das suas seduções,


não citaria santos e profetas:

nada das suas celestiais promessas

ou das suas terríveis maldições...

Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,


Rezaria seus versos, os mais belos,

desses que desde a infância me embalaram

e quem me dera que alguns fossem meus!


Porque a poesia purifica a alma

...e um belo poema ainda que de Deus se aparte

um belo poema sempre leva a Deus!


Mário Quintana



MÚSICA


FOTOGRAFIA
By Palaciano

sexta-feira, janeiro 28, 2011

ANTÓNIO ALEIXO

Descreio dos que me apontem
uma sociedade sã:
isto é hoje o que foi ontem
e o que há-de ser amanhã.

Vós que lá do vosso império
prometeis um mundo novo,
calai-vos, que pode o povo
qu´rer um mundo novo a sério.

Depois de tanta desordem,
depois de tam dura prova,
deve vir a nova ordem,
se vier a ordem nova.

Há luta por mil doutrinas.
Se querem que o mundo ande
façam das mil pequeninas
uma só doutrina grande.

Que importa perder a vida
em luta contra a traição,
se a Razão, mesmo vencida,
não deixa de ser Razão?



FOTOGRAFIA


CARTOON


terça-feira, dezembro 21, 2010

NATAL

Se considero o triste abatimento
Em que me faz jazer minha desgraça,
A desesperação me despedaça,
No mesmo instante, o frágil sofrimento.

Mas súbito me diz o pensamento,
Para aplacar-me a dor que me traspassa,
Que Este que trouxe ao mundo a Lei da Graça,
Teve num vil presepe o nascimento.

Vejo na palha o Redentor chorando,
Ao lado a Mãe, prostrados os pastores,
A milagrosa estrela os reis guiando.

Vejo-O morrer depois, ó pecadores,
Por nós, e fecho os olhos, adorando
Os castigos do Céu como favores.

Manuel Maria Barbosa du Bocage

terça-feira, novembro 30, 2010

GEDEÃO

Máquina do mundo

O Universo é feito essencialmente de coisa nenhuma.
Intervalos, distâncias, buracos, porosidade etérea.
Espaço vazio, em suma.
O resto, é a matéria.

Daí, que este arrepio,
este chamá-lo e tê-lo, erguê-lo e defrontá-lo,
esta fresta de nada aberta no vazio,
deve ser um intervalo.



FOTOGRAFIA
By Palaciano

CARTOON
Conversas no Laranjal

segunda-feira, novembro 08, 2010

BELA DEMOCRACIA

Bela Democracia
Diversificada, perversa
Corrompida por interesses
Prostituta se transformou
Democracia
Seu nome perdeu substância
Causa pública abandonada
Ideologia vai-se esfumando
A palavra perdeu o valor
Democracia
Politica substituída pelo dinheiro
A Honra deixou de ser sagrada
Pequenez é a existência do Homem
Ambição, traiçoeira é sua vontade


C. Valente

FOTOGRAFIA



CARTOON

terça-feira, outubro 26, 2010

GREGÓRIO DE MATOS

À MARGEM DE UMA FONTE QUE CORRIA...

A uma dama dormindo junto a uma fonte.

À margem de uma fonte, que corria,
Lira doce dos pássaros cantores
A bela ocasião das minhas dores
Dormindo estava ao despertar do dia.

Mas como dorme Sílvia, não vestia
O céu seus horizontes de mil cores;
Dominava o silêncio entre as flores,
Calava o mar, e rio não se ouvia,

Não dão o parabém à nova Aurora
Flores canoras, pássaros fragrantes,
Nem seu âmbar respira a rica Flora.

Porém abrindo Sílvia os dois diamantes,
Tudo a Sílvia festeja, tudo adora
Aves cheirosas, flores ressonantes.


PINTURA AFRICANA


quinta-feira, outubro 14, 2010

AS PALAVRAS

São como um cristal,

as palavras.

Algumas, um punhal,

um incêndio.

Outras,

orvalho apenas.


Secretas vêm, cheias de memória.

Inseguras navegam:

barcos ou beijos,

as águas estremecem.


Desamparadas, inocentes,

leves.

Tecidas são de luz

e são a noite.

E mesmo pálidas

verdes paraísos lembram ainda.


Quem as escuta? Quem

as recolhe, assim,

cruéis, desfeitas,

nas suas conchas puras?


Eugénio de Andrade



FOTOGRAFIA
Praça do Município - Beira

CARTOON

segunda-feira, dezembro 24, 2007

VÉSPERA DE NATAL

Hoje decidi tentar deixar uma mensagem a muitos dos meus amigos, pelo que o tempo para o post foi pouco. A escolha recaiu em Miguel Torga, que espero agrade a todos os que eventualmente me visitem na Véspera de Natal.