Modeste Mignon
Modeste Mignon (às vezes adaptado para o português como Modesta Mignon[1]) é um romance de Honoré de Balzac escrito em 1844. Faz parte das Cenas da vida privada da Comédia Humana.
A primeira parte da obra é publicada inicialmente no Journal des débats em abril de 1844, depois em maio e julho de 1844, com modificações destinadas a não chocar o público do jornal. Em seguida, a obra revisada e amplamente desenvolvida é então editada por Chlenowski, dividida em duas partes sob dois títulos diferentes: Modeste Mignon a primeira e Les Trois amoureux (Os três apaixonados) a segunda. Em 1846, é publicada no tomo IV das Cenas da vida privada da edição Furne.
Questiona-se bastante sobre este romance que não é (erroneamente) considerado uma obra essencial de Balzac. André Gide, contudo, o considerava um dos seus melhores. Há, de fato, muita delicadeza neste estudo de jovem apaixonada e romântica em que o autor adota um estilo muito particular. O romance progride com numerosos capítulos (74), curtos, frequentemente epistolares, em que a heroína troca cartas com um poeta que ela admira.
É voltando de São Petersburgo, onde ele havia passado o ano de 1843 junto à condessa Hańska, que Balzac escreve Modeste Mignon. A influência desta temporada é determinante. Várias ligações podem ser feitos entre o círculo da "bem amada", sua família, sua personalidade e os personagens que povoam o romance.
A condessa havia, ela mesma, escrito um primeiro quadro da história que Balzac então enriqueceu com personagens observadosnão no ponto. Modeste personificaria Ewelina Hańska mais jovem, Wenceslas Rewuski, primo da pai de Madame Hanska, ofereceria similitudes com Charles Mignon, o pai de Modeste. Em todo caso, a dedicatória é bastante inflamada para que não se tenha dúvidas sobre a fonte de inspiração do autor: À une Polonaise: fille d’une terre esclave, ange par l’amour, démon par la fantaisie, enfant par la foi, vieillard par l’expérience, homme par le cerveau, femme par le cœur, géant par l’espérance, mère par la douleur et poète par tes rêves [...] (A uma polonesa: filha de uma terra escrava, anjo pelo amor, demônio pela fantasia, criança pela fé, velha pela experiência, hommem pelo cérebro, mulher pelo coração, gigante pela esperança, mãe pela dor e poeta por teus sonhos [...]).
A originalidade desta obra está também em seu ambiente geográfico. Depois de muito tempo, Balzac, que queria cobrir todas as facetas do mundo real, procurava fazer o quadro de uma cidade que fosse porto de mar. Para Modeste Mignon, ele escolheu Le Havre[2].
Enredo
O pai de Modeste, Charles Mignon de La Bastie, fez uma fortuna muito rápido, e a falência que lhe atinge então lhe impulsiona a partir por quatro anos para as Índias para se lançar a novos negócios. Durante sua ausência, Modeste e sua mãe permanecem sob a vigilância cuidadosa de amigos de confiança. Mas a jovem escreve a um poeta parisiense, Melchior de Canalis, que ela admira e deseja encontrar. Contudo, é seu secretário, Ernest de La Brière que responde as cartas, jovem cultivado e delicado que se apaixona imediatamente por ela. Não é senão quando Charles Mignon volta das Índias com fortuna feita, que Canalis começa a se interessar por esta jovem que até então ele olhava apenas com condescendência. Ernest, o apaixonado, vai ao desespero, ainda mais que um novo aspirante se apresenta a Modeste: o duque de Hérouville. A nova fortuna de Mignon lhe permite oferecer várias festas e recepções durante os quais Canalis e Hérouvillle rivalizam em orgulho ao ponto de surpreender Modeste. Mas a jovem descobrirá os tesouros da sinceridade de Ernest, e será ele o escolhido, enfim.
Referências
- ↑ Honoré de Balzac. A comédia humana. Org. Paulo Rónai. Porto Alegre: Editora Globo, 1954. Volume I
- ↑ Introdução, prefácio e notas d’Anne-Marie Meininger a Modeste Mignon, Paris, Gallimard, coll. « Folio classique », 1982 (ISBN 2-07-037360-6).
Bibliografia
- (fr) Pierre-Yves Balut, « Modeste Mignon à Potsdam », l'Année balzacienne, 1997, no 18, p. 303-10.
- (fr) Terence Cave, « Modeste and Mignon: Balzac Rewrites Goethe », French Studies, July 2005, no 59 (3), p. 311-25.
- (fr) Charles Dédéyan, « Balzac et Sismondi », l’Année balzacienne, 1988, no 9, p. 73-79.
- (fr) Mireille Labouret, « Romanesque et romantique dans Mémoires de deux jeunes mariées et Modeste Mignon », l’Année balzacienne, 2000, no 1, p. 43-63.
- (fr) Joëlle Mertès-Gleize, « Séduite et épousée : les stéréotypes de la lecture dans Modeste Mignon », Balzac, Œuvres complètes : le Moment de La Comédie humaine, Éd. et intro. Claude Duchet, Éd. et intro. Isabelle Tournier, Saint-Denis, PU de Vincennes, 1993, p. 171-88.
- (en) Armine Kotin Mortimer, « Writing Modeste Mignon », l’Esprit Créateur, Fall 1991, no 31 (3), p. 26-37.
- (fr) Andrew Oliver, « (Im)Modeste Mignon : un roman balzacien en déshabillé », Réflexions sur l’autoréflexivité balzacienne, Éd. et avant-propos, Andrew Oliver, Éd. et avant-propos, Stéphane Vachon, Toronto, Centre d’Études du XIXe siècle Joseph Sablé, 2002, p. 155-67.
- (fr) Christine Planté, « Modeste Mignon : les lettres, la voix, le roman », l’Année balzacienne, juillet 1999, no 20 (1), p. 279-92.
- (fr) André Vandegans, « Fascinations et nostalgies balzaciennes dans Modeste Mignon : du propos à l’effet », Bulletin de l’Académie Royale de Langue et de Littérature Françaises, 1980, no 58 (1), p. 20-55.
- (fr) R. Anthony Whelpton, « L’Atmosphère étrangère de Modeste Mignon », l’Année balzacienne, Paris, Garnier Frères, 1967, p. 373-5.