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Cauterets

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Cauterets
  Comuna francesa França  
Mairie de Cauterets
Mairie de Cauterets
Mairie de Cauterets
Símbolos
Brasão de armas de Cauterets
Brasão de armas
Gentílico cauterési/ens/ennes
Localização
Cauterets está localizado em: França
Cauterets
Localização de Cauterets na França
Coordenadas 42° 53′ 24″ N, 0° 06′ 45″ O
País  França
Região Occitânia
Departamento Altos Pirenéus
Administração
Prefeito Michel Aubry; 2014–2020
Características geográficas
Área total 156,84 km²
População total (2018) [1] 912 hab.
Densidade 5,8 hab./km²
Código Postal 65110
Código INSEE 65138
Sítio www.ville-cauterets.fr

Cauterets (em occitano e em catalão: Cautarés; em aragonês: Cautarès) é uma comuna francesa na região administrativa de Occitânia, no departamento dos Altos Pirenéus. Estende-se por uma área de 156,84 km². Em 2010 a comuna tinha 912 habitantes (densidade: 5,8 hab./km²).[1] É simultaneamente uma estância de esqui e termal.

A vila situa-se 30 km a sul de Lourdes e 10 km a sul de Pierrefitte-Nestalas, no estreito vale do gave Cauterets, uma torrente de montanha que prolonga os gaves do de Jéret, do Marcadau e dos seus afluentes, o gave de Lutour o gave de Gaube. O vale faz parte do Parque Nacional dos Pirenéus e da vila partem nuemrosos caminhos pedestres que dão acesso a sítios naturais populares entre os turistas, como o Péguère, o Pont d'Espagne, o lago de Gaube, o Pequeno Vignemale (3 032 m de altitude) ou o pequeno maciço da Fruitière.

A altitude mínima da comuna é 503 metros e situa-se a norte, onde o gave de Cauterets sai do limite da comuna e entra na de Soulom. A altitude máxima é o Pique Longue do Vignemale, situado na fronteira com a Espanha, e que, com 3 298 m de altitude, é o mais alto dos Pirenéus franceses.

Comunas limítrofes de Cauterets
Saint-Savin, Arcizans-Avant, Arras-en-Lavedan Uz, Soulom Villelongue, Chèze, Viscos
Estaing Grust, Sazos
(Espanha) Gavarnie Luz-Saint-Sauveur, Gèdre

O “Dictionnaire toponymique des communes des Hautes Pyrénées”, de Michel Grosclaude e de Jean-François Le Nail menciona as seguintes formas do nome da vila:

  • Caldarez, c. 1060, cartulário de Saint-Savin; 1077-1078, ibid.; ca 1094, ibid.
  • vallem Caldarensem, em latim, 1083-1094, ibid.; 1317
  • valle Caldarea, em latim, 1094-1118, ibid.
  • de Cautereis, em latim, 1168, bula do papa Alexandre III
  • Cautares, 1285
  • De Cauteresio, em latim, 1342
  • De Cautaresio, em latim, 1379
  • Cauteres, 1429
  • Cauterez, 1614, Guillaume Mauran
  • Cauterés, 1790
  • Cauterez, 1790

Curiosamente, o t final é uma erro de grafia, que nunca foi usado antes do século XIX. A etimologia é evidente: a palavra vem do latim villa ou vallis caldarensis, que signfica vila ou vale onde há fontes termais quentes, que originou o gascão los cautarers.

Pré-história e Antiguidade

Nos vales acima de Cauterets foram encontrados vários vestígios da Pré-história e da Proto-história: 11 cromeleques, 4 mamoas-cromeleque, 6 mamoas simples e 5 dólmens. Os cromeleques situam-se quese todos no vale do Marcadau, alguns locais planos e em pastagens.

À parte disso há poucos vestígios do período antes da ocupação romana. Da época galo-romana conhecem-se vestígios de utilização termal das águas de Cauterets, como uma piscina. Na comuna vizinha de Saint-Savin existiu um castro romano e uma villa romana (Palácio Emiliano). No local onde se situa atualmente Cauterets existia a villa Bencer.

Idade Média

No século VIII ou IX, um monge de nome Sabino teria ido viver como eremita no vale. Depois conhecido como São Sabino (em francês: Saint-Savin), os seus milagres e a sua canonização atraíram peregrinos. Foi construída uma abadia em volta do seu eremitério. A abadia teve um hospital em Cauterès, mencionado numa bula do papa Alexandre III em 1168, bem como territórios dados por diversos senhores, como Carlos Magno ou os condes de Bigorre. A abadia foi pilhada e destruída pelos normandos.

Entre 1059 e 1078, Bernardo III, abade de Saint-Savin mandou construir uma piscina chamada bain d'en-haut ("banho de cima). Em volta dela agruparan-se várias cabanas de habitação, que marcaram o início da aldeia de Caouteres. No século XII houve um conflito entre os habitantes do Lavedan e os do vale de Aspe por causa de roubo de animais, no qual morreram vários aspenses. O bispo de Cominges, Bertrand, excomungou os bigorrenses, que se arrependeram e foram então condenados a pagar perpetuamente todos os anos uma multa no dia de Saõ Miguel na igreja de Saint-Savin. Essa multa, chamada "tributo das medalhas" foi paga regualrmente até 1789.

Nessa altura, no fim do século XI, existiam três banhos na área, em diferentes nascentes de água quente e a vila tinha 20 fogos. O conde de Foix Gastão Febo foi curar a sua surdez em Cauterets em 1380.

Idade Moderna

O retorno aos "valores antigos" durante a Renascença impulsionou os banhos e termas. As múltiplas visitas de Margarida de Navarra durante o século XVI tornaram Cauterets famosa. Nesse mesmo século, a abadia de Saint-Savin perdeu o seu prestígio e degradou-se por falta de manutenção. Durante as guerras religiosas, a atividade termalista parou devido às destruições e às guerras contra Espanha.

A construção de estradas transitáveis por carros no século XVIII até La Raillère ajudou a desenvolver o vale. La Raillère tornou-se então a fonte termal da moda graças à publicação de livros sobre as nascentes de Cauterets. No fim desse século foi construído o estabelecimento termal Bruzaud e entre 1818 e 1828 as termas de La Raillère foram reconstruídas em pedra.

Idade Contemporânea
Gravura do Pont d'Espagne da autoria da rainha Hortênsia de Beauharnais

As Termas de César, o Grande Hotel de Inglaterra e o Grande Hotel Continental, de fachadas monumentais, são testemunhas da idade de ouro do termalismo em Cauterets, vivida no século XIX. A moda do termalismo atraiu numerosas personalidades célebres, incluindo alguns membros da família Bonaparte. Hortênsia de Beauharnais, rainha consorte da Holanda, esteve em Cauterets entre 18 de junho e 10 de agosto de 1807. A 25 de julho, a rainha, acompanhada pelos guias Clément, Lacrampe e Martin faz a travessia entre Cauterets e Gavarnie pela Hourquette d'Ossoue.[2] Outros visitantes famosos foram, por exemplo, George Sand, que por ali passou em 1825, Chateaubriand em 1829 e Victor Hugo em 1843. Bernadette Soubirous, doente asmática, também esteve várias vezes em Cauterets entre 1858 e 1859. A 8 de setembro de 1859, o imperador Napoleão III e a sua esposa Eugénia visitaram Cauterets.

A região atraiu também alpinistas famosos. Em 1822, Vincent Chausenque realizou a primeira ascesão do pico que desde então tem o seu nome — Pointe Chausenque (3 204 m de altitude). O conde Henry Russell e outros montanhistas realizaram várias ascensões no vale de Cauterets.

As infraestruturas de transporte desenvolveram-se fortemente, nomeadamente a linha ferroviária entre Lourdes e Pierrefitte, inaugurada em 1871, o elétrico entre Cauterets e La Raillère, que entrou ao serviço em 2 de agosto de 1897, e uma linha elétrica entre Pierrefitte e Cauterets aberta em 1899.

Século XX

No início do século XX, Louis Falisse foi um dos pioneiros do esqui nos Pirenéus. Com Henri Sallenave e Louis Robach, ele efetua as primeiras ascensões do Vignemale e do Aneto em esqui. O pico Falisse (2 765 m), perto da Grande Fache, foi batizado em sua honra. O ski-club de Cauterets foi criado em 1907. Em 1910, o campeonato de esqui de França foi organizado em Eaux-Bonnes e em Cauterets. Em 1918, um dos primeiros guardas do refúgio Wallon foi Pantet; o pico E.-Pantet (2 867 m) foi batizado em sua honra.

Em 1937 foi lançada a ideia de construir um teleférico para desenvolver o esqui, mas o projeto foi adiado devido à Segunda Guerra Mundial. Na década de 1950, quando foram construídas numerosas barragens hidroelétricas na região, Cauterets recusou a construção de várias represas no Pont D'Espagne.[3]

Em 18 de junho de 2013, uma inundação catastrófica destruiu vários edifícios na aldeia e a estrada departamental 920, que liga Cauterets a Pierrefitte-Nestalas, foi destruída pelas correntes do gave de Cauterets

Património arquitetónico

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  • Igreja de Notre-Dame — o edifício atual foi inaugurado em 1886, após a demolição da antiga igreja em 1884. Em 1995, a Associação dos Amigos do órgão adquiriu para a igreja uma obra de Pierre Baldi — “Chemin de croix” ("Via Sacra") — que em 1996 ganhou um prémio mundial de pintura sacra.
  • Antiga estação ferroviária — É um belo edifício em madeira com aparência de chalé de montanha que desde 1981 está classificado como monumento histórico. Foi construída entre 1897 e 1899 e funcionou como estação até 1949. Atualmente é um local de espetáculos e um pequeno terminal rodoviário. A linha ferroviária elétrica ligava Cauterets a Pierrefitte, numa extensão de 11,2 km com 540 metros de desnível. Atualmente faz parte de um corredor verde com 25 km.[4]
  • Antiga estação de teleférico — Foi edificada pelas equipas de Gustave Eiffel.
  • Termas de César — Construídas em 1844, foram renovadas em 1999.
  • Conjunto constituído pela rua Richelieu e rua de La Raillère — Formam o eixo histórico da aldeia, situado na margem direita do gave de Cauterets. Ali se situam alguns dos hotéis e residências mais emblemáticas da aldeia.
  • Chalé Galitzine — datado de 1840.
  • Boulevard Latapie-Flurin — Onde se encontram vários edifícios notáveis do fim do século XIX, como o Hotel de Inglaterra, o Hotel Continental e o Casino Club. O Hotel Continental, inaugurado em 1882, é atualmente um edifício de apartamentos e está classificado como monumento histórico desde 1984.[5] O Hotel de Inglaterra foi inaugurado em 1879, tinha 300 quartos e está classificado como monumento histórico desde 1992[6]

Notas e referências

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  • Grande parte do texto foi inicialmente baseada na tradução do artigo «Cauterets» na Wikipédia em francês (acessado nesta versão).
  1. a b «Populations légales 2018. Recensement de la population Régions, départements, arrondissements, cantons et communes». www.insee.fr (em francês). INSEE. 28 de dezembro de 2020. Consultado em 13 de abril de 2021 
  2. «Cauterets – Une station thermale - une station de montagne pyrénéenne» (em francês). Voies du Lavedan. vppyr.free.fr. Consultado em 28 de dezembro de 2015 
  3. «Cauterets – Pont d'Espagnem Grand Site de Midi-Pyrennees» (em francês). www.tourisme-midi-pyrenees.com. Consultado em 28 de dezembro de 2015 
  4. «Ancienne gare de Cauterets» (em francês). base Architecture-Mérimée. www.culture.gouv.fr 
  5. «Immeuble Continental Résidence» (em francês). base Architecture-Mérimée. www.culture.gouv.fr. Consultado em 28 de dezembro de 2015 
  6. «Ancien hôtel d'Angleterre» (em francês). base Architecture-Mérimée. www.culture.gouv.fr. Consultado em 28 de dezembro de 2015 
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