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Allen Ginsberg

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Allen Ginsberg
Allen Ginsberg
Allen Ginsberg em Los Angeles em 1979
Nascimento Irwin Allen Ginsberg
3 de junho de 1926[1]
Newark, Nova Jersey,  EUA
Morte 5 de abril de 1997 (70 anos)[2]
Nova Iorque, estado de Nova York,  EUA
Residência Paterson, East Village
Sepultamento BNai Israel Cemetery
Nacionalidade Estados Unidos estadunidense
Cidadania Estados Unidos
Progenitores
  • Louis Ginsberg
Alma mater
Ocupação Escritor e poeta
Distinções National Book Award - Poesia (1974)
Empregador(a) Brooklyn College
Movimento literário Beat, novos poetas americanos, hippies, pós-modernismo
Obras destacadas America
Movimento estético Geração Beat, poesia confessional
Religião budismo
Ideologia política anarquismo
Causa da morte câncer de fígado
Página oficial
https://allenginsberg.org
Assinatura

Irwin Allen Ginsberg (Newark, Nova Jersey, 3 de junho de 1926Manhattan, Nova York, 5 de abril de 1997) foi um escritor, poeta estadunidense, filósofo e ativista. Ele é considerado como uma das principais figuras da Geração Beat nos anos 50, junto com Jack Kerouac e William S. Burroughs e da contracultura que se seguiu depois disso. Ficou conhecido pelo seu livro de poesia Uivo e Outros Poemas (1956). Se opôs vigorosamente ao militarismo, ao materialismo econômico e à repressão sexual. Foi conhecido por incorporar vários aspectos de sua contracultura, assim como suas opiniões sobre drogas, hostilidade à burocracia e abertura para religiões orientais.[3]

Em seu poema Uivo (1956), onde ele denuncia o que viu como as forças destrutivas do capitalismo e da conformidade nos Estados Unidos. Em 1956, "Uivo" foi apreendido pela polícia de São Francisco. Em 1957, o poema atraiu grande publicidade quando foi para um inquérito sentenciado por obscenidade, já que descrevia sexo tanto entre heteros quanto homossexuais em um tempo onde leis da época tornavam atos homossexuais como crime em todos os Estados Unidos. "Uivo" refletiu a própria homossexualidade de Ginsberg e suas relações com inúmeros homens, incluindo Peter Orlovsky, seu companheiro até o fim de sua vida. O juiz Clayton W. Horn pautou que "Uivo" não era obsceno, indagando se "teria algum tipo de liberdade de imprensa ou de expressão se alguém devesse reduzir seu vocabulário a vazios eufemismos?".

Ginsberg foi um budista praticante que estudou religiões orientais extensivamente. Vivia modestamente, comprando suas roupas em brechós e vivendo em apartamentos baratos na East Village em Nova Iorque. Uma de suas maiores influências foi Chogyam Trungpa, budista tibetano e fundador do Instituto Naropa em Boulder, Colorado. Com o estímulo de Trungpa, Ginsberg e a poeta Anne Waldman começaram no Instituto a Escola de Poéticas Desencarnadas de Jack Kerouac em 1974.

Ginsberg fez parte por décadas de protestos não-violentos contra tudo a respeito desde a Guerra do Vietnã até a Guerra das Drogas. Seu poema "Setembro na Estrada Jessore", chamando atenção à situação dos refugiados de Bangladesh, exemplificam o que o crítico literário Helen Vendler descreveu como "a incansável persistência de Ginsberg em protestar contra políticas imperialistas e perseguição aos de pouco poder".

Sua coleção "A Queda da America" apareceu no anual National Book Award na categoria Poesia em 1976. Em 1979 ele recebeu uma medalha de ouro da National Arts Club e foi incluído na Academia Americana de Artes e Letras. Ginsberg concorreu como finalista no Prêmio Pulitzer em 1995 por seu livro "Saudações Cosmopolitanas: Poemas 1986 - 1992".

Allen Ginsberg foi uma criança complicada e tímida, dominada pelos estranhos e assustadores episódios de sua mãe, uma mulher completamente paranóica, que acreditava que o mundo conspirava contra ela. Ao mesmo tempo, o jovem Allen descobria seu desejo por outros meninos.[4]

Na escola secundária, encanta-se com a obra poética de Walt Whitman (considerado o primeiro beat) mas, apesar do seu interesse pela poesia, decide seguir os conselhos do pai e estudar direito. Logo ao ingressar na Universidade de Columbia, em Nova York, faz amizade com um grupo de jovens malcomportados - alguns estudantes, como Lucien Carr e Jack Kerouac), e outros não estudantes, como William S. Burroughs e Neal Cassady, todos igualmente interessados em drogas, sexo e literatura. Ginsberg, o mais jovem do grupo, estimulava os novos amigos a desenvolverem de seus talentos literários, enquanto eles o ajudavam a perder sua ingenuidade livresca. Ginsberg acreditava que ele e seus companheiros seguiam em direção a uma grande visão poética, que ele e Kerouac chamavam New Vision. Experimentou benzedrina e maconha e começou a frequentar bares gays em Greenwich Village. Começou um relacionamento amoroso com o relutante Neal Cassady, e cruzava o país para visitá-lo, em Denver e San Francisco, no melhor estilo das aventuras narradas no "On the Road" de Kerouac.[4]

Ginsberg com Bob Dylan, 1975
Ginsberg e seu companheiro, o poeta Peter Orlovsky, em 1978

Assumindo um estilo de vida bizarro, como se procurasse em si mesmo a face da loucura de sua mãe, Ginsberg acabou em tratamento psiquiátrico. Aos 29 anos, ele já tinha escrito muita poesia, mas quase nada publicado. Ganhou popularidade a partir de 1955, com o seu poema Howl (considerado por muitos, obsceno e pornográfico, assim como o seu autor...). Howl (Uivo) foi o livro de poesia mais vendido da história dos EUA, ultrapassando um milhão de exemplares em pouco tempo, e foi seguido por vários outros poemas importantes, como Kaddish, onde o autor faz uma espécie de auto-exorcismo, escrevendo sobre a loucura e morte de sua mãe. Por esse período, Ginsberg viaja o mundo, descobre o budismo e se apaixona por Peter Orlovsky (1933–2010), que seria seu companheiro pelo resto de sua vida, embora a relação não fosse monógama.[4]

No início dos anos 1960, enquanto sua celebridade crescia, Ginsberg se lança na cena hippie, ajuda Timothy Leary a divulgar o psicodélico LSD e participa de uma lista incrivelmente grande de eventos, como o Human Be-In, em San Francisco, 1967, quando ele foi um dos condutores da multidão, cantando o mantra Om. Em 1965, Allen Ginsberg foi expulso de Cuba para Praga depois de alguma polêmica relacionada ao tratamento que o regime comunista cubano dava aos homossexuais.[5] Ginsberg é também figura-chave nos protestos contra a guerra do Vietnã, na Convenção do Partido Democrata de Chicago, em 1968.

Após conhecer o lama tibetano Trungpa Rinpoché, Ginsberg aceita-o como seu guru pessoal. Depois, juntamente com a poeta Anne Waldman, cria uma escola de poesia. Sempre participando de eventos multiculturais, Ginsberg manteve sua agenda social ativa até a sua morte, em 5 de abril de 1997, em Nova Iorque.

Entre seus maiores admiradores, estava Jim Morrison, do grupo The Doors. Morrison dizia escrever suas músicas sempre após ter lido algum dos poemas de Allen Ginsberg. Sabe-se também que Ginsberg e a banda The Clash admiravam-se reciprocamente. O poeta fez uma participação especial na música Ghetto Defendant, cantando, ao lado de Joe Strummer, trechos de um de seus poemas. Ian Astbury, líder da banda The Cult e amigo pessoal dos músicos de The Clash, que recitava Howl no início dos shows, foi um grande propagador da obra de Ginsberg, a quem dedicou a música Bodihsatwa, do seu álbum solo Cream, que fala sobre zen-budismo e poetas da geração beat. No Brasil, Cazuza também era um grande fã de Ginsberg e cita o poeta na canção "Só As Mães São Felizes".

Ginsberg foi um dos expoentes do movimento literário denominado de beat, integrado por um grupo de autores que trabalhavam com poesia, prosa e consciência cultural. Ginsberg articulou e formalizou o beat. Sua escrita oscilava entre o mantra e o sexo explícito, o sagrado e o profano, o espiritual e o material. Transitava entre dois mundos: o da marginalidade e o da cultura erudita. A utopia de Ginsberg era a de uma sociedade harmoniosa, onde coubessem os loucos e, por afinidade, todas as modalidades de contextos estranhos.

Trecho do texto do tradutor e poeta Cláudio Willer, autor da introdução, das notas e da tradução de Uivo para a L&PM Editores:[6]

"Allen Ginsberg foi não apenas o poeta norte-americano de maior prestígio da segunda metade do século XX, como também o grande rebelde romântico e poeta-anarquista contemporâneo. Promoveu, em parceria com Ke­rouac, Burroughs, Corso, Ferlinghetti, Snyder e outros uma revolução na linguagem e nos valores literários que se transformou em rebelião coletiva, na série de acontecimentos revolucionários que foi o ciclo da Geração beat na década de 50, e da contracultura e rebeliões juvenis dos anos 60 e 70. Conseqüências do impacto provocado pelo lançamento de Howl and other poems, em 1956, e, logo em seguida, de On the Road, de Kerouac, em 1957, e de outras obras representativas da literatura beat, como Kaddish and other poems, do próprio Ginsberg, e Naked Lunch, de Burroughs.

Expressões da liberdade de criação, tais obras romperam com o beletrismo, o exacerbado forma­lismo que dominava a criação poética e o ambiente acadêmico, e com seu correlato, o bom-mocismo da sociedade. Arejaram um mundo sufocado pela polarização entre o macarthismo e o stalinismo, abrindo perspectivas, não só literárias, mas existenciais e políticas. Alusivas a acontecimentos reais, escritas na primeira pessoa, a partir do “eu” de seu criador, e não de um mundo de abstração formal, promoveram uma nova relação entre poesia e vida.

Um de seus livros mais conhecidos, Uivo, conquistou milhões de leitores. Publicado em 1956, valeu um processo por pornografia contra seu editor, Ferlinghetti, no ano seguinte. O escândalo, associado ao impacto do lançamento de On the Road de Kerouac, contribuiu para promover mundialmente a Geração Beat e trans­formá-la em mito moderno e movimento social.

Como bem observaram seus tradutores e divulgadores franceses, Alain Jouffrouy e Jean-Jacques Lebel, até então, mesmo obras inovadoras, como as de Breton, Artaud e Michaux, resultavam em tiragens de uns poucos milhares de exemplares. Por isso, ao tornar-se fenômeno editorial, Ginsberg também se tornou emblema da rebelião, no plano da criação literária, da conduta individual e do conjunto das relações sociais.

Na perspectiva atual, é até difícil avaliar o quanto a rebelião beat foi importante, e qual a extensão de sua contribuição para a formação de uma nova ideologia, uma percepção do mundo e do homem da qual fazem parte a ampliação e o enriquecimento da liberdade individual, e a superação de divisões e mo­dos de repressão.

Um dos méritos de Gins­berg, Burroughs e especialmente de Ferlinghetti foi terem feito a ponte entre o modernismo anglo-ame­ri­cano, de Ezra Pound e William Carlos Williams, e a vanguarda francesa, principalmente o surrealismo. Em um grau enorme de atualização literária, Ginsberg e Carl Solomon, internados em um hospício em 1948/49 (episódio decisivo para a criação de Uivo), escreveram uma carta delirante para o surrealista Malcolm de Chazal, autor de exceção até hoje, cujo Sens Plastique acabara de sair. Palestras e ensaios de Ginsberg demonstram sua vinculação à vertente objetivista, de Pound e Williams, e do fluxo de consciência, de Gertrude Stein e James Joyce, e mostram como seu trabalho com a prosódia, os valores sonoros da linguagem, é consistente e complexo.

O conjunto dos textos escritos entre o final dos anos 40 e o início dos 60 reflete algo como uma experiência iniciática, resultando em uma nova consciência e uma nova cor­poreidade depois desse confronto com a morte. A seu modo, Ginsberg reproduziu a viagem órfica, a descida de Orfeu, arquétipo dos poetas, ao inferno, e a trajetória do xamã, do bruxo-sacerdote tribal. Emergiu dela, após aderir ao budismo tibetano, como líder de movimentos sociais dos anos 60 em diante, e um permanente animador cultural, à frente do Naropa Institute, a universidade alternativa que criou e dirigiu até o fim da sua vida.

Foi membro da Associação Norte-Americana do Amor entre Homens e Garotos.[7]

Morto aos 70 anos, fará falta, mesmo com a permanência de sua obra. Em uma admirável síntese do poeta olímpico, a celebridade mundial, e do poeta maldito, o marginal, jamais abriu mão do senso crítico e da busca do novo, tão evidente na permanente transformação de sua obra desde a fase heróica da Beat, nos anos 40-50. Enfrentou crises pessoais como a de 1960 a 63, interrupções do seu processo criativo, mas nunca se tornou um repetidor, um epígono de si mesmo. Não soará estranho, atualmente, afirmar que alguém como ele, um rebelde com um comportamento extravagante e desregrado, foi um exemplo de integridade, de uma elevada ética da poesia."

  • Howl and Other Poems, de 1956 (no Brasil L&PM Editores 1982, e L&PM POCKET, 2000)
  • Kaddish and Other Poems, de 1961 (no Brasil L&PM Editores 1982, e L&PM POCKET, 2000)
  • Empty (1961)
  • Reality Sandwiches (1963)
  • Ankor Wat (1968)
  • Airplane Dreams (1968)
  • Planet News (1969)
  • The Gates of Wrath, Rhymed Poems 1948-51 (1972)
  • The Fall of America, Poems of These States (1973)
  • Iron Horse (1974)
  • First Blues (1975)
  • Mind Breaths, Poems 1971/76 (1978)
  • Poems All Over The Place (1973)
  • Plutonian Ode, Poems 1977-1980 (1982).
Poeta e ativista Allen Ginsberg com os protestantes - Praia de Miami, Florida
  • The Yage Letters (com William Burroughs), de 1963
  • Indian Journals (1970)
  • Gay Sunshine Interview (1974)
  • Allen Verbatim: Lectures on Poetry, etc. (1974)
  • The Visions of the Great Rememberer (1974)
  • Chicago Trial Testimony (1975)
  • To Eberhart From Ginsberg (1976)
  • Journals Early Fifties Early Sixties (1977) *As Ever – Collected Correspondence. Allen Ginsberg & Neal Cassady (1977); *Composed on the Tongue (Literary Conversations, 1967-1977), 1980
  • Straight Heart’s Delight: Love Poems and Selected Letters (com Peter Orlovsky), 1980.

Uma de suas frases mais célebres é "quem quer que controle a mídia, as imagens, controla a cultura".[8]

Último livro publicado em vida

Títulos em inglês original

Títulos em português

  • Cartas Selecionadas de Pai e Filho - Allen e Louis Ginsberg

Referências

  1. Bagby Jr., s/d, p.13.
  2. Grinberg, 2005, p.106.
  3. «glbtq >> literature >> Ginsberg, Allen». 13 de março de 2007. Consultado em 1 de setembro de 2018 
  4. a b c Allen Ginsberg. Por Levi Asher. Literary Kicks, 24 de julho de 1994.
  5. «Fidel y los momentos gays en Cuba: fuera de aquí Allen Ginsberg». Letras Libres (em espanhol). Consultado em 7 de outubro de 2020 
  6. WILLER, Cláudio. Geração Beat. Porto Alegre, RS: L&PM, 2010 (ColeçãoL&PM Pocket; v.756)
  7. Jacobs, Andreas. «Allen Ginsberg's advocacy of pedophilia debated in community». Intermountain Jewish News, 21 juny 2006. «Jacobs, Andreas. «Allen Ginsberg's advocacy of pedophilia debated in community». Intermountain Jewish News, 21 juny 2006.». Jacobs, Andreas. «Allen Ginsberg's advocacy of pedophilia debated in community». Intermountain Jewish News, 21 juny 2006. 
  8. A Muse Unplugged. NY Times, 8 de outubro de 2007


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