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Armillaria

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Como ler uma infocaixa de taxonomiaArmillaria
Classificação científica
Reino: Fungi
Filo: Basidiomycota
Classe: Agaricomycetes
Ordem: Agaricales
Família: Physalacriaceae
Género: Armillaria
(Fr.) Staude
Espécie-tipo
Armillaria mellea
(Vahl) P. Kumm.
A. cepistipes
A. borealis
A. gallica
Armillaria hinnulea
A. luteobubalina
A. tabescens

Armillaria é um género de fungos parasitas que vivem em árvores e arbustos lenhosos. Inclui mais de 40 espécies antes agrupadas numa única, A. mellea. Estes fungos têm uma vida longa e formam alguns dos maiores organismos do mundo. O maior organismo individual (da espécie Armillaria ostoyae) cobre mais de 8.9 km² e tem milhares de anos de idade. Algumas espécies de Armillaria formam micorrizas de orquídeas;[1] outras, como A. gallica, A. mellea, e A. tabescens, são bioluminescentes.[2] e podem ser responsáveis por fenómenos como o fogo-fátuo.

Como patógeno florestal, Armillaria pode ser muito destrutivo. É responsável pela podridão branca das florestas e distingue-se de Tricholoma (micorrízico) por esta natureza parasítica, sendo capaz de infectar mais de 600 espécies de plantas lenhosas.[3] A sua grande destrutividade vem do facto de, ao contrário da maioria dos parasitas, não necessitar de moderar o seu crescimento de forma a evitar matar o seu hospedeiro, uma vez que continuará a desenvolver-se sobre a matéria morta. É o maior ser vivo do mundo.[4]

Os corpos frutíferos são cogumelos que crescem em madeira, tipicamente em pequenos amontoados densos. Os seus chapéus são tipicamente amarelo-acastanhados, algo pegajosos ao toque quando húmidos, e, dependendo da idade, com forma cónica a convexa. O pode ou não ter anel. Todas as espécies de Armillaria têm esporada branca e nenhuma tem volva.[5]

Espécies grosseiramente similares são Pholiota spp. que também cresce em amontoados cespitosos em madeira e que frutificam no outono. Porém Pholiota spp. têm aparência amarelada a amarelo-esverdeada e esporada castanho-escura a castanho-acinzentada. Os colectores de cogumelos necessitam ter especial cuidado com Galerina spp. que pode crescer lado a lado com Armillaria spp. também em madeira. Galerina tem esporada castanho-escura e é mortal.

Patologia vegetal

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É um organismo patogénico que afecta árvores, arbustos, trepadeiras lenhosas e, raramente herbáceas perenes lenhosas. Desenvolve-se sobre árvores vivas bem como em material lenhoso em decomposição.

Dispersa-se por meio de rizomorfos semelhantes a raízes de cor castanho-avermelhada a negra, à velocidade de aproximadamente 1 m por ano, embora a infecção por contacto radicular seja também possível. A infecção por esporos é rara. Os rizomorfos desenvolvem-se relativamente próximo da superfície do solo (nos 20 cm superiores) e invadem novas raízes de plantas lenhosas. Uma árvore infectada morrerá assim que o fungo a rodear, ou quando tiver ocorrido morte radicular significativa. Tal pode suceder rapidamente, ou pode levar vários anos a acontecer. As plantas infectadas deterioram-se, embora possam apresentar produção prolífica de flores e frutos pouco antes de morrerem.

Os sintomas iniciais de infecção incluem a morte de ramos folhosos ou o não aparecimento de de folhas na primavera. Filamentos negros semelhantes a atacadores de sapatos surgem sob a casca e em volta da árvore, e os corpos frutíferos crescem em amontoados desde a planta afectada desaparecendo após a primeira geada. Porém, estes sinais não significam necessariamente que as estirpes patogénicas deste fungo sejam a causa do declínio ou morte da planta, pelo que outros métodos de identificação deverão ser usados antes de fazer o diagnóstico. A presença de camadas finas de micélio, exalando forte odor a cogumelos, sob a casca na base do tronco ou caule, por vezes estendendo-se para cima, ou uma goma ou resina exsudando de fissuras na casca de coníferas indicam que o fungo será a causa provável do problema.

Muitas espécies são difíceis ou impossíveis de distinguir-se de outras usando características observáveis; testes laboratoriais de incompatibilidade são muitas vezes usados em culturas puras para determinar a espécie de modo fiável. Devido às dificuldades colocadas à identificação rotineira das espécies, o uso de sequenciação de ADN e filogenética tornou-se o método padrão para ajudar a clarificar relações entre as espécies. As espécies diferem na sua distribuição geográfica e posição ecológica, especificidade de hospedeiros, caracteres micro e macroscópicos, e também quanto à sua agressividade na colonização de hospedeiros lenhosos. Segue-se uma lista de espécies de Armillaria baseada na resenha taxonómica de Daniel Pegler em 2000,[6] bem como em espécies novas publicadas desde então.[7]

Espécie
autoridade
 Ano  Distribuição Referências[nb 1]
Armillaria adelpha
(Berk.) Sacc.
1887 Ásia [8]
Armillaria apalosclerus
(Berk.) Chandra & Watl.
1981 Ásia [9]
Armillaria affinis
(Singer) T.J. Volk & Burds.
1995 América Central [10]
Armillaria borealis
Marxm. & Korhonen
1982 Europa
Ásia
[11][12]
Armillaria calvescens
Bérubé & Dessur.
1989 América do Norte [13]
Armillaria camerunensis
(Henn.) Courtec.
1995 África [14]
Armillaria cepistipes
Velen.
1920 Europa
Ásia
[15][16]
Armillaria dicupella
(Berk.) Sacc.
1887 Ásia [8]
Armillaria duplicata
(Berk.) Sacc.
1887 Ásia [8]
Armillaria ectypa
(Fr.) Lamoure
1965 Europa [17]
Armillaria fellea
(Hongo) Kile & Watl.
1983 Austrália [18]
Armillaria fumosa
Kile & Watl.
1983 Austrália [18]
Armillaria fuscipes
Petch
1909 Ásia
África
[19][20]
Armillaria gallica
Marxm. & Romagn.
1987 América do Norte
Ásia
Europa
África
[12][16][21]
Armillaria gemina
Bérubé & Dessur.
1989 América do Norte [13]
Armillaria griseomellea
(Singer) Kile & Watl.
1983 América do Norte
América do Sul
[18][22]
Armillaria heimii
Pegler
1977 África [23]
Armillaria hinnulea
Kile & Watling
1983 AustralÁsia [18]
Armillaria horrens
(Berk.) Sacc.
1887 Ásia [8]
Armillaria jezoenis
J.Y. Cha & Igararashi
1994 Ásia [24]
Armillaria laricina
(Bolton) Sacc.
1887 Europa [8]
Armillaria limonea
(G. Stev.) Boesew.
1977 AustralÁsia
América do Sul
[25]
Armillaria luteobubalina
Watling & Kile
1978 AustralÁsia
América do Sul
[18][26]
Armillaria mellea
(Vahl) P. Kumm
1871 Europa
Ásia
[12][27]
Armillaria melleorubens
(Berk. & M.A. Curtis) Sacc.
1887 América do Norte [8]
Armillaria montagnei
(Singer) Herink
1973 Europa
América do Sul
[28]
Armillaria multicolor
(Berk.) Sacc.
1887 Ásia [8]
Armillaria nabsnona
T.J. Volk & Burds.
1996 América do Norte
Ásia
[16][29]
Armillaria nigropunctata
(Fr.) Herink
1973 Europa [28]
Armillaria novae-zelandiae
(G. Stev.) Boesew.
1973 AustralÁsia
América do Sul
[25]
Armillaria omnituens
(Berk.) Sacc.
1887 Ásia [8]
Armillaria ostoyae
(Romagn.) Herink
1973 Europa
Ásia
[12][16][28]
Armillaria pallidula
Kile & Watl.
1988 Austrália [30]
Armillaria paulensis
Capelari
2007 América do Sul [7]
Armillaria pelliculata
Beeli
1927 África [31]
Armillaria procera
Speg.
1889 América do Sul [32]
Armillaria puiggarii
Speg.
1889 América do Sul [32]
Armillaria sinapina
Bérubé & Dessur.
1988 América do Norte
Ásia
[12][16][33]
Armillaria singula
J.Y. Cha & Igarashi
1994 Ásia [24]
Armillaria socialis
(DC.) Fayod
1889 Ásia
Europa
América do Norte
[34][35]
Armillaria sparrei
(Singer) Herink
1973 América do Norte
América do Sul
[28]
Armillaria tabescens
(Scop.) Emel
1921 Europa
Ásia
[12][36]
Armillaria tigrensis
(Singer) T.J. Volk & Burds.
1983 América do Sul [10]
Armillaria vara
(Berk.) Sacc.
1887 Ásia [8]
Armillaria viridiflava
(Singer) T.J. Volk & Burds.
1995 América do Sul [10]
Armillaria yungensis
(Singer) Herink
1973 América do Sul [28]
  1. A primeira citação fornecida é a publicação original contendo a descrição da espécie; quaisquer citações adicionais contêm informação sobre a distribuição geográfica.

Referências

  1. Cha JY, Igarashi T, J. Y.; Igarashi, T. (1995). «Armillaria species associated with Gastrodia elata in Japan». European Journal of Forest Pathology. 25 (6–7): 319–26. doi:10.1111/j.1439-0329.1995.tb01347.x 
  2. Mihail JD, Bruhn JN., JD; Bruhn, JN (2007). «Dynamics of bioluminescence by Armillaria gallica, A. mellea and A. tabescens». Mycologia. 99 (3): 341–50. PMID 17883025. doi:10.3852/mycologia.99.3.341 
  3. Tainter FH, Baker FA. (1996). Principles of Forest Pathology. Chichester: Wiley. p. 424. ISBN 978-0471129523 
  4. ¿Cuál es el ser vivo más grande del planeta?
  5. Pegler DN. (2000). «Taxonomy, nomenclature and description of Armillaria». In: Fox RTV. Armillaria Root Rot: Biology and Control of Honey Fungus. [S.l.]: Intercept. pp. 81–93. ISBN 1-898298-64-5 
  6. Pegler DN. (2000). «Taxonomy, nomenclature and description of Armillaria». In: Fox RTV. Armillaria Root Rot: Biology and Control of Honey Fungus. [S.l.]: Intercept. pp. 81–93. ISBN 1-898298-64-5 
  7. a b Lima MLA. Asai T, Capelari M. (2008). «Armillaria paulensis: a new South American species». Mycological Research. 112 (9): 1122–28. PMID 18692378. doi:10.1016/j.mycres.2008.03.006 
  8. a b c d e f g h i Saccardo PA. (1887). «Sylloge Hymenomycetum, Vol. I. Agaricineae». Sylloge Fungorum. 5: 1–1146 
  9. Chandra A, Watling R. (1982). «Indian Armillaria Basidiomycotina». Kavaka. 10: 63–84 
  10. a b c Volk TJ, Burdsall HH Jr. (1995). «A nomenclatural study of Armillaria and Armillariella species (Basidiomycotina, Tricholomataceae)» (PDF). Synopsis Fungorum. 8: 24. Consultado em 21 de novembro de 2009 
  11. Marxmüller H. (1982). «Étude morphologique des Armillaria ss.str. à anneau». Bulletin de la Société Mycologique de France. 98 (1): 87–124 
  12. a b c d e f Qin GF, Zhao J, Korhonen K. (2007). «A study on intersterility groups of Armillaria in China». Mycologia. 99 (3): 430–41. PMID 17883035. doi:10.3852/mycologia.99.3.430. Consultado em 21 de novembro de 2009 
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  14. Courtecuisse R. (1995). «Taxonomy of some fungi used by the Songola people (Zaïre)». African Study Monographs. 16 (1): 45–60 
  15. The original spelling of the species name was cepaestipes. Velenovský J. (1920). České Houby. 2. Prague, Czechoslovakia: České Botanické Společnosti. p. 283. Consultado em 21 de novembro de 2009 [ligação inativa]
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  17. Lamoure D. (1965). «Título ainda não informado (favor adicionar)». Comptes rendus hebdomadaires des seances de l'Academie des Sciences, Paris. 260: 4562 
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  19. Petch T. (1909). «New Ceylon fungi». Annals of the Royal Botanic Gardens Peradeniya. 4: 299–307 
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  21. Marxmüller H. (1987). «Quelques remargues complémentaires sur les Armillaires annelées». Bulletin Trimestriel de la Société Mycologique de France (em francês). 103: 137–56 
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  28. a b c d e Herink J. (1973). «Taxonomie václavky obecné – Armillaria mellea (Vahl ex Fr.) Kumm». In: Hasek J. Sympozium o Václavce Obecné Armillaria mellea (Vahl ex Fr.) Kumm. Brno, Czechoslovakia: Vysoká Skola Zemĕdĕlská v Brné. pp. 21–48 
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  31. Beeli M. (1927). «Contribution à l'étude de la flore mycologique du Congo II». Bulletin de la Société Royale de Botanique de Belgique. 59: 101–12 
  32. a b Spegazzine C. (1889). «Fungi Puiggariani. Pugillus 1». Boletín, Academia nacional de Ciencias, Córdoba. 11 (4): 381–622 
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  36. Emel (1921). Le Genre Armillaria, Fr., Sa Suppression de la Systèmatiquê Botanique. Thèse. [S.l.]: Faculté de Pharmacie, Université de Strasbourg 

Ligações externas

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