Feira do Leste Europeu
A Feira do Leste Europeu é um evento temático de culinária e artesanato típicos da região leste europeia, realizado quinzenalmente/mensalmente, aos domingos na Rua Aracati Mirim, próximo ao Parque Ecológico Vila Prudente na Zona Leste de São Paulo. Tem como objetivo integrar a comunidade de imigrantes dos países do Leste Europeu com a comunidade paulistana, fazendo com que a identidade cultural desses povos também seja evidenciada por ser mais um elemento formador da cultura brasileira e alavanque o desenvolvimento social, cultural, econômico da região. Esta feira já é reconhecida como uma das seis feiras de cultura imigrante da cidade de São Paulo e já faz parte do roteiro turístico temático da Zona Leste de S.P..
História
[editar | editar código-fonte]A Feira do Leste Europeu surgiu de uma iniciativa da AMOVIZA (Associação dos Moradores, Comerciantes, Empresários, Párocos e Profissionais Liberais do Bairro de Vila Zelina e Adjacências)[1], entidade criada oficialmente em 2008, e que é composta na sua maioria por imigrantes e descendentes de imigrantes que fizeram parte dos fluxos imigratórios[2] da Europa para o Brasil no início do século XX. Os bairros da cidade de São Paulo que concentram imigrantes do Leste Europeu são: Vila Bela, Vila Alpina, Quinta da Peineira, Jardim Avelino, Vila Lúcia, Vila Zelina e Parque Vila Prudente. Neles estão distribuídas várias comunidades de imigrantes oriundos do Leste Europeu (Bielorrussos, búlgaros, croatas, estonianos, eslovenos, húngaros, letos, lituanos, poloneses, romenos, russos, tchecos e ucranianos). Para se ter uma ideia do impacto desses imigrantes na região, basta mencionar que a Vila Zelina concentra uma quantidade representativa da comunidade lituana do mundo (porém atualmente apenas descendentes em sua maioria).[3] Essas pessoas deixaram suas terras natais devido às mazelas provocadas pela Primeira Guerra Mundial e também pela Revolução Russa de 1917, que se espalhou por todo Leste do Velho Continente. Aqui chegando, esses imigrantes tiveram que enfrentar o desafio de se estabelecerem em meio às dificuldades da língua, clima e outros fatores. Um dos períodos mais difíceis foi o do Estado Novo, liderado por Getúlio Vargas (1937-1945), quando imigrantes eslavos considerados comunistas eram vigiados pela política do Estado de São Paulo.[4] Para poderem entrar no país e se abster desta perseguição, mudavam os sufixos de seus sobrenomes para sufixos de sobrenomes lituanos e poloneses, como por exemplo, os sufixos "off", "ov" e "ich" foram mudados para "ovas" e "icius". Até hoje os eslavos, principalmente comunidades de russos, búlgaros e tchecos, não possuem uma sede sócio-cultural na região devido a esta perseguição, bairrismo e intolerância étnica durante o regime militar. Recentemente foram realizadas homenagens na região de Vila Zelina com denominação de logradouros como a "Praça Pushkin" (em homenagem ao célebre escritor russo pré-revolução) e a "Praça Imigrante Leste Europeu".
Assim, a feira do Leste Europeu atualmente realizada quinzenalmente é uma oportunidade de reunir e comemorar o êxito das comunidades de imigrantes que vieram para o Brasil, além de divulgar seus costumes e tradições.
Religiosidade
[editar | editar código-fonte]O cristianismo foi adotado pelos povos do Leste Europeu entre os séculos VI e X, de forma gradual, enquanto as crenças pagãs iam sendo abandonadas. Pode-se dizer que os eslavos contemporâneos são, em sua maioria, cristãos ortodoxos e católicos romanos, enquanto que protestantes e muçulmanos sunitas são minorias.
Os imigrantes eslavos trouxeram consigo esse perfil religioso, e o incorporaram à região como pode ser visto por toda a região das "vilas", onde existem igrejas que celebram suas missas nos idiomas dos países de origem, como as: Igreja Católica Lituana (Paróquia São José), Igreja Católica Ucraniana (Paróquia Nossa Senhora da Glória), Igrejas Ortodoxas Russas (Igreja Santíssima Trindade, Nossa Senhora da Proteção e dos Starovéri), Igreja Batista Boas Novas de Origem Russa e Assembléia de Deus Russa.[5] Existiu uma Igreja Ortodoxa Russa na Av. Zelina esquina com R. Barão de Juparaná na década de 1940 a 1950 que, devido à perseguição aos eslavos durante o regime militar nesta época, acabou sendo fechada. Existem colégios católicos bizantinos, católicos romanos e adventistas fundados com ajuda de representantes destas comunidades.
Culinária
[editar | editar código-fonte]Doces, salgados e bebidas típicas da culinária leste europeia estão presentes nas barracas que representam os vários povos eslavos. São várias as opções, como a "bureka" búlgara (rosquinhas folhadas e recheadas), os "varenikes" russos (pequenas panquecas recheadas) e o "kugelis" lituano (feito com massa de batata) e muitos outros pratos tradicionais. Na parte das bebidas, pode-se experimentar o "Krupnikas", licor de mel típico da Lituânia, e o "Kvass", bebida fermentada que pode ser misturada com frutas na sua preparação.
Artesanato
[editar | editar código-fonte]Passada entre gerações, o tradicional artesanato da região tem como destaque as pinturas em porcelana com motivos ucranianos; as Matrioscas, um dos itens mais procurados, que são pequenas bonecas (ocas) confeccionadas em diversos tipos de materiais, em que as menores ficam armazenadas nas maiores, assim sucessivamente, até que o conjunto todo caiba em uma só peça; arte em madeira, ovos pintados e bordados característicos. Há também as apresentações de grupos de danças, corais folclóricos, e de músicos que tocam instrumentos típicos. Deve-se lembrar também, que artesanatos que fazem referência a temas tipicamente brasileiros também são encontrados, reforçando, desse modo, a efetiva integração entre a cultura brasileira e a dos povos eslavos.[6]
Eventos
[editar | editar código-fonte]Em 2015, a feira aconteceu no dia 25 de Outubro de 2015 - Domingo, das 10h às 18h, na Rua Aracati Mirim, Jardim Avelino, e fez parte dos eventos[7] realizados no mês de comemoração do aniversário de Fundação da Vila Zelina (a data oficial é 27 de outubro de 1927).
Referências
- ↑ «AMOVIZA - ASSOCIAÇÃO DE MORADORES DO BAIRRO DE VILA ZELINA». www.amoviza.org.br. Consultado em 8 de março de 2020
- ↑ Medeiros de Menezes, Lená, Entre o ideal e o real: Os discursos sobre a imigração no Brasil e o enfrentamento da ‘desordem’ (1870-1930), em: http://www.labimi.com.br/artigos/1404254536.pdf
- ↑ Rapchan, Eliane Sebeika, Lituanos e seus descendentes: Reflexões sobre a identidade nacional numa comunidade de imigrantes, em: http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/anteriores/edicao10/materia01/texto01.pdf
- ↑ Zen, Erick Reis Godliauskas (2005). O germe da revolução: a comunidade lituana sob vigilância do DEOPS (1924-1950). São Paulo: Associação Editorial Humanitas. 42. páginas
- ↑ «Historias». www.amoviza.org.br. Consultado em 8 de março de 2020
- ↑ «Cópia arquivada». Consultado em 14 de outubro de 2014. Arquivado do original em 17 de outubro de 2014
- ↑ «Próximo de seu 87º aniversário, bairro de Vila Zelina tem festa com programação diversificada | Subprefeitura Vila Prudente | Prefeitura da Cidade de São Paulo». www.prefeitura.sp.gov.br. Consultado em 8 de março de 2020
Bibliografia recomendada
[editar | editar código-fonte]- Zen, Erick R G. O germe da revolução: a comunidade lituana sob vigilância do DEOPS (1924-1950). São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2005, p42
- Zen, Erick R G. Identidade em Conflito: Os imigrantes lituanos na Argentina, no Brasil e no Uruguai. São Carlos: EdUFSCar, 2014.
- George Cocicov - Imigração Búlgara ao Brasil
- Revista Comunidade Russa - Associação Cultural Grupo Volga
- Acervo Histórico Documental da AMOVIZA