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Itaipu Binacional

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Itaipu Binacional
Itaipu Binacional
Empresa binacional
Atividade Energia elétrica
Fundação 17 de maio de 1974 (constituição da entidade)[1][2][3]
Pessoas-chave Enio Verri
Justo Zacarías
Produtos Geração de hidroeletricidade
Acionistas ENBPar
ANDE
(50%)
Website oficial www.itaipu.gov.py
www.itaipu.gov.br

A Itaipu Binacional é uma entidade binacional pertencente à República Federativa do Brasil e à República do Paraguai. Foi constituída pelo Tratado de Itaipu para a operação da Usina Hidrelétrica de Itaipu. Seu aspecto de empresa jurídica de direito privado binacional deve-se às ordens jurídicas de ambos os países às quais está submetida.[4]

Os países possuem a mesma participação na entidade: a ENBPar[5] possui 50% e a Administração Nacional de Eletricidade (Administración Nacional de Eletricidad, ANDE) com os outros 50%, representando o Brasil e o Paraguai respectivamente. Ambos indicam paritariamente os doze membros do Conselho de Administração. Dos seis membros de indicação brasileira, um é da ENBPar e outro do Ministério das Relações Exteriores. O Conselho elege a Diretoria Executiva também de forma paritária.[6]

Entre 2013 e 2023, Itaipu Binacional atendeu mais de 13% da demanda de energia elétrica brasileira e 90% do consumo de eletricidade paraguaio, tendo gerado 2,9 bilhões de megawatts-hora gerados desde o início de seu funcionamento.[7]

A produção de energia de Itaipu é dividida meio a meio. No entanto, como o Paraguai não consome toda a sua parcela de 50%, cerca de 35% são mandados para o Brasil.[8]

A usina hidrelétrica de Itaipu começou a ser pensada ainda na década de 1960, quando foram assinados os primeiros acordos de cooperação entre Brasil e Paraguai.[9] Em 22 de julho de 1966,[10] os ministros das Relações Exteriores do Brasil, Juracy Magalhães, e do Paraguai, Sapena Pastor, assinaram a "Ata do Iguaçu", uma declaração conjunta de interesse mútuo para estudar o aproveitamento dos recursos hídricos dos dois países, no trecho do Rio Paraná "desde e inclusive o Salto de Sete Quedas até a foz do Rio Iguaçu".[11]

As primeiras pesquisas de campo para a elaboração do projeto foram feitas em pequenas balsas por técnicos brasileiros e paraguaios. O local escolhido para a construção foi um ponto do rio conhecido como Itaipu, que em tupi quer dizer "a pedra que canta". As dimensões do projeto também foram traçadas desde o início: a área da hidrelétrica vai de Foz do Iguaçu, no Brasil, e Ciudad del Este, no sul do Paraguai, até Guaíra e Salto del Guairá, no norte deste país.[9]

A formalização do empreendimento se deu com a assinatura do Tratado de Itaipu em 1973, que estabeleceu os pontos para o financiamento da obra e a operação da empresa, num modelo de sociedade binacional, pertencente às duas nações em partes iguais. Pelo documento, cada um dos países tem direito a 50% da energia produzida. Caso uma das partes não use toda a cota, deve vender o excedente ao parceiro a preço de custo.[9][12]

Maquete da usina durante a sua construção.
Fotografia aérea da usina.

Em 1970, o consórcio formado pelas empresas PNC e ELC Electroconsult (da Itália) venceu a concorrência internacional para a realização dos estudos de viabilidade e para a elaboração do projeto da obra. O início do trabalho se deu em fevereiro de 1971. Em 26 de abril de 1973, Brasil e Paraguai assinaram o Tratado de Itaipu, instrumento legal para o aproveitamento hidrelétrico do Rio Paraná pelos dois países. Em 17 de maio de 1974, foi criada a entidade Itaipu Binacional, para gerenciar a construção da usina. O início efetivo das obras ocorreu em janeiro de 1975. Um consórcio de construtoras, liderado pela Andrade Gutierrez, executou o projeto.[13]

A obra levou 10 anos para ser concluída e aglutinou cerca de 40 mil trabalhadores. Foram usadas mais de 50 milhões de toneladas de terra e rocha, que foram escavadas para ser feito o deslocamento do curso do rio Paraná, o sétimo maior do mundo. A quantidade de concreto usado para construir a usina seria suficiente para erguer 210 estádios do tamanho do Maracanã, sendo que a quantidade total de ferro e o aço utilizados no empreendimento poderia ser usada para construir 380 Torres Eiffel.[9] O volume de escavação de terra e rocha em Itaipu é 8,5 vezes maior que o do Eurotúnel e o volume de concreto é 15 vezes maior.[14]

Acordo Tripartite

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No dia 14 de outubro de 1978, foi aberto o canal de desvio do Rio Paraná, que permitiu secar um trecho do leito original do rio para ali ser construída a barragem principal, em concreto. Outro marco importante, na área diplomática, foi a assinatura do Acordo Tripartite entre Brasil, Paraguai e Argentina, em 19 de outubro de 1979, para aproveitamento dos recursos hidráulicos no trecho do Rio Paraná desde as Sete Quedas até a foz do Rio da Prata. Este acordo estabeleceu os níveis do rio e as variações permitidas para os diferentes empreendimentos hidrelétricos na bacia comum aos três países. À época, quando os três países eram governados por ditaduras militares, havia o temor que o Brasil em um eventual conflito com a Argentina, abrisse completamente as comportas de Itaipu, aumentando os níveis de água do Rio da Prata e inundando a cidade de Buenos Aires.[15]

Inauguração e expansão

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O reservatório da usina começou a ser formado em 13 de outubro de 1982. Em 5 de maio de 1984, entrou em operação a primeira unidade geradora de Itaipu. As 20 unidades geradoras foram sendo instaladas ao ritmo de duas a três por ano.[16]

Placa comemorativa em alusão ao recorde de produção de energia.

As duas últimas das 20 unidades geradoras projetadas entraram em operação entre setembro de 2006 e março de 2007, elevando a capacidade instalada de Itaipu para 14 mil MW, concluindo a execução da obra. Este aumento da capacidade permite que 18 unidades geradoras permaneçam gerando energia o tempo todo, enquanto duas permanecem em manutenção.[17]

A capacidade de geração da usina é de 14 GW por ano, sendo que a potência nominal de cada unidade geradora (turbina e gerador) é de 700 MW. No entanto, devido ao fato de a queda bruta real ser um pouco maior do que a queda bruta projetada, a potência disponível em cada unidade geradora é de aproximadamente 750 MW na maior parte do tempo, aumentando a capacidade de geração de energia da usina. Em 2004, quando completou 20 anos de atividade, a usina já havia gerado energia suficiente para abastecer o mundo durante 36 dias.[9]

Eixo que acopla a turbina ao gerador.

Em abril de 2014, foi celebrado o Acordo de Cooperação entre Itaipu Binacional e a Administración Nacional de Electricidad (ANDE) para reforçar o Sistema Elétrico do Alto Paraná, no Paraguai.

Privatização da Eletrobras

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Em junho de 2022, a Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional (ENBPar) sucedeu a Eletrobras para os efeitos do Tratado de Itaipu, em razão de sua privatização.[18]

A ENBPar foi criada com o objetivo de assumir as atividades da Eletrobras que não podiam ser privatizadas, como as empresas Itaipu Binacional e Eletronuclear (Usinas Angra 1, 2 e 3) e a gestão de políticas públicas, nos termos da lei 14.182/2021, que dispôs sobre a privatização da Eletrobras.[18]

Quitação do financiamento

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Para a construção da usina, foram firmados mais de 300 contratos de financiamento, com cerca de 70 credores brasileiros, paraguaios e de outras nacionalidades. Entre os principais financiadores estão: Eletrobras, BNDES, Finame, Banco do Brasil e instituições financeiras internacionais, como Citibank, Dresdner Bank, Deutsche Bank, Swiss Bank Corporation e JPMorgan.[19]

Em fevereiro de 2023, os contratos de empréstimos e financiamentos oriundos da construção da hidrelétrica foram quitados, com exceção do contrato firmado com o Tesouro Nacional Brasileiro, liquidado em abril de 2024, mediante a utilização de cauções contratadas por Itaipu em 1992.[19]

O valor do pagamento da última parcela foi de US$ 115 milhões, sendo US$ 107 milhões ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e US$ 8 milhões à Eletrobras.[7]

Itaipu Binacional

Ao longo desse período, os consumidores brasileiros e paraguaios pagaram US$ 63,3 bilhões para quitar a dívida contraída para construção da usina, dos quais US$ 35,4 bilhões foram a título de amortização de empréstimos e financiamentos e US$ 27,9 bilhões como encargos financeiros.[7]

Bônus de Itaipu

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Em junho de 2023, foi anunciado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que o saldo positivo nas contas de Itaipu de 2022 iria reduzir a conta de luz em julho no Brasil. Com a medida, serão creditados R$ 405,4 milhões nas faturas de 81 milhões de unidades consumidoras rurais e residenciais, com consumo faturado inferior a 350 KWh, um desconto de até R$ 15 na conta de luz individual.[20]

Em 2024, o bônus anunciado foi de R$ 1,2 bilhão.[21]

Revisão do Anexo C

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Vertedouro da usina

O Anexo C do Tratado de Itaipu, que trata das bases financeiras e de prestação de serviços de eletricidade, prevê que o documento pode ser revisto após 50 anos de vigência, o que ocorreu em abril em 2023. Em abril de 2024, foi iniciada a negociação para a revisão do Anexo C do Tratado de Itaipu, sendo conduzida pelos ministérios de Relações Exteriores do Brasil e Paraguai – as Altas Partes Contratantes. [22][23]

Em maio de 2024, foi anunciado um acordo entre os dois governos, estabelecendo que a partir de 2027 a tarifa de Itaipu ficará entre US$ 10 e US$ 12 por kilowatt (kW), remunerando apenas os custos de operação e manutenção (O&M) da usina, uma queda de 30% em relação ao preço vigente da energia gerada.[8][24]

A partir de 2027, o Paraguai poderá vender sua parte da geração de Itaipu ao mercado livre de energia do Brasil, abrindo a possibilidade de estabelecer contratos de longo prazo e preços variáveis, conforme o cliente. Dessa forma, a energia excedente do lado paraguaio de Itaipu terá de ser comercializada competindo com os geradores nacionais. A parcela brasileira de Itaipu (50%) continuará sendo alocada ao mercado regulado (distribuidoras de energia).[8][25]

Como contrapartida, o ajuste no Anexo C Tratado de Itaipu deve ser concluído até 31 de dezembro de 2024 e ainda precisa ser ratificado pelo Congresso Nacional do Brasil para entrar em vigência.[8]

  1. ITAIPU BINACIONAL. Itaipu: 30 anos de operação. Uma usina de recordes. Foz do Iguaçu, 2014. Edição própria. Pp. 28. CDD 621.312134
  2. «ITAIPU, UM "TRABALHO DE HÉRCULES", CHEGA AOS 40 ANOS». Itaipu Binacional. Consultado em 30 de outubro de 2018 
  3. «Itaipu completa 40 anos». Acervo Estadão. Consultado em 30 de outubro de 2018 
  4. Luiz Felipe de Matos. Empresas binacionais Brasil-Argentina – Um tipo de sociedade empresarial desconhecido
  5. «O que é e para que serve a ENBPar, a nova estatal federal». Gazeta do Povo. Consultado em 27 de novembro de 2022 
  6. Randolpho Gomes. Indicação 073/2011. Rio de Janeiro: Instituto dos Advogados Brasileiros, 8 de agosto de 2011.
  7. a b c Napoli, Eric (28 de fevereiro de 2023). «Itaipu Binacional quita dívida de construção de hidrelétrica». Poder360. Consultado em 4 de outubro de 2024 
  8. a b c d Rittner, Daniel. «Após meio século, Brasil e Paraguai fecham novo acordo por energia de Itaipu». CNN Brasil. Consultado em 4 de outubro de 2024 
  9. a b c d e Ipea, ed. (28 de maio de 2010). «História - Usina Hidrelétrica de Itaipu». Consultado em 2 de junho de 2019 
  10. Águas furtadas Jornal Gazeta do Povo - n° 30.000 - acessado em 8 de dezembro de 2012
  11. Notícias Site Itaipu Arquivado em 29 de junho de 2009, no Wayback Machine.
  12. Águas furtadas Jornal Gazeta do Povo - edição comemorativa de n° 30.000 - acessado em 8 de dezembro de 2012
  13. «Quem é Quem - Serviços - Terra» (em Portguês). Terra.com.br. 22 de Agosto de 2014. Consultado em 3 de Dezembro de 2014 
  14. «Geração de Energia». Itaipu Binacional. Consultado em 12 de março de 2018 
  15. «É verdade que o Brasil pode inundar a Argentina usando Itaipu?». Super. Consultado em 6 de novembro de 2022 
  16. JIE, ed. (13 de outubro de 2011). «Lago de Itaipu Completa 29 Anos». Jornal de Itaipu Eletrônico. Consultado em 1 de julho de 2015 
  17. JIE, ed. (14 de maio de 2007). «Inauguração de duas unidades geradoras marca início de nova fase de Itaipu». Jornal de Itaipu Eletrônico. Consultado em 2 de julho de 2015 
  18. a b Braziliense', 'Correio (13 de setembro de 2021). «Decreto cria estatal para assumir Eletronuclear e Itaipu após venda da Eletrobras». Economia. Consultado em 18 de junho de 2022 
  19. a b Itaipu Binacional (2024). «Relatório Anual 2023» (PDF) 
  20. Reuters (8 de maio de 2024). «"Bônus" de Itaipu vai contribuir para redução da conta de luz em julho». InfoMoney. Consultado em 4 de outubro de 2024 
  21. Reuters. «Bônus de R$ 1,2 bi de Itaipu deverá ser redirecionado para aliviar conta de consumidores do RS». CNN Brasil. Consultado em 4 de outubro de 2024 
  22. «Brasil e Paraguai decidem começar revisão do Tratado de Itaipu, mas impasse sobre preço da energia continua». O Globo. 16 de abril de 2024. Consultado em 4 de outubro de 2024 
  23. Itaipu Binancional. «Perguntas frequentes sobre o Anexo C do Tratado de Itaipu» 
  24. Jr, Geraldo Campos (8 de maio de 2024). «Acordo de Itaipu prejudica consumidores de energia, dizem entidades». Poder360. Consultado em 4 de outubro de 2024 
  25. Jr, Geraldo Campos (8 de maio de 2024). «Acordo de Itaipu prejudica consumidores de energia, dizem entidades». Poder360. Consultado em 4 de outubro de 2024