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Maître Cornélius

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Maître Cornélius
Mestre Cornélius [BR]
Autor(es) Honoré de Balzac
Idioma Francês
País  França
Gênero Estudo filosófico, romance histórico
Série Étude philosophique
Linha temporal 1479
Localização espacial Tours
Editora La Revue de Paris
Lançamento 1831
Edição brasileira
Tradução Vidal de Oliveira
Editora Globo
Cronologia
Un drame au bord de la mer
L'Auberge rouge

Maître Cornélius (em português, Mestre Cornélius)[1] é uma novela histórica de Honoré de Balzac, publicada em 1831 na Revue de Paris. Publicada em volume por Gosselin em 1832 nos Novos contos filosóficos com Madame Firmiani, L'Auberge rouge e Louis Lambert, é reeditada por Werdet em 1836 na série Estudos filosóficos, depois na mesma seção na edição Furne da Comédia Humana em 1846.

Se o texto publicado na revista foi bem recebido pelo público, não chamou a atenção da crítica da época. Os balzaquianos de nossos dias continuam muito divididos sobre o interesse concedido a esta novela que oscila entre o fantástico à maneira de Hoffmann e o romance histórico ao estilo de Walter Scott.[2] Samuel S. de Sacy considera mesmo que "a Comédia Humana pode muito bem prescindir de Maître Cornélius, e Maître Cornélius sem a Comédia Humana não seria nada mais que uma curiosidade".[3] René Guise afirma, ao contrário, que o texto só assume todo seu sentido se for lido dentro da perspectiva do conjunto da Comédia Humana.[4] É verdade que a novela é um pouco digressiva, complicada, com contradições e inverossimilhanças. Há duas histórias entrelaçadas nesta novela curta: a do amor de Georges d'Estouteville por Marie e a dos furtos na residência de Cornélius.

Embora Paulo Rónai considere esta novela "um trabalho fraco, incolor, com personagens e situações convencionais",[5] o erudito belga visconde Charles de Spoelberch de Lovenjoul, autor de uma história das obras de Balzac, considera-a um "forte estudo histórico, no qual se encontram desenhados com tamanha nitidez os traços mais curiosos dessa grande figura de Luís XI, reproduzida sempre de maneira incompleta nos quadros dos romancistas e dos dramaturgos; lá – vejam, que lógica inevitável! – está a ideia da avareza matando o avarento na pessoa do velho argentário."[6] Segundo o ensaísta francês Marcel Barrière, autor de um estudo literário e filosófico de A Comédia Humana, o que dá ao livro "um valor excepcional é o retrato de Luís XI, certamente tão notável como aquele feito por Walter Scott em Quentin Durward e depois dele por uma série de historiadores".[7] Aliás, conta a irmã de Balzac, Laure Surville, que "o romance Quentin Durward, que se admira sobretudo no que tem de histórico, causou uma grande cólera a Honoré; contrariamente á multidão, achava que Walter Scott desfigurava de maneira estranha Luís XI, rei a seu ver ainda mal compreendido. Foi essa cólera que o fez compor Mestre Cornélius, obra em que põe Luís XI em cena."[8]

Marie de Saint-Vallier (Maria na tradução organizada por Paulo Rónai), filha de Luís XI, é casada com um velho despótico, brutal e ciumento que a martiriza. É apaixonada por Georges (Jorge) d'Estouville, que concebe um plano para vê-la em segredo. A introdução da primeira história apresenta uma "encenação" do jovem para afastar o velho marido à saída de uma missa. Para tanto, ele cria uma multidão que separa os dois esposos, e se assegura da cumplicidade de um religioso para reter Marie junto a um confessionário o tempo suficiente para abraçá-la. O velho conde Aymar de Poitiers, senhor de Saint-Vallier, fareja o truque, mas não consegue descobrir nada de suspeito.

Imediatamente depois, chega o personagem da segunda história que se entrelaça aos amores de Marie de Saint-Vallier: é Mestre Cornélius, misterioso personagem vivendo em uma casa quase fortificada, ao fundo de uma ruela, vizinha, precisamente, da casa de Saint-Vallier.

O personagem mais interessante, que deveria ser o único da novela, é Mestre Cornélius, que rouba a si mesmo de noite quando em estado de sonambulismo, criando assim um suspense: quem rouba desta forma um velho em uma casa tão bem protegida? Cornélius sendo o superintendente das finanças do rei Luís XI, é naturalmente o primeiro suspeito para o soberano, cuja avareza é lendária. Cornélius se suicida, levando para o túmulo o segredo do esconderijo onde guardou o ouro que roubou de si mesmo.

O aspecto inverossímil de tal história não chega, porém, a mascarar as preocupações místicas de Balzac. Pode-se aproximar este texto de Os Proscritos, que se passa na mesma época, não longe de uma catedral, a de Tours aqui (Notre-Dame de Paris em Os Proscritos). Balzac evoca "o inexplicável fenômeno da espiritualidade, o poder elétrico da oração".[9]

As teses filosóficas de Balzac juntam-se aqui com suas leituras de Swedenborg, e é sem dúvida esse aspecto místico da narrativa, onde coexistem exaltação religiosa e amor profano, que atraiu a atenção de um crítico de La Revue Européenne em 1832,[10] que encontra nessa estranha novela "alguns detalhes felizes misturados a falsas ideias sobre a Idade Média".

Referências

  1. Honoré de Balzac. A comédia humana. Org. Paulo Rónai. Porto Alegre: Editora Globo, 1954. Volume XVI
  2. René Guise, introdução a Maître Cornélius. La Pléiade, 1980, t.XI, p.3 ISBN 2070108767.
  3. Œuvre de Balzac, Club Français du livre, t.X, p.996 apud René Guise.
  4. La Pléiade, 1979, t.X, p.4
  5. Paulo Rónai, Introdução a Mestre Cornélius na tradução de A Comédia Humana por ele organizada.
  6. Vte de Spoelberch de Lovenjoul, Histoire des Œuvres de H. de Balzac, 3a edição, p. 204.
  7. Marcel Barrière, L'Œuvre de H. de Balzac: Étude Littéraire et Philosophique sur La Comédie Humaine, Paris: Calmann Lévy, 1890.
  8. Surville, Balzac, sa Vie et ses Oeuvres, págs. 103-104, citado na Introdução a Mestre Cornélius de Paulo Rónai.
  9. Maître Cornélius, La Pléiade, 1980 t.XI, p.16ISBN 2070108767.
  10. t.V. p.68-369 apud René Guise

Ligações externas

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