Zoraptera
Zoraptera | |||||||||||||||||||||
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Ocorrência: 270 Ma | |||||||||||||||||||||
Classificação científica | |||||||||||||||||||||
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| subdivisão = Famílias |
Zoraptera é uma ordem de insetos que ocorrem em todas as regiões biogeográficas exceto a Austrália, sendo mais comuns nas regiões de clima tropical e subtropical. Estes insetos não possuem um nome popular no Brasil. No entanto, em inglês são conhecidos como: “angel insects” (insetos anjos). É a terceira menor ordem dessa classe, possuindo 34 espécies descritas até o momento. O Brasil possui seis espécies conhecidas; sendo a cidade de Manaus, particularmente a Reserva Florestal Adolpho Ducke, a região com a maior concentração de espécies, quatro ao todo.
Apesar de possuir somente seis espécies conhecidas no Brasil, estima-se que este número possa chegar a até 30 espécies no país e 100 espécies no mundo. São insetos gregários, vivendo normalmente em colônias de 2 a 10 indivíduos, mas podendo chegar a uma centena em raros casos, não possuindo uma organização social, porém com cuidado com sua prole. Possuem corpo mole e são semelhantes a alguns psocópteros, se diferenciando pela antena com nove artículos e moniliforme, além da presença do cerco com um artículo, ausente em psocópteros[1].
Etimologia
[editar | editar código-fonte]Os Zorapteros (Zoraptera, do grego Ζοράπτερα: zoros = puro; a= sem; pteron = asa), possuem esse nome, apesar da existência de representantes alados. Isso deve-se ao fato de que as primeiras espécies descritas eram ápteras, e por isso acreditava-se que todos os indivíduos da ordem possuíam essa mesma característica. O nome foi mantido mesmo após a descoberta de zorápteros com formas corporais aladas.[2]
Biologia
[editar | editar código-fonte]Devido a baixa diversidade, a biologia de Zoraptera é bem pouco documentada, com apenas a espécie Zorotypus hubbardi apresentando uma literatura considerável.[3] São insetos gregários, mas sem organização social[1], podendo viver em colônias de até 120 indivíduos e apresentando cuidado parental[4]. São comumente encontrados em troncos, cascas ou até pilhas de serragem feitas por humanos, principalmente quando já começaram o processo de decomposição. Possuem alimentação variada, abrangendo desde hifas, esporos de fungos e matéria orgânica em decomposição, além de poderem ser predadores de ácaros, nematóides e colêmbolos.
Os indivíduos desse grupo podem ser encontrados em duas formas, ápteras e aladas. Os ápteros são cegos e consideravelmente mais comuns na população geral, enquanto os alados são dispersivos, responsáveis por encontrar novos troncos para o estabelecimento de novas colônias. Uma prova da capacidade de dispersão dos indivíduos alados está na presença de populações endêmicas em ilhas isoladas, como as ilhas do Hawaii e Fiji.[5]
Distribuição
[editar | editar código-fonte]As espécies ocorrem majoritariamente em habitats tropicais e subtropicais[6], apresentando uma vasta distribuição ao longo do globo. Além disso, existem quatro espécies que ocorrem ao norte do Trópico de Câncer, sendo duas na América do Norte e duas no Tibete[3]. Vivem sob cascas de árvores ou em galerias internas feitas de madeira podre por outros insetos[6].
Registro Fóssil
[editar | editar código-fonte]Em primeiro lugar, registros fósseis dessas espécies são bem difíceis de serem encontrados, devido a delicadeza e tamanho desses insetos. Com isso, somente em âmbares eles podem ser melhor identificados e estudados. Sua frequente fossilização por âmbar, ou seja através da deposição de resina vegetal sobre o corpo do espécime, que fossiliza e mantém o indivíduo e suas características morfológicas em um estágio de ótima preservação[7], se deve ao fato de que os representantes dessa ordem viviam em troncos de árvores em florestas tropicais, local propício para esse tipo de "conservação". Por meio disso, foram preservados algumas espécies do Cretáceo, conservadas em âmbares da República Dominicana[8][9], sendo elas: Zorotypus absonus e Zorotypus mnemosyne como também espécies mais modernas do Mioceno (cerca de 100 milhões de anos atrás), encontrada em âmbares de Myanmar[10].
Filogenia
[editar | editar código-fonte]A Ordem Zoraptera ainda tem uma posição sistemática incerta, sendo que esse grupo já foi proposto como o mais próximo de Isoptera e Embioptera, porém estudos mais recentes classificam Zoraptera como grupo irmão de Dermaptera[11]. Contudo está claro que este hexápode é um inseto da subclasse Pterygota dentro do grupo "Polyneoptera", que é um grupo cujas relações filogenéticas não estão claramente definidas. [1].
Desde da descrição da ordem, pelo italiano Filippo Silvestri, em 1913, sendo um dos últimos grupos de insetos viventes estabelecidos[9], houve tentativas de compreender as relações filogenéticas entre os indivíduos do grupo, através de caracteres morfológicos externos, como a venação das asas. Contudo, zorápteros possuem uma grande uniformidade do formato corporal, com a maioria das diferenças sendo espécie-específica, o que tornava essas classificações bastante questionáveis[12].
Estudos recentes foram realizados com o intuito de resolver as incertezas nas relações filogenéticas entre os zorapteros. Para entender as relações entre os representantes da ordem, foram utilizados tanto caracteres morfológicos quanto moleculares. Com isso, foi possível dividir a ordem em duas famílias, com base em uma clara diferença morfológica na genitália (Zorotypidae e Spiralizoridae). A família Zorotypidae com duas subfamílias: Zorotypinae e Spermazorinae. E a família Spiralizoridae com as subfamílias Latinozorinae e Spiralizoeinae, como mostra a filogenia a seguir[12].
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Morfologia
[editar | editar código-fonte]Em adultos, os zorapteros possuem as seguintes características morfológicas: cabeça hipognata (apêndices bucais direcionados para baixo e crânio alinhado com o tronco); antenas moniliformes (semelhante a um rosário) ou submoniliformes (quase semelhante a um rosário) com nove artículos (subdivisões da antena). Mandíbula forte com dentes distintos e região molar definida. Palpo maxilar contendo cinco artículos, e palpo labial com três artículos. Protórax desenvolvido; em sua forma alada possui dois pares de asas membranosas, estendendo-se além da extremidade do abdômen, asa anterior estreita e sua asa posterior menor. Possuem também tarsos (porção articulada das pernas) com o primeiro tarsômero (cada um dos artículos do tarso) curto, e o segundo alongado com duas garras. Sua perna posterior apresenta um fêmur desenvolvido e espesso; podendo ter cerdas em formato de espinhos em sua face póstero-ventral. Estes animais apresentam também um abdômen curto e oval, tendo onze segmentos no total, com um par de cercos no último segmento[1].
Em relação ao dimorfismo sexual, os machos contam com cerdas sensoriais no IX tergito (quaisquer um dos escleritos do tergo) e apresentam genitália complexa. As fêmeas não dispõem de ovipositor em suas genitálias[1]. Os ovos possuem formato ovalado e córion granular. As ninfas apesar de serem pouco conhecidas, são semelhantes aos adultos, com muitas cerdas recobrindo seu corpo. Possuem coloração branca, sem pigmentação ou translúcidas[1].
Importância
[editar | editar código-fonte]A importância dos Zoraptera é pouco conhecida, principalmente por causa dos poucos estudos envolvendo os representantes desse grupo. Sabe-se que tem importância no controle de fungos e outros pequenos invertebrados que compõem sua dieta, além de se alimentarem de matéria orgânica vegetal em decomposição. Ademais, podem ser utilizados como bioindicadores, dado que são sensíveis a ações antrópicas, principalmente aquelas relacionadas ao desmatamento, onde sua população aumenta a partir da maior disponibilidade de troncos de árvores derrubados[1][3].
Referências
[editar | editar código-fonte]- ↑ a b c d e f g Rafael, José Albertino (2012). «Zoraptera». In: Rafael, José Albertino; Melo, Gabriel A.R; de Carvalho, Claudio J.B; Casari, Sônia A.; Constantino, Reginaldo. Insetos do Brasil. Ribeirão Preto: Holos. p. 324
- ↑ CAUDELL, A. N. Zoraptera not an apterous order. Proceedings of the entomological society of washington, 1920.
- ↑ a b c Engel, Michael S. (2009). Resh, Vincent H.; Cardé, Ring T., eds. Encyclopedia of Insects. [S.l.]: Academic Press. p. 1069
- ↑ CHOE, J. C. Zoraptera of Panama with a review of the morphology, systematics, and biology of the order. Insects of Panama and Mesoamerica: selected studies, p. 249-256, 1992.
- ↑ Engel, MICHAEL S. "The Zorotypidae of Fiji (Zoraptera)." Bishop Museum Occasional Papers 91 (2007): 33-38.
- ↑ a b Riegel, Garland T. (1 de novembro de 1963). «The Distribution of Zorotypus hubbardi (Zoraptera)». Annals of the Entomological Society of America (6): 744–747. ISSN 1938-2901. doi:10.1093/aesa/56.6.744. Consultado em 15 de dezembro de 2021
- ↑ Penney, David (2010). Biodiversity of Fossils in Amber from the Major World Deposits. Manchester: Siri Scientific Press. 304 páginas
- ↑ «GBIF Backbone Taxonomy». doi:10.15468/39omei. Consultado em 15 de dezembro de 2021
- ↑ a b Engel, M. S.; Grimaldi, D. A. «A Winged Zorotypus in Miocene Amber from the Dominician Republic (Zoraptera: Zorotypidae), with Discussion on Relationships of and within the Order». Acta geológica hispánica, [en línia], 2000, Vol. 35, Núm. 1, p. 149-64, https://raco.cat/index.php/ActaGeologica/article/view/75607
- ↑ Foottit Robert, Adler Peter (2017). Insect Biodiversity: Science and Society, Volume 2. India: Willey Blackwell. p. 200. ISBN 9781118945575
- ↑ Matsumura, Yoko; Beutel, Rolf G.; Rafael, José A.; Yao, Izumi; Câmara, Josenir T.; Lima, Sheila P.; Yoshizawa, Kazunori (2020). «The evolution of Zoraptera». Systematic Entomology (em inglês) (2): 349–364. ISSN 1365-3113. doi:10.1111/syen.12400. Consultado em 13 de dezembro de 2021
- ↑ a b Kočárek, Petr; Horká, Ivona; Kundrata, Robin (janeiro de 2020). «Molecular Phylogeny and Infraordinal Classification of Zoraptera (Insecta)». Insects (em inglês) (1). 51 páginas. PMC 7023341. PMID 31940956. doi:10.3390/insects11010051. Consultado em 13 de dezembro de 2021
- ↑ MASHIMO, YUTA; MÜLLER, PATRICK; BEUTEL, ROLF G. (6 de agosto de 2019). «Zorotypus pecten, a new species of Zoraptera (Insecta) from mid-Cretaceous Burmese amber». Zootaxa (3): 565–577. ISSN 1175-5334. doi:10.11646/zootaxa.4651.3.9. Consultado em 13 de dezembro de 2021