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7 de abril de 2012


                     De uma só vez recolhe
        Quantas flores puderes.
        Não dura mais que até à morte o dia.
        Colhe de que recordes.
        A vida é pouco e cerca-a
        A sombra e o sem remédio.
        Não temos regras que compreendamos,
        Súbditos sem governo.
        Goza este dia como
        Se a Vida fosse nele.
        Homens nem deuses fadam, nem destinam
        Senão o que ignoramos.


                                       Ricardo Reis

5 de fevereiro de 2012




Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.

A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.

Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.

Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.

Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.


1-7-1916
Fernando Pessoa, Odes de Ricardo Reis

http://www.youtube.com/watch?v=dAjS2mAGdps&feature=related

25 de janeiro de 2012





Não sei se é amor que tens, ou amor que finges,
O que me dás. Dás-mo. Tanto me basta.
Já que o não sou por tempo,
Seja eu jovem por erro.
Pouco os deuses nos dão, e o pouco é falso.
Porém, se o dão, falso que seja, a dádiva
É verdadeira. Aceito,
Cerro olhos: é bastante.
Que mais quero?

Ricardo Reis