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quinta-feira, 13 de outubro de 2016

"LISBOA À NOITE": A Descoberta do FADO

Edição original em LP Belter 22198
(PORTUGAL, Julho 1969)


Agosto de 1969. Imaginem um adolescente de 16 anos em férias em Lisboa, acabado de regressar com a carteira vazia de uma longa viagem pela Europa e habituado a gastar até aos últimos escudos da mesada mensal nas últimas novidades discográficas da música pop da época. As tentações em vinil são mais do que muitas, e ainda por cima se anuncia para muito breve o aparecimento de mais um album dos Beatles (de seu nome "Abbey Road"), pelo que se impõe a maior poupança possível. Nesse cenário, a última coisa que eu pensava comprar naquelas férias seria um disco de fados. Aliás, nem sequer seria a última coisa, pois para quem a palavra “Fado” era sinónimo de música retrógrada de velhos marialvas, qualquer gasto nesse tipo de música seria equivalente a jogar dinheiro fora. E, no entanto, foi isso mesmo que aconteceu...


Num sábado à noite fui quase como que arrastado por familiares para uma “ida aos fados”. A dita casa chamava-se Lisboa à Noite e era um restaurante típico do Bairro Alto, localizado no nº 69 da Rua das Gáveas (julgo que ainda por lá funciona). A atracção principal era a fadista Fernanda Maria, na altura no esplendor dos seus 30 anos, mas foi o segundo nome do cartaz que virou do avesso toda a minha concepção relativa ao mundo do Fado. Quando aquele homem, de aspecto rude e um tanto ou quanto provinciano, se colocou entre a viola e a guitarra e soltou todo um vozeirão impregnando aquele pequeno espaço com sons vibrantes de emoção, foi quase como que um raio me atingisse de cima a baixo: tinha tido o meu primeiro encontro imediato com a realidade do Fado! E no fim da noite não resisti a trazer debaixo do braço um dos discos que por lá se encontravam à venda, precisamente este, que agora aqui vos deixo. Com direito a autógrafo no verso e tudo.
Foi portanto este album do Manuel de Almeida o primeiro disco de fados em que gastei as minhas parcas economias da altura. Ao longo dos anos muitos se seguiram, como também tive outros encontros imediatos inesquecíveis com gente do fado, como com o Carlos do Carmo no Faia, ou a Argentina Santos na Parreirinha de Alfama. Tive ainda o raro privilégio de ouvir ao vivo o grande Marceneiro, já não sei em que lugar, pois como se sabe ele era um autêntico saltimbanco e aparecia quase sempre de surpresa em diversas casas típicas. Para além do prazer que sempre continuei a sentir em cada “ida aos fados”, fui descobrindo pela vida fora os meus intérpretes de eleição: Carlos Ramos, Maria Teresa de Noronha, António dos Santos, a emocionante Tereza Tarouca (uma das minhas preferidas de sempre), a grande Amália é claro, o Zito de Moçambique e, mais recentemente, a Mariza, a Ana Moura e sobretudo a doce Carminho. Mas o Manuel de Almeida terá sempre um lugar muito especial nas minhas memórias, pois foi graças a ele que descobri e aprendi a amar o Fado.


Aqui fica uma pequena sinopse do fadista, repescada em vários locais na net:
Manuel Ferreira de Almeida nasceu em Lisboa, no Bairro da Bica, a 27 de Abril de 1922. Teve como actividade principal a profissão de fabricante e desenhador de calçado feminino. Aos 10 anos começa a sentir o gosto pelo Fado, começando a frequentar os retiros fadistas, mas só aos 28, no início da década de 50, aceita os insistentes convites para se tornar profissional. A sua estreia foi no restaurante típico A Tipóia, dirigido por Adelina Ramos, fadista de nomeada, onde se manteve 12 anos, após o que passou a actuar no restaurante típico Lisboa à Noite, ao lado de Fernanda Maria, tendo por lá permanecido outros tantos anos até ao 25 de Abril. Cantou ainda esporadicamente no Estribo, no Retiro do Malhão, no Faia, e no Olímpia Clube. Em 1962 é-lhe feita a Festa de Consagração levada a efeito no Pavilhão dos Desportos, e nos dois anos seguintes recebe o prémio da casa da Imprensa. Actua na RTP com Natércia da Conceição e Mariana Silva e faz parte do espectáculo itenerante de Maria Pereira "Cor é Vida", além de pisar diversos palcos estrangeiros. 


Em 1979 o fadista Rodrigo inaugura a sua casa, o Forte Dom Rodrigo, em Cascais, e convida Manuel de Almeida, que ali se manterá até ao fim da sua vida, em 1995. Manuel de Almeida gravou mais de uma dezena de LPs e cerca de vinte e cinco singles. Um dos albuns mais significativos da sua carreira foi a edição, em 1987, de “Eu Fadista Me Confesso”, produzido por Rão Kyao, tendo sido considerado pela crítica como um pioneiro no enlace entre a tradição e a modernidade. Em Fevereiro de 1994, para comemoração das suas bodas de ouro, é-lhe feita uma sentida homenagem no Teatro São Luiz, em Lisboa. Manuel de Almeida, foi desde sempre um aficionado da festa brava, e também um grande adepto do desporto, chegando a praticar futebol e atletismo, embora fosse o ciclismo o seu passatempo preferido. Em 1996 a Casa da Imprensa concede-lhe a título póstumo o Troféu-Prémio Carreira e Cascais dá o seu nome a duas ruas da cidade.

terça-feira, 16 de agosto de 2016

ZITO: O ROUXINOL FADISTA

O nome José Eduardo provavelmente não dirá nada a ninguém. Rigorosamente mesmo nada! Mas se vos falar em Zito, talvez se acendam umas luzitas aqui e ali, sobretudo nas gentes de Moçambique que gostavam de ouvir o fado. Pois é, este Zito de que vos falo era moçambicano e foi um dos expoentes dos valores artísticos moçambicanos no final da década de 60. Cantava o fado, naturalmente, e chegou a constituir uma moda na bela Lourenço Marques daqueles anos ir ouvi-lo à Adega da Madragoa, que se situava na cave do edifício onde se alojava o Clube dos Lisboetas (na Avenida Brito Camacho, a dois passos do Hotel Girassol).



Esta coleção engloba o primeiro EP, editado em 1968 (faixas 13 a 16), bem como o single aparecido dois anos depois (faixas 17 e 18), ambos gravados na África do Sul. Os primeiros 12 temas foram extraídos de um CD intitulado “O fado, é tudo o que sinto, mais... o que não sei dizer”, que mão amiga me ofertou (olá Carlos Santos!), o qual terá sido editado há alguns anos, também na África do Sul, onde suponho que o Zito se encontra presentemente a viver. Deixo-vos com as notas da contra-capa do primeiro EP:«Sem falsos transportes, porque eles pertencem escravizadamente ao berro (surdo) da sua dor e ao grito (louco) da nostalgia (que talvez esvoace nos corvos negros de que fala) aqui estão os primeiros quatro fados, em disco, do Zito. Ouvi-lo é a certeza de um encontro com uma procura de algo infinitamente certo para se definir mas que ele mesmo tenta em cada jeito. Oiçamos então. E (propositadamente) foi respeitada a respiração.» (S.L.A.)

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

De Loucura Em Loucura

Edição Original em LP Alvorada LP-S-98.3 
(Portugal, 1973)


Confesso-me surpreendido pela aceitação que o Fado tem tido por estas bandas (sobretudo por parte de estrangeiros). Este LP, em particular, tem-me sido muito solicitado, desde que o original post foi colocado em Dezembro de 2007. Por isso, acho que está na altura de satisfazer todos esses pedidos. Trata-se de um dos melhores trabalhos de Fernanda Maria, uma das duas fadistas mais queridas aqui do Rato (a outra é a Tereza Tarouca, da qual e infelizmente não possuo qualquer album de originais), gravado no auge da sua carreira, a viver então uns esplenderosos 36 anos e ainda um dos principais atractivos do Bairro Alto, na casa típica “Lisboa à Noite”, onde actuava também o saudoso Manuel de Almeida. Com acompanhamento de Jaime Santos à guitarra, Martinho de Assunção à viola e Raúl Silva no baixo, esta dúzia de pérolas liberta um som magnífico, forte e profundo, no seu estéreo bem equilibrado e preciso. Um som bem característico dos discos em vinil que infelizmente é hoje em dia muito difícil de ser imitado. O que evidentemente tem também o condão de realçar a belissima voz da fadista, uma voz que aperta o coração e traz a tristeza que faz entrar em fermentação o amor.




segunda-feira, 21 de junho de 2010

domingo, 20 de junho de 2010

EP COLUMBIA SLEM 2173 (PT, 1964)

ANTÓNIO DOS SANTOS: "ALFAMA-LISBOA"
António dos Santos nasceu em Lisboa no ano de 1919. Inicialmente fadista jocoso, género que abraçou quando do início de carreira com apenas 15 anos, começou por abordar diversas maneiras de actuar, até se fixar num estilo muito peculiar de cantar o Fado que nos anos sessenta se tornaria importantíssimo. Interpreta os poemas com um estilo nostálgico e dolente, numa abordagem que nos faz lembrar, por exemplo, um Leonard Cohen.
António dos Santos, pelas suas interpretações despretensiosas, mas carregadas de sentimento granjeou muitos admiradores e amigos. Era proprietário de uma casa típica num recanto de Alfama, “O Cantinho do António”, onde ele actuava para os clientes e amigos que o visitavam. Homem afável e simpático era frequentemente visitado pelos fadistas que faziam questão de o abraçar e cantar no seu recinto.
António dos Santos gravou pouco e não deixou seguidores do seu estilo inconfundível. Faleceu em 1993, com 74 anos.
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